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terça-feira, 21 de junho de 2016

A máquina da segurança pública precisa reagir

A invasão do Souza Aguiar evidencia que polícia agiu com burocratismo, preocupante sinal de deterioração da política para o setor às vésperas da Rio-2016

Em si, a invasão do Hospital Souza Aguiar por um grupo de traficantes para resgatar um comparsa é fato preocupante, ainda que não chegue a ser episódio inédito na crônica da forma com que o crime organizado por vezes, e não poucas, opera no Rio de Janeiro. Entre 2012 e 2014, pelo menos outros dois bandidos foram tirados da tutela da polícia, organismo de Estado, em ações semelhantes. 

O que torna mais grave o ataque do fim de semana é a particularidade de não ter sido um assalto de surpresa: ao contrário, a cúpula da Polícia do Rio já o esperava, mas reagiu com inaceitável burocratismo às evidências de que haveria uma invasão. Um documento oficial da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), alertando sobre o plano de uma das mais fortes facções do tráfico fluminense, foi enviado ao comando da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança. O deslocamento de apenas cinco PMs para proteger o hospital revelou-se um desastre: o Souza Aguiar foi tomado por um bando de 25 traficantes, o criminoso, resgatado, e um paciente morreu durante a ação. 

Uma desconexão completa da polícia com o princípio da defesa da sociedade. O desabafo de um PM responsável pela escolta do preso resgatado dá o tom de o quanto a máquina policial do estado está emperrada: “(...) a gente está desprotegido, vocês estão, toda a população está”. O episódio, para além de uma desonrosa derrota da polícia, traz à tona questões que traçam um inquietante perfil do que se evidencia como deterioração da política de segurança fluminense.

O programa de pacificação adotado pelo governo no final da década passada obteve resultados positivos ao reduzir focos de violência, colocar na defensiva as quadrilhas do crime organizado e recuperar para a geografia legal do Estado grandes extensões de áreas até então subjugadas pela criminalidade. Mas devem ser tomados como alerta os sinais de esgotamento do alcance das ações de retomada dessas regiões — mesmo que não se trate de uma tendência irreversível. 

Os indicadores de violência podem voltar aos níveis de criminalidade que se pensavam ultrapassados; o tráfico voltou a agir com desenvoltura em algumas comunidades pacificadas; e, um dado que transmite apreensão, o próprio secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, dá sinais de desmotivação. De qualquer forma, sua observação de que presos devem ser tratados em hospitais penitenciários é pertinente, pela blindagem inerente a tais órgãos e por não pôr em risco outros pacientes, como aconteceu no Souza Aguiar.

Há nessa deterioração da segurança elementos que fogem à alçada da polícia, como a crise econômica, do país e do estado. Pagamentos atrasados e perda de gratificações não são exatamente fatores de estímulo para agentes públicos. A isso, junta-se a particularidade de o Rio estar a pouco mais de um mês da Olimpíada, um compromisso da cidade com o mundo. Mais do que precisar, a máquina tem o dever de reagir, por todos os aspectos envolvidos na questão da segurança.


Fonte: O Globo



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