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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Maia, Alcolumbre, Toffoli e Aras silenciam sobre insulto de Bolsonaro a repórter - Folha de S. Paulo

Chefes de Poder não comentam declaração do presidente com insinuação sexual

Os presidentes dos demais Poderes silenciaram sobre insulto proferido nesta terça-feira (18) pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, com insinuação sexual, contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha. Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, foram procurados por meio de suas assessorias de imprensa. No entanto, até o início da noite desta terça, nenhum deles se manifestou.[talvez essas autoridades tenham em um momento, ainda que raro, de isenção, de parcialidade e concluído que o alvoroço em função das chamadas ofensas, seja apenas consequência de uma interpretação parcial das narrativas.

No Brasil atual, em que o presidente da República é quase linchado virtualmente por ter, no carnaval 2019, criticado um 'show' de 'golden shower'- algo que além do caráter obsceno de um ato imoral praticado em público, se destaca por mostrar uma aberração, uma prática bizarra, nojenta e repugnante.]  

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também não se posicionou sobre a declaração do presidente. "Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]", disse Bolsonaro nesta terça, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes na frente do Palácio da Alvorada. A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso.

Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, mentiu a deputados e senadores. Em dezembro de 2018, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Já na CPMI, ele deu informações falsas e insultou Patrícia, uma das autoras de reportagem. Sem apresentar provas, Hans afirmou que Patrícia queria "um determinado tipo de matéria a troco de sexo". Ao longo do dia, Maia se negou a comentar a declaração de Bolsonaro duas vezes, uma em São Paulo, onde participou de evento de um banco, e outra em Brasília.

No Congresso, durante entrevista coletiva, disse que só poderia falar sobre o episódio após assistir às declarações de Bolsonaro. A resposta foi a mesma dada pela manhã, na capital paulista. "Não vi ainda. Só vou falar mais tarde. Não vou falar do que não vi. Só vi a repercussão", afirmou o presidente da Câmara. Alcolumbre foi procurado pela Folha ainda na semana passada, quando a jornalista foi insultada pela primeira vez, mas não se manifestou. Na segunda-feira (17), quando ele e seu pai foram alvos de comentários machistas, homofóbicos e antissemitas por causa de um vídeo em que aparecem dançando, o presidente do Senado foi às redes sociais. "Uma crescente onda de intolerância, preconceito e desrespeito toma conta das redes sociais. É inacreditável que algumas pessoas sejam tão desrespeitosas que se sintam no direito de agredirem, sem mais nem menos, a imagem de um pai feliz em um momento de descontração com o filho", escreveu Alcolumbre.

Nesta terça, após a declaração de Bolsonaro, a assessoria de Alcolumbre foi procurada pela Folha, mas não respondeu. Na semana passada, Maia se manifestou nas redes sociais. "Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei", escreveu.

Nesta terça, abordado após um evento em São Paulo, disse que ainda não havia tomado conhecimento do insulto. "Eu não vi ainda, estava aqui no evento e, quando eu chegar a Brasília, eu vou me manifestar. Mas, como eu não vi, eu não quero me manifestar sem antes compreender o que ele falou e como ele falou", afirmou. O ministro Dias Toffoli também foi procurado nesta terça, mas não se pronunciou. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também não comentou as declarações de Bolsonaro. "O PGR, Augusto Aras, se manifestará juridicamente, caso seja necessário, na instância adequada", informou a assessoria de imprensa de Aras.

Na Câmara, a bancada do PSOL protocolou no Conselho de Ética da Presidência um pedido de apuração de violação da conduta da alta administração federal, por parte do presidente, por insultar a jornalista da Folha. Segundo a bancada, as declarações são de "cunho machista e misógino". "Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos", escreveram os deputados.

Ao final da audiência pública desta terça, na CPMI das Fake News, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) criticou o insulto de Bolsonaro a Patrícia. "Hoje, até o presidente de forma infame atacou a jornalista Patrícia Campos Mello em termos baixo, sexista e misógino. Se tivesse como responsabilizar esse inimputável, seria esse o momento. Porque outros momentos ele já deu ensejo a isso, mas hoje atingiu a baixeza da sarjeta", afirmou.

Outras figuras políticas foram às redes sociais para criticar a fala de Bolsonaro. "Essa manifestação em relação a Patrícia passa de todos os limites. É muito desrespeito com a condição de mulher. Lamentável chegar a uma situação como essa. Desconheço um presidente que tenha feito uma agressão tão grande à posição de mulher como ele fez agora", disse a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Para o deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT, "o cargo de presidente nunca foi tão vilipendiado, ultrajado e desonrado". [foi sim e muito mais; quando teve um presidente ladrão, que chefiava uma organização criminosa e na sequência foi substituido por uma presidente que além de cúmplice dos crimes cometidos pelo seu antecessor, se destacou pena ignorância, pela incompetência.

O líder da Minoria do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também foi às redes sociais. "Qual o limite do absurdo? Em que democracia sã um presidente da República se sente à vontade agredindo, assediando mulheres? O Brasil nunca esteve diante de tanta covardia! As instituições não podem se calar! Toda minha solidariedade à Patrícia Campos Mello!", escreveu. O PSDB nacional também se posicionou sobre a fala do presidente. "A liberdade de imprensa é um patrimônio de uma sociedade democrática e livre. Causa consternação todo e qualquer movimento que queira calar ou desqualificar a imprensa e, mais preocupante ainda, quando o ato vem carregado de sexismo e desprezo contra as mulheres", publicou o PSDB nacional.

"Este presidente é a maior vergonha de nossa história! Enojante!", escreveu Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e um dos adversários de Bolsonaro na eleição de 2018. [os demais comentários, em sua maioria, nada dizem. O do Ciro Gomes, este sim merece um lembrete: o Ciro Gomes foi aquele admirador das mulheres que quando era casado com atriz Patrícia Pilar, perguntado sobre a 'utilidade' dela, simplsmente respondeu: ela dorme comigo.]
 
Poder - Folha de S. Paulo 
 
 

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