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domingo, 5 de janeiro de 2020

Sonhos de King - Nas entrelinhas

”’O ethos do ‘destino manifesto’ justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cujo eixo era a ideia de que Deus os estaria ajudando a comandar o mundo”

Memphis é uma das três cidades mais importantes da música norte-americana, com Nova Orleans e Nashville, famosa por ser a casa de Elvis Presley entre 1948 e 1977. A mansão Graceland, patrimônio da família Presley, continua sendo um dos pontos mais visitados do estado, atraindo cerca de 600 mil pessoas por ano. Ofusca o fato de que, poucos sabem, foi em Memphis que o pastor batista Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da Paz, foi assassinado em março de 1968, aos 39 anos, durante uma visita em apoio aos trabalhadores em greve no serviço de saneamento da cidade.

Martin Luther King reivindicava salários dignos e mais postos de trabalho para a população negra. Além disso, defendia os direitos das mulheres e foi contra a Guerra do Vietnã, que considerava moralmente corrupta. Formado na Universidade de Boston, tornou-se pastor e membro da Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor. Destacou-se como líder dos direitos civis por organizar protestos por todo o sul dos Estados Unidos, inclusive o boicote ao sistema de ônibus de Montgomery. Em Birmingham, no Alabama, em 1963, foi preso por duas semanas ao participar de um protesto, o que só aumentou seu prestígio.

Quando foi solto, King liderou a Marcha sobre Washington, na qual proferiu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, que está entre os dez mais importantes do século XX, no qual afirma: “Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”. Seu êxito político se deve não somente à sua combatividade e resiliência e, enfim, ao seu martírio, mas à estratégia assentada em três eixos: a luta contra a ignorância, a não violência e o combate às desigualdades.

O pastor batista se inspirou num outro grande líder do século XX, Mahatma Gandhi, que derrotou o Império Britânico com métodos não violentos e muita perseverança na sua campanha pela independência da Índia. A crença de supremacia racial no Sul dos Estados Unidos era muito arraigada, mas não era um fenômeno isolado, mesmo depois da derrota dos nazistas na II Guerra Mundial. Ainda há muita gente que pensa assim. Na lógica da discriminação, crenças fervorosas estimulavam as pessoas a cometerem atos bárbaros, que exigiam uma mudança de atitude como resposta para detê-los. King dizia que “a ignorância sincera” era a ameaça mais perigosa que existe na face da Terra.

O sistema como um todo era racista no Sul dos Estados Unidos; King defendia a ação direta como forma de protesto para romper o bloqueio político-institucional existente, reformar a política e garantir a participação dos negros na democracia americana, o que se tornou, mais tarde, um objetivo alcançado plenamente, com a até então inimaginável eleição de Barack Obama à Presidência da mais poderosa nação do planeta. Na prática, o movimento pelos direitos civis teve que vencer as atitudes das maiorias em relação às minorias, para que essas pudessem usufruir de uma mudança duradoura.

Destino
Ao contrário de Malcolm X e Stokeley Camichael, líderes negros radicais, que defendiam a luta armada, King via a não violência nas ações diretas como uma demonstração de força moral, ainda que isso significasse apanhar da polícia durante os protestos. Foi agredido e ferido algumas vezes, mas nunca revidou fisicamente. Houve situações em que chegou a cancelar protestos e evitar discursos para não estimular mais violências. Entretanto, como até hoje está em nossas memórias, as cenas de ações brutais de policial contra os negros acabaram se transformando em poderoso instrumento de formação de uma opinião pública contrária à discriminação.


Decisiva para a ampliação da luta contra o racismo foi a agenda de King contra as desigualdades, lançada em 1963, com a “Marcha em Washington por Emprego e Liberdade”. Exigia que o governo investisse pesado contra a pobreza, com um programa de três pontos: renda mínima, moradia digna e acesso ao mercado de trabalho. Ele acreditava que a pobreza e a ignorância caminham de mãos dadas, o que é verdade.

King confrontou o ethos do “destino manifesto”, a doutrina do XIX que justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cuja ideia central era a de que Deus estaria ajudando os norte-americanos a comandarem o mundo. Expressão cunhada pelo jornalista John Louis O’Sullivan, no ano de 1845, coincidiu com a Marcha para o Oeste. Sustentava que a “providência divina” havia lhes dado o direito de conquista de todo o continente e também a missão de levar a liberdade a todos os povos. Muitos até hoje acreditam nisso, inclusive aqui no Brasil.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Lula foi de incendiário a pacificador em 8 meses [nada melhor que uma cadeia para amansar jararaca.]


Autoproclamado "metamorfose ambulante", Lula exagera no truque da manipulação da própria imagem. Em abril, transformou num culto aos pneus queimados e às propriedades invadidas o seu último comício antes de se entregar à Polícia Federal, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Nesta segunda-feira, Lula enviou carta para ser lida num evento realizado no mesmo sindicato. Nela, trocou o discurso incendiário pela louvação à paz e e fraternidade. Aquele Lula do dia da prisão dissera que a cadeia não iria silenciá-lo, porque seus devotos fariam barulho por ele. "Vocês poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam. Poderão fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer ocupações no campo e na cidade…" 

O Lula desta segunda-feira condenou o "discurso do ódio". E vaticinou: "Ainda iremos construir um mundo de paz e fraternidade, onde todos e todas, sem exceção tenham direito a uma vida digna…" Entre o Lula incendiário de abril e este Lula pacifista de dezembro há oito meses de cadeia, uma surra eleitoral, duas delações companheiras de Antonio e um sem-número de derrotas judiciais.  
[fique tranquila senadora Gleisi, 'coxa ou amante; ninguém vai matar Lula, não há o menor interesse de matar o presidiário petista;
o que todos querem, incluindo Bolsonaro, é que Lula apodreça - vivo e consciente - na cadeia.]
O presidiário planejara ganhar a liberdade acuando juízes com a militância incendiária do PT e o "exército" de João Pedro Stédile, do MST. Entretanto, secaram as fontes de dinheiro público para sindicatos e movimentos sociais. Sem a condução e o sanduíche, faltou ânimo à multidão para sair de casa.

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui

sábado, 31 de março de 2018

Serão todos soltos? Chegou a hora “do grande acordo nacional com o Supremo, com tudo”?



terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Temer cria a segurança como passe de mágica

O oposto do antigovernismo primário é um pró-governismo inocente, que aceita todas as presunções de Michel Temer a seu próprio respeito. Em matéria de segurança pública, isso inclui concordar que Temer adotará, como prometeu, “todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas” que infernizam o Rio de Janeiro. Mais: por meio do recém-criado Ministério Extraordinário da Segurança Pública, Temer, como um super-herói de quadrinhos, levará segurança ao resto do país, cumprindo uma missão que parecia inalcançável para gestores humanos. Tudo isso nos dez meses que restam de mandato ao super-presidente. [Temer pelo menos está fazendo alguma coisa - este Blog está entre os que acham a intervenção federal no estilo decretado por Temer, uma intervenção 'meia-sola', mas é melhor fazer alguma coisa do que ficar encontrando formas do tempo passar sem que percebam a omissão do Governo; tudo, menos a omissão.]

Nos últimos dias, Temer e seus operadores políticos dedicaram-se a implantar no setor da segurança pública um clima de passe de mágica. Nesta terça-feira, esgotou-se a fase do espalhafato. Hipnotizada, a plateia espera pelo grande ato. Pesquisas feitas sob encomenda do Planalto revelaram que o intervencionismo redentor de Temer foi aprovado por mais de 80% dos cariocas. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui

 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O general Lee não é problema, Trump é

Para muitos americanos, a Guerra Civil continua

Uma estátua ruinzinha do general Robert Lee, o venerado comandante das tropas rebeldes durante a Guerra da Secessão (1861-1865), parece ter posto fogo nos Estados Unidos. Não é bem assim: quem está pondo fogo nos Estados Unidos e no mundo é Donald Trump. O racismo, a Ku Klux Klan e os supremacistas estão aí há tempos. A novidade chama-se Trump.

De muitos pontos de Washington pode-se ver uma mansão branca, tipo “...E o vento levou”, numa das colinas de Arlington. Ninguém falou dela nos últimos dias, mas ali está o Robert Lee Memorial. Nela viviam o general e sua mulher. Quando ele foi comandar os rebeldes, a casa foi ocupada pelo Exército da União e, aos poucos, a enorme fazenda se transformou em cemitério das tropas do Norte. Vingança perfeita: minha tropa enterrada na tua casa.

Com o tempo, a violência política foi açucarada e até mesmo deturpada. Arlington tornou-se o cemitério nacional e lá estão enterrados não só soldados de todas as guerras (inclusive tropas de Lee), como também civis, entre os quais John Kennedy e sua mulher. Até hoje Arlington não lembra os soldados negros do Norte, apesar de haver um monumento aos rebeldes. Só em 1948 os soldados negros foram enterrados junto aos brancos. Antes, ficavam em lotes segregados.

Para muitos americanos, a Guerra Civil continua. No museu da cidadezinha onde Lee se rendeu, uma guia informava que, “infelizmente”, ele não conseguira atravessar uma ponte. Infelizmente? O general vitorioso, Ulysses Grant, tratou Lee com magnanimidade, alimentando sua tropa faminta e permitindo que surgisse o mito do nobre combatente. Vá lá, mas ele perdeu a maior batalha de sua carreira (Gettysburg).

As estátuas dos generais confederados e o uso da bandeira rebelde nos estados do Sul sempre tiveram um toque racista, mas há mais de 50 anos as coisas iam bem. No antigo ninho segregacionista de Montgomery, no Alabama, há a Avenida Jefferson Davis, o presidente dos Estados Confederados. Ela cruza com a Avenida Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, se recusou a sair de um assento de ônibus destinado aos brancos e acabou presa. Começou um boicote ao sistema de transportes e, nele, surgiu o pastor Martin Luther King.
Nunca houve confusão nessas esquinas, mas ninguém contava que um dia aparecesse Donald Trump.

(...)

Marajás de toga
Depois de faturar R$ 504 mil no seu contracheque, o juiz Mirko Giannotte, da 6ª Vara da cidade de Sinop (MT), desprezou as críticas e afirmou: “Eu não estou nem aí. Estou dentro da lei.”

Tudo indica que ele tem razão. Faturou o que faturou por conta de decisões referendadas pelo Conselho Nacional de Justiça, presidido pela ministra Cármen Lúcia.  A bola está com ela, e não com Giannotte ou com os demais marajás do Judiciário.
(...)

Feriadão
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro continua surpreendendo o mundo. O ano letivo de 2017 ainda não começou, mas o reitor Ruy Garcia Marques informou que será facultativo o ponto na sexta-feira 8 de setembro.

A Uerj quer independência financeira, mas, quando se trata de não trabalhar, aprecia uma boa dependência administrativa.

Maluquice
Uma Câmara escandalosa conseguiu produzir mais um escândalo. Pretende votar o chamado semidistritão em apenas uma semana. A ideia surgiu há poucos dias, nunca foi debatida, não tem similar no mundo e ninguém sabe direito como funcionaria.  O cidadão poderia votar no candidato a deputado ou na legenda do partido. Não há quem explique como seriam rateados os votos dados à legenda. Se a divisão incluir os candidatos que já teriam sido eleitos com suas votações individuais, a redundância beira a maluquice.

Esse híbrido ajuda o PT, talvez o PSDB e o PSOL. Ganha uma viagem ao Afeganistão quem conhecer alguém capaz de sair de casa para votar na legenda do PMDB, do PP, do PSD ou mesmo do DEM.
A atual legislatura mostrou que não tem competência nem vontade para fazer uma reforma política (salvo na esperteza da tunga bilionária do fundo eleitoral). Ficaria tudo melhor se deixassem o velho sistema proporcional em paz. Para um doente, às vezes é melhor ficar em casa do que ir para um hospital contaminado onde trabalham médicos loucos.

Presente
Donald Trump criou uma oportunidade para que se conheça melhor a sociedade americana e sua História. Pode-se ver (ou rever) a série de documentários “A Guerra Civil", do cineasta Ken Burns.  É uma obra-prima do gênero. Associa inteligência e erudição a um monumental trabalho de pesquisa.

São nove programas, e cada um tem cerca de uma hora de duração. Com legendas em português, essa dádiva está no YouTube.
Está tudo lá.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Vai ter branca de turbante

Vai ter gente se apropriando de todos os símbolos que ajudem o mundo a destruir muros e construir pontes 

#VaiTerNegraDeCabeloAlisado. E branca de cabelo encaracolado permanente

E negra de peruca loura ou cabelo descolorido. E hétero de camisa arco-íris. E homem de saia. E mulher de calça (até 80 anos atrás, não podia). E homem fazendo sobrancelha. E mulher sem se depilar. E gente branca, negra, amarela, cinza se apropriando de todos os símbolos que ajudem o mundo a destruir muros e construir pontes.

A história começou no metrô de São Paulo. A estudante Thauane Cordeiro, branca, de 19 anos, usava um turbante. Eis seu relato: “Cinco meses atrás fui diagnosticada com leucemia. Meu cabelo foi caindo. Eu não queria aceitar. Raspei meu cabelo todo e doei para o Instituto do Câncer. Eu estava me sentindo feia, fui comprar um turbante, uma amiga me disse que eu ia me sentir melhor. A moça da loja foi gentil e me ensinou a fazer uma das amarrações. No metrô, um grupo de jovens estava me olhando torto. Uma chegou para mim e disse: ‘Moça, dá licença? Você não pode usar esse turbante’. Por quê?, perguntei. ‘Porque você é branca.’ E na hora ali me veio aquela raiva. Respirei. Tirei o turbante e disse: ‘Tá vendo isso aqui? Essa careca? É câncer. Então eu uso o que eu quero’”.

O assunto viralizou nas redes sociais. Por baixo dos panos na cabeça, havia o racismo e a “apropriação cultural”, alimentados por ressentimentos históricos e sociais.  Sou branca, mas não branquela. Tem índio entre meus antepassados. Desconfio de sangue árabe ou judeu, por meu nariz e o sobrenome de cristão-novo. Sou brasileira, mas zero nacionalista. Só uso turbante de toalha, no chuveiro. Não fico bem. O turbante, como acessório, valoriza rostos harmônicos. O primeiro turbante que vi foi nas Mil e uma noites e no gênio da lâmpada, Aladim. Depois, nos indianos de Londres. E, mais tarde, nas viagens à África. Que riqueza de tecidos e modelos.

Minha primeira reação à guerra do turbante foi achar  uma besteira maior que proibir a palavra “mulata” e reprimir as marchinhas de Carnaval incorretas. Mas não. Se tantos se sentem ofendidos, é porque o turbante é uma desculpa ou um gatilho.  O turbante é uma desculpa errada e arrogante para discutir racismo. Não é propriedade dos negros. Esconde um dos maiores símbolos da negritude universal: os cabelos black. Quem conhece a África sabe que a expressão “cultura africana” é quase ofensiva a um continente tão diversificado, com 54 países e uma infinidade de tribos, dialetos, regimes e costumes.

Pior é falar em “apropriação cultural” – como se usar adornos, temperos ou roupas de outras etnias e culturas não pudesse ser uma homenagem, vinda da admiração. Como se fosse um crime e devesse ou pudesse ser evitado.  Vi gente aplaudida por dizer que quem pode discutir feminismo é mulher, discriminação de gênero é homo ou trans, racismo é negro ou mestiço. O resto pode ouvir. Parecemos discípulos do Trump and this is a huuuuge mistake. Cada um no seu quadrado, recolha-se a seu lado do muro, porque você não sabe de nada e o mundo é preto e branco. Não se coloque no lugar do outro.

“O turbante habitado por negras é diferente do turbante habitado por brancas”, pontificou a escritora Ana Maria Gonçalves. Entendo o simbolismo – e acho difícil que uma branca fique mais imponente com os turbantes amplos que uma negra. O texto de Ana Maria é emocionado. “Para carregar este turbante sobre nossas cabeças, tivemos de escondê-lo, escamoteá-lo, disfarçá-lo, renegá-lo. Era abrigo, mas também símbolo de fé, de resistência, de união.” Mas e aí? Uma pena que Ana Maria reduza a polêmica à “branquitude que não quer assumir seu racismo”. Pela cor de nossa pele branca, seremos sempre usurpadores, jamais irmãos? Não ouviríamos isso de Martin Luther King, Nelson Mandela, Barack Obama.

Achei esquisito quando Michelle Obama alisou os cabelos, preferia o penteado menos formal, mais autêntico. Mas Michelle faz o que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. A menina branca que usa dreads não se apropria de tranças negras. Ela faz o que quiser. Não existe cultura, moda ou arte sem “apropriação”, no sentido de mistura, inspiração e troca. Desde quando a apropriação se tornou inapropriada? Thauane foi vítima de racismo às avessas.

A negra Juliana Luna, estilista de turbante, descendente dos iorubás, disse à GloboNews, de Lagos, na Nigéria: “Quem sou eu para dizer a Thauane que ela não pode usar turbante? A abordagem não deve ser combativa. Isso cria uma rede de ódio desnecessária. Devemos construir diálogos de aproximação, usando a moda. Queria me desculpar em nome das negras por termos chegado a você, Thauane, com tanta insensibilidade. O câncer deve ter te deixado desestruturada. Se você quiser, te dou aula e te mando tecido”.  Touché, Juliana, linda.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

 

 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A polícia agiu corretamente ao deter a manifestante - ela simulava pacificismo, mas buscava provocar, atiçar os ânimos. Não punir a manifestante, é desmoralizar a força policial

Foto de mulher negra desafiando polícia vira símbolo de protestos nos EUA

A enfermeira Leisha Evans foi presa ao participar das manifestações em Baton Rouge

A foto de uma mulher negra desafiando policias em uma manifestação em Baton Rouge, no estado de Louisiana, virou símbolo dos protestos nos Estados Unidos contra a brutalidade das forças de segurança. Ela descreveu sua ação como obra de Deus.

Uma onda de protestos foi desencadeada na semana passada após a morte de dois negros por policiais brancos em Minnesota e em Louisiana, agravando ainda mais as tensões raciais no país. Em uma das manifestações em Dallas, na noite de quinta-feira, um franco-atirador matou cinco policiais dizendo-se decepcionado com os brancos.

A imagem do fotógrafo Jonathan Bachman, capturada no sábado, retrata a enfermeira Leisha Evans, de Nova York. Com um vestido longo e carregando nada mais que seus objetos pessoais, a mulher posiciona-se em frente aos policiais armados, à espera de que eles a prendessem.  No Facebook, a enfermeira descreveu suas ações como "uma obra de Deus".
"Sou um instrumento. Glória ao Altíssimo. Estou grata por estar viva e a salvo", escreveu.
A foto está dando volta ao mundo, foi amplamente repercutida nas redes sociais e ganhou montagens até com a figura de Martin Luther King. 

Em uma entrevista ao jornal "The Atlantic", Bachman relatou que os policiais estavam detendo várias pessoas no protesto em Baton Rouge. A câmera do fotógrafo, então, capturou a imagem da mulher, que se colocou diante dos agentes sozinha e de forma pacífica.
"Ela não foi violenta, não disse nada, não resistiu. No final, a polícia a deteve", explicou o fotógrafo. A imagem, um símbolo de protestos não-violentos, lembra outras fotografias como a tirada por Marc Riboud, na Guerra do Vietnã, quando um manifestante colocou-se na frente de policiais armados com uma flor na mão. Lembra ainda a imagem de um manifestante que se posicionou diante de um tanque em Tiananmen, na China.


Fonte: O Globo

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Brasil, siga o dinheiro (da campanha de Dilma)



A Operação Lava Jato levantou uma série de indícios de pagamento de propinas em forma de doações legais
Está tudo bem com as contas de campanha de Dilma Rousseff, decretou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot – que acaba de ter seu mandato renovado pela própria Dilma. Claro que Janot não arquivou o pedido de investigação da campanha da presidente em troca de sua manutenção no cargo. O Brasil é um país de instituições independentes. O que o procurador-geral argumentou é que os pedidos de investigação não devem atrapalhar “o esforço constitucional de pacificação social”. Está fundada a paz dos pixulecos.

A Operação Lava Jato levantou uma série de indícios – clarosde pagamento de propinas em forma de doações legais à campanha de Dilma. O esquema do petrolão, em que negócios com a Petrobras seriam aprovados mediante pedágios milionários ao PT, levou à prisão, entre outros, o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari. Ele é um dos acusados de fazer as propinasapelidadas pelo próprio de pixulecoschegarem limpas ao caixa de campanha da presidente. Nada disso é passível de investigação, decidiu Janot, em nome da paz social.

Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon e Nelson Mandela nunca imaginaram que o pacifismo iria tão longe. O pedido feito pelo ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, focava inicialmente o caso da gráfica VTPB, que recebeu da campanha petista R$ 23 milhões em pouco mais de três meses. Dadas as suspeitas de se tratar de empresa fantasma, sem estrutura capaz de oferecer serviços nesse valor, Gilmar Mendes viu aí uma das possibilidades de escoamento das propinas do petrolão – a lavagem do dinheiro que, segundo a Lava Jato, vinha da corrupção na Petrobras para a campanha de Dilma. Mas o procurador-geral arquivou o pedido, indicando, basicamente, que o passado passou:  “Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm. Os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, disse Rodrigo Janot em seu despacho.

Um militante petista movido a sanduíche de mortadela não usaria argumentação diferente: o pedido de investigação das contas de campanha é choro de perdedor; conformem-se e esperem sentados por 2018. O discurso é também perfeitamente harmônico com o brado de Dilma contra os que supostamente querem roubar-lhe a legitimidade do voto. Todos querem roubar o PT, e o partido da inocência nem sequer oferece 100 anos de perdão. Perdoa­dos, só mesmo os que roubam com estrelinha na lapela. Esses podem ir e voltar à Papuda quantas vezes quiserem, que continuarão no altar da revolução.

O comentário do ministro Gilmar Mendes sobre o despacho do santo padroeiro das gráficas petistas foi o seguinte: “Ridículo”. Duvida? Então leia um pouco mais de Janot, justificando o arquivamento: “A inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas – exagerados – do espetáculo da democracia, para o qual a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”. Entendido? Investigar pixuleco atrapalha o espetáculo da democraciaesse que produziu um rombo espetacular de R$ 30 bilhões no Orçamento da União, segundo os organizadores, e R$ 100 bilhões, segundo as vítimas.

O reconhecimento do deficit proverbial na proposta orçamentária do governo para 2016 indica que os companheiros, ao menos, desistiram de continuar escondendo o rombo. Ou parte dele. Não é mais uma bondade do governo bonzinho: é uma tática para tentar justificar o aumento de impostos – incluindo a recriação da CPMF, que num primeiro momento foi fuzilada de todos os lados. O desastre administrativo do PT forjou um Brasil onde não dá mais para identificar onde termina o espetáculo da democracia e onde começa o espetáculo da cleptocracia. O único quadro claro, sem nenhuma nebulosidade, é a recessão grave em que o bando atirou o país.


Há um outro quadro claro, que o Brasil tem dificuldade de enxergar: a investigação da campanha de Dilma Rousseff é o caminho evidente para revelar que o governo do PT é, essencialmente, uma operação de pilhagem. Cabe aos lesados remover do caminho os pacifistas de aluguel. 

Fonte: Guilherme Fiúza – Revista Época