Uma das
características que Jair Bolsonaro mais admira em Abraham Weintraub, o novo
ministro da Educação, é o seu "viés ideológico" e a forma rude como
ele trata o petismo. Ele se refere a Lula como "Nove Dedos". Xinga o
ex-presidente petista de "sicofanta" (patife, impostor). Em setembro
de 2018, numa transmissão ao vivo pela internet, o agora ministro da Educação
insinuou que o programa de governo de Bolsonaro romperia paradigmas. Para
enfatizar seu ponto de vista, evocou Lula: "Como diria o Nove Dedos, nunca
antes na história republicana se discutiu esse tipo de coisa."
Nessa
exposição, conforme já noticiado aqui, Weintraub sustentou a tese segundo a
qual universidades do Nordeste não deveriam oferecer cursos de disciplinas como
sociologia e filosofia. Acha que a prioridade deveria ser o ensino de
agronomia, em parceria com Israel. "Em Israel, o Jair Bolsonaro tem um
monte de parcerias para trazer tecnologia aqui para o Brasil", declarou.
"Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia,
fazendo filosofia no agreste, [devem] fazer agronomia, em parceria com Israel.
Acabar com esse ódio de Israel. Israel, nas faculdades federais, é loucura o
que você escuta, né?"
Em
dezembro de 2018, quando Bolsonaro já havia prevalecido nas urnas sobre o rival
petista Fernando Haddad, Weintraub participou de uma "Cúpula Conservadora"
idealizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Dividiu o palco com seu
irmão, o advogado Arthur Weintraub, hoje assessor de Bolsonaro. Numa palestra
em que defendeu o expurgo do "marxismo cultural" nas universidades
por meio de uma adaptação das teses do autoproclamado filósofo Olavo de
Carvalho, o agora ministro perguntou ao irmão a certa altura: "Não posso
xingar o Lula, né Arthur?". E emendou: "O sicofanta do Lula… Ele
nunca vai saber o que é sicofanta…"
No mesmo
evento, Abraham Weintraub revelou-se obcecado pelo comunismo. Ao responder sobre
reforma da Previdência, tema do qual se ocupava na equipe de transição de
governo, ele declarou: "A reforma está sendo propositalmente escondida,
para evitar tiroteio desnecessário antes. Mas ela está bem avançada…"
Nesse ponto, o orador emendou, do nada, uma teoria que acomoda
"comunistas" nos locais mais insuspeitados: "A gente não chegou
nessa situação porque os comunistas são pobres. Os comunistas estão no topo do
país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos
jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos
monopólios…"
Abraham
Weintraub prosseguiu: "Os monopolistas apoiaram Lula, estavam dando
dinheiro para o Haddad. A gente não conseguiu ter um apoio de qualquer grande
instituição durante a campanha. E qual foi a sacada? Desintermediar. Houve uma
comunicação do Jair Bolsonaro e toda a campanha diretamente com o povo através
das mídias sociais." O novo titular da Educação talvez enfrente
dificuldades se precisar submeter alguma proposta à apreciação do Congresso. Na
palestra à plateia conservadora, Weintraub falou em voz alta sobre o desprezo
que o governo Bolsonaro dedica à oligarquia que controla os principais partidos
políticos no Legislativo.
O economista e professor Abraham Weintraub futuro secretário-executivo
da Casa Civil do governo Bolsonaro, explicou durante a primeira Cúpula
Conservadora das Américas a estratégia adotada pela equipe do governo
Bolsonaro para aprovar a reforma da previdência em 2019.
"Acho que agora, capitaneado pelo Onyx Lorenzoni [chefe da Casa
Civil], está se tentando fazer a mesma coisa [a desintermediação] no Congresso.
Os antigos parlamentares, que eram donos de grupos, grupelhos, estão sendo
atravessados, para chegar diretamente à base de apoio, para conversar
republicanamente com a base de congressistas. A Estimativa é que a gente vai
ter 350 [deputados] na base [de apoio ao governo]. Mais do que suficiente para
passar tudo o que for necessário." Depois dessa palestra, Weintraub
tornou-se o número dois da Casa Civil. Deve ter percebido nos primeiros 100
dias de governo que a pretensão de Bolsonaro e Lorenzoni de "atravessar"
os caciques do Legislativo para "conversar republicanamente com a base de
congressistas" resultou em fiasco. No momento, Bolsonaro dedica-se
justamente a receber os velhos tecelões dos partidos.
[comentário: o grande risco do novo nomeado é usar para se livrar do Vélez um outro Araújo.]
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