Marcelo Bretas, um juiz “terrivelmente” próximo de Bolsonaro
A um juiz
não é proibido manter relações cordiais com qualquer pessoa. Mas pela
função que exerce, por ser obrigado a interpretar a lei de forma
imparcial e fazer justiça, espera-se que se comporte com a máxima
discrição possível, principalmente em relação a quem possa vir a ser
atingido direta ou indiretamente por suas decisões.
Assim se comportou Sérgio
Moro até renunciar à toga e aderir ao candidato que mais se beneficiou
de suas sentenças quando disputou a presidência da República em 2018. Um
ano antes, o próprio Bolsonaro provara na pele o distanciamento
prudente que Moro matinha dos políticos. Tentou cumprimentá-lo no
aeroporto de Brasília. Foi ignorado. Depois de Moro, nenhum
outro juiz identificou-se tanto com a Operação Lava Jato como Marcelo
Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Com uma diferença: ele não
fez e não faz a mínima questão de mostrar-se distante de políticos,
sobretudo do presidente Jair Bolsonaro. Pelo contrário: faz questão de
se identificar publicamente com ele. [ocorrendo o que pode ser considerado aproximação excessiva,não está caracterizado nenhum delito ou conduta inidônea por parte do juiz - desde que, se chamado a atuar em qualquer processo que envolva o 'amigo', deve, de pronto, se declarar impedido.]
Mais de uma vez nas redes
sociais revelou que o admira e apoia. Certa vez viajou a Brasília para
uma reunião de fim de semana com ele que não fez parte da agenda oficial
do presidente. Recebeu seu filho Flávio para uma longa conversa a sós.
E, no último sábado, recepcionou Bolsonaro na Base Aérea do Galeão e com
ele embarcou no carro presidencial. Participou ao lado de
Bolsonaro da inauguração da alça de ligação da Ponte Rio-Niterói com a
Linha Vermelha. Foi visto com Bolsonaro no show evangélico promovido
pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Enquanto Bolsonaro e
Crivela entoavam hinos religiosos e, a certa altura, dançavam, Bretas
manteve-se sentado. Apenas observou.
Bolsonaro tem no juiz não
apenas uma pessoa confiável, capaz de aconselhá-lo nas horas incertas,
mas também um trunfo que poderá jogar na mesa se precisar substituir
Moro no Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Ou se quiser de
fato preencher a próxima vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal
com um ministro terrivelmente evangélico. Bretas se quiser, sempre
poderá dizer que o bom ou o mau exemplo vem de cima.
Quantas vezes
ministros do Supremo foram vistos entrando e saindo de reuniões
sigilosas com presidentes e vices?
O presidente do tribunal, Dias
Toffoli, não se vangloria de ter abortado um golpe que poderia ter
derrubado Bolsonaro?
Um golpe que só ele detectou?
[um registro: Bretas parece confiável. Tem condições de integrar a equipe do presidente Bolsonaro, desde que não seja para tornar o ministro Moro dispensável - o juiz da 7ª Vara Federal do Rio, não tem cacife popular para tanto - ou substituir militares, visto que em certas situações a lealdade da caserna é mais sólida e de mais valia.]
l
Ministros do Supremo
também já foram grampeados durante conversas impróprias com políticos de
diversos partidos. Não é de estranhar, pois, que a confiança na Justiça
seja tão pouca por estas bandas.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
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