Otávio Frias Filho foi um diretor rigoroso, vigoroso; revolucionário. A Folha, em suas mãos, se manteve até agora como o maior jornal do país
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
A notícia
Otávio Frias Filho, 61 anos, morreu na madrugada desta terça-feira,
vítima de câncer no pâncreas. Trabalhou até os últimos dias, escrevendo
no hospital.
Renovação, só com os mesmos
O eleitor está saturado dos atuais políticos: isso se percebe numa
conversa e se confirma nas pesquisas. Mas a renovação no Congresso será
baixíssima: a combinação de campanha curta e proibição de doações de
empresas faz com que os nomes já conhecidos levem ampla vantagem. O
financiamento público de campanhas é entregue aos partidos, que escolhem
quem irá recebê-lo. Claro, os caciques de sempre. Por isso, ¾ dos
congressistas vão tentar se reeleger. E entre os que não tentam a
reeleição há quem queira só mudar de cargo, disputando o Executivo. No
total, apenas 7% dos parlamentares estão dispostos a largar o osso.
Poucos decidiram abandonar de vez a boa vida.
Tirando da reta
Mas, de qualquer modo, haverá alguma renovação, e gente importante
que troca de cadeira. O grande fator é a Lava Jato. Ninguém quer correr o
risco de cair nas mãos de juízes de primeira instância. Três senadores
ameaçados preferiram não tentar a reeleição e lutar pela deputança, onde
é mais fácil se eleger e o foro privilegiado é o mesmo: Gleisi
Hoffmann, presidente nacional do PT, Aécio Neves, ex-presidente nacional
do PSDB, e José Agripino Maia, ex-presidente nacional do DEM. Gleisi
tem um inquérito na Lava Jato, Agripino é réu em dois processos no STF e
Aécio está na lista dos gravados por Joesley Batista. Mas todos
apresentam motivos nobres para a desistência: pensam em reforçar a
bancada federal em benefício de seus Estados. Agripino, para atingir
esse objetivo, fez com que seu filho Felipe desistisse da Câmara.
Os Lulas
Gleisi Hoffmann, para garantir a eleição à Câmara (mantendo, assim, o
foro privilegiado), concorre com o nome de “Gleisi Lula”. Mas não é a
única petista a buscar identificação com seu ídolo maior. No Maranhão,
surge Ney Jefferson Lula; em Pernambuco, Neide Lula da Silva; no
Espírito Santo, Eduardo Lula Paiva; e, em São Paulo, há um que se
registrou só como “Lula”.
A hora do voto
O pessoal de Bolsonaro canta vitória, os petistas acreditam que, se
der para colocar nome e fotografia de Lula na urna, votos que seriam
dele serão transferidos para o candidato que ocupar seu lugar (hoje,
Fernando Haddad). As pesquisas dão Lula na frente, com Bolsonaro em
segundo; ou, sem Lula, com Bolsonaro na frente. Só que a campanha de
verdade começa agora, com o horário gratuito. A TV sempre foi e ainda é a
maior arma de campanha, apesar das redes sociais. Alckmin não tem
charme, mas tem 11 minutos de tempo de TV. Deve subir. Bolsonaro tem
dois blocos de quatro segundos por dia. Pode cair. Haddad, diz a
pesquisa, terá 17% dos votos que seriam de Lula. Marina herdaria 12%.
Daqui até 7 de outubro muita coisa pode mudar.
Meirelles, o coerente
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, ex-presidente do Banco
Central, é um homem coerente: sempre lutou pela estabilidade da moeda.
Agora mantém a estabilidade das intenções de voto: não passam de 1%,
seja qual for o cenário, com Lula ou sem Lula.
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