A maldição do petróleo
A crise econômica que levou o Estado do Rio a decretar o estado de
calamidade tem, sem dúvida, como analisei ontem aqui, a responsabilidade
fundamental da crise do petróleo mundial, que afetou a base da economia
do Rio como maior produtor do país. Mas contou com um ingrediente de
irresponsabilidade administrativa que está sempre presente nas crises de
países (ou Estados) que têm abundância de recursos naturais.
No
caso do Brasil, o governo abandonou projetos de combustíveis
alternativos como o etanol, porque considerava que havia tirado o
bilhete premiado com o pré-sal. Essa situação recorrente é conhecida
como a "maldição do petróleo", que gera desperdícios em meio à
corrupção. Foi o que aconteceu no Brasil e também no Rio, onde os gastos
correntes cresceram, e o Estado se endividou acima de sua capacidade.
O
ex-governador Sérgio Cabral declarou que a mudança no marco regulatório
do pré-sal causou esse desequilíbrio econômico no Estado, mas ele, que
reagiu inicialmente à mudança do sistema de concessão para o de partilha
porque prejudicaria a distribuição de royalties para os estados
produtores, acabou fazendo um acordo com o governo federal em troca de
ações na infraestrutura.
Sem dúvida, o Estado e o município do
Rio, devido à Olimpíada, obtiveram muitos investimentos federais: PACo
comunidades, Minha Casa, Minha Vida, Metrô, BRT, VLT, entre outros. Mas,
com base nas receitas futuras do pré-sal, o governo do Estado
endividou-se acima de suas possibilidades, ficando com um déficit de R$
20 bilhões entre receita e despesas, além de uma conta negativa de cerca
de R$ 5 bilhões de restos a pagar com fornecedores.
Com o barril
de petróleo a 100 dólares, o governo do Rio endividou-se pegando R$ 1
bilhão no Banco do Brasil, R$ 2.3 bilhões na Caixa Econômica Federal e
até mesmo R$ 2.3 bilhões em debêntures nos Estados Unidos, e acabou
ficando com uma dívida até 2022, difícil de pagar com a queda do preço
do barril. Com a crise da Petrobras, e a queda do preço
internacional do petróleo, o Estado do Rio perdeu receita, teve a
indústria naval afetada, os incentivos fiscais para as montadoras
aumentando a crise com o preço do combustível congelado pelo governo
federal reduzindo a arrecadação do ICMS do Estado em cima dos derivados.
O Pólo Petroquímico de Itaboraí e o Comperj também foram afetados pela
crise do petróleo.
A Rio Previdência acabou tendo uma
sobrecarga com planos de cargos e salários dados pelo governador Luiz
Fernando Pezão. A folha salarial foi a R$ 23 bilhões e os inativos
consomem outros R$ 17 bilhões, e os royalties acabaram sendo usados para
esses pagamentos. O deputado estadual Luiz Paulo discute na Agência
Nacional de Petróleo o preço de referência para o pagamento dos
royalties, para amenizar a crise. Mas considera que a irresponsabilidade
gerencial pode ser até razão para um impeachment.
O
especialista Mauro Osório, atualmente presidente do Instituto Pereira
Passos do município do Rio de Janeiro, em recente artigo no Globo
ressalta os desafios que teremos esse ano, como o término das obras
relativas às Olimpíadas e o aumento das demissões na construção civil. Um
desafio para o Estado do Rio é diminuir a dependência das receitas de
royalties do petróleo, diz ele, e para tanto “será necessário aprimorar o
planejamento público, buscando o adensamento produtivo e o aumento da
base para arrecadação de ICMS”.
Para Osório, as principais
janelas de oportunidade encontram-se em torno dos complexos produtivos
de turismo, entretenimento, esporte, cultura e mídia; da economia da
saúde; e do petróleo e gás. É importante, também, analisar as
prioridades dos gastos públicos, alerta. Em 2014, por exemplo, o gasto
público per capita para o conjunto das atividades vinculadas ao
Legislativo e ao Judiciário no Estado do Rio foi em torno de 70% maior
do que as despesas verificadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Não é à toa que o governador em exercício Francisco Dornelles, depois de
ter decretado o estado de calamidade para viabilizar um financiamento
de R$ 3 bilhões do governo federal, promete medidas duras.
Fonte: O Globo - Merval Pereira
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