A voz
empostada continua a mesma, mas os cabelos... Depois de 123 dias preso, o
deputado João Rodrigues reapareceu com visual diferente no Congresso. As
madeixas perderam o tom preto-graúna e ficaram grisalhas. Não há salão de
beleza na Papuda, onde o parlamentar cumpre pena por fraude e dispensa de
licitação. Rodrigues
reassumiu o mandato na segunda-feira. O ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal, autorizou que ele saia da cadeia para trabalhar na
Câmara. A permissão vale das 9h às 20h, quando o deputado do PSD deve tomar o
caminho de volta para a cela. “Qual é a
razão de eu não poder estar aqui? Não há problema nenhum”, ele disse, sem
esboçar constrangimento. “Isso é um emprego. Aqui eu conquistei. Isso aqui é
meu”, acrescentou.
Na última
sexta, foi a vez do retorno de Celso Jacob, precursor da jornada dupla entre a
Papuda e o Congresso. Em novembro, ele perdeu o benefício por descumprir as
regras da cadeia. Foi flagrado quando tentava entrar com biscoito e queijo
escondidos na cueca.
Eleito
pelo MDB fluminense, Jacob chegou a ser substituído pelo suplente. Recuperou o
broche de parlamentar graças a uma decisão do juiz Fernando Messere, da Vara de
Execuções de Brasília.
Rodrigues
e Jacob não são os únicos deputados presos. Paulo Maluf, decano do PP, passou
três meses na Papuda e agora cumpre pena em casa. Os três detentos já formam
uma bancada maior que a da Rede, o partido de Marina Silva. Nelson
Meurer, também do PP, deve se juntar em breve ao bloco dos presidiários. Ele
foi condenado pelo Supremo a 13 anos de prisão, mas espera o julgamento do
último recurso em liberdade.
A lista
de deputados em cana poderia ser ainda maior. Na semana passada, o ministro
Edson Fachin negou pedidos de prisão preventiva contra Jovair Arantes, Paulinho
da Força e Wilson Filho. O trio é investigado na Operação Registro Espúrio, que
apura um esquema de corrupção no Ministério do Trabalho. Ontem a
Polícia Federal fez novas buscas na casa e no gabinete da deputada Cristiane
Brasil. O presidente Michel Temer chegou a nomeá-la ministra, mas a Justiça
barrou sua posse. [oportuno ressaltar que foi a leniência de Temer em não insistir em uma manifestação do Plenário do STF sobre a decisão arbitrária de um juiz de primeiro grau - proibindo-o de nomear um ministro - decisão que foi corroborada pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, que deu inicio ao processo de desautorização, desmoralização mesmo, do mandato do presidente Temer, que tem suas decisões contestadas - e muitas vezes modificadas - por pressão de diversos grupos, com destaque para 'caminhoneiros'.
A falta de autoridade, o desprestígio do presidente Temer é tamanho que decidiu usar recursos de alguns ministérios para o programa de segurança pública - o SUSP - e foi abertamente criticado pelos titulares dos ministérios atingidos pela medida - Cultura e Esportes, ministérios que poderiam ser extintos, mediante fusão de um e transformação do outro em secretaria, sem prejuízos.
Não defendemos a deputada Cristiane, mas, defendemos o direito do presidente da República - que valorize a autoridade do cargo que ocupa - de nomear ministros, desde que atenda o que está na Constituição.]
Bernardo
Mello Franco - O Globo
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