Foi longa a luta do país por juros mais baixos. Em 11 de maio de
1988, a Constituinte aprovou uma lei que deixou a esquerda entusiasmada e
o sistema financeiro apavorado: os juros reais foram limitados a 12%.
Ontem a Selic caiu para 7%. Na véspera do Plano Real, superou 15.000%. O
Banco Central tem criticado há anos a diferença entre a Selic e a TJLP e
agora elas estão juntas pela primeira vez em sua longa relação de
distanciamento. Na busca por juros mais baixos, ontem foi um dia importante. A outra
forma que se tentou na Constituinte não daria certo. O objetivo era bom,
mas o caminho estava errado, tanto que nunca entrou em vigor. Não é
assim que se resolve o problema, ainda mais naquele 1988 em que a
inflação anual foi de 980%.
A grande questão agora é quanto tempo a Selic permanecerá neste
patamar baixo? O comunicado do Copom de ontem teve um tom surpreendente.
Alguns analistas achavam que o BC não seria claro sobre o próximo
movimento porque a nova reunião acontecerá apenas daqui a 60 dias. Mas
ele indicou que a redução pode continuar, ainda que em intensidade
menor. “O comitê vê como adequada uma nova redução moderada na magnitude
da flexibilização monetária.” O entendimento geral foi de outro corte,
no começo de fevereiro, de 0,25 ponto percentual, o que levaria a taxa a
6,75%.
Uma Selic em patamar historicamente baixo, do ponto de vista nominal,
poderá atravessar um ano de instabilidade política e de oscilação nos
ativos que será 2018? A resposta é sim. A situação cambial está
confortável, as reservas são altas, e isso dá munição ao Banco Central
para enfrentar picos de incerteza. Mas tudo ficaria mais fácil se a
reforma da Previdência fosse aprovada. A reforma não é panaceia, mas
concretamente a dívida pública subiu muito e, com a reforma, o cálculo
do aumento futuro da dívida passa a ser mais favorável. Quem vive de
comprar e vender títulos dessa dívida precisa saber se ela terá uma
trajetória segura ou não.
O fato de a Selic e a TJLP serem iguais reduz uma outra fonte de
gastos que no ano passado foi de R$ 29 bilhões, pelos cálculos do
secretário de Acompanhamento Econômico, Mansueto de Almeida, no “Valor”
de ontem. O BC sempre criticou essa diferença de taxa de juros porque
isso faz com que a ação da política monetária tenha efeito apenas numa
parte do crédito. Os juros precisam ser mais baixos no Brasil de forma permanente. A
taxa alta é uma distorção que ficou do período inflacionário e aumenta
os gastos do governo. Mas só pode cair quando as condições permitem e
não por determinação legal ou vontade de um governante. A última vez que
a Selic ficou em 7,25% era artificial, porque a inflação estava
subindo. Caiu para atender a então presidente Dilma. Mas logo depois
teve que voltar a subir.
Outra questão importante neste momento é saber como vão se comportar
os bancos com suas taxas. Essa queda chegará à ponta final, de quem vai
pegar empréstimos para as empresas ou para as pessoas? A Selic foi
reduzida a menos da metade, de 14,25% para 7%, e a redução dos juros
bancários foi proporcionalmente menor. Para as pessoas físicas, os juros
médios do crédito livre, sem subsídios do governo, caíram de 74% para
59% em um ano. Já para as empresas, a redução foi de 29% para 23%.
Os bancos alegam que o spread é alto porque os custos no país são
mais elevados do que em outros países, seja com inadimplência, impostos e
operação. E além disso o recolhimento compulsório é muito alto. De
fato, isso tudo pressiona as taxas, mas os juros seriam menores se a
concentração bancária não estivesse recorde, com 70% de todos os ativos
nas mãos dos quatro maiores no país.
O Brasil viveu tempos de loucura econômica como revela a série
histórica das taxas de juros. Antes da estabilização, a forma de
calcular era diferente e não havia a Selic como nós a entendemos hoje.
Era uma taxa diária anualizada. Mas, no dia anterior ao Plano Real, o
que os dados mostram é que os juros foram de 15.405%. Ontem, eles
chegaram a 7% e isso deixaria feliz o constituinte Fernando Gasparian,
autor da proposta dos juros reais limitados a 12%. Porém para uma
economia tentando sair de uma recessão de três anos, e com inflação de
2,7% nos últimos doze meses, 7% ainda é uma taxa alta.
Miriam Leitão
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