Incluído na lista da Operação Lava-Jato e com dificuldades para emplacar nomes em cargos estratégicos, o presidente do Senado se rebela contra o governo
Izabelle Torres izabelle@istoe.com.br
O senador Renan
Calheiros (PMDB-AL) está acostumado a caminhar junto com o poder. Sua
inclinação ao governismo o levou a conquistar papel de destaque em
diferentes períodos da vida política brasileira e a desfrutar como
poucos de prestígio e influência.
Apesar de sua conhecida preferência
pela situação, o presidente do Senado tem demonstrado que está disposto a
se rebelar contra o governo Dilma Rousseff, do qual era um dos
principais aliados. Na semana passada, o peemedebista devolveu a medida
provisória da Desoneração, que aumentava a carga tributária das empresas
e era considerada estratégica para o ajuste fiscal. O recado de Renan
foi entendido por todos e comemorado pela oposição: as complicadas
relações entre ele e o governo Dilma parecem agora ter chegado ao
limite. Em conversas reservadas, Renan não esconde a lista de mágoas
acumuladas nos anos de convivência com a presidente – e assim se coloca
como mais um entre os muitos problemas que o Planalto precisa
administrar para não ser sugado pelas recentes crises.
A irritação atingiu seu ápice quando ele foi informado de que está na
lista de investigados do procurador-geral Rodrigo Janot por suposto
envolvimento na Operação Lava-Jato. Renan contava com uma blindagem,
que não aconteceu. Quando, em vez disso, viu sinais de que o governo
comemorava seu infortúnio, saiu atirando. Ele diz estar convencido de
que a inclusão de seu nome – e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) – foi resultado da interferência do governo, que estaria
tentando jogar para o Congresso a crise gerada pela operação que
investiga os desvios na Petrobras.
Em troca, segundo sugere Renan, Janot
receberia apoio para sua recondução ao cargo máximo do Ministério
Público. Para reagir ao que acredita ter sido uma ação combinada, o
presidente do Senado mostrou que o jogo com o governo será ainda mais
duro. Durante reunião de líderes, o presidente avisou que não aceitaria a
MP da Desoneração e o faria com base em argumentos jurídicos, uma vez
que é proibido aumentar tributos por meio de MPs. Diante da surpresa dos
líderes com a postura do então aliado do PT, coube ao senador Humberto
Costa (PT-PE) deixar a reunião de forma discreta e avisar sobre as
intenções de Renan ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário