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domingo, 7 de janeiro de 2024

Inquérito do STF contra ‘atos antidemocráticos’ é declaração permanente de guerra - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Investigação aberta para apurar notícias falsas vem servindo como licença para suprimir direitos civis e criar um Estado policial

O Brasil não vai ter paz enquanto não for fechado o inquérito que o Supremo Tribunal Federal, através do ministro Alexandre de Moraes, abriu cinco anos atrás para investigar “atos antidemocráticos”.  
Desde então, vem servindo como uma licença oficial para se suprimir direitos civis, anular qualquer lei em vigor no Brasil e criar um Estado policial neste país.  
O inquérito é uma declaração permanente de guerra. 
Foi aberto para apurar “notícias falsas” que poderiam atingir a honra e a segurança do STF. 
De lá para cá, como se diz hoje, “viralizou”. 
Foi gerando um inquérito criminal depois do outro (tantos, que não se sabe mais ao certo quantos são no momento) e passou a incluir todos os delitos que alguém possa praticar, inclusive os que não existem em lei nenhuma. 
É uma aberração jurídica que não existe, nem seria admitida, em qualquer democracia séria do mundo.
 
É possível, naturalmente, que a ideia de paz seja a última coisa que passe na cabeça do ministro, do STF e da parceria que mantêm com o governo Lula. (Em cinco anos de inquérito não houve um único indiciado, nenhum, que possa ser descrito como de “esquerda” – o que faz do Brasil o único país do planeta em que só a direita é capaz de mentir.) 
Os inquéritos, afinal, permitem que o Supremo e seus sócios façam o que bem entendem: prisões, censura, bloqueio de contas bancárias, apreensão de passaportes, quebra de sigilo, confisco de celulares e tudo o que possa servir como instrumento de repressão
É como nas leis de “segurança do Estado” que existem em todas as ditaduras para perseguir adversários políticos. 
O inquérito perpétuo do STF (“só termina quando terminar”, diz Moraes”) faz a mesma função, dizendo que defende a “segurança da democracia”. Tudo bem – mas se não quiserem a paz, terão de apostar cada vez mais na força e desrespeitar a cada vez mais a lei.
Não há, obviamente, nenhuma ameaça à democracia que justifique nada do que o ministro está fazendo. 
Essa realidade, somada às ilegalidades em massa dos inquéritos, levam à uma “cristalina e pacífica conclusão”, como diz em editorial do Estadão:É tempo de os inquéritos criminais do STF relativos a atos antidemocráticos serem encerrados, de acordo com a lei”.  
Não é possível, com base na razão, contestar o que diz o editorial. 
Em vez de apresentar argumentos, o sistema de propaganda oficial veio com essa assombrosa entrevista na qual o ministro Moraes revelou, entre outros horrores, que iria ser enforcado em praça pública pelos golpistas. [declaração  que se junta ao declarado sobre agressão no aeroporto de Roma.]
É menos jornalismo do que um exercício de taquigrafia em que só o ministro fala. 
Mas é mais um grito de guerra.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo 
 
 
 

domingo, 1 de janeiro de 2023

Como nas ditaduras, aqui se reprime a discordância com a acusação de ‘atos antidemocráticos’ - O Estado de S. Paulo

Um governo de repressão 

O governo Lula começa com repressão – hipócrita, ilegal e disfarçada em “defesa da democracia”, mas repressão do mesmo jeito. É este o “Brasil Feliz” que o novo presidente prometeu em sua campanha. É esta a “festa da democracia” que a coligação STF-PT-assaltantes do erário em geral oferece ao País. 
O ministro Alexandre de Moraes expede ordens de prisão contra dezenas de pessoas. O futuro ministro da Justiça faz incitação aberta à violência – ao insistir em suas exigências de uso da polícia, da pancada e da bomba de gás lacrimogêneo para dissolver as manifestações anti-Lula que há dois meses estão na frente dos quartéis. O novo presidente ameaça os brasileiros que votaram contra ele: “Quem perdeu que fique quietinho”, disse numa de suas últimas aparições – é assim que ele estende a mão a “todos”, como disse logo após ser declarado vencedor pelo TSE. Como nas ditaduras comunistas, em que o pretexto para jogar a polícia contra qualquer tipo de oposição é a denúncia-padrão de “atos antirrevolucionários”, aqui se reprime a discordância com a acusação de 'atos antidemocráticos'.
 
Os cidadãos não sabem por que estão sendo presos, os delegados que fazem as prisões não sabem por que estão prendendo e os advogados das vítimas não sabem do que os seus clientes são acusados.  
Não há processo legal de nenhum tipo; o ministro Moraes, que pela lei tem de julgar causas levadas ao STF, e não prender cidadãos, comanda a repressão por meio de um inquérito perpétuo absolutamente ilegal. Transformou o Brasil numa delegacia de polícia de ditadura. 
Não responde a ninguém por nada do que decide. 
Quem é preso, multado, calado ou de alguma forma perseguido por ele só tem uma pessoa a quem reclamar – ele mesmo. 
Lula e o seu “primeiro escalão”, que a partir do dia 1.º de janeiro recebem a chave do Tesouro Nacional, ganham a certeza de que vão mandar no Brasil sob a proteção integral deste tipo de justiça.

A repressão é essencial para garantir a segurança do governo que se anuncia por aí, e que mostra a sua cara nas prodigiosas nomeações para o Ministério e os outros galhos de cima da árvore estatal.  
Não foi aberta praticamente nenhuma exceção: só nas penitenciárias, possivelmente, se encontra uma concentração tão alta de gente enrolada com a justiça criminal como no Ministério escolhido por Lula para governar o Brasil. Têm ao seu dispor uma arrecadação de R$ 2 trilhões só em impostos federais, mais os R$ 250 bilhões de lucro que as estatais tiveram este ano, mais os R$ 145 bi da “PEC”
Não dá, realmente, para permitir que esses horríveis atos “antidemocráticos” continuem a perturbar a tranquilidade do “Brasil Feliz”.
J. R. Guzzo,  colunista - O Estado de S. Paulo

domingo, 11 de setembro de 2022

Sem margem de erro - Revista Oeste

Redação

Em manifestações pacíficas e portentosas, multidões de brasileiros celebram o Bicentenário da Independência, apoiam a reeleição de Bolsonaro e exigem respeito às normas impostas pela Constituição 

As comemorações do Bicentenário da Independência na quarta-feira, 7 de Setembro, deixaram claro que é impossível falsificar no Brasil ao menos uma coisa: o povo nas ruas. Multidões jamais vistas cobriram o país de verde e amarelo em uma grande festa cívica, democrática e, sobretudo, pacífica. Foi também o dia em que a esquerda e o consórcio de imprensa entraram em pane.

Manifestações que ocorreram no Dia da Independência do Brasil (7/9/22) em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução

 Manifestações que ocorreram no Dia da Independência do Brasil (7/9/22) em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução 

Duas conclusões podem ser extraídas do 7 de Setembro. A primeira é que as multidões, que incluíram famílias e crianças, não têm nenhum parentesco com ajuntamentos de golpistas, como fantasiou durante meses a velha mídia. Segunda conclusão: ficou muito complicada para os institutos de pesquisa a fabricação de mais porcentagens assegurando a eleição de Lula em outubro.

A menos de um mês das eleições, milhares de pessoas foram às ruas em dezenas de cidades, com destaque para São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Quem não saiu de casa por causa da chuva exibiu a bandeira do Brasil nas janelas. No Centro-Oeste, houve passeio de tratores do agronegócio.

Tradicional palco de manifestações históricas, a Avenida Paulista teve 13 carros de som espalhados por toda sua extensão. Os nomes mais lembrados foram o de Lula e o do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito perpétuo de caçada aos conservadores no STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mesmo com o tempo nublado, garoa e momentos de chuva forte, pais, mães, avós e crianças compareceram em peso. Embora grande parte das fotografias publicadas pela imprensa focalize cartazes pedindo o golpe militar ou o fechamento do STF, a verdade é que a palavra de ordem que mais ecoou foi outra: liberdade.

“Estou aqui para que o povo brasileiro tenha mais liberdade”, disse Fernando Ataide, 73 anos. “Olhando para trás me sinto envergonhado de tanta roubalheira que houve neste país.”

O clima de tensão e perigo inventado pelo noticiário não existiu. No evento realizado no coração de São Paulo, não aconteceu sequer uma briga ou ato de desrespeito ao próximo. Até para atravessar a multidão que se amontoava todos pediam licença e esperavam a vez.

“Milhões de brasileiros estão defendendo a liberdade”, observou o médico Roberto Zeballos, trajando verde e amarelo. “Na rua, não existe o controle das redes sociais nem a censura. Há o poder da escolha, a liberdade de ir e vir, para sonhar e encontrar soluções. Não ficamos presos a regras ditatoriais.”

Outras palavras de ordem exigiam o fim da impunidade e eleições limpas. “Uma pessoa não pode ser ‘descondenada’ para poder concorrer à Presidência da República”, indignou-se o segurança Sérgio Henrique Gonçalves da Silva. Com 44 anos, ele trouxe o filho David, 5 anos, e a irmã Maria Marlene Farinilque, 53 anos, para participarem do ato. “O STF solta bandido e prende deputado, não consigo entender isso.”

A oposição grita
A reação dos adversários de Bolsonaro foi imediata. Antes mesmo do encerramento dos atos, partidos lançaram uma ofensiva no TSE. União Brasil, PT e Rede bateram à porta da Corte, acusando o presidente de ter feito comício em eventos que receberam recursos públicos.

Essa também foi a tônica dos protestos estridentes dos analistas na mídia, que não disfarçam suas preferências políticas. Alguns defenderam abertamente a impugnação da candidatura de Jair de Bolsonaro. “O presidente pode ter cometido crimes em série no 7 de Setembro, e Lula vai acionar TSE”, publicou a Folha, às 21 horas do dia 7.

O pano de fundo da gritaria, contudo, esbarra num ponto incontestável. O presidente separou sua agenda de chefe de Estado do roteiro de candidato. Isso ocorreu em Brasília e no Rio, as duas cidades que tiveram apresentações de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), dos blindados do Exército e o show dos paraquedistas cortando os céus com a bandeira brasileira. 
As imagens da Esplanada dos Ministérios tomada em toda a sua extensão e da orla de Copacabana lotada rodaram o mundo.

Em Brasília, Bolsonaro acompanhou a parada militar, como todos os antecessores sempre fizeram, e desfilou no Rolls-Royce usando a faixa presidencial. Depois, subiu num palanque montado nas proximidades da mesma avenida e falou o que quis — como candidato.

Após desfile, Bolsonaro exalta Pátria cristã e luta do bem contra o mal
Jair e Michele Bolsonaro desfilam em um Rolls-Royce, 
no Dia da Independência | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Ao lado da primeira-dama, Michelle, Jair Bolsonaro puxou com a multidão o coro “imbrochável” e disse que “homens solteiros deveriam procurar uma mulher, uma princesa para se casar”. Beijou Michelle, que aderiu à brincadeira. A fala incendiou os plantonistas nas redações do consórcio. O presidente voltou a ser acusado de machismo e misoginia, a bola da vez das manchetes histéricas. Em editorial, O Estado de S. Paulo afirmou que o presidente apelou para obscenidades. “Eis o nível daquele que diz defender a família brasileira. Entende-se bem por que é tão alta sua taxa de rejeição entre as mulheres. Jair Bolsonaro simplesmente provoca asco”, diz o artigo.[se o discurso de Bolsonar foi obscfeno, que dizer da matéria de uma jornalista de O Globo - um tratado sobre desempenho sexual.]

A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem afirmando que “na idade de Bolsonaro, 67 anos, o índice de indivíduos do gênero masculino com disfunção erétil é próximo a 70%”. [nada impede que o 'capitão do povo' esteja nos 30%]

O número de manifestantes presente nos atos também foi motivo de controvérsia. Em Brasília ninguém foi capaz de dizer que havia menos de 1 milhão de pessoas no gigantesco vão que abrange a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes. Em São Paulo, contudo, o jornal Folha de S.Paulo chegou ao ponto de cravar um número exato: 50.443 pessoas nem uma a mais ou a menos.

Foto: Reprodução/Instagram

Ao ver a multidão nas ruas, uma colunista afirmou, com voz embargada, que aquele era um dia triste, porque Bolsonaro colocou milhões de pessoas nas ruas. “Isso foi bom para ele, mas foi péssimo para o Brasil.” Num tuíte, outro jornalista afirmou que “o clima de violência política recomendava que eleitores de outros candidatos evitassem a orla de Copacabana”. Um terceira acusou “os discursos do presidente” de roubarem “a possibilidade dos brasileiros de comemorarem a Independência do Brasil”.

A verdade é que nunca se viram multidões semelhantes, simultaneamente, em tantas cidades brasileiras. “O sentimento é de patriotismo. Esse vai ser o combustível da reeleição, disse Fabio Wajngarten, coordenador de comunicação da campanha de Bolsonaro. “Multidão nas ruas de verde e amarelo”, comemorou Fábio Faria, ministro das Comunicações. “Nunca ninguém viu tanta gente. O presidente faz um discurso propositivo. O que sobra para a mídia? Falar que essa quantidade de gente de graça nas ruas é um ‘abuso’.”

Flávio Bolsonaro, filho do presidente, usou suas redes sociais para agradecer aos apoiadores do pai. “Um milhão de pessoas? Mar de gente em Brasília? Obrigado a cada brasileiro que compareceu à Esplanada dos Ministérios. Provamos, mais uma vez, que é possível fazer manifestação pacífica, visando a um único objetivo: a liberdade de nossa nação.”

“Falo palavrão, mas não sou ladrão”
De Brasília, Bolsonaro seguiu para o Rio de Janeiro, onde pilotou uma moto até a orla de Copacabana. Ali, havia gente de todo tipo: homens, mulheres, idosos, crianças, adultos, negros, brancos, ricos e pobres. A quantidade de gente fez com que os manifestantes ocupassem também as ruas paralelas e perpendiculares à Avenida Atlântica.

“O que faltava para nós? Faltava acordar da letargia, da mentira, das palavras bonitas e de muita enganação”, discursou Bolsonaro. “Não sou educado, falo palavrões, mas não sou ladrão. Nosso governo respeita a Carta da democracia, que é a nossa Constituição. O outro lado que assina cartinhas não respeita a nossa Constituição.”

Na contramão do que apareceu na maioria dos jornais, sites e emissoras de televisão, o espírito dominante neste 7 de Setembro foi menos de protesto e mais de exaltação da liberdade

Esse trecho da fala também despertou a ira dos articulistas na velha mídia. Como o presidente ousou atacar a tal “carta pela democracia”? Ele se referia ao texto lido na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) [a cartinha.] em agosto. O ato teve a participação de sindicalistas, do Movimento Sem Terra (MST), dos sem-teto, da juventude grisalha dos centros acadêmicos e de dezenas de “intelectuais progressistas”.

Na contramão do que apareceu na maioria dos jornais, sites e emissoras de televisão, o espírito dominante neste 7 de Setembro foi menos de protesto e mais de exaltação da liberdade e do orgulho de ser brasileiro. Mais uma vez, repetiu-se o que tem ocorrido em todos os eventos promovidos por aliados do presidente Jair Bolsonaro.​​ Nem uma única vidraça foi depredada. Não houve registros de quebra-quebra. Ninguém queimou pneus. Ninguém viu black blocs empunhando coquetéis Molotov. Na dispersão da Avenida Paulista, ouviu-se várias vezes o Hino Nacional.

No dia seguinte, os jornais acusaram o presidente de ter “capturado” o 7 de Setembro — assim como fez com a camisa da Seleção e as cores da bandeira nacional —, transformando a data numa “arma contra a democracia”. A alucinação foi compartilhada por ministros do STF e pela linha de frente do consórcio da imprensa. O povo avisou nas ruas que pensa de maneira bem diferente.


*Com reportagens de Artur Piva, Cristyan Costa, Iara Lemos, Rute Moraes e Silvio Navarro

Leia também “Pior que eleições é não realizar eleições”

Redação - Revista Oeste


sexta-feira, 24 de junho de 2022

A opinião do presidente do PCO ameaça as “instituições democráticas”? - Gazeta do Povo

O Brasil vive nestes dias um fenômeno sem precedentes: a suprema corte de justiça do país transformou-se numa junta de governo, que traz à memória as “comissões revolucionárias” que os militares formavam, nos velhos tempos em que havia golpes militares da América Latina. No passado, os golpistas anulavam a Constituição e o resto da legislação em vigor no país; eliminava-se os direitos individuais, a liberdade de expressão e a ação dos partidos políticos. Hoje o Supremo Tribunal Federal faz a mesma coisa, com a justificativa de que está agindo para defender as “instituições democráticas”
É mais ou menos assim: para salvar a democracia é preciso, em primeiro lugar, destruir a democracia. As leis, decidiu o STF, não podem atrapalhar a visão que seus ministros têm do que é melhor para o Brasil, para a sociedade brasileira e para o bem de todos
Se estiverem, pior para as leis – sobretudo quando elas se aplicam a pessoas ou entidades sem força, prestígio ou influência para se defender.
A agressão mais recente ao sistema legal do país é o surto repressivo do ministro Alexandre de Moraes contra um partido político mínimo, que não tem nenhum deputado federal, nem estadual, e de cuja existência muito pouca gente tem notícia – o Partido da Causa Operária. Há dias, Moraes vem baixando sentenças iradas para impedir esse PCO de exercer as suas atividades políticas; simplesmente proibiu, com mais um despacho, que os militantes do partido se manifestem em qualquer plataforma das redes sociais. É cassação explícita do direito de expressão assegurado como “cláusula pétrea”, ou “imexível”, da Constituição
O PCO não cometeu nenhum crime, nem está organizando grupos armados, ou mesmo desarmados, para subverter a ordem constitucional ou fazer qualquer coisa parecida com isso.
 
Tudo que o seu presidente disse é que Moraes é um “skinhead de toga”. Desde quando chamar um ministro de “careca” pode ser uma ameaça “às instituições”? Não pode, é óbvio - mas foi suficiente para o infeliz ser enfiado no inquérito perpétuo, secreto e ilegal que o ministro conduz há três anos para reprimir “fake news” e “atos antidemocráticos”. Não há direito de defesa nesse inquérito. Os indiciados não são informados dos crimes que teriam cometido. Todos são culpados; nunca houve, até hoje, um caso de absolvição.

Chamar Alexandre de Moraes de “careca” pode ser tudo, menos notícia falsa. A vítima do ministro poderia dizer isso, se tivesse direito de se defender – mas não tem. Também não tem como contestar que fez “postagens antidemocráticas”. Que diabo é isso – “postagem antidemocrática? Entra na cabeça de alguém que chamar um ministro do STF de “careca” coloca a democracia brasileira em perigo? 
Tudo bem: a palavra “skinhead” é aplicada para simpatizantes nazifascistas. Mas e daí? É a opinião do presidente do PCO; pode ser contestada na justiça, segundo o que diz o Código Penal, como calúnia, injúria ou difamação. Não tem absolutamente nada a ver com segurança nacional, nem vai abalar instituição nenhuma. 
 
Alega-se também que o denunciado pediu a “dissolução” do STF. De novo: e daí? Em que lei está escrito que é proibido defender o desmanche do Supremo e propor a sua substituição por um outro tipo de tribunal? 
Toda a alta cúpula do PT fez exatamente isso quando Lula foi para cadeia; hoje, STF e PT são os melhores amigos do mundo, mas o que foi dito não pode mais ser apagado. Nenhuma surpresa aí, é claro. Esse tipo de junta é isso mesmo; não tem de dar explicação, nem fazer nexo. Só tem de baixar decretos, enfiar gente na cadeia, dar ordens e proibir.

Todo mundo sabe que o STF, hoje, é o maior produtor de arbitrariedades neste país – age contra os direitos do cidadão, os dois outros poderes e o que está escrito na Constituição
O mundo político, que tem um Congresso eleito e com poderes formais para impedir o que está acontecendo, fica quieto; recebe ordens e diz “sim senhor, mais alguma coisa?” O STF vai em frente, é óbvio.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

terça-feira, 29 de março de 2022

“Fora-da-lei jurídico”, Alexandre de Moraes só piora com o tempo - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo


Ministro do Supremo

O STF brasileiro é um caso único em qualquer país do mundo que pretenda ter uma corte superior de justiça encarregada a dar, sempre e de forma coerente, a última palavra a respeito da lei.  
No Brasil, a corte suprema nunca tem a mesma palavra sobre nada; vai mudando conforme as circunstâncias e os interesses pessoais dos seus onze ministros, a maioria dos quais, hoje, servem como advogados militantes da esquerda e da oposição política ao governo.
 
Para piorar essa calamidade, o ministro Alexandre de Moraes, hoje o mais agitado de todos eles, tornou-se uma espécie declarada de “fora-da-lei” jurídico: 
sistematicamente, e agindo de caso pensado, ele assina decisões que desrespeitam de maneira direta a legislação e a Constituição.            Se fosse um juiz de direito de uma vara qualquer da justiça, suas sentenças não passariam pelo primeiro filtro – seriam todas reformadas já no escalão imediatamente superior a ele. Mas aí é que está: Moraes, como todos os seus colegas, não tem ninguém, absolutamente ninguém, acima de si.

Se ele decidir, amanhã ou depois, que o triângulo tem quatro lados, vamos ter um problema: o Brasil será, em todo o mundo, o único país com o triângulo quadrado, pois nenhum dos seus dez colegas fará a mínima objeção a seu despacho, como não fez até hoje para nenhum dos absurdos que o ministro pratica de forma serial.

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As duras sanções econômicas farão os russos abandonarem Putin?

O Senado, que pela lei deveria proteger a sociedade de ministros como Moraes, se acovarda e foge das suas responsabilidades; seu presidente, há anos, se colocou de quatro diante do STF. Para resumir essa ópera em uma frase: ele jogou no lixo, simplesmente, uma petição popular com 1,7 milhão de assinaturas solicitando o julgamento de Moraes pelo Senado.

O ministro, como é do conhecimento de todo o mundo político brasileiro, chefia há três anos um inquérito grosseiramente ilegal para, segundo ele, reprimir “fake news” (ele fala assim mesmo, em inglês; recusa-se a fazer a tradução para “notícias falsas”) e “atos antidemocráticos”.   Se é ilegal, por que continua? Porque o resto do STF é cúmplice integral da ilegalidade. A maior parte da mídia é plenamente a favor. A Câmara e o Senado não dizem um pio. Aí, é claro, Moraes deita e rola.

Seu último surto de agressão à lei foi particularmente primitivo. O ministro está empenhado, desde o início do seu inquérito perpétuo, a cassar a palavra do presidente da República e dos seus aliados na campanha eleitoral de 2022. No vai-e-vem que bloqueou e depois desbloqueou a plataforma de comunicação social Telegram, usada pelo presidente, Moraes viveu uma história de superação.

Invocou, como base legal para sua ação de censura, “o artigo 12” do Marco Legal da Internet. Poderia ter invocado a Lei de Falências, ou o Tratado de Versalhes: o artigo 12 não tem absolutamente nada a ver com “fake news” ou qualquer outra desculpa que o ministro utiliza para perseguir os seus adversários políticos. Apenas prevê sanções para quem praticar, basicamente, atos de violação de privacidade descritos nos artigos imediatamente anteriores – e, pior ainda, não prevê a punição que Moraes adotou para o Telegram.

A cereja no bolo é um trecho do despacho condenatório em que o ministro cita como prova de suas acusações trechos de uma reportagem do “Fantástico”. É coisa de centro acadêmico de faculdade de Direito do interior. Foi um desastre.

Moraes piora com o tempo. A campanha eleitoral nem começou, pelo menos oficialmente, e o homem já está assim. Imagine-se como estará lá adiante.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Invasão de igreja é um ato antidemocrático, só o STF não vê - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo - VOZES

Se há uma coisa que não falta neste país hoje em dia é rigor extremado em “defesa da democracia”obviamente, só nos casos em que se estima que a democracia está sendo colocada em risco pela direita
e seus derivados. [neste caso, vale até desrespeitar direitos assegurados pela Constituição Federal e a própria democracia, desde que seja para punir os 'criminosos' = direita.
Definindo de outra forma: Viola-se princípios constitucionais e democráticos, a pretexto de preservá-los.]
Só o ministro Alexandre Moraes, pessoalmente, mantém vivo e soltando fogo para todo lado um “Inquérito Perpétuo Para Salvar o Brasil de Atos Antidemocráticos” já prendeu gente por conta disso, mandou o presidente da República depor numa delegacia de polícia [ordem não cumprida e nada, absolutamente nada - o que já era esperado - aconteceu.] e quer a Interpol correndo atrás de brasileiros nos Estados Unidos.[desejo ignorado pela Interpol.] O Ministério Público não pensa em outra coisa. A mídia, as classes intelectuais e as forças do “campo progressista” se escandalizam diariamente com atitudes de “direita” e com o que percebem como sendo uma ofensiva de “ideias nazistas”.


Igreja de Curitiba foi invadida por manifestantes com bandeiras do PT e do PCB
Igreja de Curitiba foi invadida por manifestantes com bandeiras do PT e do PCB -  Foto: Reprodução/Instagram

Todos eles, exatamente ao mesmo tempo em que se manifestam excitados em último grau com a “direita”, não dizem uma sílaba sobre atos como a invasão de uma igreja católica de Curitiba por um vereador do PT e um grupo de delinquentes com bandeiras vermelhas.  
Era, segundo eles, um “protesto contra o racismo”. Agrediram grosseiramente a liberdade de culto. Gritaram “viva Lula” e sua candidatura à presidência. Isso é crime – ou não é?  
Se não for, o que seria, então, no entendimento do ministro Moraes, do MP e do Brasil que se escandaliza com o avanço do “nazismo”, da “extrema direita” e, mais do que tudo, talvez, com a possibilidade de perderem a eleição de outubro próximo?

Não faz nenhum nexo.
Invadir uma igreja e atrapalhar um ato religioso legítimo, plenamente assegurado pela Constituição Federal, e conduzido em paz, é um ato absolutamente antidemocrático muito pior que o monte de bobagens que o STF procura e não consegue encontrar no seu inquérito sem fim.  
Porque, então, não se levanta uma palha contra os autores desse crime? O PT não fez sequer uma notinha desautorizando seu vereador e os malfeitores que estavam em sua companhia. Não aconteceu nada com ninguém. Todos estão se sentindo perfeitamente autorizados a fazer tudo de novo outra vez. Por que não? Está autorizado pela autoridade pública. Agredir um culto católico não é, na visão do Brasil civilizado-liberal-esquerdeiro que está aí, um “ato antidemocrático”.

Estamos da seguinte forma, portanto. No Brasil de 2022 é terminantemente proibido defender possíveis ditaduras de direita.     É inteiramente lícito, ao mesmo tempo, defender ditaduras de esquerda e praticar atos de banditismo em seu nome.

J. R. Guzzo, colunista - VOZES - Gazeta do Povo