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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Sobre o auxílio-moradia a juízes: legal igual a moral?

Benefício é pago independentemente de o magistrado ter imóvel próprio

Há algum tempo a categoria de juízes vem sendo exposta em razão do auxílio-moradia. O benefício é pago independentemente de o magistrado ter imóvel próprio na cidade em que trabalha. Os juízes argumentam que a concessão do benefício é legal e, portanto, não há problema moral em requerê-lo. O juiz Sergio Moro argumentou que o benefício compensa os salários congelados há três anos. Faltou lembrar que os impostos também não crescem há três anos.

Apesar da legalidade, a percepção é que o benefício é imoral.

O colunista Eugênio Bucci, na edição de quinta (15) do jornal "O Estado de S. Paulo", afirmou que o governo estereotipava os servidores públicos como privilegiados. Os servidores públicos somente "acreditaram na promessa do Estado de que, se topassem trabalhar recebendo proventos limitados, (...) teriam, no final da vida, uma aposentadoria digna".  Recente estudo do Banco Mundial mostrou que o Estado brasileiro remunera trabalhadores com as mesmas características de qualificação com salários 70% maiores do que o setor privado. A prática mundial é que esse "excesso" de remuneração do setor público seja de 15%. Não parece que os proventos sejam "limitados".

Bucci esqueceu que a reforma da Previdência em tramitação no Congresso Nacional não elimina os princípios de integralidade e paridade do benefício previdenciário dos servidores, mas apenas determina que serão garantidos para os que se aposentarem com 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. Parece que são idades razoáveis para caracterizar "no final da vida".  Os dois princípios mencionados estabelecem que o servidor se aposenta com o último salário e tem a garantia de receber todos os aumentos reais concedidos aos ativos. [mais uma vez o articulista omite que o servidor público contribui sobre o máximo que recebe de salário - teto salarial - enquanto o contribuinte da iniciativa, mesmo ganhando R$20.000,00, contribui apenas sobre o teto da Previdência: cinco mil e poucos reais.

Quem contribui sobre mais é justo, legal, ético e moralmente correto, que receba mais.]

Adicionalmente, a população em geral entende que poder se aposentar com 55 anos, por exemplo, e ser elegível à paridade e à integralidade é privilégio. Parece ser o caso. Vale lembrar que as pressões dos servidores sobre os deputados para que a reforma não ande são fortíssimas. E eles sempre vendem para a sociedade que seu interesse é o coletivo. Entende-se, portanto, o esforço de propaganda da reforma pelo governo. Se a reforma for aprovada, após seis meses as mesmas regras se aplicarão aos servidores dos Estados. E os Estados estão quebrados. Para os Estados, o principal motivo da quebradeira é a folha de servidores ativos e inativos. As regras previdenciárias fazem com que hoje um Estado, para cada coronel da PM da ativa, por exemplo, pague de 20 a 30 benefícios para inativos ou suas viúvas.

No Carnaval, pegou muito mal a informação de que o apresentador Luciano Huck se beneficiou de um empréstimo do BNDES a taxas de juros reais negativas para comprar um jatinho. Tudo legal. A percepção é que houve privilégio. O grande problema é tratarmos os iguais de forma desigual. Vale para os servidores, vale para os regimes especiais de tributação, Simples e lucro presumido, vale para os empréstimos do BNDES, vale sempre que alguém se beneficia de uma meia-entrada.

Evidentemente, cada qual, e este colunista não é exceção, olha a sua meia-entrada como sendo plena de justificativa e de razões.  O desempenho de nossa economia nos últimos 35 anos sugere que essa economia política não está funcionando bem. Excelente indicação de leitura é "Por que o Brasil Cresce Pouco?" de Marcos Mendes, editado pela Campus.


Samuel Pessoa - Folha de S. Paulo

 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Até o fim, Joesley acreditou que escaparia ileso

Joesley Batista já descansava em sua casa, em São Paulo, quando Rodrigo Janot postou-se frente às câmeras, em Brasília, para anunciar que poderia cancelar a delação do empresário. Durante os quase 20 minutos em que o procurador-geral da República falou na noite da última segunda-feira, dia 4, o mundo político parou. Na Rua França, no bairro paulistano do Jardim Europa, a tevê de Joesley permaneceu desligada. O empresário preferiu não ver o pronunciamento. O insistente tilintar do aparelho celular, no entanto, foi mais difícil de ignorar. Aos mais chegados, Joesley respondeu não entender o que se passava. O delator mais famoso do País repetia não saber por que Janot estava tão irritado. 

A aparente serenidade contrastava com a percepção geral de que Janot impunha profundo revés ao empresário. Joesley, que comprara briga com o presidente da República e com boa parte da classe política, perdia naquele momento seu mais importante aliado. Por meses, o procurador-geral defendera os termos do acordo, que previa imunidade total ao bilionário. Com sua fala, Janot escancarava a possibilidade de que ele fosse parar na cadeia. Joesley, que até então parecia conseguir se antecipar aos fatos e controlar seu destino na investigação criminal, não percebeu.

Cinco dias antes, o empresário entregara ao Ministério Público Federal nova leva de áudios, incluindo a gravação que enfureceu Janot. Havia sido o próprio Joesley, com ajuda de um advogado interno da J&F, o encarregado de analisar e preparar o anexo que incluía o áudio comprometedor – seu principal advogado na delação, o criminalista Pierpaolo Bottini, estava impedido de auxiliá-lo por defender citados na gravação.

Com o conteúdo enviado à PGR, Joesley voltou-se a problemas de ordem empresarial. Preocupava a tentativa do BNDES de sacar seu irmão Wesley da presidência da JBS, companhia criada por seu pai e principal fonte de riqueza do grupo. O conglomerado lutava ainda para fechar a venda da Eldorado Celulose, que garantiria à J&F dinheiro para quitar suas dívidas. As boas notícias vieram. Com ajuda da Justiça, a disputa com o banco estatal foi adiada. A Eldorado foi passada à frente, num acordo que previa o pagamento de espantosos R$ 15 bilhões. Tudo parecia caminhar bem no mundo de Joesley. No domingo, o clima era de comemoração na casa do bilionário.

Lentidão
Joesley não admitia que o movimento de Janot representasse o fim da boa fase. Insistia com seus auxiliares que a situação era contornável. Na manhã seguinte à fala de Janot, na terça-feira, 5, fez questão de manter a rotina. Aprumou-se e seguiu para Brasília em seu jatinho para um depoimento previamente agendado. Foi quando o áudio começou a vazar. Na conversa com o lobista e também delator, Ricardo Saud, um embriagado Joesley falava de planos para manipular procuradores, enredar o STF na delação, conquistar mulheres. Abundavam palavras chulas e impropérios. Num só lance, Joesley se indispunha com a PGR, com o Supremo, com sua mulher e até com sua defesa — citada de forma grosseira por Joesley no áudio, uma de suas advogadas deixou o caso. 

Seus assessores ficaram atordoados. Reclamavam de não terem sido avisados do áudio. Diziam não entender como o bilionário, até então tão astuto, cometera erro de avaliação tão crasso. Com estilo centralizador, Joesley escolhera os passos que pavimentaram sua exitosa delação. Era também ele o responsável por levá-lo à crise que ameaçava sua liberdade.

Somente na quarta, dois dias após Janot avisar que poderia revogar os benefícios de sua delação, Joesley chamou assessores para analisar o que fazer. Rumou para o escritório de Bottini, na região da Avenida Paulista, de onde só saiu após a noite cair. Reunido com Saud e o advogado Francisco de Assis (também delator), e em meio a um vaivém de advogados, ouviu a gravação. Afirmou aos auxiliares não ter mudado de opinião. Para ele, não havia crime e, por isso, não havia o que temer, segundo pessoas próximas. Joesley fiava-se em sua capacidade de se safar de problemas. Avaliava que seu depoimento, marcado para o dia seguinte em Brasília, esclareceria os fatos, preservando sua delação premiada.

Baque
Tal tranquilidade não era partilhada por Saud e Assis, que já demonstravam forte apreensão. Familiares também indicavam nervosismo com a situação. Um executivo que esteve com Wesley Batista na semana passada diz que o empresário não escondia o abatimento com a ameaça de prisão do irmão. Já Joesley seguiu em estado de aparente negação até o pedido de prisão se concretizar. Já de volta a São Paulo, na sexta, argumentava que não havia motivo jurídico que o levasse à cadeia. Reclamava de cansaço e disse que emendaria o feriado.

No sábado, com o pedido de prisão consumado, restou a Joesley pensar em como seguir para a cadeia. Cogitou pegar seu jatinho e se entregar em Brasília. Foi desaconselhado por advogados, temerosos de que o movimento até o aeroporto fosse visto como tentativa de fuga. No domingo, 10, de manhã, ainda tentou tranquilizar o pai e a mãe. Partiu da casa dos dois rumo à carceragem da PF em SP.

 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Saud gravou Joesley

Havia até ontem uma pergunta que não queria calar: por que Joesley Batista, dono do Grupo JBS, despacharia para a Procuradoria Geral da República uma gravação que poderá lhe custar, e a executivos de sua empresa, a perda dos benefícios da delação premiada e, quiçá, a liberdade?

A resposta à pergunta é esta: não foi Joesley que despachou a gravação para a Procuradoria. O que ele chamou de conversa de bêbados foi gravada por Ricardo Saud, diretor de relações institucionais do grupo. Saud meteu a gravação em meio a documentos enviados recentemente ao procurador Rodrigo Janot.  Não foi também uma conversa de bêbados. O único bêbado era Joesley, que não sabia que estava sendo gravado. Na maior parte das 4 horas de gravação, Saud pouco falou para não se comprometer. Desde que a gravação foi feita em meados de março último, se deterioram as relações entre Saud e Joesley.

Joesley gravou o presidente Michel Temer no porão do Palácio do Jaburu em 7 de março. A gravação deu no que deu – quase derrubou Temer, paralisou o governo por alguns meses e enfraqueceu-o ao ponto de tornar improvável a aprovação pelo Congresso do cardápio de reformas formatado pelo presidente.  Saud gravou Joesley e agora tem esperança de não ser punido porque nada disse de grave durante a conversa, quase um monólogo do seu patrão. Foi Joesley, ele não, quem soltou uma nota pedindo desculpas aos atingidos pelo que disse – entre outros, três ou quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)

A respeito da ministra Cármen Lúcia, Joesley disse que ela fora namorada do ex-presidente Itamar Franco, a quem serviu quando ele era governador de Minas Gerais. Mentiu, e em tom de deboche. Os dois jamais namoraram. Joesley foi também desrespeitoso ao fazer referências à vida particular de outras autoridades.  A Polícia Federal está à caça de informações sobre um voo do jatinho de Joesley com destino a Miami que teria proporcionado a políticos a experiência pouco usual de uma suruba aérea. Pelo menos um senador do Nordeste estava a bordo, mas, segundo confidenciou a um amigo, recusou-se a participar da folia.

Se não hoje, o que parece mais provável, até o início da próxima semana Janot deverá propor ao STF a anulação dos benefícios concedidos a Joesley e a executivos do seu grupo por conta da delação que fizeram. Não descarta pedir também a prisão deles. Uma vez que o faça, será atendido.

Fone: Blog do Noblat - O Globo


domingo, 28 de maio de 2017

Erros em série = acordo de delação com os donos da JBS

O acordo de delação com os donos da JBS constituiu um emaranhado de equívocos: um áudio não periciado, um procurador que se bandeou para o outro lado e dois colaboradores que foram curtir a doce vida em Nova York, livres de qualquer denúncia. Para a Lava Jato, não poderia ter sido pior 

Diante das inescapáveis conseqüências nas esferas política, econômica e financeira, a delação da JBS bem que poderia ter sido costurada de maneira mais responsável, com a acuidade necessária e sem o açodamento típico dos incautos.

Mas os responsáveis por conduzi-la preferiram desprezar o manual que, em casos delicados como o que abalou a República nos últimos dias, se impõe às boas práticas jurídicas. O que se viu foi um show de horrores, ao arrepio da lei. Senão vejamos: em que lugar do mundo uma denúncia seria divulgada sem a averiguação prévia da principal prova material que a sustenta, qual seja, o áudio que atingiria pessoal e politicamente um presidente da República?

Em que planeta caberiam aos delatores do escândalo decidir como, quando e para quem seriam vazados os teores de um diálogo bombástico com enorme potencial explosivo para o País?  E por que, depois de uma série de crimes confessados, os mesmos delatores escapariam ilesos de qualquer denúncia, rumo a um exílio dourado em outro país?  Só na terra de Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, equívocos desta natureza encontram guarida. Para a Lava Jato, tratou-se de um gol contra, uma vez que foram abertas brechas para que toda a operação seja questionada mais adiante – o que constituiria uma catástrofe tanto para os integrantes da força-tarefa, como para o Brasil.

Entre tantos erros primários, o maior deles foi, sem dúvida, o vazamento dos áudios das conversas entre o presidente da República e o dono da JBS, na noite no último dia 17, de maneira apressada. Sem qualquer perícia nas gravações, sem a verificação se foram editadas ou não e, principalmente, sem ter checado se o que foi atribuído ao presidente estava realmente nos trechos gravados.  Quando o site do jornal O Globo detonou o escândalo, dizia-se que Temer tinha dado anuência para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, atribuindo-lhe a frase: “Tem que manter isso, viu?”. Na verdade, soube-se depois, a declaração de Temer sucedeu a confissão de Joesley de que estava “bem com o Eduardo”. Mesmo que constrangedora, a frase não significava o aval à compra de Cunha.

A pressa em divulgar o escândalo revelou precipitação. Afinal, a PGR recebeu quatro arquivos de áudio sem checar se eles tinham sido editados. Nem mesmo os dois gravadores foram entregues aos procuradores. A Associação Nacional de Peritos Criminais Federais (APCF) condenou a prática. “Ao se ouvir o áudio, percebe-se a presença de eventos acústicos que precisam passar por análise técnica, sem a qual não é possível emitir qualquer conclusão acerca da sua autenticidade”, afirmou a entidade.

Dias depois da queixa dos peritos, o gravador foi enviado à PF. O segundo gravador só chegou na terça-feira 23 ao Instituto Nacional de Criminalística. Contratado por Temer, o perito Ricardo Molina usou a nota da APCF para embasar um laudo feito em menos de cinco dias e afirmar, categoricamente, que havia edições no áudio e que, portanto, as gravações deveriam ser desconsideradas como prova

Independentemente da conclusão do caso, ou mesmo que se conclua pela autenticidade das gravações, um fato é insofismável: a trapalhada poderia ter sido evitada.

Quarentena
Outro fato grave não tratado com o devido cuidado envolveu o advogado Marcelo Miller. Ele integrava a PGR até recentemente, mas passou a advogar para Joesley sem obedecer a qualquer quarentena. Pior: passou a representar o dono da JBS nas negociações da leniência da empresa com o MPF.  A condescendência no acordo de delação com Joesley, com aval do ministro Edson Fachin, do STF, foi outro fato a motivar críticas aos magistrados. A concessão de benefícios aos delatores foi muito superior ao que foi dispensado a outros colaboradores da Justiça.


A PGR sequer apresentou uma denúncia. Normalmente, os investigados conseguem a promessa de que suas penas serão reduzidas em juízo, cumprindo pelo menos um período de detenção domiciliar, com tornozeleira eletrônica e entrega de passaportes. Com os irmãos Batista foi diferente.  Eles seguiram para os Estados Unidos a bordo de um jatinho avaliado em US$ 50 milhões. Até o iate da dupla foi despachado para Miami. Antes de deixarem o País, ganharam uma fortuna aplicando R$ 1 bilhão na compra de dólares, que teve alta expressiva após a denúncia. No final da semana, circulou a notícia de que Ricardo Saud, executivo da JBS, teria sido um dos fiadores da nomeação de Fachin ao STF. A quem caberia zelar pelo rumo da investigação, produziu um escândalo dentro do escândalo.


Ao liberar os áudios de conversas entre Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), e o jornalista Reinaldo Azevedo (acima), nos quais não havia qualquer vestígio de crime, o Supremo Tribunal Federal (STF) patrocinou uma ilegalidade que feriu a Constituição.

A conversa foi gravada pela Polícia Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e estava entre as 2.200 gravações dos grampos da JBS entregues aos jornalistas na semana passada. A iniciativa do STF configurou-se como um atentado à liberdade de imprensa e de desrespeito ao direito do sigilo da fonte, previsto no artigo 5º da Carta Magna.  “O episódio enche-nos de vergonha, é um ataque à liberdade de imprensa e ao direito constitucional de sigilo da fonte. Desenha-se no Brasil um estado policial que sempre foi combatido pelo STF”, sapecou o ministro do STF, Gilmar Mendes. Com a repercussão negativa, o ministro Edson Fachin impôs sigilo aos áudios. O recuo veio tarde, pois as conversas já haviam sido divulgadas por um site. O mal já estava feito. O Estado Democrático de Direito, violentado.

Fonte:  Revista Isto É



sexta-feira, 8 de abril de 2016

Quem paga a conta do hotel e do jatinho que o transporta no seu vaivém entre São Paulo e Brasília?

Impedido por uma liminar do STF de assumir a chefia da Casa Civil da Presidência, Lula tornou-se um ministro sem pasta. Utiliza um quarto de hotel como gabinete improvisado. E já dispõe até de um assessor informal na guerra que trava contra o pedido de impeachment. Trata-se do ex-ministro Walfrido Mares Guia. No governo Lula, ele comandou as pastas do Turismo e das Relações Institucionais —nesta última, respondia pela coordenação política do Planalto.

Jeitoso, Mares Guia vem auxiliando Lula no esforço subterrâneo para evitar que a oposição obtenha na Câmara os 342 votos de que precisa para enviar o pedido de impeachment ao Senado.

Mais um pouco e Lula vira um escândalo dentro do outro. Há incômodas perguntas no ar. Por exemplo: quem paga a conta do hotel e do jatinho que o transporta no seu vaivém entre São Paulo e Brasília?

Fonte: Blog do Josias de Souza 

 

domingo, 20 de setembro de 2015

“The Walking Dead” e outras seis notas de Carlos Brickmann

A tropa de funcionários sem concurso continua lá, como se tudo estivesse normal. Aloizio Mercadante faz cara de bravo e ocupa o espaço ao lado do rosto e acima do ombro de Dilma, como se as fotos ainda valessem a pena. Sibá Machado e José Guimarães aquele cujo assessor andava com dólares na cueca ─ ainda discursam, como se alguma vez tivessem sido importantes. E todos correram para buscar socorro com o Pai de Todos, o Número 1, o Boa Ideia, O Cara, como se Lula ainda pudesse salvar seus empregos e mordomias. No momento em que pediram socorro ao Pai dos Postes, anunciaram que o governo acabou.

Se a Benemerenta que distribui nomeações e benesses e manda no Diário Oficial não consegue sustentar-se no poder, nem distribuindo dezenas de Ministérios, não tem como ostentar o majestoso título de Denta. Denta virou cargo honorífico. Como diria um filho cujo pai o chamou de Ronaldinho dos Negócios, game over. Como nos desenhos animados em que o personagem anda na prancha e só despenca no abismo ao perceber que a prancha acabou, falta apenas cair.

E táticas que já deram certo dificilmente funcionarão agora. Lula, estrela máxima do petismo, já se queixou de que não pode sequer ir a um restaurante. Não pode tomar um voo comercial nem, por outro motivo, os bons jatos dos empresários. Sujeita-se a um jatinho pequeno, apertado. Aliados o abandonam; amigos antigos, como José Dirceu, ele os abandonou. E, se nem aos tradicionais restaurantes do tempo de metalúrgico pode ir, que prestígio lhe resta para dar a Dilma?

O jatinho pequetitinho
Como Lula viaja, hoje? Já se sabe: num jatinho Cessna 525, prefixo PR-BIR, de uma empresa do ex-ministro Walfrido Mares Guia. O dono do jato que serve a Lula é filiado ao PTB e foi vice do governador tucano Eduardo Azeredo, em Minas. O PT o acusou de articular o Mensalão Mineiro, esquema de corrupção eleitoral que seria seguido pelo Mensalão propriamente dito, e de ser protegido pela Justiça pela ligação com tucanos.


Com a eleição de Lula, Mares Guia foi seu ministro do Turismo e das Relações Institucionais. Saiu em 2007, acossado pela Justiça (as acusações prescreveram só em 2014). Mas, pelo jeito, continuou amigo de Lula, daqueles de guardar debaixo de sete chaves (e um brevê de piloto).

Julgando a chapa
Os locutores de futebol diriam: que fase! Bem no meio da crise, a ministra Luciana Lóssio, do Tribunal Superior Eleitoral, liberou para julgamento um dos processos em que o PSDB pede a cassação do registro da chapa Dilma-Temer. A questão entra em pauta nesta terça, 22. Até agora, votaram pela aceitação do processo (atenção: não é julgamento. É apenas o ato de recebê-lo para que seja julgado em outra ocasião) quatro ministros: João Otávio Noronha, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Henrique Neves. Votou contra a ministra Maria Thereza de Assis Moura. Faltam os votos de Luciana Lóssio e de Dias Toffoli, presidente do Tribunal. 

Mas, apesar da maioria, a questão não está decidida: enquanto a votação não se completar, cada ministro tem a prerrogativa de alterar seu voto.

Sacudindo o governo
O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais anunciou greve geral para quarta-feira, como protesto contra o adiamento de janeiro para agosto do reajuste do funcionalismo. Decretar greve é uma coisa, realizá-la é outra: se der certo, será a primeira a ocorrer no país. No mesmo dia, deve haver manifestações do MST e MTST, grupos que sempre estiveram ao lado do PT.

A coisa é confusa, a favor de Dilma, contra Levy, mas enfraquece o governo. 

A conta do pacote
Por que a revolta do funcionalismo? Porque, no corte de despesas previsto no plano do governo, 40% se dirige ao bolso dos funcionários públicos. 

E não é só o governo
Um assíduo leitor desta coluna recebeu carta de seu seguro-saúde, ligado a um dos maiores grupos empresariais do país. Informa a carta que o plano, conforme autorizou a ANS, Agência Nacional de Saúde, está subindo 13,31% mais que o dobro da taxa de inflação no período, medida pelo Índice Geral de Preços.


O leitor pegou então sua apólice de 1988 e atualizou o preço para o valor de hoje da moeda. O pagamento, corrigido pela inflação, seria de R$ 943,72. Mas o custo mensal do plano é agora de R$ 2.406,00, pouco menos que o triplo da tabela original, corrigida pela inflação oficial.

Em resumo, o governo é o leão que se alimenta de nosso dinheiro; e que libera as hienas para que comam o resto.

Excelentíssimas excelências
A República já tem mais de um século, mas velhos hábitos se mantêm. A mania de se diferenciar da rude plebe, por exemplo: até reitores, que deveriam perceber o ridículo, fazem-se chamar de “Vossa Magnificência”. Parlamentares, por menos excelentes que sejam, exigem o tratamento de “Vossa Excelência”. Juiz, por ser juiz, passa a se distinguir pelo mérito e vira “meritíssimo”. Agora, delegados da Polícia Federal querem ser chamados de Vossa Excelência, e alguns, quando o tratamento não é usado, movem processos disciplinares contra os subordinados.


Os agentes da PF entraram na Justiça para contestar a determinação.

Fonte: Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN



 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A QUADRILHA DOS POBRES



Nada mais velho do que a tentativa de nossa esquerda monopolizar as virtudes e os fins nobres, como se somente ela se preocupasse com os mais pobres e defendesse seus interesses. Na incapacidade de debater focando em argumentos e fatos, de rebater as acusações de seus “malfeitos” no poder, de responder sobre os infindáveis escândalos nos quais se vê envolvida, essa esquerda apela para o velho bordão de que faz tudo em defesa dos pobres e, portanto, goza de um salvo-conduto para o crime.

“Não somos ladrões”, disse o ex-ministro Gilberto Carvalho. É o brado dos corruptos que banalizaram a corrupção. Escândalos milionários quase não ganham mais destaque, uma vez que os bilionários assumiram seus lugares. Desvios que destroem as maiores empresas estatais do país e, no caminho, deixam “comissões” de US$ 100 milhões na Suíça para subalternos. Ladrões? Claro que não. Essa palavra seria suavizar demais, amenizar demais o que significa montar um verdadeiro sistema de corrupção em toda a máquina pública.

E não é “só” isso! Crimes mais bisonhos, como o até hoje inexplicado assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito petista, assombram certas figuras do partido, que alguns preferem chamar de “ajuntamento mafioso”. Ladrão parece uma figura menor, quase insignificante quando se analisa o currículo de alguns membros da alta cúpula do PT

 Ladrão nos remete ao sujeito que furtou um objeto de uma loja, não ao mais corrupto governo da história deste país.  Diante de tudo isso, resta apelar para o monopólio da defesa dos pobres. A “quadrilha dos pobres”, eis a única quadrilha a que pertencem. E são atacados pela “elite” pois esta não suportaria a ascensão dos mais pobres. 

Só há um “detalhe”: ninguém mais é pobre na quadrilha. Todos ficaram ricos, frequentam o hospital privado mais caro do país, circulam de jatinho por todo canto, compram coberturas triplex em locais de luxo, bebem dos melhores vinhos. [curioso: este parágrafo me faz pensar no $talinácio Lula da Silva.]

Pobres são aqueles manipulados pelos corruptos, usados como massa de manobra, como inocentes úteis para seu projeto de poder.

O populismo precisa dos pobres como o poeta necessita da dor. Sem eles, os populistas não conseguem se perpetuar no poder, falando em nome dos pobres, enquanto enchem os bolsos e as contas no exterior de dinheiro sujo, desviado do orçamento público. Para que os populistas transformem a “coisa pública” em “cosa nostra”, faz-se necessária a existência de uma gama de pessoas carentes e ignorantes, desesperadas por esmolas.
O trabalho sujo de forjar um elo artificial entre uns e outros fica a cargo dos “intelectuais”, que se vendem por migalhas ou em busca do ópio para apaziguar sua alienação perante a sociedade “burguesa”, que detestam com todos os músculos de seus corpos. Assim nasce a falácia de que essa esquerda corrupta, carcomida, autoritária e indecente, a tal elite vermelha, luta pelos direitos dos pobres. Nada mais falso.

O pobre é só seu mascote, seu instrumento de “trabalho”, sua argila a ser moldada de forma a permitir o enriquecimento e o acúmulo de poder por parte da quadrilha. A quadrilha dos ricos que exploram os pobres, usando o socialismo, o discurso igualitário, o populismo, a retórica messiânica, como entorpecentes para garantir sua permanência no poder.

Usurpam a esperança dos incautos e abusam de sua estupidez para viverem como os nababos capitalistas que condenam nos discursos hipócritas. Agem como os piores coronéis nordestinos do passado – e do presente. Ladrões? Não são “apenas” ladrões. São muito mais do que isso. São muito piores!

Fonte: Rodrigo Constantino – Revista VEJA