Sempre me
vi como um aprendiz, bom ouvinte, atento às páginas do cotidiano, da
história e dos livros. Eis porque não consigo entender a pouca atenção
dada às imensas oportunidades de aprendizado e experiência que a sala de
aula dos fatos proporciona em nosso país. E note-se: fatos de muito boa
pedagogia.
Lição nº 1 – Depois da ordem divina que pôs o Paraíso Terrestre em lockdown,
o Senado brasileiro tornou-se a melhor alternativa disponível. Como
regra geral, é o prêmio que a política partidária reserva a seus
caciques (ou estes para si mesmos). É ali que comem a maçã, conversam
com a serpente, preservam a impunidade, articulam o próprio futuro e
determinam o tamanho da conta que mandarão para nós. Muda Senado!
Lição nº 2
– A CPI da Covid-19 é aula magna apresentada por eminentes doutores na
arte da mistificação e do sofisma. Pensada pela serpente para organizar a
seu modo e gosto o ambiente político de 2022, tem deixado à mostra o
bote armado, os dentes e o chocalho no rabo. Esse Senado onde as boas
exceções não contam 20 votos, esse Senado dos caciques, suportado pelos
eleitores sem um justo brado de revolta, prova nossa negligência para
com a política e o bem do país. Só uma instituição majoritariamente
desqualificada extrairia de seus quadros tal deformidade para fazer o
que faz. Muda Senado!
Lição nº 3
– Era preciso estar hibernando no início deste século para não perceber
o que inevitavelmente iria resultar de um STF quase inteiramente
indicado pelo PT.
Um colegiado escolhido pelo partido, soprado por José
Dirceu, poderia ser melhor ou, mesmo, diferente?
A outrora respeitável
Suprema Corte brasileira tornou-se um poder contra a nação e fez da
Carta de 1988 seu objeto multiuso, seu canivete suíço. Mais do que
todos, sabem-no os membros da Corte e enaltecem a si mesmos
declarando-se “contramajoritários”. Mas saibam: essa é apenas uma
expressão de suposta cultura jurídica para fazerem o que bem entendem,
chutando a democracia e o resultado das urnas... Muda STF!
Lição nº 4
- Cento e trinta e dois anos de crises, instabilidades, frustrações não
foram suficientes para nos mostrar que esse modelo institucional é
incorrigível. De um modo sistemático, transforma a governabilidade em
mercadoria, agrega oportunidades e valor à corrupção, produz hipertrofia
e aparelhamento do Estado e, a cada quatro anos, renova para pior a
representação parlamentar. Acorda Brasil!
Lição nº 5
– O presidente da República não é um príncipe perfeito. Às limitações
institucionais, somam-se as próprias.
Mas tem méritos, políticos e de
gestão. Graças a ele, a seus esforços pela liberdade, resistimos à
depressão para onde, de modo doentio, insistem em nos levar os grandes
meios de comunicação. Ele não é o conservador nem o liberal de manual,
mas defende valores estimados por uns e outros. E é o único que pode, no
ano que vem, vencer o adversário que quer voltar para prosseguir a obra
sinistra interrompida em 2018.
Deus abençoe e fortaleça os conservadores e liberais brasileiros!
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.