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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Fotos de Adriano da Nóbrega morto fortalecem suspeita de queima de arquivo - VEJA



Por Daniel Pereira, Thiago Bronzatto, Cassio Bruno e Hugo Marques, de Esplanada (BA)

Imagens obtidas por VEJA confirmam que o ex-capitão do Bope foi morto com tiros disparados a curta distância


O ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega era considerado peça-chave para o esclarecimento de dois casos emblemáticos: a expansão das milícias no Rio de Janeiro, muitas vezes com a ajuda clandestina de autoridades públicas, e o esquema de rachadinha no gabinete do então depu­tado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador da República. No domingo 9 de fevereiro, depois de mais de um ano foragido, Adriano foi morto por policiais da Bahia, que descobriram o seu paradeiro com a ajuda da equipe de inteligência da polícia fluminense.

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 NO PEITO – A queimadura pode ter sido provocada pelo cano de uma arma longa e de grosso calibre ./.



De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano, depois de reagir, foi abatido com dois tiros — um de carabina e outro de fuzil. Um dos projéteis atingiu a região do pescoço. O outro perfurou o tórax.

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Obtidas com exclusividade, as fotos que ilustram esta reportagem foram submetidas à avaliação do médico legista Malthus Fonseca Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor do Instituto Médico Legal do Distrito Federal. Ele debruçou-se sobre o material sem saber a identidade do morto. Depois de ressaltar que o ideal seria estudar o próprio corpo e ter conhecimento das armas usadas na operação policial, Galvão citou alguns pontos que lhe chamaram a atenção. O primeiro são as marcas vermelhas localizadas próximas da região do peito, chamadas pelos peritos de “tatuagem”, que indicariam um tiro a curta distância. “É um disparo a uma distância na qual a pólvora ainda tem energia cinética suficiente para adentrar o corpo. Então, foi um disparo a curta distância. O que é a curta distância? Depende da arma e da munição. Seriam 40 centímetros, no máximo, imaginando um revólver ou uma pistola. Mais que isso, não”, declarou Galvão. E acrescentou: “Pode ter sido uma troca de tiros? Pode. Pode ter sido uma execução? Pode. Qual é o mais provável? Com esse disparo tão próximo, o mais provável é que tenha sido uma execução. Mas tem de analisar com mais detalhes”.

O segundo ponto destacado pelo médico legista é uma marca que aparenta ser um tiro na região do pescoço. “Pode ter sido um disparo após a vítima ter caído no chão, porque a imagem me sugere ser de baixo para cima, da direita para a esquerda, em quase 45 graus. Esse disparo pode ser o que o povo chama de ‘confere’”, afirmou. Confere é o famoso tiro de misericórdia, efetuado quando não há a intenção de salvar a pessoa baleada. Galvão também destacou uma marca cilíndrica cravada no peito do corpo. “Tem muita chance de ser a boca de um cano longo após o disparo, quente, sendo encostada com bastante força por mais de uma vez. Nesse momento, ele estava vivo, com certeza, porque está vermelho em volta. É uma reação vital.” O professor observou ainda que o ferimento na cabeça poderia ser um corte provocado por um facão, um machado ou um choque com a quina de uma mesa. Pessoas próximas a Adriano da Nóbrega dizem que ele foi torturado. O machucado na cabeça, por exemplo, teria sido resultado de uma coronhada de pistola.

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Sob a proteção do anonimato, outro especialista em medicina legal apontou como possível sinal de execução o disparo na lateral do corpo do ex-capitão do Bope, provavelmente feito quando ele estava com os braços erguidos, em sinal de rendição. Para esse perito, se tivesse havido troca de tiros, tal contusão teria de ser acompanhada de ferimentos também no braço esquerdo. Ele ainda observou que um dos disparos — no pescoço, abaixo da mandíbula — deve ter sido feito a curtíssima distância. Coisa de 15 centímetros. Assim como seu colega da UnB, o especialista ressalvou que o ideal seria fazer uma análise no corpo. Familiares e conhecidos de Adriano estão certos de que houve execução. “Ele me ligou e disse que não adiantaria se entregar porque ninguém queria a sua prisão, mas sim a sua morte”, disse a VEJA o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defendia o ex-capitão na Justiça. No domingo 2 de fevereiro, uma semana antes da ação policial que resultou na morte de Adriano da Nóbrega, a esposa dele, Júlia Mello Lotufo, declarou a VEJA que ele seria assassinado.Meu marido foi envolvido numa conspiração armada pelo governador do Rio, Wilson Witzel, que queria matar o Adriano como queima de arquivo.”


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Em 2005, quando Adriano estava preso, acusado de outro homicídio, Flávio lhe concedeu a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Legislativo do Rio. Naquele mesmo ano, Jair Bolsonaro, então um deputado do baixo clero, também ocupou a tribuna da Câmara para prestar solidariedade ao ex-­capitão, que seria inocentado e libertado da cadeia em 2006. Com o passar do tempo, os laços se estreitaram.

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Em VEJAMATÉRIA COMPLETA

Com reportagem de Jana Sampaio

Publicado em VEJA, edição nº 2674,  de 19 de fevereiro de 2020

 

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