É a marcha do país em direção à perda do grau de investimento. Assim
caminha o Brasil. A aprovação do aumento para os funcionários do
Judiciário se junta à indexação total dos benefícios previdenciários e à
adoção de regras mais generosas de aposentadoria. Tudo isso acontece
enquanto a dívida do país aumenta e o déficit nominal chega ao espantoso
número de 7,9% do PIB. [Determinada imprensa e alguns jornalistas estão tentando atribuir a crise econômica - resultado da incompetência da Dilma e sua trupe e da roubalheira de recursos públicos - ao aumento dos servidores do Poder Judiciário.
Antes esclareço que não sou funcionário público, atuo na iniciativa privada - sem contratos com o governo; tive vínculos com o Governo do inicio da década de 70 até inicio governo Collor, quando fui oficial do EB.
Mas, acho um absurdo que maximizem um reajuste e o torne causa principal da crise.
Aumento por aumento, qual a razão da imprensa não destacar que os MEMBROS do PODER JUDICIÁRIO - não me refiro a servidores - estão recebendo uma avalanche de beneficios e que um magistrado recém empossado vai receber por mês mais de R$ 40 MIL, boa parte SEM IMPOSTO DE RENDA e ACIMA DO TETO CONSTITUCIONAL.
Está na Revista Época deste final de semana e também neste Blog.]
O ministro Nelson Barbosa ligou de São
Francisco, nos EUA, para alguns jornalistas, entre eles, eu. Disse o que
pensa dessa proposta: “É incompatível com a situação econômica que
estamos passando e insustentável do ponto de vista fiscal e é
socialmente injusta.” Ele lembrou que isso representa R$ 1,5 bilhão só
este ano, sem haver orçamento previsto. “Não se pode pedir, na atual
situação de aumento do desemprego e queda do salário real, que a
população gaste mais com salário de servidores”. Segundo ele, há risco
concreto de efeito cascata, que começa com a justiça estadual, mas pode
atingir todos os servidores. [esse ministro Barbosa foi o primeiro ministro da Dilma a levar um esporro da 'soberana' por falar demais. É um sem noção. O EFEITO CASCATA VAI OCORRER NO REAJUSTE dos MEMBROS do PODER JUDICIÁRIO.
Também haverá EFEITO CASCATA na extensão integral das vantagens para os MEMBROS do MINISTÉRIO PÚBLICO.]
O governo negocia um aumento para
seus funcionários, de 21%, para ser pago em quatro anos. Nelson Barbosa
entregou um documento com os cálculos, como referência, ao presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. “O ministro ficou
de avaliar e pediu para que o Congresso não votasse o aumento.” Pois
aconteceu o oposto: a proposta foi votada e aprovada por unanimidade. A
tempestade continua em Brasília. Os sinais dados pelo Congresso e os
números que saem do Tesouro mostram que será inevitável o rebaixamento.
Mesmo que a presidente Dilma vete essa proposta, o que fica claro é que o
legislativo tem uma pauta expansionista e o governo deixou de ser o
centro do poder. Hoje o Congresso vota qualquer coisa, a qualquer hora,
sem olhar o contexto e o custo. Quer atingir o governo e ameaça a
estabilidade econômica.
A conjuntura internacional piorou com a
crise grega. Quando isso acontece, todos os países que têm fragilidades
são olhados com preocupação por investidores, tenha ou não qualquer
relação com o país epicentro da crise. Para a Moody’s e a Fitch, o
Brasil está dois degraus acima do grau especulativo, mas com uma única
redução pela Standard & Poor’s nós perderemos o que levou duas
décadas para conseguir: o selo de país bom para investimento.
A
contradição é tal que nem se consegue acompanhar todas as despesas
criadas pelo Congresso. No mesmo dia em que aprovou o aumento para
servidores do Judiciário, o Senado reduziu PIS/Cofins sobre o diesel, o
que tem um custo em renúncia fiscal de R$ 13,8 bi por ano. [o diesel ajuda a movimentar a economia - é essencial; o que ferrou o Brasil foi a incompetência da Dilma e sua trupe e a roubalheira da petralhada.]
A
bagunça nas contas públicas feita no governo passado foi tão grande que o
esforço para dar realismo aos números está exibindo um quadro
incompatível com um país com grau de investimento. A dívida bruta bateu
recorde e completou um aumento de 10 pontos percentuais do PIB desde o
início do governo Dilma. O governo mostrará a dívida líquida e garantirá
que está estabilizada, mas nenhum analista olha esse indicador porque
ele desconta os empréstimos do Tesouro ao BNDES, ativos que não têm
liquidez. Ninguém sabe quando nem como serão pagos. O que é usado no
mundo inteiro, comparável, relevante para as agências de risco é a
dívida bruta. Mais do que o número em si, que é alto, há a dinâmica do
endividamento.
O Brasil é um país que tem um déficit nominal enorme, não
consegue fazer superávit primário relevante, manipulou contas públicas
recentemente, criando dúvidas sobre o passado, tem um Congresso que
aprova aumento de gastos obrigatórios, e o Banco Central mantém uma taxa
de juros elevada para enfrentar a inflação fora da meta. O risco de
rebaixamento é concreto.
O único conforto é que os números que
saem do Tesouro este ano são mais fidedignos, e isso faz com que sejam
injustas as comparações com os dois anos anteriores. Em 2013 e 2014,
houve tanta manipulação, truque, pedalada, que deveriam ser
desconsiderados na série. O que a própria equipe econômica sabe é que a
tempestade em Brasília continuará. Não há sinais de bom tempo no
horizonte.
No centro do problema econômico, está a crise política.
O Congresso foi capturado pelos grupos de interesses, seus líderes não
entenderam que essas bombas fiscais vão ferir o país. O governo está
fraco pela baixa popularidade da presidente que, durante a campanha,
falou o oposto do que defende hoje.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão
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