De
fato, o governo de Michel Temer é a solução constitucional para o impasse
político criado pela incompetência de Dilma Rousseff. Mas está, inegavelmente, longe de
ser a solução sonhada pela maioria dos brasileiros
O agravamento da crise política provocado pela queda de mais um
ministro de Michel Temer por
suspeita de conspirar contra a Operação Lava Jato coloca o país diante de uma questão vital: afinal, o que queremos?
Não se trata, obviamente, de saber se os brasileiros estão convencidos de que a
situação econômica é caótica e exige
mudanças radicais.
Tampouco se
questiona o que – exceto para quem
tem o rabo preso – é unanimidade
nacional: o combate sem tréguas à praga da corrupção no
trato da coisa pública. Mas permanece a questão que não deveria
existir e que, existindo, é vital: afinal, quem tem a
responsabilidade de governar o país neste momento crítico?
Embora não haja dúvida de que a maioria dos brasileiros não deseja a volta de Dilma Rousseff à Presidência, a opinião pública parece dividida quanto a dar o necessário apoio ao governo provisório. Na verdade, essa divisão é mais aparente do que quantitativamente significativa, uma vez que se manifesta nas ruas por meio da multiplicação bem orquestrada de pequenos grupos militantes de organizações sociais e entidades controladas pelo PT e pelos aliados que lhe sobraram. E também ecoa na mídia, a partir dos argumentos oferecidos de bandeja pelo governo provisório, pela voz de intelectuais, acadêmicos e artistas no mais das vezes historicamente apoiadores do lulopetismo.
Assim, se Temer não serve, quem vai governar o país? Dilma de volta? O próprio PT, Lula à frente, treme diante dessa hipótese, porque não quer correr o risco de acabar afundando de vez no repúdio dos brasileiros. Novas eleições presidenciais? Como? Isto sim seria um golpe contra a Constituição, a não ser na hipótese absolutamente improvável de que o Congresso aprove a tempo uma emenda constitucional, a partir de uma mais improvável ainda renúncia de ambos ou cassação simultânea dos mandatos de Dilma e Temer.
E é bom ter sempre em mente que – a não ser que a tal emenda constitucional resolva isso –, se a vacância da Presidência da República se der a partir do próximo 1.º de janeiro, a eleição será indireta, por senadores e deputados federais. Como se vê, toda essa discussão é, no mínimo, esdrúxula. No entanto, ela serve às mil maravilhas para quem quer manter o Brasil em estado de constante instabilidade. E não faltam pessoas de bem, mas desinformadas, a alimentar essa situação que, no fundo, todos querem evitar.
Tem toda razão, portanto, Eliane Cantanhêde em sua coluna de terça-feira no Estadão: Ruim com ele, pior sem ele. De fato, o governo chefiado por Michel Temer é a solução constitucional para o impasse político criado pela incompetência e pelos crimes de responsabilidade praticados por Dilma Rousseff. Mas está, inegavelmente, longe de ser a solução sonhada pela maioria dos brasileiros para os graves problemas que herdamos do lulopetismo. Michel Temer, contudo, é o que temos para reverter o pessimismo que um PT revanchista tenta incutir nos brasileiros.
É um grande desafio, mas a equipe econômica é reconhecidamente competente e parece saber o que fazer para tirar o Brasil do fundo do poço em que foi jogado pelo populismo irresponsável. Se o governo interino contar com o apoio do Congresso, brevemente o país poderá ter as primeiras boas notícias no longo e espinhoso caminho que tem pela frente. O que não resolve nada, só piora a situação, é torcer contra.
Fonte: Estadão – Editorial
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