Carlos José Moreira, diretor editorial IstoÉ
Está tão acelerado o processo de esfacelamento do Governo que é difícil
acompanhar o ritmo dos eventos que inviabilizam seu funcionamento.
Ministro que sai atirando contra o Congresso, vazamento de documento
sugerindo uso dirigido e ilegal da publicidade oficial, erros em cascata
na resposta às ruas, um “salve-se quem puder” como poucas vezes se viu
no Planalto. A presidente parece estar à frente de um desgoverno e para
entornar de vez o caldo experimenta queda vertiginosa na sua
popularidade. Pelo que se pode depreender da última pesquisa Datafolha,
Dilma chegou ao ponto em que quase ninguém a aprova. Nem mesmo os
aliados. Muito menos aqueles que a elegeram.
A rejeição saltou para
impressionantes 62% enquanto a sua aprovação desceu ao nível de 13%. São
indicadores recordes. Algo jamais imaginável para quem se encontra
ainda em início de gestão. Seus números só são comparáveis aos do
presidente Collor às vésperas da renúncia. E se esse não é um sinal
claro, evidente, de que ela está conduzindo o País por um rumo errado,
não há mais como sensibilizar os sensores palacianos e, nessa toada,
Dilma irá comandar sob o estigma da ilegitimidade.
Uma coisa desde já é
certa: caiu por terra o mito do Brasil dividido, que embalava as ilusões
do Governo e do PT para se perpetuar no poder. Hoje Dilma não seria a
escolhida da ampla massa de eleitores. Muitos mudaram de opinião e agora
formam fileiras contra ela. A desculpa frágil de uma orquestração das
elites, dos “ricos” e “coxinhas”, desabou frente a óbvia demonstração dos
números estatísticos e das manifestações que galvanizam brasileiros do
Oiapoque ao Chuí. No levantamento Datafolha, pela primeira vez, a
maioria do público de baixa renda e com menor escolaridade classifica
sua gestão como ruim ou péssima. Os protestos do último domingo já
haviam dado um eloquente alerta – o que, para a maioria dos mandatários,
seria mais do que suficiente para despertar preocupações e atitudes
convincentes de humildade e compreensão do recado. No caso de Dilma
serviu apenas e tão somente para repisar promessas de diálogo que ela
nunca coloca em prática e para desengavetar um surrado projeto
anticorrupção. A presidente até aqui foi incapaz de assumir um
mea-culpa, de admitir publicamente os erros.
Provavelmente não irá
fazê-lo. E tamanha soberba tem irritado qualquer um que dela se
aproxima. Sua falta de habilidade política, pouca paciência e muito de
prepotência para ouvir a sociedade está levando o segundo mandato a um
ponto de inoperância absoluta. Poucos acreditam em um desfecho positivo
do processo. Seja nas rodas palacianas, nos corredores do Congresso, nas
conversas de simpatizantes, aliados, amigos ou opositores, Dilma é
vista como a antítese da governante que comanda em nome do interesse
geral. Isolada e sob pressão intramuros do Planalto ela parece não
perceber isso.
Se atira aos mais desabusados rompantes de ciclotimia,
considera a crise passageira e continua a distribuir ordens que não
negocia com ninguém, tal qual uma soberana que se enxerga inabalável,
absoluta e senhora da verdade. Ledo engano. Seria recomendável, em seu
próprio proveito, um certo resguardo do mau humor, pitadas de modéstia e
menos descaso e preconceito contra a horda de insatisfeitos que teima
em desqualificar como uma minoria de burgueses brancos.
Editorial IstoÉ
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