Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador protestante. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador protestante. Mostrar todas as postagens

sábado, 29 de outubro de 2022

No tempo da vovó, dava para ser atriz pornô; hoje, não - Gazeta do Povo

Bruna Frascolla -  VOZES

Revolução cultural

Em resumo, o que Gertrude Himmelfarb apontava nos EUA é que o país passou de uma cultura hegemônica na qual todos deviam ser castos para uma cultura hegemônica na qual todos devem ser devassos. Segundo ela, que recorre a Smith, a uniformização dos costumes decorre de uma condição material, que é a ausência de classes sociais demarcadas. Sem classes sociais demarcadas, sem moral de pobre e moral de rico bem demarcadas. 
No entanto, olhando em particular para a questão dos costumes sexuais de cada indivíduo, creio que não dê para ter uma explicação tão materialista assim. 
Vejamos: numa sociedade puritana, protestante, não há um lugar nem para uma mulher disposta a transar com vários homens, nem para uma mulher que não queira ter atividade sexual nenhuma ao longo da vida. O certo é casar e ter filhos, uniformemente, para todas as mulheres. Já no cenário católico, há um lugar para ser uma porção de coisas entre prostituta e freira. O Brasil não criminaliza a prostituição porque é um país de formação católica; Santo Agostinho via a prostituição como um mal necessário.

Digamos que a uniformização é uma marca cultural protestante, antes de ser uma questão econômica. É claro que se podem apontar as diferenças econômicas entre sociedades protestantes e católicas, mas aí cai-se facilmente na questão do ovo versus a galinha. Nessa questão, fico com Weber: a ética protestante veio antes das mudanças materiais do capitalismo. A cultura veio antes da matéria. Mas, como víamos, essa contracultura uniformizadora se espalharia pela cristandade ocidental, fosse ela católica ou protestante. Assim, se lá a ordem foi todas deixarem de ser uniformemente carolas para serem uniformemente prostitutas, por aqui a ordem é dupla: temos que passar não só a ser prostitutas, mas a ser todas iguais. Essa pressão pela igualdade se vê até na fisionomia das artistas pop, que fazem todo tipo de “procedimento” para ficarem com as mesmas maçãs, o mesmo formato de rosto, o mesmo nariz e os mesmos lábios. Salta aos olhos que a uniformidade é levada ao extremo.

Escolhas uniformizadas

Recentemente, traduzi dois textos indicados pelo editor sobre vício em pornografia. Um dos textos, de um veículo dos EUA, trazia a polêmica de uma política democrata que, perante estudos que mostram que os homens jovens de lá estão transando menos, decidiu que o sexo era um direito e portanto a prostituição deveria ser descriminalizada.  
A consequência do direito ao sexo é a obrigação de outrem abrir as pernas, o que, em última análise, é capaz de acarretar o direito ao estupro. (Digamos que um cliente adquira tamanha má reputação que nenhuma prostituta queira atendê-lo. A existir um direito ao sexo sanado por meio de prostitutas, das duas, uma: ou o homem fica na mesma situação de um paciente do SUS com doença rara que precisa de um remédio caríssimo, caso apareça uma prostituta que aceite se submeter a ele por um preço muito alto, ou haverá o direito ao estupro, caso nem mesmo uma prostituta assim apareça.)

Do outro lado, uma conservadora alegava que a descriminalização da prostituição levaria a uma alta na procura por prostitutas, que, por sua vez, levaria a um aumento no tráfico de pessoas e na escravidão sexual. Bem à americana, não falava “prostituta”, mas “pessoa prostituída”. O politicamente correto e sua linguagem apassivadora são ambidestros por lá.

Pois bem: neste país que convive com a prostituição desde sempre, é muito claro que existem prostitutas que são prostitutas porque querem – desde as bem nascidas até as pobretonas –; que, mesmo que algumas tenham tido mais escolhas do que outras, quase todas tiveram escolhas; e, se não teve, é porque foi vítima de algum criminoso, provavelmente na menoridade. No mais, toda a argumentação direcionada à proibição da prostituição baseada na exploração (que é crime no Brasil) me desperta muito ceticismo, pois poderia ser facilmente usada para proibir a existência de canaviais. 

Aposto que é mais fácil encontrar um prostituta com conforto financeiro e opções de mudar de trabalho do que um cortador de cana. A prostituta podia pagar a faculdade (no tempo em que diploma dava emprego) e mudar de vida; o cortador de cana não se qualifica para nada enquanto corta cana.

Assim, ambos os lados da questão presumiam que ninguém estava onde está por escolha: que os homens estavam sem transar em função de suas próprias escolhas, e que uma parcela de mulheres escolhe se prostituir. Que fazer? Uniformizar: para uma, todos os homens têm que ser assistidos por “trabalhadoras sexuais”; para outra, nenhuma mulher pode ser “pessoa prostituída”.

Todos uniformemente pornôs
Mas a reportagem tocou num assunto importante: a principal causa de os homens jovens pararem de fazer sexo é o vício em pornografia. A pornografia dá ao viciado uma excitação que ele não consegue alcançar com sexo. Às vezes o viciado até arranja uma namorada, mas deixa-a na mão. Ou – o que é pior – passa a tentar reproduzir as bizarrices vistas na tela.

A outra matéria que traduzi é mais interessante. Um veículo espanhol relatava que as francesas fizeram um relatório sobre os males da pornografia e pediam a criminalização da “indústria da pornografia” com base nele. A ideia de proibir a pornografia também desperta o meu ceticismo, sobretudo porque – como descobriram as senadoras – o problema não é a pornografia de sempre, mas sim a pornografia atual. Antigamente, os filmes pornôs tinham uma historinha que servia de pretexto para as cenas de sexo explícito. Hoje, graças à invenção de sites canadenses como o Pornhub e o Redtube, as pessoas têm acesso grátis a pornografia, que, a seu turno, é produzido a custo zero. O Pornhub ganha com o número de acessos. Assim, muita gente sobe vídeo caseiro, que não tem historinha, e daqui a pouco, para se diferenciar de outros vídeos caseiros, começam a fazer bizarrices. O cérebro se acostuma a esse tipo de estímulo e o homem não consegue mais achar graça em coisas normais.

Outro problema, mais grave ainda, é que esses sites não são eficazes ao proibir o acesso de crianças. Como a cultura progressista hegemônica é obcecada por sexo, não é de admirar que crianças – de ambos os sexos – procurem ver o que é sexo. França e Inglaterra se deram conta do problema e descobriram outro: não dá para garantir o anonimato dos maiores e vetar o acesso dos menores ao mesmo tempo. Perante esse dilema, a Inglaterra não pensou duas vezes e decidiu sacrificar o desenvolvimento mental das crianças para preservar o anonimato dos tarados. Já a França segue numa batalha judicial com o Pornhub e similares.

Boa parte do trabalho das senadoras francesas só foi possível porque, entre as produtoras pornôs antigas e os vídeos caseiros, surgiu um tipo de produtora semiprofissional, que faz contratos de cessão de imagem para vender o conteúdo aos sites. As mulheres estavam em fases vulneráveis de suas vidas e os contratos, uma vez que existem, podem ser analisados e considerados abusivos. Se fosse só vídeo amador, elas não teriam documento algum. E se elas punirem as produtoras sem punirem os amadores, todo o mundo vai virar amador – e foi justamente o amadorismo da pornografia que abasteceu o Pornhub.

Digamos que, lá nos anos 70, os casais descobrissem que poderiam se filmar transando e entregar de graça o vídeo a uma produtora, que iria copiar e distribuir a quem quisesse ver. Imagine-se explicando isso para a sua avó: “vovó, todo o mundo pode ver você transando, basta filmar e repassar!” A coisa parece mais uma ameaça do que uma oportunidade. O vovô bem gostaria de ver umas fitas, mas entre gostar e dizer que gosta há um abismo, e há ainda outro entre gostar de ver e gostar de ser visto. No mundo dos nossos avós, havia espaço para atores pornô, porque essa era uma profissão especializada a ser exercida por umas poucas pessoas. No nosso, não: se todo o mundo é ator pornô, ninguém é ator pornô.

O que a França deveria fazer é dificultar o pornô amador e regulamentar os contratos. Se tem uma área que deve ser segurada por meio da formação de um monopólio relativamente improdutivo, é o da pornografia. É bom para o usuário quando qualquer motorista pode fazer o trabalho de um taxista, mas é decididamente ruim para ele quando qualquer um pode fazer o trabalho de um ator pornô.

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Mendonça, o terrível - Nas Entrelinhas

O candidato à vaga de Marco Aurélio Mello tem se destacado pelas tentativas de enquadrar opositores do presidente Bolsonaro na antiga Lei de Segurança Nacional

Candidato ao STF tenta enquadrar opositores de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, que indicará o advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentará em 12 de julho, no Supremo Tribunal Federal STF). Pastor presbiteriano, a escolha de Mendonça, por isso mesmo, efetiva a promessa de Bolsonaro de que indicaria um nome “terrivelmente evangélico” para o cargo. O anúncio de Bolsonaro esvazia as pressões crescentes em favor de outros candidatos à vaga de ministro do Supremo.

Um deles é o ministro do Tribunal Superior de Justiça (STJ) Humberto Martins, candidato apoiado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Nos bastidores do Congresso, comenta-se que Lira teria estimulado o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a fazer a denúncia da compra irregular da Covaxin para pressionar Bolsonaro a aceitar sua indicação, e não apenas por causa da disputa por verbas do Orçamento da União entre o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e a secretária de governo, ministra Flávia Arruda (PL-DF), aliada do presidente da Câmara. A aprovação de Mendonça, porém, não depende dos deputados, mas do Senado, onde será sabatinado, antes de seu nome ser homologado ou não pelos senadores.

Outro preterido na disputa seria o procurador-geral da República, Augusto Aras, que vem mantendo alinhamento absoluto com Bolsonaro em suas disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). O mandato de Aras está no fim, e sua liderança na instituição foi muito enfraquecida por causa de sua aliança com o presidente da República. Na escolha da lista tríplice para o cargo de procurador-geral, a subprocuradora Luiza Frischeisen foi eleita a mais votada, com 647 votos. [a lista tríplice não tem valor nenhum; trata-se apenas de uma tentativa (fracassada) de alguns procuradores da República forçarem o presidente Bolsonaro a indicar quem eles querem - mais uma vez a tal lista será ignorada.
Caso o presidente da República considere conveniente poderá até reconduzir Aras e aos adeptos da lista tríplice restará uma única opção: seguir a máxima do grande Zagallo.] Os subprocuradores Mario Bonsaglia, com 636 votos, e Nicolao Dino, com 587 votos, também fazem oposição ao procurador-geral. Cerca de 70% do Colégio de Procuradores participaram da votação. Ninguém da lista agrada a Bolsonaro, que deve reconduzir Aras ao cargo, o que reduz o desgaste pela indicação de Mendonça.

Aos 48 anos, André Mendonça faz uma carreira meteórica. Santista, formado pela Faculdade de Direito de Bauru, no interior de São Paulo, é doutor em Estado de direito e governança global e mestre em estratégias anticorrupção e políticas de integridade pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Na Advocacia-Geral da União (AGU) desde 2000, exerceu os cargos de corregedor-geral e de diretor de Patrimônio e Probidade. Em 2019, com a chegada de Bolsonaro à presidência, assumiu o comando da AGU.

Presbítero

Após a saída do ex-ministro Sergio Moro, Mendonça assumiu a pasta da Justiça e Segurança Pública em abril de 2020. No entanto voltou para a AGU em abril deste ano, após a mais recente reforma ministerial do governo Bolsonaro, logo depois da crise [que crise?houve alguma???]com o alto escalão das Forças Armadas. Mendonça também é ligado ao ministro Dias Toffoli, que o designou diretor do Departamento de Combate à Corrupção e Defesa do Patrimônio Público quando estava à frente da AGU. Ao lado do ministro Alexandre de Moraes, é coautor do livro Democracia e Sistema de Justiça, lançado em outubro de 2019, em homenagem aos 10 anos de Toffoli no Supremo. Entretanto, tem se destacado pelas tentativas de enquadrar opositores do presidente Jair Bolsonaro na antiga Lei de Segurança Nacional, um entulho autoritário em contradição com a Constituição de 1988. [pessoal: a Lei de Segurança Nacional - LSN,  Lei que está em plena vigência e todos tem obrigação de cumprir as leis - notem OBRIGAÇÃO não é opção. 
No caso de autoridade além da obrigação de cumprir tem a de fazer cumprir.
Obrigação que alcança do Presidente da República - a mais alta autoridade da República Federativa do Brasil - ao mais humilde cidadão. Assim, o advogado-geral da União está sujeito ao DEVER de cumprir a LSN e cuidar de que sejam enquadrados, processados,  todos que violarem a LSN e demais leis. 
Ou a LSN só se aplica contra os apoiadores do presidente Bolsonaro? Os bandidos da esquerda, os baderneiros, os  contra Bolsonaro estão isentos?]

Mendonça também é pastor presbiteriano da Igreja Presbiteriana Esperança, localizada em Brasília. Por isso, foi qualificado como “terrivelmente evangélico” pelo presidente Jair Bolsonaro, em solenidade na Câmara dos Deputados, em 2019. Seu nome é apoiado pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure).

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense - Continue lendo


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Quando fechar, quando abrir - William Waack

O Estado de S.Paulo

Bolsonaro não é o único chefe de Estado que não sabe como sair do dilema

A realidade se encarregou de lembrar Jair Bolsonaro de que ele pode trocar de ministro quanto quiser, mas não pode trocar quanto quiser de política de saúde. Os limites aplicados às vontades do presidente – não importam méritos ou motivações – foram antes de mais nada institucionais. Em princípio, não é mau sinal. [apesar de algumas autoridades tentarem induzir no presidente a fancaria de que era falta de autoridade presidencial.
Alcolumbre, senador presidente do Senado, chegou a ligar para o presidente da República e ameaçar dizendo que o Parlamento não aceitaria a demissão do ministro Mandetta.]

Entrou como freio uma estrutura federativa que, no caso do combate ao coronavírus, concede aos operadores do SUS uma grande margem de ação. E os operadores são, em primeira linha, governadores e prefeitos. Além da eterna crise fiscal, eles se ressentem hoje sobretudo de falta de coordenação política, e estão assustadíssimos com a nada remota probabilidade de colapso de partes do sistema de saúde. Clamam por liderança. [sistema de saúde que na hora de trombar com o presidente os governadores dizem ser da responsabilidade deles e  na hora de falhas tentam atribuir ao Presidente da República.] 

É outro problema que veio junto de Bolsonaro e que a crise do coronavírus apenas escancarou. O presidente acha que seu poder vem da caneta, que ele diz não ter pavor nenhum de usar (mas não pode). Na verdade, o poder presidencial no Brasil vem de algo que o atual ocupante do Planalto renunciou a aplicar ou o faz de forma inconsistente, errática e subordinada exclusivamente ao curtíssimo prazo de redes sociais: ditar a agenda política. Sob o avanço da doença, a postura de Bolsonaro consiste o tempo todo em “salvar” seu governo, que ele enxerga exclusivamente pelo prisma de uma ameaça de crise social urdida por adversários reais ou imaginários mancomunados para destruir a economia e criar o caos. As manobras que faz para neutralizar inimigos (governadores, por exemplo) e afastar obstáculos ao que considera necessário realizar (o ministro da Saúde e o isolamento social, por exemplo) são perfeitamente racionais dentro desse quadro mental que beira a paranoia. [Vamos ser imparciais e justos:
algum dos nossos dois leitores, estando no lugar do Presidente Bolsonaro, confiaria naquele governador do Maranhão?
ou no Witzel do Rio?
no do DF? e vários outros, os três citados ilustram o assunto.] 

O problema é muito maior e, mesmo em seu jeito tosco (Bolsonaro sobre Bolsonaro), o presidente fala diariamente de um dilema para o qual os principais chefes de governo nas democracias liberais ainda não encontraram saída. 
Em termos bastante brutais, trata-se de saber até quando precisa durar o fechamento de economias antes que a devastação delas se torne irrecuperável. 
Na outra ponta, reabrindo as economias, trata-se de saber qual é o limite tolerável do número de mortos, a partir do qual a falência de qualquer carreira política é irrecuperável.
[Linkamos aqui, ou aqui, um Post do Luis Fernando Veríssimo - Weintraub na Saúde - mais pelo cômico do que por improvável realismo.
Segue um trecho:
" ...Falando sério: a teoria mais difundida no momento é a de que a pandemia teria a ver com a proliferação de novas torres de telefonia móvel, 5G, que de alguma maneira espalhariam o vírus. Dizem que não é coincidência o fato de as primeiras antenas 5G, mais potentes do que as 4G que substituem, terem sido instaladas na China, onde a pandemia começou, antes de qualquer outro lugar do mundo. ........" ]


Projeções e análises de curvas estatísticas sobre economia e saúde pública permitem no máximo contornos de cenários nebulosos, sem horizonte de tempo e qualquer “certeza”. Em outras palavras, dirigentes políticos ao redor do mundo democrático liberal estão sendo obrigados a “sentir” o dia a dia de temperaturas políticas e situações de degradação econômica e social que parecem ser, neste momento, muito mais abrangentes e que aparentemente estão reagindo timidamente ao inédito volume de medidas de estímulo e combate à recessão.

Para os que se sentem fascinados por entender qual papel exercem personalidades na História, a atual crise e sua imprevisibilidade oferecem alguns contrastes eloquentes. Donald Trump, por exemplo, ziguezagueia exibindo seu narcisismo (ele se proclamou um “gênio muito estável”). Angela Merkel, na outra ponta, demonstra uma postura próxima ao estoicismo (filha de um teólogo protestante em país comunista). E Jair Bolsonaro? [seja em qual posição se coloque ou o coloquem, Bolsonaro vai para o tronco.
Felizmente, vai também vencer em 2022 - o que desespera muitos.] 

Chegou ao Palácio do Planalto na crista de uma onda política e social que ele apenas em parte entendeu e controlou, onda que vai ficar parecendo apenas uma marola diante das proporções da crise de saúde e economia que começamos a enfrentar agora. [nenhum governante aprendeu a nadar, Bolsonaro é apenas e tão somente mais um - apesar de muitos torcerem para que ele assuma o protagonismo do fracasso.] Nela, Bolsonaro não aprendeu a nadar, e está se afogando.

William Waack, colunista - O Estado de S. Paulo


domingo, 14 de janeiro de 2018

Moral sexual

Suponham que o mundo inteiro adotasse o “sex lib” e o “casamento aberto”, abolindo toda moral sexual oficial. Seria uma catástrofe, o fim da civilização? No meu modesto entender, seria a maior onda de conversões que já se viu ao longo de toda a história humana. Ninguém aguenta a porra da “liberdade sexual” por mais de algumas semanas sem endoidar de vez ou tomar uma providência.
La chair est triste.” (Arthur Rimbaud)

O problema nos EUA não é a libertinagem, mas a coexistência às vezes na mesma cabeça da libertinagem mais louca com o mais extremo moralismo. Se você ensina a um jovem uma estrita moral sexual antes de que ele tenha aprendido a caridade, o perdão, o amor ao próximo, você está criando um monstrinho. Esse é o maior problema na sociedade americana.

A tal da revolução sexual não me impressiona nem um pouco. Por mim, podem autorizar até casamento entre um homem e um porco-espinho macho, que isso não vai mudar em nada a conduta da maioria das pessoas. Nem — acredito — a dos porcos-espinhos.   O problema dessas coisas não é a promoção da sacanagem universal. É a demolição da lógica jurídica. A experiência histórica mostra que as sociedades sobrevivem a doses maciças de putaria, mas não à confusão total das leis.

Quando os americanos, alegrinhos de poder ostentar disciplina cristã em público, consentiram em submeter-se à prepotência antitabagista, eles já tinham abdicado da sua liberdade. A quase totalidade dos programas da esquerda se impôs na América adotando a linguagem do moralismo protestante e assim usurpando o consentimento daqueles que se tornariam suas primeiras vítimas.

Rafael Nogueira Herança inglesa? Dalrymple diz que os ingleses são muito hipócritas com questões sexuais, diferentes nisso dos franceses, que o são com questões de dinheiro, mas não de sexo.
Olavo de Carvalho Herança protestante. E na Inglaterra sempre houve mais liberdade sexual do que nos EUA. By the way, a hipocrisia não é moralismo, é o mecanismo de compensação dele.

 MSM
 

domingo, 1 de outubro de 2017

Evangélicos! Essa gente incômoda

A 'fé evangélica', em grande parte, é composta do 'tipo moreno', ou 'brasileiro', que vem sendo visto com crescente horror pela gente bem do Brasil

Quem é contra a liberdade de religião no Brasil? Mais gente do que você pensa, com toda a certeza, embora quase ninguém vá dizer isso em público, é claro — provavelmente não dirá nem mesmo no anonimato de uma pesquisa de opinião. Mas é preciso ser realmente muito bobo, ou muito hipócrita, para achar que está tudo em ordem com a liberdade religiosa no Brasil quando as nossas classes mais altas, que também se consideram as mais civilizadas, sentem tanto desprezo, irritação e antipatia pela religião que mais cresce no país. Trata-se da “fé evangélica”, como se chama, para simplificar, a vasta constelação de igrejas, seitas e cultos de origem protestante que nas estatísticas já reúnem um terço da população brasileira — e na vida real podem estar além disso. Esse povo, em grande parte do “tipo moreno”, ou “brasileiro”, vem sendo visto com horror crescente pela gente bem do Brasil. Sabe-se quem são: os mais ricos, mais instruídos, mais viajados, mais capacitados a discutir política, cultura e temas nacionais. São geralmente descritos como esclarecidos, liberais, intelectuais, modernos, politizados, sofisticados e portadores de diversas outras virtudes. Toda a esquerda nacional, por definição, está aí dentro. Também estão todos os que são de direita ou de centro — desde que não se misturem com o povo brasileiro.

Nada é tão fácil de perceber quanto um preconceito que se pretende bem disfarçado. Os meios de comunicação, por exemplo, raramente conseguem escrever ou dizer a palavra “evangélico” sem colocar por perto alguma coisa que signifique “ameaça”, “medo” ou “perigo”. Fala-­se de maneira quase sempre alarmante da “bancada evangélica” na Câmara dos Deputados — como se os parlamentares ligados às igrejas formassem um corpo estranho, infiltrados ali por alguma conspiração não explicada. São tratados como uma coisa só — e ruim. Fala-se do “risco” de aumento da bancada evangélica nas próximas eleições. Há um escândalo permanente no Brasil de “primeiro mundo” diante de suas posições em matéria de família, sexo, crime, polícia, drogas, educação, moral, propriedade privada e mais umas trezentas outras coisas. Os evangélicos são vistos ali como retrógrados, reacionários, repressores, fascistas e inimigos da democracia. Já foram condenados como machistas, homofóbicos e fanáticos. Defendem a “cura gay”. São a “extrema direita”. Estão definitivamente fora do “campo progressista”.

Naturalmente, argumenta-se que essa condenação universal não tem nada a ver com religião; se os evangélicos pensassem o contrário do que pensam em cada uma das questões aqui citadas, por exemplo, não haveria nenhuma objeção e a população estaria liberada pelas classes intelectuais para rezar nas Assembleias de Deus, na Catedral da Bênção ou nas Igrejas do Evangelho Quadrangular. Ou seja: o problema dos evangélicos está nas suas convicções como cidadãos. No fundo, é a mesma história de sempre. O que atrapalha o Brasil, na visão das pessoas que se consideram capacitadas a pensar, são os brasileiros. O povo brasileiro, de fato, é muitas vezes inconveniente — principalmente quando vota. Os intelectuais, preocupados, lamentam o crescimento da bancada evangélica — mas raramente se lembram de que ela só cresce porque cresce o número de eleitores evangélicos. Pode ser uma pena, mas toda essa massa de gente que vai ao templo é formada por brasileiros que têm direito de votar, votam em quem quiserem, e o seu voto, infelizmente para a sensibilidade da elite, vale tanto quanto o voto dos pais que colocam seus filhos no Colégio Santa Cruz. [este improvisado escriba é Católico Apostólico Romano e não discute religião: a RELIGIÃO VERDADEIRA é a Católica Apostólica Romana, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e as outras são fraudes - existem algumas exceções, entre elas as mais de 500 denominações 'protestantes', que tem tal nome por Martinho Lutero ter protestado contra determinadas medidas da Igreja Católica Apostólica Romana, o que levou seus seguidores serem denominados 'protestantes'.
 
Fora algumas exceções,  quanto ao caráter não fraudulento de algumas igrejas protestantes,  a maioria são fruto de fraudes e 'fundadas' - inventadas talvez seja uma melhor definição -  por espertalhões que buscam apenas enriquecer em cima da ignorância do povo - ignorância que infelizmente abunda, haja vista que  figuras como Lula e Dilma conseguiram não só ser eleitos para o cargo de presidente da República, mas, também, reeleitos.
 
Cometi muitos pecados e ainda cometo; Confio na Misericórdia de Deus e espero que o que muitos consideram pecado, seja na hora do julgamento final considerando ações motivadas por uma nobre causa.
 
Quanto a 'fé evangélica', mesmo discordando totalmente deles no aspecto religioso, tem se revelado extremamente útil quando assumem o papel que deveria ser exercido por nós, CATÓLICOS; 
 
- são eles, os evangélicos, que combatem acertadamente e sem retrocessos,  comportamento errados em matéria de família, sexo, crime, polícia, drogas, educação, moral, propriedade privada e dezenas de trezentas outras coisas, combate este que deveria ser conduzido por nós CATÓLICOS; 
- caberia a nós também ser considerados,  em função do combate citado,  os retrógrados, reacionários, repressores, fascistas e inimigos da democracia. 
Caberia aos CATÓLICOS serem condenados como machistas, homofóbicos e fanáticos. Defendem a “cura gay”. etc.
INFELIZMENTE, nos furtamos a este combate que é dever de todo CRISTÃO.]

Há muita indignação, também, com a escroqueria aberta, comprovada e impune que é praticada há anos em tantos cultos evangélicos espalhados pelo Brasil afora. É um problema real. Pastores, "bispos" e outros peixes graúdos tomam dinheiro dos fiéis, sob a forma de donativos, em troca de ofertas a que obviamente não podem atender: desaparecimento de dívidas, expulsão de demônios, cura de doenças, enriquecimento rápido, eliminação do alcoolismo, dependência de drogas e outros vícios — enfim, qualquer milagre que possa ser negociado. Diversas igrejas se transformaram em organizações milionárias, e muitos dos seus líderes são charlatães notórios — alguns deles, aliás, já chegaram a ser presos por delitos variados em viagens ao exterior. Estão acima do Código Penal e da Lei das Contravenções em matéria de fraude, trapaça e quaisquer outras formas de estelionato que seus advogados consigam descrever como atividade religiosa; não podem ser investigados ou processados por enganar o público, pois são protegidos pela liberdade de culto. São o joio no meio do trigo, e há tanto joio nas igrejas evangélicas que fica difícil, muitas vezes, achar o trigo.

Ninguém realmente sabe o que fazer de prático a respeito disso. É possível separar religião de vigarice? Possível, é — pensando bem, é perfeitamente possível. O impossível é escrever leis que resolvam o problema de maneira eficaz, racional e coerente com a democracia. Não se conhece nenhum regulamento capaz de distinguir donativos bons de donativos ruins — pois o foco da infecção está aí, no tráfego de dinheiro do bolso dos fiéis para o caixa das igrejas. Como proibir alguns e permitir outros, sem abrir uma discussão que vai durar até o dia do Juízo Final? Ao mesmo tempo, sabe-se quanto é inútil baixar decretos que obriguem as pessoas a ser espertas, da mesma forma que não dá para obrigá-las a ser felizes. O que fazer se o cidadão acredita que vai ficar rico, ou obter algum prodígio parecido, pagando o seu dízimo ao pastor? Os postes das cidades brasileiras também estão cobertos de cartazes com promessas de benefícios do tarô, dos búzios, da “amarração” garantida — isso para não falar da cura da calvície, do emagrecimento em sete dias e da eliminação de multas de trânsito. Na melhor das hipóteses, é propaganda 100% enganosa, mas fica assim mesmo — e talvez seja bom que fique, pois imagine-se o que acabaria saindo se nossos poderes públicos tentassem se meter nisso.

É um desapontamento, sem dúvida — e as cabeças corretas deste país ficam impacientes com a frustração de ver os cultos evangélicos crescendo, enquanto em Nova York e no resto do mundo bem-sucedido as pessoas vão a concertos de orquestras sinfônicas e não admitem a circulação de preconceitos. Não podem exigir que os evangélicos sejam proibidos de existir; secretamente, bem que gostariam que eles sumissem por conta própria, mas essa não é opção disponível na vida real. Fazer o quê? Propor, por exemplo, uma comissão de filósofos da OAB, CNBB e organizações de direitos humanos, nomeada pela Mesa do Senado Federal, para separar as religiões legítimas das ilegítimas? É duro, mas o fato é que, num momento em que apoiar a diversidade passou a ser a maior virtude que um cidadão pode ter, fica complicado sustentar que no caso dos evangélicos a diversidade não se aplica. Não há outro jeito. Se você defende a “arte incômoda”, digamos, tem de estar preparado para conviver com a “religião incômoda”. Em todo caso, para quem não gosta dessas realidades, é bom saber que os evangélicos, muito provavelmente, são um problema sem solução.
 
Fonte: Revista VEJA - J. R. Guzzo
 
 

domingo, 4 de junho de 2017

Joesley, o anjo do apocalipse

Nos apertos pessoais como nas crises nacionais, cada um recorre à sua Bíblia. 

Economistas abraçam o breviário ortodoxo. Políticos peregrinam aos cardeais. Movimentos sociais brigam. Cidadãos comuns rezam. E crentes, como Deltan Dallagnol, esperam o Armagedom.

O purgatório instaurado por Joesley Batista, esse nome meio protestante, virou um inferno. Labaredas nos ministérios, fúria nas redes sociais e nas ruas, e braseiro sob a cadeira presidencial.  Mas quem é o arauto do apocalipse? Um fanfarrão, disse Temer. Ou, quiçá, um anjo caído, rebelado contra seus criadores. Joesley parece criatura de ficção, daquelas que fazem pacto com o demônio. Ou que o encarnam.

Em "A Igreja do Diabo" encontra-se seu molde. Narra Machado de Assis que o dito-cujo, insatisfeito com seu papel secundário, "embora os seus lucros fossem contínuos e grandes", resolveu copiar Deus e fundar a própria igreja. Joesley fez o mesmo: uma confraria patriarcal, enraizada na família, e globalizada, com tentáculos no inferninho capitalista internacional.  Seu apostolado, contou à Justiça, entre jocoso e singelo, não inquiria o passado do converso. Igreja ecumênica. Acolheu pecadores de todos os partidos, provectos e iniciantes, à direita e à esquerda, do governo e da oposição.

Joesley foi pastor longevo, atravessou mandatos, jamais detido por cara feia ou porta fechada. Pregava a venalidade. Como o diabo no conto de Machado, via aí um "direito superior a todos os direitos", pois "como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência (...)?". Mas se precavia, como ao eleger a calada da noite e a entrada pela garagem, ao tratar desses assuntos de consciência com o presidente.

Muitos se converteram à igreja do diabo. Joesley persuadia com o recurso que é o demônio feito coisa: o dinheiro. Distribuía quantias em montes, magotes, mochilas. Quando o pecador veio a público, a ira santa se abateu. Colunistas, tuiteiros, facebuquistas sacaram seu metro moral. Impropérios contra a corrupção como decadência ética, julgamentos sobre o caráter de corruptores e corrompidos. De fato, Joesley e demais falcatrueiros não são modelos de conduta, mas o dinheiro que embolsam e distribuem não nasce nas malas. Veio de negócios tecidos, por décadas, entre empresários, governos, congressistas, magistrados e outras eminências do mundo público. O profeta jamais pregou no deserto.

É tentador pensar que o dinheiro corrompe a política. Mas aí, como em toda parte, não há santos. A lisura dos negócios públicos não pode depender da boa índole dos cidadãos. Precisa de regras e instituições que a garantam. Por isso a Lava Jato é faca de dois gumes. Visar fins nobres, mas se descuidar da retidão dos meios de alcançá-los pode acelerar o fim desse mundo, sem erigir o novo que apregoa. E de que adiantará mandar ao inferno petistas, peessedebistas, peemedebistas, se o funcionamento geral continuar o mesmo? Ou alguém supõe que das cinzas do apocalipse surgirá um país purificado, com nova elite de incorruptíveis? Só se os anjos descessem do céu. E não se matriculassem na escola de Lúcifer.

O tom moral dos projetos de salvação nacional ignora que viemos todos da mesma costela de Adão. E os imaculados de ontem, Aécio Neves atesta, são os decaídos de amanhã. As instituições devem operar por regras impessoais, válidas para ímpios e santos.
A democracia não é o reino da virtude. É um regime de regras de convivência civilizada entre diferentes e antagonistas, supondo-se que nenhum deles –nem políticos, nem juízes, nem qualquer outra categoria que o reivindique– seja angelical. E no regime democrático não é pecado disputar os rumos da vida pública. Lúcifer disputou com Deus, criando o próprio partido, de modo que nem a Bíblia solapa a política.

O apocalipse está longe do fim, mas o capítulo Joesley já achou seu desfecho machadiano. Em "A Igreja do Diabo", o demônio, depois de estrondoso sucesso, vê-se traído: pecadores, às escondidas, cometem pequenas virtudes. Joesley foi mais tinhoso. Praticou uma virtude grande, a de entregar todos os fiéis de sua igreja. E nem precisou de ave-marias. Confessou-se e granjeou indulgência. Depois voou, livre, leve, solto, para o paraíso da Quinta Avenida.


 Fonte: Folha de S. Paulo - Angela Alonso