Após o ministro Nunes Marques, do STF, suspender a cassação de
deputados bolsonaristas, vice-presidente do TSE, Alexandre de Moraes,
reforça que a Corte Eleitoral punirá abuso de poder econômico e fake
news: "Não podemos fazer a política judiciária do avestruz"
A decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo
Tribunal Federal (STF), de devolver o mandato a dois deputados
bolsonaristas, cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), provocou
mal-estar entre magistrados das Cortes.
Ministro do STF e vice-presidente do TSE, Alexandre de
Moraes comentou o caso. Sem citar nomes, ele disse que não se pode fazer
“política judiciária do avestruz”. “Independentemente de um obstáculo que logo será
superado, logo mesmo, é isso que este ano nas eleições será aplicado no
Tribunal Superior Eleitoral. Para fins eleitorais, as plataformas, todos
os meios das redes serão considerados meios de comunicação para fins de
abuso de poder econômico e abuso de poder político”, disse, durante o
VIII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, promovido pelo Instituto
Paranaense de Direito Eleitoral (Iprade).
Moraes vai assumir o comando da Justiça Eleitoral em
agosto, no auge da campanha eleitoral. “Não podemos fazer a política
judiciária do avestruz, fingir que nada acontece”, enfatizou.
De acordo com o magistrado, “aqueles que se utilizarem
de fake news nas eleições terão seus registros indeferidos e seus
mandatos cassados, porque a democracia não admite que milícias digitais
tentem capturar a vontade popular”. “Quem se utilizar de fake news, quem
falar de fraude nas urnas, quem propagar discurso mentiroso,
fraudulento e de ódio terá seu registro cassado independentemente de
candidato a qualquer dos cargos”, frisou.
O vice-presidente do TSE também destacou o desafio que a
Corte enfrentará. “De uma coisa, temos certeza: este ano e os últimos
acontecimentos mostram que, de tédio, ninguém vai morrer este ano. Cada
dia, uma aventura para que a gente possa lidar.”
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo no
Supremo, Nunes Marques contrariou o TSE ao conceder liminar derrubando
as cassações do deputado estadual Fernando Francischini (União
Brasil-PR), condenado por disseminação de notícias falsas; e do deputado
federal Valdevan Noventa (PL-SE), punido por abuso de poder econômico e
compra de votos nas eleições de 2018. [as decisões do TSE, da mesma forma que as de qualquer outro tribunal do Brasil, estão sujeitas ao exame pelo STF e podem ser revistas, anuladas, seja pelo Plenário da Suprema Corte ou por decisão monocrática de um dos seus ministros. Oportuno lembrar que o candidato petista e ex-presidente, condenado em três instâncias e por nove magistrados, foi descondenado, não inocentado, em decisão monocrática de um ministro do STF.
Em nosso entendimento de leigo, causa surpresa que o ministro Alexandre de Moraes, ministro do TSE e também do STF, que está sempre pugnando em prol da Constituição Federal, da Democracia e do Estado Democrático de Direito, se manifeste, na condição de integrante do TSE - instância inferior ao STF - criticando decisão de um ministro da Corte Suprema, revogando decisão do TSE. Nomes não foram citados, mas resta claro quem foi o criticado e os motivos da crítica.]
Análise
A 2ª Turma do STF deve analisar as decisões de Nunes Marques. A Corte aguarda ser provocada para levar os casos à apreciação. Entre os magistrados, a tendência é de que as decisões sejam derrubadas.
Cabe ao procurador-geral da República, Augusto Aras —
escolhido para o cargo por Bolsonaro — a decisão de contestar ou não, no
STF, as determinações de Nunes Marques. Outro caminho é a provocação do
vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gustavo Gonet. Quando Francischini foi condenado, o Ministério Público
Eleitoral (MPE), comandado por Aras, argumentou que o deputado
“extrapolou o uso normal de ferramenta virtual”.
A 2ª turma do Supremo é composta por Edson Fachin,
Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, André Mendonça e Nunes Marques.
Caberia a este último decidir quando levar o tema a debate.
Mesmo
sendo julgados no colegiado, os casos ainda podem ir à análise do
plenário do STF, formado por 11 ministros. Essa medida será possível se
houver pedido de algum magistrado da Corte ou se o PGR apresentar
recurso.
PT recorre ao STF contra decisão
O PT recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, contra a decisão do ministro da Corte Nunes Marques, que devolveu o mandato do deputado federal Valdevan Noventa (PL-SE). O político havia sido cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico. Quem assumiu a vaga dele na Câmara foi Márcio Macêdo (PT-SE).
Segundo a petição do PT, o entendimento de Nunes
Marques contraria a Constituição. “Essa decisão, com as devidas vênias,
atenta contra os preceitos processuais e gerará grave lesão à ordem
pública, razão pela qual se utiliza da presente via de Suspensão de
Liminar para requer desse egrégio Supremo Tribunal Federal a restauração
da decisão da Justiça Eleitoral, nos termos que se seguem”, escreveu o
partido.
O documento foi endereçado ao presidente da Corte,
ministro Luiz Fux. O PT citou que a ordem de Nunes Marques representa
uma “afronta” à Justiça e pode provocar insegurança jurídica.[os petistas esquecem que a maior afronta as leis e à Justiça é o candidato petista ao cargo de presidente da República, ter sido condenado por nove magistrados, em três instâncias e ter sido descondenado por um problema de CEP.] “Restam apenas 6 meses para o fim da legislatura, de
tal sorte que a decisão em questionamento representa evidente risco ao
resultado útil do processo e provocará insegurança jurídica quanto à
estabilidade das decisões proferidas pelo egrégio Tribunal Superior
Eleitoral, especialmente quando as vias processuais, naquela Corte,
ainda não foram totalmente esgotadas”, frisou.
Ontem, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), determinou que Noventa retome o cargo na Casa e afastou Macêdo.
Bolsonaristas elogiam ministro Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL)
comemoraram a decisão do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF),
que reverteu decisões da Justiça Eleitoral e devolveu o mandato a parlamentares apoiadores do chefe do Executivo
que haviam sido cassados: os deputados federal Valdevan Noventa (PL-SE) e estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR).
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) disse que a decisão
do ministro é um “sopro de justiça e respeito à Constituição”. Tanto a
parlamentar quanto outros aliados do presidente são críticos ao Supremo,
sobretudo ao ministro Alexandre de Moraes, que já expediu decisões
contrárias a deputados bolsonaristas.
O deputado federal Carlos Jordy (PL-SP) parabenizou o
ministro e classificou as decisões anteriores da Corte eleitoral como
injustiça. Ele escreveu: “Parabéns ao ministro Nunes Marques do STF,
cuja decisão corrige uma grave injustiça do TSE”.
O pré-candidato a deputado pelo Rio de Janeiro
Alexandre Ramagem, que foi coordenador da segurança de Bolsonaro na
eleição de 2018, listou atitudes do ministro que, segundo ele, estão de
acordo com o “ordenamento jurídico”. “O ministro Nunes Marques vem
cumprindo a defesa do ordenamento jurídico, contra atropelos dos demais
ministros. Votou por manter as condenações de Lula; pela absolvição do
deputado Daniel Silveira; e, agora, pela liberdade de um parlamentar
questionar o sistema das urnas eletrônicas”, publicou.
Política - Correio Braziliense