Consultorias do ex-ministro teriam sido usadas para desviar R$ 100 milhões ao PT.
Agentes da PF relacionam intermediação de petista à doação milionária à campanha de Dilma em 2010
A pedido da Procuradoria Geral da República está em curso na Justiça Federal do Paraná uma investigação sobre a participação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antônio Palocci Filho, no esquema do Petrolão. Entre os alvos principais do processo estão contratos feitos entre a Projeto – consultoria financeira pertencente ao ex-ministro – e empresas que fizeram direta ou indiretamente negócios com a Petrobras.Com base em delações premiadas, documentos apreendidos e até na prestação de contas feitas pelos partidos, procuradores e delegados da Operação Lava Jato calculam que consultorias feitas por Palocci possam ter sido usadas para desviar cerca de R$ 100 milhões do Petrolão para os cofres do PT. “Vamos demonstrar que, assim como o ex-ministro José Dirceu, Palocci trabalhou para favorecer grupos privados em contratos feitos com a Petrobras e canalizou ao partido propinas obtidas a partir de recursos desviados da estatal”, disse um dos procuradores na tarde da quarta-feira 25.
Até a semana passada, os procuradores
observavam com lupa seis contratos da empresa de Palocci e nas próximas
semanas deverão recorrer ao juiz Sérgio Moro para que autorize a quebra
dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro. Os documentos e
depoimentos que mais têm despertado a atenção de delegados e
procuradores dizem respeito às relações do ex-ministro com a WTorre
Engenharia e com o Estaleiro Rio Grande. De acordo com os relatos feitos
por procuradores da Lava Jato, em 2006, após deixar o governo Lula
acusado de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos
Costa, Palocci teria intermediado a aquisição
do Estaleiro Rio Grande pela WTorre.
Meses depois da negociação e sem
nenhuma expertise no setor naval, a empresa venceu uma concorrência para
arrendamento exclusivo do estaleiro à Petrobras. Em seguida, a estatal
fez uma encomenda para a construção de oito cascos de plataformas
marítimas, em um contrato de aproximadamente US$ 6,5 bilhões. “Não é
comum que uma empresa sem nenhum histórico no setor vença uma
concorrência bilionária”, afirma um dos procuradores da Lava Jato. Os
indícios encontrados pelo Ministério Público, porém, vão além do simples
estranhamento.
Investigações promovidas pela Operação Lava
Jato indicam que, por orientação de Palocci, o Estaleiro Rio Grande
buscou parcerias internacionais para poder cumprir o contrato com a
Petrobras. Uma das empresas procuradas para tanto foi a holandesa SBM,
já relacionada como uma das mais fortes pagadoras de propinas no esquema
do Petrolão. Os documentos em poder da Operação Lava Jato mostram que,
no início do ano passado, um ex-executivo da SBM, Jonathan Taylor,
procurou a Receita e o Ministério Público da Holanda e revelou que
empresa destinara US$ 102 milhões para o pagamento de propinas no
Brasil, em troca de contratos para o fornecimento de navios e
plataformas a Petrobras.
Passados quatro anos, a parceria do
Estaleiro Rio Grande com a SBM não se concretizou, embora o contrato
para o fornecimento dos oito cascos permanecesse em vigor. Com isso, a
Petrobras passou 48 meses sem receber os cascos contratados. Agora, os
procuradores investigam quais os pagamentos efetuados pela estatal ao
estaleiro durante esse período. “Temos informações de que o estaleiro
usou dinheiro pago pela estatal para investir em plataformas, mas não
entregou nada a Petrobras”, disse na sexta-feira 27 um dos agentes da PF
que atuam na Lava Jato. De acordo com dados preliminares obtidos pela
Lava Jato entre 2006 e 2010 a estatal teria repassado anualmente ao
Estaleiro Rio Grande cerca de R$ 25 milhões.
Em 2010, meses antes de assumir a
coordenação de campanha presidencial de Dilma Rousseff, Palocci e sua
consultoria voltaram a operar em favor do estaleiro. O ex-ministro,
segundo os procuradores da Lava Jato, trabalhou ativamente na venda do
Estaleiro Rio Grande da WTorre para a Engevix – outra empreiteira já
envolvida no Petrolão – em parceria com o Funcef, o fundo de pensão dos
servidores da Caixa Econômica Federal.
Um dos interlocutores de Palocci
na negociação foi o vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada,
atualmente preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, apontado pelo
Ministério Público como um dos principais corruptores do Petrolão.
Depois de comprar o estaleiro, a Engevix obteve da Petrobras um contrato
de US$ 2,3 bilhões para a construção de três navios sonda. Em janeiro
desse ano, Almada admitiu aos procuradores da Lava Jato que fez
pagamentos de propinas a “agentes da Petrobras” para que pudesse ganhar
os contratos e na semana passada, o empresário manifestou o interesse de
aderir à delação premiada. Para que seja feito o acordo, porém, o
Ministério Público Federal vem insistindo para que o empreiteiro revele
detalhes do envolvimento de Palocci e sua empresa na venda do estaleiro.
Como boa parte dos contratos de consultoria permite o sigilo, caso o
vice-presidente da Engevix não colabore, os procuradores não descartam a
possibilidade de recorrer ao Judiciário para obter cópia da
documentação.
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