O Estado de S. Paulo
Governador, ministro do STF e presidente da Câmara discutem em
jantar o que consideram investidas de Bolsonaro contra instituições
Em jantar na residência oficial da presidência da Câmara,
nesta terça-feira, 18, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador
João Doria (PSDB-SP), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Gilmar Mendes e dez parlamentares discutiram o que consideram uma
“escalada autoritária” do presidente Jair Bolsonaro contra a imprensa,
os governadores, o Congresso e outras representações da democracia.
Conforme o Estado apurou, Maia está preocupado em não confrontar
Bolsonaro, [o estilo do Maia é morde e assopra, arranha e esconde a unha, assim, ele cutuca o presidente e posa de inocente - só que, se necessário, o presidente reage sem rodeios.] com quem mantém relações difíceis desde o início do mandato
presidencial, mas disse que a “linha dura” continua instalada no Palácio
do Planalto e lamentou os efeitos negativos da grave polarização entre
direita e esquerda na retomada do crescimento econômico. Garantiu,
porém, que o Congresso tocará as reformas tributária e administrativa,
mesmo sem a iniciativa ou o apoio do Executivo.
O mais incisivo no encontro foi o ministro Gilmar Mendes, que chegou a
reclamar da “bonomia” (bondade, falta de maldade, leniência) com que
instituições e setores da sociedade convivem, na sua opinião, com as
agressões do presidente, que se tornaram praticamente diárias e
dirigidas a um número cada vez maior de alvos. O ministro do Supremo
defendeu o “fim dessa bonomia”.[o ministro Gilmar deveria silenciar sobre o assunto, haja vista a possibilidade de uma tentativa de impedir o presidente da República.
Não exercendo nenhum cargo que o autoriza a falar em nome do STF - função que cabe ao presidente ou vice-presidente da Corte - o ministro apenas compromete sua isenção de eventual possível futuro julgador do presidente Bolsonaro.]
O jantar foi no dia em que Bolsonaro atacou em tom sexista a jornalista
Patricia Campos Melo e em meio ao novo mal-estar entre Executivo e
Legislativo, pela decisão do governo de romper um acordo fechado pelo
Ministério da Economia e as cúpulas da Câmara e do Senado quanto ao
Orçamento impositivo. Maia atribuiu a responsabilidade pelo rompimento
menos a Bolsonaro e mais ao ministro Paulo Guedes.
Já no dia seguinte, quarta-feira, 19, surgiu o vídeo do general Augusto
Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), acusando os
parlamentares de “chantagearem” o governo e terminando a frase com um
palavrão, como que confirmando a avaliação e as críticas feitas no
jantar de Maia, Doria e Gilmar.
Doria é um dos líderes da reação dos governadores aos ataques do
presidente e da carta assinada por 20 deles criticando o presidente por
manifestações que não contribuem com “a evolução da democracia”. Ontem,
depois de encontro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),
cobrou de Bolsonaro “diálogo e entendimento”. [Doria por sua pouca importância e evidente interesse em complicar o presidente da República, não merece comentários - ainda que de um Blog com dois leitores.]
Miliciano
Se o clima da semana já era de tensão, pelos ataques de Bolsonaro a
jornalistas e pelo confronto com governadores, esse clima só piorou com
as manifestações dele e de seus filhos sobre a morte do capitão Adriano,
líder de uma milícia do Rio. No Legislativo e no Judiciário, há
perplexidade com as manifestações do presidente.
No fim da tarde desta quarta, o ambiente político ganhou um fator novo e
preocupante, com os tiros no senador Cid Gomes, no Ceará, durante
protestos de policiais no Estado, o que mobilizou Senado, Câmara e mundo
jurídico, justamente no dia em que o Congresso criou a Comissão Mista
que buscará um consenso para uma reforma tributária comum. [o senador, carente de holofotes, tentou conseguir chamar a atenção e se machucou.]
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
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