Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador INQUÉRITOS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador INQUÉRITOS. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Inquéritos não são portes de armas destravadas. - Percival Puggina

A imprensa militante destacou como acintosa e imprópria a ausência do presidente da República na posse de Rosa Weber no comando supremo do Supremo. Bolsonaro se fez representar por Paulo Guedes.

 Cabe bem, aqui, o provérbio: “Tanto vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa a asa”. Essa asa se partiu há bom tempo
Alguém pode achar saudável que o noticiário político seja absorvido por atos do STF, no entanto, um pouco de juízo basta para perceber, nisso, sintoma de grave enfermidade. Trata-se de algo totalmente anômalo. E cansativo.   
 
A política não pode ser polarizada por um poder sem voto. Eminentes juristas, ex-ministros do Supremo, jornalistas bons e experientes advertem para os malefícios causados por tão claro desvio de rota. Se fez presente, o STF, nas festividades oficiais do 7 de setembro? Não. 
No caso, para a mesma imprensa militante, foi tudo como tinha que ser. Atende, o STF, algum pedido do presidente? Não. Mas também nisso está tudo bem para os plantonistas da mídia engajada.
 
Pouco antes da posse, a ministra Rosa Weber indeferiu o pedido da PGR para que se encerrassem os inquéritos abertos contra o presidente da República como decorrência do relatório da espalhafatosa e politiqueira CPI da Covid. 
O órgão titular da ação penal pública disse não ter encontrado motivos consistentes para dar continuidade às investigações. 
A ministra, mesmo assim, reproduz o padrão do poder que passaria a presidir: dane-se o ministério público.

Manter inquéritos abertos no Supremo virou uma espécie de porte ostensivo de arma destravada...

Em outras palavras, a ministra optou por desacreditar a PGR e atribuir maior valor ao denuncismo desvairado de Renan Calheiros, um senador de má reputação, que em 14 de setembro de 2021 tinha nove inquéritos abertos no STF.  

Mas, aparentemente, nada disso tem algo a ver ou dá razões para a tão reprovada polarização...

LEIA TAMBÉM:  O dia em que Ruy Barbosa falou para nós

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. 

 

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Quais são e como estão os inquéritos contra Bolsonaro no STF - Gazeta do Povo

Renan Ramalho

Na mira de Moraes

O presidente Jair Bolsonaro (PL) responde a diversos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) há mais de dois anos. Atualmente, existem cinco investigações em andamento e não há, no curto prazo, perspectiva de que alguma delas avance para eventual denúncia, por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que possa levar o presidente a se tornar réu pelos supostos crimes de que é suspeito.

Sob o comando do procurador-geral Augusto Aras, indicado pelo próprio presidente, a PGR já se manifestou a favor do arquivamento de dois inquéritos, relativos a uma suposta prevaricação nas negociações para a compra da vacina indiana Covaxin (pedido aceito pela ministra Rosa Weber, do STF, que encerrou o caso) [lembramos que a compra não foi realizada, o que impõe uma única pergunta:  como prevaricar em uma compra que não foi efetivada?]e outro relacionado à divulgação de uma investigação supostamente sigilosa sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 (apesar do pedido, o ministro do STF Alexandre de Moraes não encerrou o caso e decidiu estender a investigação).[o delegado que comandou o inquérito afirmou que a investigação não era sigilosa - o sigilo foi decretado no dia seguinte ao da realização de uma live na qual o presidente comentou sobre a investigação.]

Os outros inquéritos são os das fake news, das milícias digitais, um pela associação feita por Bolsonaro de que a vacina contra Covid pode causar Aids e outro por suposta interferência na Polícia Federal (PF). Nesses, também tocados por Moraes, não há qualquer indicação nos autos de que a PGR cogite imputar crimes ao presidente.

Se isso ocorresse, a denúncia teria de ser remetida à Câmara dos Deputados, a quem caberia autorizar o STF a analisar o caso. E, se entendesse que há indícios suficientes, abriria uma ação penal contra o presidente, o que acarretaria seu afastamento do cargo. Trata-se, hoje, de uma hipótese distante.

Entenda melhor, abaixo, a origem, o atual estágio e a perspectiva futura de cada uma dessas investigações.

 1. Inquérito 4781: fake news
Bolsonaro passou a ser investigado no inquérito das fake news em agosto de 2021, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No final de julho, Bolsonaro realizou uma live apenas para questionar a integridade das urnas eletrônicas, com base em vídeos que circulam na internet. A expectativa, como ele mesmo havia anunciado, é que fossem apresentadas provas incontestáveis de uma suposta fraude na eleição de 2018, o que Bolsonaro não fez.

O então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, pediu diretamente a Alexandre de Moraes para incluir Bolsonaro no inquérito das fake news. Sem consultar a PGR, Moraes aceitou o pedido, apontando que o presidente teria cometido crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), de apologia ao crime, associação criminosa, denunciação caluniosa, crimes contra a segurança nacional e eleitorais.

Moraes disse que Bolsonaro teria se posicionado de forma “criminosa e atentatória às Instituições”, imputando aos ministros do STF a intenção de fraudar a eleição deste ano para favorecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de dizer que o voto eletrônico é fraudado e não é auditável. A ligação com o inquérito das fake news estaria no fato de que essas “afirmações falsas” fariam parte de uma “narrativa” que deslegitima as instituições, incluindo o STF, para destituir as pessoas que as representam e substituí-las por outras alinhadas a Bolsonaro.

A investigação sobre Bolsonaro passou a tramitar em autos apartados, dentro de uma petição sigilosa (PET 9842), dentro da qual foram tomados depoimentos de quem teria colaborado para a realização da live, como o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o coronel do Exército Eduardo Gomes da Silva. Ao ouvi-los, a delegada Denisse Ribeiro concluiu que a live foi preparada de maneira enviesada para reforçar o discurso de fraude nas urnas.

Num relatório elaborado em setembro, a delegada também pediu que a investigação fosse apensada (juntada) a um inquérito aberto de ofício por Moraes no final de julho, o das “milícias digitais” (INQ 4874), que substituiu outro, o dos “atos antidemocráticos” (INQ 4828), arquivado a pedido da PGR por falta de indícios envolvendo autoridades com foro privilegiado no STF.

Denisse Ribeiro afirmou que a live de Bolsonaro estava relacionada à atuação de uma organização criminosa, composta por seus apoiadores e que atua nas redes sociais para disseminar notícias falsas sobre a conduta dos ministros do STF e sobre o sistema de votação. Em dezembro, a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, enviou ao STF parecer contrário a um recurso de Bolsonaro para retirá-lo da investigação e concordando com os pedidos da PF para incluí-lo no inquérito das milícias digitais. “A suposta divulgação de informação com baixa confiabilidade ocorrida no episódio apurado aparentemente foi seguida dos mesmos mecanismos de propagação de fake news nas redes sociais utilizados pelos grupos investigados no INQ 4874”, afirmou a subprocuradora.

No início de maio, Moraes acolheu o pedido da delegada e juntou a investigação sobre a live de Bolsonaro ao inquérito das milícias digitais, “cujo objeto é uma organização criminosa complexa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político, com objetivo de atacar o Estado Democrático de Direito”.

2. Inquérito 4874: milícias digitais
Aberta por Alexandre de Moraes no final de julho do ano passado,
a investigação sobre as milícias digitais está focada em apoiadores de Bolsonaro que, segundo o ministro, formariam uma organização criminosa. O foco do inquérito, segundo o próprio Moraes, é apurar o financiamento da disseminação, nas redes sociais, de “ataques” às instituições, ao Estado de Direito e à democracia.

Informações sobre esse grupo começaram a ser levantadas nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos. Delegados da PF que respondem diretamente a Moraes apontaram a existência de quatro núcleos: o primeiro voltado para produção de notícias falsas; o segundo de divulgação desse material nas redes; um terceiro composto por políticos; e um quarto, por financiadores. “Foram observados em ambos os inquéritos ataques coordenados e sistemáticos contra as Instituições, o Estado de Direito e a Democracia, todos ocorrendo no mesmo dia ou no dia seguinte de manifestações presidenciais, por uma série de perfis e páginas nas redes mundiais de computadores, sempre visando a ameaçar, agredir e a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e à própria Corte”, descreveu o ministro numa decisão de agosto de 2021.

Os “ataques sistematizados” se iniciariam de forma concomitante e cessariam a partir um “comando específico” e usariam as redes como “instrumento de agressão, de propagação de discurso de ódio e de ruptura ao Estado de Direito e da Democracia”. Estariam envolvidos parlamentares, assessores parlamentares e do governo, incluindo pessoal ligado à Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que fariam parte do “gabinete do ódio”.

A base dessas investigações é um relatório de 2020 da empresa Atlantic Council, contratada pelo Facebook para identificar perfis anônimos que promoveriam desinformação política na plataforma. Foram banidas contas ligadas a auxiliares de Bolsonaro e de seus filhos.  Desde a live de julho de 2021 em que Bolsonaro levantou suspeitas sobre as urnas, Moraes indicou que ele deveria fazer parte do inquérito das milícias digitais. “Observou-se, como consequência das condutas do Presidente da República, o mesmo modus operandi de divulgação utilizado pela organização criminosa investigada em ambos os inquéritos, com intensas reações por meio das redes virtuais, pregando discursos de ódio e contrários às Instituições, ao Estado de Direito e à Democracia, inclusive defendendo de maneira absurda e inconstitucional a ausência de eleições em 2022”, afirmou no mesmo documento de agosto do ano passado.

Antes das “ilações” contra as urnas, o ministro disse que o mesmo modo de agir foi usado para culpar o STF pela impossibilidade de o governo federal atuar na pandemia e também para acusar ministros de beneficiar Lula eleitoralmente livrando-o das condenações na Lava Jato. Por estar focado nas críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas, o inquérito tende a ser usado também no âmbito do TSE, onde tramita desde o ano passado um inquérito administrativo, conduzido pelo corregedor-geral eleitoral, atualmente o ministro Mauro Campbell, que reúne todas as declarações do presidente contra o sistema eleitoral.

Há a possibilidade de que as provas desse inquérito do TSE sejam usadas por partidos, candidatos adversários ou Ministério Público para impugnar a candidatura de Bolsonaro à reeleição. Em novembro do ano passado, ao receber um relatório da PF sobre a live de julho do presidente, o próprio Moraes destacou uma decisão do TSE à época que cassou o mandato do deputado estadual Fernando Francischini por causa de uma live em 2018, no dia das eleições, na qual apontou que estariam ocorrendo fraudes nas urnas para retirar votos de Bolsonaro. “Ataques ao sistema eletrônico de votação e à democracia, disseminando fatos inverídicos e gerando incertezas acerca da lisura do pleito, em benefício de candidato, podem configurar abuso de poder político ou de autoridade – quando utilizada essa prerrogativa para tal propósito – e/ou uso indevido dos meios de comunicação quando redes sociais são usadas para esse fim [...] O ataque ao sistema eletrônico de votação, noticiando-se fraudes que nunca ocorreram, tem repercussão nefasta na legitimidade do pleito, na estabilidade do Estado Democrático de Direito e na confiança dos eleitores nas umas eletrônicas”, diz o acórdão da condenação.

Na época, o TSE também arquivou ações do PT que acusavam Bolsonaro de estar por trás de um suposto esquema de disparo de fake news para atacar o partido, via WhatsApp, nas eleições de 2018. Os ministros concluíram que não havia provas do envolvimento do presidente, mas ressaltaram que isso também pode levar à cassação por abuso de poder.

3. Inquérito 4878: divulgação de dados do TSE
O inquérito foi aberto em agosto do ano passado, por causa de uma entrevista ao vivo em que Bolsonaro revelou detalhes de uma investigação da PF sobre um ataque hacker ao TSE em 2018, e em seguida publicou nas redes sociais links que davam acesso aos autos.O TSE alegou que foram divulgados dados sigilosos e sensíveis do tribunal, ligados à segurança de sua área de tecnologia. Moraes abriu o inquérito e assumiu a relatoria por ver ligação do caso com o inquérito das fake news, em razão do contexto de críticas do presidente ao sistema eleitoral e aos ministros do STF, que também integram a Corte Eleitoral.

A hipótese apontada é que Bolsonaro teria cometido os crimes de divulgação de segredo e violação de sigilo funcional. A investigação da PF revelou que havia divergência interna quanto ao sigilo do inquérito divulgado por Bolsonaro: o delegado que investigava o ataque hacker disse que não havia segredo, mas a delegada Denisse Ribeiro, que investigou a divulgação, entendia que sim.

Em fevereiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu o arquivamento do inquérito, por não ver crime na conduta de Bolsonaro. Argumentou que não havia sigilo no inquérito e que sua divulgação, portanto, não poderia ser punida. Apesar desse pedido de arquivamento, até o momento Moraes manteve o inquérito em andamento. Em março, resolveu compartilhar seu conteúdo com o TSE, a pedido do corregedor-geral eleitoral, Mauro Campbell, que também quer usar o material no inquérito administrativo que tramita na Corte Eleitoral.

Já em maio, o Moraes pediu à PF um novo relatório, dessa vez para analisar mais a fundo os dados obtidos na quebra de sigilo telemático de Mauro Cid, um ajudante de ordens de Bolsonaro. Foi ele quem providenciou a disponibilização, na internet, de cópia do inquérito divulgado pelo presidente. A PF conseguiu acessar arquivos armazenados em sua conta de e-mail e encontrou textos curtos, críticos às vacinas e às medidas restritivas adotadas para conter a pandemia de Covid. No primeiro relatório relacionado a esse material, o delegado Fábio Shor indicou que esses textos seriam usados por Bolsonaro em suas lives, transmitidas todas as quintas-feiras.

Moraes quer um novo relatório sobre esse material, para que a PGR se manifeste se existem crimes. A PF ainda não enviou esse novo relatório ao ministro. A Advocacia-Geral da União (AGU) já recorreu, para requerer o imediato arquivamento do inquérito.

4. Inquérito 4888: associação de vacina à Aids
O inquérito foi aberto por Alexandre de Moraes em dezembro do ano passado, a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid. [aquela que só produziu lixo e resultou em ABSOLUTAMENTE NADA - tanto que se tornou conhecida como 'circo parlamentar de inquérito'.] O motivo foi uma live de outubro em que Bolsonaro disse que “relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida [Aids] muito mais rápido do que o previsto”.

Na época, os senadores da CPI pressionavam a PGR a abrir várias investigações sobre Bolsonaro por vários crimes que teria cometido na pandemia, mas estavam incomodados com a demora de Aras em abrir inquéritos. Assim, acionaram diretamente Alexandre de Moraes para investigar a declaração ligando vacinas à Aids.

O ministro abriu o inquérito, por ver relação com as fake news, mesmo contrariando a PGR, que pediu que o caso fosse analisado por outro ministro, no caso, Luís Roberto Barroso, que já havia recebido um pedido de apuração sigiloso relacionado ao assunto.

Veja Também:
Inquéritos do STF: saga de advogados por acesso aos autos completa 2 anos

O que diz a auditoria do TCU sobre a segurança das urnas eletrônicas

“Não há dúvidas de que as condutas noticiadas do Presidente da República, no sentido de propagação de notícias fraudulentas acerca da vacinação contra o Covid-19 utilizam-se do modus operandi de esquemas de divulgação em massa nas redes sociais, revelando-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados, especialmente diante da existência de uma organização criminosa”, justificou Moraes.

A PGR disse que apurava o caso internamente, num procedimento sigiloso. Mas Moraes disse que era necessária supervisão judicial e pediu que tudo fosse esclarecido dentro do inquérito pedido pela CPI, relacionado à desinformação na pandemia.  Em abril, a PF pediu uma gravação integral da live. O ministro requisitou o material do Google, que hospeda o YouTube. E a empresa remeteu o vídeo no final do mês. Desde então, não houve mais decisões ou novidades na investigação.

5. Inquérito 4831: interferência na PF
Trata-se da investigação mais antiga aberta contra Bolsonaro, na condição de presidente, em tramitação no STF. Foi aberta a pedido da PGR, em 2020, logo após a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo. No final de abril daquele ano, numa entrevista à imprensa, ele anunciou que pediu demissão do Ministério da Justiça por supostas tentativas do presidente de interferir na direção da PF, para que pudesse obter informações de investigações sobre familiares e aliados.

Desde 2019, Bolsonaro pressionava Moro a substituir na direção-geral da PF o delegado Maurício Valeixo, escolhido por Moro, por outro mais próximo e de sua confiança, como o delegado Alexandre Ramagem, que chefiou sua equipe de segurança na campanha de 2018.

Moro resistia e, diante do impasse, deixou o governo em 2020 e passou a criticar Bolsonaro. Diante de suas declarações, a PGR pediu inquérito ao STF para apurar se o presidente teria cometido crimes como obstrução de Justiça, coação no curso do processo e advocacia administrativa. O ex-juiz e ex-ministro também passou a ser investigado por denunciação caluniosa, na hipótese de ter mentido sobre Bolsonaro.

Desde então, diversos delegados e militares do governo prestaram depoimento, todos negando que a troca no comando da PF tenha dado a Bolsonaro informações privilegiadas ou poder de prejudicar ou direcionar as investigações. Em março deste ano, a PF concluiu que Bolsonaro não cometeu nenhum crime e que também não seria possível imputar delitos a Moro.No decorrer dos quase dois anos de investigação, dezoito pessoas foram ouvidas, perícias foram realizadas, análises de dados e afastamentos de sigilos telemáticos implementados.

Nenhuma prova consistente para a subsunção penal foi encontrada. Muito pelo contrário, todas testemunhas ouvidas foram assertivas em dizer que não receberam orientação ou qualquer pedido, mesmo que velado, para interferir ou influenciar investigações conduzidas na Polícia Federal”, escreveu no relatório final o delegado Leopoldo Soares Lacerda.

A PF analisou seis investigações que poderiam ser de interesse de Bolsonaro, incluindo uma sobre suposto vazamento ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre movimentações financeiras de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, investigado por operar, em seu favor, um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Outro caso de interesse seria o próprio inquérito das fake news, por envolver parlamentares que apoiam Bolsonaro.

Moraes negou o compartilhamento das provas do inquérito das fake news, o que inviabilizou o aprofundamento da investigação sobre a suposta interferência. “Os vastos elementos reunidos nos autos demonstram a inexistência de ingerência política que viessem a refletir diretamente nos trabalhos de Polícia Judiciária da União”, afirmou o delegado.

No fim de abril, Moraes, que assumiu a relatoria da investigação (substituindo Celso de Mello, que se aposentou em 2020), pediu a manifestação final da PGR sobre o caso. A tendência é que o órgão peça o encerramento do caso sem denunciar ninguém.

Inquérito 4875: prevaricação no caso Covaxin (arquivado)
Aberto no ano passado contra Bolsonaro, o inquérito sobre uma suposta omissão do presidente ante irregularidades nas negociações para compra da vacina Covaxin foi arquivado em abril deste ano pela ministra Rosa Weber, do STF.

A investigação foi aberta em julho de 2021 a pedido de senadores da CPI da Covid, após um depoimento do deputado Luís Miranda (Republicanos-DF), em que relatou uma “pressão incomum” dentro do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana contra a Covid. Ele disse ter comunicado o caso diretamente ao presidente, que não teria acionado a PF para investigar o caso.

Num relatório sobre o caso entregue no final de janeiro, a PF concluiu que Bolsonaro não tinha a obrigação legal de comunicar irregularidades nas negociações, que não foram concretizadas. “Ainda que não tenha agido, ao Presidente da República Jair Messias Bolsonaro não pode ser imputado o crime de prevaricação. Juridicamente, não é dever funcional (leia-se: legal), decorrente de regra de competência do cargo, a prática de ato de ofício de comunicação de irregularidades pelo Presidente da República”, escreveu o delegado William Marinho.

Na mesma linha, o procurador-geral Augusto Aras pediu em fevereiro o arquivamento do inquérito, por não ver crime na conduta do presidente. Em março, Rosa Weber negou esse pedido, pois considerou que a omissão poderia sim configurar crime do presidente da República.

Aras então recorreu, acrescentando que não seria possível reunir provas contra Bolsonaro. Só então a ministra aceitou o pedido e encerrou o caso. “Não me resta alternativa senão acolher, desta feita, o pedido formulado”, escreveu Rosa Weber.

Renan Ramalho, colunista - Gazeta do Povo 

 

sábado, 4 de setembro de 2021

STF cria Programa de Combate à Desinformação e afirma que quer enfrentar “narrativas odiosas” - Gazeta do Povo

O Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou a criação do Programa de Combate à Desinformação para combater conteúdos que - na visão do Tribunal - possam ser enquadrados como "desinformação e narrativas odiosas" direcionados à Corte, aos ministros do STF e ao Poder Judiciário. Assinada pelo ministro Luiz Fux, presidente do Supremo, a resolução que instituiu o programa foi publicada na edição desta segunda-feira (30) do Diário da Justiça Eletrônico.


 

 

 

Ministros do STF antes da abertura de sessão plenária. Imagem ilustrativa.| Foto: Nelson Jr./STF

[Quanta sabedoria suprema; eles sabem realmente o que é melhor para o Brasil? podemos confiar neles? ou devemos pedir vista?]

De acordo com a Resolução 742/2021, o objetivo do programa é “enfrentar os efeitos negativos provocados pela desinformação e pelas narrativas odiosas à imagem e à credibilidade da Instituição, de seus membros e do Poder Judiciário, a partir de estratégias proporcionais e democráticas, a fim de manter a proteção da Corte acerca das liberdades de comunicação”.

 
Veja Também: Supremo se nivela por baixo ao rebater críticos com inquéritos e censura, diz juiz      

As ações previstas no programa foram definidas em dois eixos:

“I - atuação organizacional, com as seguintes as ações:

a) organização interna: definição das atribuições dos responsáveis pela execução de ações e reuniões periódicas para monitoramento dos resultados;
b) aperfeiçoamento de recursos tecnológicos: desenvolvimento e aquisição de recursos de tecnologia da informação para identificação mais célere de práticas de desinformação e discursos de ódio;
c) diálogos institucionais: aproximação do grupo gestor com instituições públicas e privadas que atuam no combate à desinformação, órgãos de investigação, entidades e agências de checagem que buscam solucionar o problema da desinformação e dos discursos de ódio, bem como realização de eventos e seminários;

II - ações de comunicação, com as seguintes as ações:
a) alfabetização midiática: capacitação de servidores, funcionários terceirizados, jornalistas profissionais [“Mobral dos Jornalistas”] e influenciadores digitais para a identificação de práticas de desinformação e discursos de ódio e as formas de atuação para combatê-las;
b) contestação de notícias falsas: publicação de notícias em página especial denominada #VerdadesdoSTF para contestar boatos ou desmentir notícias falsas sobre a Corte ou seus integrantes;
c) fortalecimento de imagem: ações constantes de comunicação, com materiais para públicos diversos, com a finalidade de disseminar informações verdadeiras e de produzir conteúdo que gere engajamentos positivos sobre o Tribunal.”

Vida e Cidadania - Gazeta do Povo


terça-feira, 15 de outubro de 2019

Flávio Bolsonaro já tem maioria a seu favor no Supremo - VEJA - Blog do Noblat

Começar de novo

 Flávio Bolsonaro descansa em paz


O presidente Jair Bolsonaro recebeu o aviso de um ministro do Supremo Tribunal Federal de que, ali, já há maioria de votos para confirmar a decisão de Dias Toffoli de suspender os inquéritos abertos com base em informações fiscais compartilhadas com o Ministério Público sem prévia autorização judicial.

Isso significa: os inquéritos alcançados pela decisão terão que recomeçar do zero – entre eles, o que apurava as suspeitas de que o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) se apropriara de parte do salário dos funcionários do seu gabinete à época em que era deputado estadual, e Fabrício Queiroz, seu assessor.

 
 

  (Cristiano Mariz
Ainda não há data marcada para que a decisão de Toffoli, avalizada depois pelo ministro Gilmar Mendes, seja submetida ao crivo do plenário do tribunal.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

No STF, ministros já falam em questionar validade de delação da JBS

Fachin vai esperar apuração de Janot; Cármen fala em ‘agressão inédita’

No dia seguinte à notícia de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu apurar a idoneidade do acordo de colaboração premiada da J&F, admitindo rever benefícios de delatores, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começaram a questionar a validade das provas apresentadas pelos executivos do grupo. Ao menos dois magistrados querem que o relator dos inquéritos abertos no STF a partir da delação, Edson Fachin, leve a discussão ao plenário. A intenção é determinar o quanto antes se depoimentos e provas dos delatores podem subsidiar inquéritos — entre eles, o que mira o presidente Michel Temer.

A presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, chamou Fachin para conversar logo pela manhã e teria mostrado preocupação com o teor dos áudios, que respinga no STF quando executivos citam ministros. No fim do dia, a ministra gravou uma declaração em vídeo para defender o tribunal e comunicar que pediu à PGR e à Polícia Federal uma investigação sobre as menções feitas pelos delatores a integrantes da Corte. Segundo ela, as citações afetam a “honorabilidade” dos ministros e representam uma agressão inédita na História do Brasil.
— Ontem, o procurador-geral da República veio a público relatar fatos que ele considerou gravíssimos e que envolveriam este Supremo Tribunal Federal e seus integrantes. Agride-se, de maneira inédita na História do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes — afirmou Cármen Lúcia. — Impõe-se, pois, com transparência absoluta, urgência, prioridade e presteza, a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado — acrescentou Cármen.

Se as provas apresentadas pela JBS forem consideradas contaminadas pelas supostas irregularidades e, por consequência, anuladas, os inquéritos ficarão desidratados e terão pouca chance de prosperar. Fachin já teria manifestado vontade de julgar a questão em plenário. Mas, por enquanto, ele ainda está examinando o material. O ministro falou ontem com alguns colegas sobre o assunto. Antes de tomar qualquer providência, entretanto, Fachin vai aguardar o término das apurações da Procuradoria-Geral da República (PGR).

PGR VAI COLHER DEPOIMENTOS
Depois de ouvir os depoimentos dos delatores e do ex-procurador Marcello Miller, que teria atuado a favor dos executivos, segundo as gravações entregues pela própria JBS, a PGR vai concluir se houve ou não irregularidade no acordo de delação. Em nota ontem, Miller afirmou ter “convicção de que não cometeu qualquer crime de improbidade administrativa”. E disse estar à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos.


Entre os ministros, a preocupação é que não há ainda uma jurisprudência do tribunal recomendando como agir diante de irregularidade em delação premiada — mesmo porque o próprio tema delação é novidade na mais alta Corte do país. Um dos ministros defende que os documentos e provas apresentados pelos delatores sejam considerados nas investigações do Supremo Tribunal FEderal. No entanto, os depoimentos prestados deveriam ser anulados. Essa seria uma solução intermediária que esvaziaria as investigações, mas deixaria alguma esperança de que elas ainda pudessem chegar a algum lugar.  — Não tem precedente. O tribunal tem que construir — avaliou um ministro.

Na visão da PGR, quando uma delação é acertada de forma irregular, apenas os benefícios do depoente devem ser anulados, e não as provas apresentadas. Segundo um procurador que atua no caso J&F, não é possível aos investigadores examinarem provas aparentemente idôneas e, depois, ignorá-las.  — Agora não podemos fingir que não vimos nada — afirmou esse procurador da República.[ é comum durante a ocorrência de um julgamento provas serem anuladas e mesmo parecendo idôneas serem desconsideradas.]
 
A delação premiada da J&F contém cláusulas que tratam especificamente da rescisão do acordo. Um item diz que, “em caso de rescisão por sua responsabilidade exclusiva, o colaborador perderá automaticamente direito aos benefícios que lhe forem concedidos em virtude da cooperação com o Ministério Público Federal, permanecendo hígidas e válidas todas as provas produzidas, inclusive depoimentos que houver prestado e documentos que houver apresentado, bem como válidos quaisquer valores pagos ou devidos a título de multa”. O STF teria que decidir se essa cláusula pode ser mesmo aplicada.

JOESLEY DIZ QUE MENTIU
Segundo outro item, o acordo perderá efeito “se o colaborador mentir ou omitir, total ou parcialmente, em relação a fatos ilícitos que praticou, participou ou tem conhecimento”. Essa cláusula poderia ser aplicada a Ricardo Saud, que declarou somente na semana passada manter uma conta no Paraguai. “Essa informação precisa ser aprofundada”, escreveu Janot em despacho de segunda-feira.
Na noite de terça, Fachin determinou o fim do sigilo dos áudios da conversa. Considerou que, como os próprios executivos já tinham enviado à PGR, não havia mais motivo para o material ser mantido em segredo.


O ministro Gilmar Mendes chamou Janot de “desastrado” e o acusou de querer envolver a ele e toda a Corte no episódio da delação de Joesley Batista: — Eles tentaram arrastar o STF para a lama em que eles se meteram. Essa atitude tem que ser repudiada. Ele (Janot) armou isso para atingir o STF. A PGR virou, com Janot, uma mula sem cabeça. O que ele tentou fazer no episódio revela sua total falta de escrúpulo — acusou Gilmar.

Em uma nota divulgada no fim do dia, Joesley e Ricardo Saud pedem desculpas e dizem que mentiram na conversa: “Esclarecemos que as referências feitas por nós ao excelentíssimo senhor procurador-geral da República e aos excelentíssimos senhores e senhoras ministros do STF não guardam nenhuma conexão com a verdade. Não temos conhecimento de nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridades. O que nós falamos não é verdade, pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso e reiteramos o nosso mais profundo respeito aos ministros e ministras do STF, ao procurador-geral da República e a todos os membros do Ministério Público".


Fonte: O Globo


segunda-feira, 10 de julho de 2017

Maia acha que Temer “já caiu”

Apesar de negar qualquer conspiração contra o presidente 

 Apesar de negar conspirar contra o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirma a pessoas próximas que Temer “já caiu”. O que Maia faz é se preparar para as eleições indiretas.

Temer considera que Janot poupa Maia em investigações

Apesar de a Polícia Federal ter entregue relatório em fevereiro contra o presidente da Câmara, PGR ainda não o denunciou 

O presidente Michel Temer está desconfortável com os discretos, porém efetivos, movimentos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no sentido de lhe suceder no Palácio do Planalto. 

Temer gosta de lembrar a um pequeno círculo de assessores que o aspirante ao cargo responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Em um dos casos, a Polícia Federal já concluiu relatório, mas a Procuradoria-Geral da República ainda não apresentou denúncia no Supremo Tribunal Federal contra ele. Diz respeito à suspeita de que Maia recebeu R$ 1 milhão da OAS para ajudar a empreiteira na Câmara dos Deputados. Maia já negou irregularidades.

>> A articulação de Maia

Fonte: Revista Época

 


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Polícia Federal [mais uma vez] indicia Lula, Marisa e Palocci na Lava Jato

Investigação apura dois casos que envolveriam pagamento de propina da Odebrecht para o ex-presidente, que já foi [é] alvo de quatro denúncias

A Polícia Federal indiciou nesta segunda-feira o ex-presidente Lula, sua mulher Marisa Letícia, o ex-ministro Antonio Palocci  e mais quatro pessoas na Lava Jato. O indiciamento se deu em dois inquéritos, um envolvendo a negociação para a compra do terreno que seria a sede do Instituto Lula e outro envolvendo um apartamento em frente ao que o ex-presidente mora em São Bernardo.

Para a PF, os dois casos envolvem pagamentos de propina da Odebrecht para o ex-presidente e, por isso, foram unificados. O petista já foi alvo de quatro denúncias da Procuradoria da República e responde a três ações penais, sendo duas no Distrito Federal e uma na Lava Jato em Curitiba.  Lula foi indiciado pelo crime de corrupção passiva, enquanto todas as demais pessoas citadas foram indiciadas por lavagem de dinheiro. As investigações são um desdobramento das apurações envolvendo a atuação de Palocci como um dos responsáveis por intermediar os interesses da Odebrecht no governo federal e distribuir propinas ao PT.

Confira a lista de indiciados:
Luiz Inácio Lula da Silva – ex-presidente da República
Marisa Letícia Lula da Silva – ex-primeira-dama
Antônio Palocci Filho – ex-ministro nos governos Lula e Dilma
Glauco da Costa Marques – primo do pecuarista José Carlos Bumlai, já condenado na Lava Jato
Demerval de Souza Gusmão Filho – Dono da empresa DAG Construtora
Roberto Teixeira – Advogado [e compadre] do ex-presidente Lula
Branislav Kontic – Assessor do ex-ministro Palocci


Em relação ao apartamento em São Bernardo, o imóvel foi alvo de busca e apreensão na 24.ª fase da Lava Jato, intitulada Aletheia, após o síndico do prédio indicar aos policiais federais que o imóvel pertenceria ao ex-presidente.  O apartamento teria sido comprado por Glaucos da Costa Marques, primo do pecuarista José Carlos Bumlai, e alugado ao ex-presidente Lula, em um contrato celebrado no nome de Marisa Letícia. No entanto, de acordo com a investigação, nunca houve qualquer pagamento por parte do ex-presidente, que utiliza o imóvel, pelo menos, desde 2003.

Já o terreno que foi cogitado para sediar o Instituto Lula acabou sendo comprado em novembro de 2010 pela DAG Construtora, de um empresário amigo do empreiteiro Marcelo Bahia Odebrecht. Registro de 2014 descoberto pela PF indica que em 2012 o imóvel foi vendido da DAG para a Odebrecht.

Valores
“Constam dois valores registrados na matrícula, um de R$ 7,2 milhões relativo a um compromisso de compra e venda e outro de R$ 15 milhões relativo a uma cessão”, diz o laudo da PF. Na planilha “posição Italiano”, referente aos acertos ilícitos da Odebrecht com Palocci, há uma rubrica específica “Prédio (IL)” associada ao valor de R$ 12.422.000,00 dividida em três parcelas de R$ 1.057.000,00, uma de R$ 8.217.000,00 e outra de R$ 1.034.000,00.

Chamou a atenção da PF o fato de que, com a quebra de sigilo da DAG, terem sido identificados os repasses de 800 mil reais da empresa a Glaucos da Costa Marques e 219,6 mil reais ao escritório de advocacia de Roberto Teixeira, advogado de Lula e agora também indiciado, “sendo que o valor total se aproxima do valor de R$ 1.034.000,00 lançado na rubrica ‘Prédio (IL)'”, aponta a PF no pedido de prisão de Palocci.

Apesar da negociação investigada pela PF, o imóvel nunca serviu de sede para o Instituto Lula. Desde 2011, quando ele deixou a Presidência, a sede o instituto funciona em um imóvel no bairro Ipiranga. O imóvel alvo de investigação da PF pertence atualmente à Mix Empreendimentos e Participações e foi adquirido da Odebrecht, em 2013, por 12.602.230,16 reais, em 2014, segundo registro. O terreno tem 5.255,08 m².

O advogado Roberto Teixeira acusa a PF de agir em “retaliação” contra “aqueles que, no exercício do seu dever profissional, contestam e se insurgem contra ilegalidades e arbitrariedades”. O advogado disse que foi procurado pelo delegado da PF Márcio Adriano Anselmo no dia 7 deste mês para dar explicações sobre os dois episódios e que encaminhou as respostas na última sexta-feira.

“O delegado federal Marcio Anselmo recebeu resposta aos quesitos apresentados na última sexta-feira, 09/12, às 20h30min. Isso significa dizer que recebi a notícia do meu indiciamento menos de um dia útil após haver encaminhado os esclarecimentos solicitados – com as provas correspondentes –, em clara demonstração de que o ato já estava preparado e não havia efetivo interesse na apuração dos fatos”, afirma Teixeira em nota.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

“Todos unidos para enxugar gelo”

Jorge Viana é réu, numa ação por improbidade administrativa como governador do Acre, movida pelo Ministério Público Federal

Multidões, em 200 cidades do país, gritaram “Fora Renan”. E foram atendidas. Talvez isso mude após a reunião de hoje do Supremo, talvez não mude. E não vai fazer a menor diferença.

Este colunista está entre os que ficaram contentes com o afastamento de Renan – até se lembrar de que o substituto de Renan na Presidência do Senado é Jorge Viana (PT-Acre). O motivo do afastamento de Renan é que um réu não pode estar na linha sucessória da Presidência da República. E Jorge Viana é réu, numa ação por improbidade administrativa como governador do Acre, movida pelo Ministério Público Federal.

O fato é que Renan é parte do problema, mas não é o problema inteiro. O problema está na organização política: a campanha é caríssima, exige a captação de muito dinheiro, e ninguém dá muito dinheiro só por simpatia. São quase 40 partidos, pagos por você, caro leitor: é algo como R$ 1 bilhão por ano fora o horário gratuito, a preços de tabela cheia, que as emissoras recebem em créditos fiscais. Haverá mais algum para pagar as campanhas. Os Estados Unidos não têm nenhuma despesa com isso. Cada candidato que se vire. Há o voto distrital, que baratearia tudo – mas quem quer isso?

Sai um Renan. ótimo. Mas surgem dois, três, muitos. Eles são legião, nutridos pelos fartos recursos mobilizados para eleições. É possível, é fácil, mudar o quadro. Só é preciso saber que gelo não se enxuga, se derrete.

Brasília ferve
A decisão do ministro Marco Aurélio, de afastar Renan da Presidência do Senado, deixou Brasília perplexa. Um dia isso poderia acontecer (Renan é réu em um processo e tem outros 12 inquéritos em andamento), mas seu mandato só dura mais dez dias. E surgiram manobras jurídicas: o Senado decidiu não tomar qualquer providência imediata, aguardando a decisão do plenário do Supremo, hoje. Não chega a ser um confronto, de recusar-se a cumprir uma decisão judicial; é mais uma demora no seu cumprimento – que terá o efeito de anulá-la, conforme a decisão do plenário do Supremo. Há também um desafio: o ministro Gilmar Mendes abriu fogo contra Marco Aurélio (veja abaixo) com termos pouco habituais para pessoas que usam toga. Qual a reação de Marco Aurélio, diante da decisão do Senado?

Ferve o Supremo
O ministro Gilmar Mendes deu entrevista ao respeitado jornalista Jorge Moreno, de O Globo, sobre a decisão do ministro Marco Aurélio de afastar Renan. Gilmar já dizia, em particular, que “não se afasta o presidente de um poder por iniciativa individual e com base em um pedido de um partido político apenas, independentemente da sua representatividade”. Para Moreno, Gilmar abriu o jogo. Algumas frases sobre Marco Aurélio:
* “É caso de reconhecimento de inimputabilidade ou de impeachment”;
* “No Nordeste se diz que não se corre atrás de doido porque não se sabe para onde ele vai”.
Narra o blog: “durante encontro com políticos, Mendes chegou a chamar de ‘indecente’ a decisão de Marco Aurélio e, nesse sentido, advertiu que, se o Tribunal quiser restaurar a decência, terá que derrubar a decisão”.

Planalto fervente
Mas, se o mandato de presidente do Senado está no finzinho, por que tanta preocupação? Porque o Governo quer votar logo a emenda constitucional que impõe limites ao gasto público, uma das chaves do plano econômico do ministro Henrique Meirelles. Renan concorda em votá-la nos dez dias que lhe restam. O PT quer segurá-la ao máximo. Jorge Viana é PT.

Governo gelado
Os indicadores econômicos não são lá grande coisa, a reforma da Previdência só agora foi ao Congresso (onde enfrenta muitas resistências), e a aprovação do limite de gastos do Governo indicará aos investidores que as coisas estão andando. É preciso ter algo para mostrar. A única coisa que ocorreu de novo foi a declaração de apoio de Temer a Meirelles. Como se diz no futebol, “o técnico está prestigiado”. No futebol, o técnico cai logo.

Frio na espinha
A reforma da Previdência, a outra chave do plano econômico do ministro Henrique Meirelles, provocará intensas discussões: aposentadoria aos 65 anos, contribuição mínima por 25 anos, unificação dos regimes de aposentadoria, com unificação das normas para empregados dos setores público e privado (só os militares ficarão fora), redução das pensões por morte de 100% para 50%, o viúvo, mais 10% por filho. Os atuais segurados com mais de 50 anos (homens) e 45 anos (mulheres) terão normas de transição. Abaixo dessas idades, é na veia: novas normas para todos.

É muita discussão. Mas, como diz a abertura desta coluna, pelo motivo errado. Como se aposentar com 65 anos se gente com 40 já é considerada velha? Só com falta de mão de obra. Crescimento. E empregos sobrando.

Fonte: Coluna do Carlos Brickmann

 

 

terça-feira, 29 de março de 2016

‘Cerimônia do adeus’

Se confirmada, será uma despedida na cadência do processo de impeachment

Prevê-se para hoje, em Brasília, uma cena inédita no enredo político brasileiro dos últimos 30 anos: a cerimônia do adeus do PMDB a um governo. 

Se confirmada, será uma despedida na cadência do processo de impeachment de Dilma Rousseff e na perspectiva de uma dura disputa na eleição municipal de outubro. Assentado numa singular estrutura de núcleos de poder regionais, o PMDB depende mais que outros partidos do desempenho eleitoral do conjunto de seus 3,4 mil diretórios municipais. Em 2012, por exemplo, elegeu 996 prefeitos e indicou o vice em outras 840 chapas vitoriosas. Essa azeitada máquina eleitoral permitiu-lhe emergir das urnas em 2014 com uma bancada de 142 deputados estaduais, 67 federais (13% da Câmara) e 17 senadores (24% do plenário). 

Com veias abertas em dois terços das zonas eleitorais do país, e tendo optado por não ter candidato presidencial nas últimas três décadas, transformou-se no sócio desejado por todos os governantes do período pós-ditadura. Empenhou-se numa sociedade com o PT de Lula. Ampliou-a com Dilma que abraçou Michel Temer na vice-presidência, complementando com a partilha dos orçamentos de 22% dos ministérios entre diferentes grupos do partido. 

A ruptura ocorre em condições agravadas por uma sequência de ofensivas desastrosas do PT, combinadas entre Dilma e Lula, para neutralizar uma parceria que sempre foi percebida como indesejável pelos efeitos no controle do caixa federal. Foi Lula quem deu essa dimensão à fatura, ainda em 2002. 

Logo depois de sair das urnas com 61,5% dos votos, no início de novembro, viu seu “capitão” José Dirceu anunciar acordo com o PMDB para o ministério. Desmentiu-o em público, horas depois. Qualificou como “exageradas” as exigências dos aliados de José Sarney, Michel Temer e Renan Calheiros. Optou por 13 ministros do PT, entregou 7 ministérios a outros partidos e deixou o PMDB à margem, sem nenhum, limitando-se a acertar um rodízio no comando da Câmara e do Senado. 

Refez o entendimento na crise do mensalão e selou o pacto na sucessão. Desde a campanha de 2010, porém, é evidente que Dilma e Temer convivem, se toleram e, eventualmente, compartilham tapetes e ar refrigerado. Nunca foram amigos, mas no governo se tornaram inimigos íntimos.


A cacofonia no Palácio do Planalto virou discórdia com os sistemáticos vetos da presidente às propostas emuladas pelo vice que, ao seus olhos, redundariam em benefícios pecuniários a uma fração do PMDB, na contramão dos interesses do PT.  Foi o caso das negociações palacianas a respeito da conversão dos créditos “podres” contabilizados no caixa de instituições financeiras sob intervenção do Banco Central. As narrativas derivam no seguinte: a presidente vetou um negócio com potencial de impacto bilionário para os cofres públicos, supostamente defendido pelo vice, no qual os principais beneficiários seriam os banqueiros habituais patrocinadores do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

Renegado, Temer viu-se no espelho como um “vice decorativo”. A desconstrução da sociedade PMDB-PT ocorre num ambiente marcado pelos efeitos da recessão econômica e pelo abrupto aumento na rejeição a Dilma e Lula: dois em cada três eleitores classificam o governo entre "ruim"e "péssimo", segundo Ibope e Datafolha. E 60% avisam que não votariam em Lula "de jeito nenhum" para presidente da República.

Isso tem peso específico às vésperas de uma disputa municipal que se antevê complicada. O Ibope, em outra pesquisa, revela que 40% dos eleitores, na média, consideram “ruim” ou “péssima” a administração do prefeito de sua cidade, declarando disposição para votar num candidato de oposição. E mais: a maioria (54%) sinaliza vontade de premiar com o voto candidatos sem biografia partidária. Nesse quadro, Dilma, Lula e o PT passaram a ser vistos como excesso de peso.

O desembarque do governo também atende às conveniências dos líderes desse um partido que há duas décadas não tem candidato presidencial e continua sem nome para 2018. Abraçados à oposição, eles vislumbram a chance de chegar ao centro do poder numa travessia sem o voto direto — o impeachment de Dilma levaria Temer ao Planalto. Significa mudar para continuar como está. 

Se vai dar certo, não sabem, pois sua sorte, assim como a de Dilma, depende do imponderável em outra arena, a do Judiciário. Uma sentença da Justiça Eleitoral pode redundar na cassação de Dilma e Temer, por abuso de poder econômico na eleição de 2014. Levaria a novas eleições. 


Há, também, a série de inquéritos sobre corrupção na Petrobras e outras estatais. Entre 12 parlamentares do PMDB denunciados no Supremo, seis integram a direção nacional que hoje vai presidir a cerimônia do adeus ao PT de Lula e Dilma.  Além desses, estão sob investigação os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, do Senado, Renan Calheiros, e ainda o senador Edison Lobão — a quem Lula e Dilma entregaram o comando do Ministério das Minas e Energia durante sete anos.

Lobão tomou conta de um polêmico portfólio de despesas da Eletrobrás, que inclui gastos suspeitos na usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Nos próximos dias, o STF começa a retirar o manto de sigilo sobre esse caso, que ameaça tragar boa parte da cúpula do PMDB. 

Fonte: José Casado - O Globo