Estava sentado ouvindo o pronunciamento dela no ato
de posse perante o parlamento: “Um dos
grandes debates do nosso tempo é sobre quanto do seu dinheiro deve ser gasto
pelo Estado e com quanto você deve ficar para gastar com sua família. Não nos
esqueçamos nunca desta verdade fundamental: o Estado não tem outra fonte de
recursos além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias. Se o Estado
deseja gastar mais ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou lhe
cobrando mais tributos. E não adianta pensar que outro alguém irá pagar. Esse
‘alguém’ é você! Não existe essa coisa de ‘dinheiro público’. Existe apenas o
dinheiro dos pagadores de impostos.”
“A prosperidade não virá por
inventarmos mais e mais programas generosos de gastos públicos. Você não
enriquece por pedir outro talão de cheques ao banco. E nenhuma nação jamais se tornou
próspera por tributar seus cidadãos além de sua capacidade de pagar. Nós temos
o dever de garantir que cada centavo arrecadado com a tributação seja gasto bem
e sabiamente, pois nosso partido é dedicado à boa economia doméstica. Proteger
a carteira dos cidadãos, proteger os serviços públicos, essas são as nossas
duas tarefas básicas e ambas devem ser conciliadas. Como seria prazeroso e
popular dizer ‘gaste mais nisso, gaste mais naquilo’. Todos nós temos causas
favoritas. Eu pelo menos tenho. Mas alguém tem que fazer cuidadosamente as
contas. Toda empresa tem que fazê-lo, toda dona de casa tem que fazê-lo, todo
governo deve fazê-lo. O meu irá fazê-lo”.
Dei um salto e, entusiasmado,
pus-me a aplaudi-la.
Estávamos perante uma governante firme e sábia. Mas, aí, acordei e me dei conta que estivera no parlamento britânico
ouvindo o discurso de Margaret Thatcher... Reza a história que a famosa
ex-primeira-ministra inglesa salvou as finanças e a economia do Reino Unido, além de dado uma tunda histórica nos movimentos sociais e
sindicatos trabalhistas.
Ela foi o reverso da nossa
presidente, com
décadas de antecedência e, por isso, estamos nessa miserável situação, numa
crise de confiança arrastada e irremediável, perdidos no imprudente
presidencialismo de coalizão, em que a base de sustentação do governo o
desestabiliza progressivamente, base essa construída com espeque na corrupção.
Em termos populares, a situação
do governo é a seguinte: “Se correr, o bicho
pega; se ficar o bicho come”. Noutros termos, elegantemente gregos, vivemos um
dilema, ainda sem saída, que se arrasta há 10 meses. As crises — a etimologia é também grega — exigem
soluções efetivas e ágeis. Não vale aqui choramingar e dizer que devíamos ter
adotado o parlamentarismo, em que basta derrubar o gabinete para resolver o
dilema do governante inepto.
Sequer da renúncia podemos cogitar. Ela é tão prepotente e de poucas luzes, que só pensa em si: “Aguento pressões!”; “Sou forte!”; “Tenho legitimidade!”.
Antes não tivesse, estaríamos livres das pragas que
ela semeou pelos brasis afora. O vice-presidente, em
ato de autocrítica, reconheceu a gravidade da situação e apelou para que alguém
apareça e nos una, ou seja, una
as forças políticas da nação para resolver a grave crise criada pelo governo do
PT. O pior,
é que ela acha ser essa pessoa. Ela é justamente quem a todos desune. Quem é essa pessoa? É a pergunta que
todos nós nos fazemos. Um governo de salvação nacional exige a saída de Dilma, que nunca teve estofo para governar a nação. Se não há um salvador da pátria, que pelo menos se tire do governo quem a está levando para o
buraco.
A crise continua e continuará enquanto Dilma insistir em governar. Se foi ela, com suas políticas malucas, na Petrobras, segurando preços; na Eletrobrás, desmanchando o sistema de distribuição; e na economia, gastando mundos e fundos para incentivar o consumismo e aumentar a dívida pública, como é que pode ser a pessoa indicada para unir todos e desfazer os malfeitos?
Ao cabo, a
agenda proposta por Renan é retórica, cortina de fumaça, aparente pacto de
governabilidade e improvável retomada da economia. É um erro brutal tentar salvar o que não deve
ser salvo, como disse FHC. O Brasil precisa de um choque de liberalismo.
Ora, com Dilma e
o PT, inexistem condições objetivas e confiança para retomar o crescimento.
Dois ciclos estão encerrados: o do recente crescimento mundial, de capitais fartos e vendas
maciças de commodities, que catapultou os últimos 12 anos de lulopetismo e ele
próprio, primário e populista. Estamos
vendo passar o enterro. Falta fazer a cova e providenciar o sepultamento da era
Lula.
A ditadura de Vargas (15 anos) e a militar (21 anos) colapsaram rapidamente. O lulopetismo não deve, não pode, perdurar por mais 3 anos e meio, sob pena de destruir a nação, a menos que ela se torne uma rainha da Inglaterra (reina, mas não governa), panorama impensável, levando-se em conta a personalidade da nossa presidente.
Fonte: Shacha Camon - Advogado, coordenador da
especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor
titular da UFMG e da UFRJ
Publicado no Correio Braziliense