Revista Oeste
Cleriston Pereira da Cunha é o primeiro cadáver da repressão ilegal comandada pelo STF aos 'atos golpistas' de 8 de janeiro
Regimes que não respeitam a lei, eliminam direitos individuais e suprimem liberdades públicas acabam, mais cedo ou mais tarde, entrando em contato com a morte. Não há como ser diferente.
A decisão seguinte é pior ainda — e por aí se vai, numa reação em cadeia na qual os autores das ordens só conseguem dar sequência a uma ação radical tomando outra mais radical que a precedente.
Como não encontram nenhuma oposição de verdade, e dispõem da força armada para impor qualquer decisão, passam a agir como se não tivessem limites.
O resultado, inevitável, é que vão perdendo cada vez mais o controle sobre as consequências dos seus atos.
Uma violação da lei, para manter-se de pé, exige sempre uma outra mais grave, e mais uma, e mais uma — até que alguém morre. É o que acaba de acontecer com o cidadão Cleriston Pereira da Cunha, um dos presos nos tumultos do dia 8 de janeiro em Brasília.
O Supremo Tribunal Federal foi tirando todos os seus direitos, um depois do outro. Acabou, agora, por lhe tirar o direito à vida (Leia também, nesta edição, as reportagens de Augusto Nunes e Cristyan Costa). [felizmente, os fatos narrados na presente matéria serão julgados pelo SUPREMO JUIZ, o único realmente Supremo e Eterno, Justo e Infalível - cujas sentenças são IRRECORRÍVEIS e ETERNAS e alcançarão TODOS os envolvidos no ocorrido e que tiveram alguma participação nos fatos lamentáveis, são IRRECORRÍVEIS e ETERNAS.]
Durante oito meses e meio inteiros, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, não tomou conhecimento dessas informações — e dos pedidos de soltura do réu para tratamento médico de emergência, feitos por seus advogados com base no relatório da doutora Tania.
Cleriston, ao longo desse período, sofreu diversos desmaios e ataques de vômito, e teve de ser levado ao pronto-socorro da penitenciária; seu estado tornou-se cada vez mais grave.
A situação chegou a tal ponto que o próprio Ministério Público, encarregado de fazer a acusação, pediu a Alexandre de Moraes que Cleriston fosse solto, agora no dia 1º de setembro.
Como já tinha acontecido com o relatório médico, o ministro ignorou o pedido do MP.
Não disse nem sim nem não; apenas não respondeu nada.
Agora, depois de 285 dias de prisão sem ter sofrido condenação nenhuma, e quase dois meses após a solicitação de sua soltura pelo MP, Cleriston morreu na Papuda.
É aonde se chegou, enfim, pelo encadeamento de uma ilegalidade com outra, em gravidade crescente; ele não podia ter sido preso, o inquérito do STF não podia ter sido feito, sua prisão não podia ser mantida.
Deu no que deu.
Naturalmente, o STF não liga a mínima para a morte de Cleriston ou de
qualquer dos mais de mil cidadãos que estão sendo condenados a até 17
anos de cadeia por terem participado de um quebra-quebra.
Por que
ligaria? Não ocorre a quase nenhum ministro que as suas decisões
envolvem seres humanos de carne, osso e alma — e, portanto, merecedores
naturais de sentimentos como a compaixão, piedade ou clemência.
A única
maneira pela qual Alexandre de Moares e a maioria dos seus colegas
enxergam essas pessoas é como “bolsonaristas” — e na sua visão de
democracia bolsonaristas não têm direitos constitucionais, nem de
qualquer outro tipo.
Se tivessem, no entender do STF, iriam “usar” seus
direitos para acabar com o “estado democrático de direito”; não podem,
portanto, pretender a proteção da lei e do sistema judicial.
Além disso,
os ministros estão convencidos de que são eles, e mais ninguém, que
dizem o que é a realidade.
Se decidem que um fato não existe, esse fato
não aparece na Rede Globo — e, se não aparece na Rede Globo, eles ficam
com a certeza de que o fato não existiu.
“Cleriston? Que Cleriston? Não
temos nada a ver com isso.”
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Em compensação, o STF se envolve numa situação de dependência cada vez
maior em relação ao governo Lula e às forças que lhe dão apoio. É uma
dependência mútua, pois o presidente, o PT e os seus partidos-satélites
da extrema esquerda também dependem hoje do Supremo. Mas continua sendo
uma dependência — para sobreviver, o STF precisa cada vez mais de Lula e
de quem obedece às suas ordens. Como consequência direta disso, o
tribunal está operando, já há muito tempo, sem um código legal ou moral:
age e reage em função dos interesses do governo e dos seus. Que código
de conduta pode ter uma corte de Justiça que anula provas materiais de
corrupção, como a livre confissão dos culpados e a devolução de bilhões
de reais em dinheiro roubado — e, ao mesmo tempo, decide que não é
preciso nenhuma prova para condenar a penas de prisão extremas os
acusados do 8 de janeiro? O STF não tem mais um mapa para indicar o rumo
correto a seguir nas suas decisões — o caminho da lei, da
jurisprudência ou da reponsabilidade pelos efeitos práticos que provoca
na ordem social, econômica e política do país. Sem código e sem mapa,
fica também sem lógica. Sai o raciocínio. Entra a força.
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“Os senhores são as pessoas mais odiadas do Brasil”, disse o advogado Sebastião Coelho, que defende um dos réus, na sessão que abriu o julgamento dos episódios do dia 8 de janeiro. Os ministros, na ocasião, se mostraram revoltados; os bajuladores mais excitados chegaram, inclusive, a pedir “punição” para Coelho. Mas a verdade é que, ao insistir num tipo de conduta que conduz a tragédias como a morte de Cleriston, o STF está deixando junto à população uma imagem de crueldade que a Justiça brasileira nunca teve. Isso, como dito acima, não parece ser um problema para os ministros. Não prestam contas a ninguém, têm o apoio da polícia e das Forças Armadas e apostam na covardia das mesas diretoras do Congresso para continuarem agindo sem correr nenhum risco. Transformaram a Rede Globo e quase toda a imprensa brasileira num departamento de propaganda política — em perfeita simetria, aliás, com o que faz o governo Lula. Vivem numa cápsula impermeável ao Brasil e ao resto do mundo, protegidos por carros blindados, por seguranças que têm armamento pesado e por um isolamento físico que lhes permite viver praticamente sem nenhum contato com o cidadão brasileiro comum. Suas sentenças são a primeira, a segunda e a terceira instâncias ao mesmo tempo; qualquer decisão que tomam passa mecanicamente “em julgado” e torna-se um “ato jurídico perfeito”.
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“Os senhores são as pessoas mais odiadas do Brasil”, disse o advogado Sebastião Coelho, que defende um dos réus, na sessão que abriu o julgamento dos episódios do dia 8 de janeiro. Os ministros, na ocasião, se mostraram revoltados; os bajuladores mais excitados chegaram, inclusive, a pedir “punição” para Coelho. Mas a verdade é que, ao insistir num tipo de conduta que conduz a tragédias como a morte de Cleriston, o STF está deixando junto à população uma imagem de crueldade que a Justiça brasileira nunca teve. Isso, como dito acima, não parece ser um problema para os ministros. Não prestam contas a ninguém, têm o apoio da polícia e das Forças Armadas e apostam na covardia das mesas diretoras do Congresso para continuarem agindo sem correr nenhum risco. Transformaram a Rede Globo e quase toda a imprensa brasileira num departamento de propaganda política — em perfeita simetria, aliás, com o que faz o governo Lula. Vivem numa cápsula impermeável ao Brasil e ao resto do mundo, protegidos por carros blindados, por seguranças que têm armamento pesado e por um isolamento físico que lhes permite viver praticamente sem nenhum contato com o cidadão brasileiro comum. Suas sentenças são a primeira, a segunda e a terceira instâncias ao mesmo tempo; qualquer decisão que tomam passa mecanicamente “em julgado” e torna-se um “ato jurídico perfeito”.
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Leia também “A liberdade proibida”
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