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domingo, 17 de abril de 2022

A guerra de Putin vista da China - Fernão Lara Mesquita

Em entrevista ao New Statesman esta semana Sergey Karaganov, assessor de confiança dos presidentes Boris Yeltsin e Vladimir Putin, assim como do ministro do Exterior deste último, Sergei Lavrov, repetiu o recado: para a Russia esta é "uma guerra existencial", de modo que se não tivermos "algum tipo de vitória" vai haver "uma escalada" que, sim, pode ser nuclear.

Claro, países nunca deixam de existir, mas para Vladimir Putin e sua camarilha de ladrões essa guerra é, sim, "existencial". Por que razão não houve ainda nem mesmo uma escalada na guerra convencional mas, ao contrário, uma "revisão dos objetivos" da "operação especial" desastradamente posta em curso em 24 de fevereiro pelo ex-agente da KGB, deixando de lado a vitória a qualquer custo para adotar este "algum tipo de vitória" que "é preciso alcançar" para salvar a face é coisa que seguramente tem a ver, para além da força da reação militar da Ucrânia, sobretudo com o modo pelo qual a China reagiu ao desatino de Putin.

Foi no longo telefonema havido entre Xi Jinping e ele dias depois de iniciada a coisa que se deu o primeiro "pé no breque" que Putin não tem podido mais aliviar desde então...

Com toda a tecnologia que levou à globalização do que já é globalizável - a fina fatia da humanidade que, em todos os países, saltou da economia de sobrevivência para a economia de consumo e fala algum inglês - o resto do vasto mundo ainda é uma constelação de servidões isoladas que se expressam em línguas e alfabetos mutuamente incompreensíveis, sem nenhuma comunicação direta entre si e que, também graças a isso, só têm, umas das outras, a imagem filtrada a que seus mestres lhes derem acesso.

No país que já está onde Lula e a imprensa da privilegiatura brasileira querem chegar só "A Verdade" tem vez, de modo que tudo que aparece e permanece na internet É a posição oficial do governo. Todo o resto ou já morreu ou permanece em segredo bem guardado na mente de cada indivíduo tentando evitar o tiro na nuca.

Assim, um passeio pela internet chinesa oferece a oportunidade de saber o que a China oficial está pensando e levando a China real a pensar sobre a aventura de Putin. E não raro essas análises mostram mais lucidez que as dos "especialistas" amestrados da nossa "imprensa livre". 

Na plataforma weixin.qq.com está publicado desde 16 de março, sem nunca mais ter sido apagado pela polícia da internet do Partido Comunista Chinês que é de matar Alexandre de Moraes de inveja, um relato dos acontecimentos que precederam a invasão, em que Putin é acusado de ter "manipulado" Xi Jinping ao levá-lo a assinar um acordo com a Russia que o colocou inadvertidamente "na armadilha de uma posição desconfortabilíssima" (an evil-like and unkind position foi a expressão usada na tradução direta do texto do chinês para o inglês) em relação a uma guerra que "viola as regras básicas da civilização".

Segundo o artigo Putin abordou Xi na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno ameaçados de boicote pelos Estados Unidos com um tratado envolvendo 15 acordos de cooperação apoiando todas as bandeiras geopolíticas da China, da nacionalidade de Taiwan à iniciativa conjunta com a Organização Mundial de Saúde para traçar a origem do coronavirus para fora daquele país, passando pelo apoio às advertências contra "a intenção da Nato de voltar à guerra fria". Xi não tinha porque recusar assina-lo embora o artigo lembre que os 15 acordos não acrescentavam novidade alguma pois todas essas iniciativas eram, desde sempre, apoiadas pela Russia. Mas o fato de te-lo assinado "de modo nenhum significa que a China soubesse com antecedência ou apoiasse a invasão da Ucrânia".

Um dia antes desse artigo aparecer para o público chinês, o embaixador de Pequim nos Estados Unidos, Qin Gang, publicou outro similar no Washington Post, afirmando que dizer que a China sabia das intenções de Putin "é pura desinformação" e que "a posição da China sobre a Ucrânia é objetiva e imparcial, baseada nas regras da ONU de respeito à integridade territorial e à soberania de todos os países, Ucrânia inclusive, que devem ser estritamente observadas".

Em 5 de abril passado outro artigo assinado por Yu Jianrong, intelectual muito popular nas redes sociais chinesas, afirmava que quanto mais se estender, mais a guerra de Putin será impopular na China. "Agressão é agressão. É moralmente errada e ponto".

Também este vinha na sequência de outro publicado no WeChat chinês, que analisava as condições objetivas de Putin levar a cabo o seu projeto: "A Russia quer brincar de União Soviética mas não tem mais a força econômica que isso requer. A Ucrânia, agora vizinha da Nato e servida por modernas capacidades militares, é uma versão aumentada do Afeganistão enquanto a Russia é uma versão diminuída da União Soviética. Esta guerra abriu um buraco nas artérias econômicas da Russia cuja economia já vinha abalada desde 2012. As ameaças nucleares de Putin nunca chegaram a ser feitas no tempo da União Soviética. São um sinal de fraqueza". 

"No tempo da Guerra Fria o PIB da União Soviética era de pelo menos 50% do dos Estados Unidos. Hoje, com um PIB de 1,7 trilhão de dólares, a Russia é menor que a economia da província de Guangdong. O orçamento da Federação Russa de 330 bilhões de dólares para 2021 é metade do orçamento de 705 bilhões do Pentágono. Para manter a fidelidade da Bielorussia, com menos de 10 milhões de habitantes, Putin injeta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano naquele país. Não tem condições de fazer o mesmo com a Ucrânia e seus 44 milhões de habitantes".

"A Russia não pode vencer essa guerra. Ela custa 8 bilhões de dólares por mês. Os ucranianos destroem todos os dias tanques e aviões de centenas de milhões de dólares com mísseis individuais que custam apenas algumas dezenas de milhares fornecidos pelo resto do mundo e pela Nato. Não existe mais uma União Soviética nem Ocidente contra o Leste, só existe um jogo econômico global complexo. O tempo não é aliado da Russia. Esse é o poder da globalização e a Russia não tem a opção de resistir-lhe".

A única saída da sinuca em que se meteu é, portanto, a que Xi Jinping indicou a Putin naquele telefonema depois de constatar a reação, "fechada" como nunca, dos Estados Unido e da Europa: alguma que lhe salve a face sem parecer uma derrota total, antes que o massacre de ucranianos se torne definitivamente imperdoável. 

Esta salvaria o mundo de ver o ex-agente da KGB apertar o botão. Mas dificilmente salvará ele próprio do final melancólico a que se condenou, nem o povo russo do rebaixamento a satélite da economia chinesa, a inversão do quadro "primo rico x primo pobre" dos dois gigantes comunistas de ontem, que vai lhe restar depois dessa sangria desatada.

*Publicado originalmente em O Vespeiro (13/04/2022)


domingo, 3 de abril de 2022

GESTAPO, KGB, PIDE, STASI…e o STF

ADONIS OLIVEIRA - LÍNGUA FERINA

CASO 01 – Polícia Federal.

Há alguns anos atrás, fui vítima do ataque de um hacker em um processo de importação que estava sob a minha responsabilidade. O bandido conseguiu acessar minha caixa de mensagens e, não só as ler como alterá-las. 
Desta forma, ao recebermos a Fatura Proforma do exportador chinês, esta havia sido adulterada pelo hacker sem que soubéssemos ou nos déssemos conta. No local onde deveria estar indicada a conta bancária para a qual deveria ser feita a transferência do sinal (quantia bem significativa e de alguns milhares de dólares), passou a constar uma outra conta. Em lugar da conta do fornecedor, em Xangai, passou a constar uma conta num banco em Singapura. Soubemos depois que esta era uma conta do tipo Off-Shore e que havia sido aberta a partir de Londres.

Quando cheguei na China, na fábrica do exportador, para fazer a inspeção final de embarque, qual não foi a minha surpresa ao ser informado de que estes não haviam recebido o pagamento do sinal. Comparamos as nossas correspondências e vimos imediatamente a fraude que havia sido feita conosco. A consequência? Como dizem os advogados: “Quem paga errado paga duas vezes! ”

Ao retornar ao Brasil, fui à Polícia Federal dar queixa, a fim de justificar o envio de uma grande quantia em dólares para o exterior sem que tivesse uma contrapartida na importação de algum bem. Na mesma ocasião, solicitei ao Delegado que nos disponibilizasse o acesso ao departamento daquele órgão com competência para rastrear as mensagens e saber de onde haviam partido, de modo a poder ir atrás do “Hacker” e dar-lhe alguns “conselhos” e admoestações. Que dizer: uma surra muito bem dada.

Qual não foi minha surpresa ao ser advertido pelo brioso delegado de que (sic) “A função da Polícia Federal é proteger o Estado, e não um cidadão qualquer”. Fiquei perplexo, atônito, estupefato, boquiaberto, embasbacado, abilolado, e o mais que não consigo encontrar palavras para expressar. Perguntei aos meus botões:

Ué! E essa porra não é para proteger os cidadãos não, é?

Tornei a perguntar:

É para isso que sustentamos essa cambada imensa a pão de ló e com toda as mordomias possíveis e imagináveis?

E o exemplar funcionário “público” respondeu candidamente: – SIM!

Foi só aí que me dei conta de que a única função do público pagante, nesta festa pobre, é entrar fantasiado de bunda numa festa de bilôla, gerenciada pelos donos do aparato estatal.

CASO 02 – Procuradoria do meio ambiente do Piauí.

Nas andanças pelo mundo, mantive contato com empresas da China e da Índia que desenvolveram uma tecnologia fantástica para a reciclagem de lixo urbano. A principal característica é a produção de energia, com uma parte do lixo, e óleo diesel com a outra parte. Tudo isso de forma altamente limpa, sem odores desagradáveis no entorno das instalações de tratamento e, altamente viável em termos econômicos. Nosso país sofre cronicamente com os famigerados “lixões”. Fazem uns 30 anos que tentam erradica-los. São lugares, nas periferias das cidades, onde o lixo é amontoado. A esperança é que o tempo lhe dê um tratamento adequado. São locais dantescos: Urubus voando, uma catinga desgraçada, lençol freático contaminado com o chorume (aquela gosma que escorre), alta produção de metano (efeito estufa), dezenas de miseráveis, inclusive crianças, catando algo que os ajude a sobreviver, e por aí segue.

Descobri nos jornais que havia um imenso aparato estatal voltado para estas questões: o Ministério Público Estadual para o Meio Ambiente do Piauí
Prédio imenso, novíssimo e todo em mármore, uns 5 ou 6 andares, recepção, grande aparato de segurança, e por aí vai. 
Parecia a sede de uma grande empresa multinacional e gerando bilhões de dólares em faturamento. Liguei e solicitei uma reunião com o comando. O jovem que me “atendeu” no horário marcado era extremamente bem vestido, com a aparência de ser um advogado muito bem-sucedido e remunerado. Estava numa azáfama pois, segundo ele, tinha outros compromissos urgentes e só dispunha de alguns minutos para mim. Assim, enquanto se dedicava a outras atividades, expliquei meu caso enquanto ele me dava as costas e tratava de outras coisas. 
Minha proposta era que, em lugar dos caminhões que recolhiam o lixo seguirem para a lixão, apodado agora de “Aterro Sanitário”, seguirem para minha fábrica, que ficaria bem mais perto e o trajeto seria menor. Sua resposta foi irada:

– O senhor está querendo que eu faça advocacia administrativa para sua empresa?!?!?!

Só acertei dizer:

– Doutor, o senhor não entendeu a minha proposta.

Foi quando ele disse:

– Pois passe outro dia e explique em mais detalhes. Veja com a minha secretária.

Contatada, esta afirmou que só teria espaço na agenda para daí a alguns dias. Fui embora e não voltei até hoje!

MINHA CONCLUSÃO:

Poderia continuar relatando casos e mais casos em que o imenso e custoso aparato estatal mostrou que só serve para proteger seus apaniguados. Seria redundante!

As conclusões a que chego são:

1- Todas as vezes em que algum crápula asqueroso vem com a conversa sebosa de que “Está defendendo a democracia; ou defendendo o Estado” e coisas que tais, o que está defendendo na realidade é a integridade do próprio orifício corrugado póstero lombar. Está defendo suas mordomias, privilégios, seu poder de cometer arbítrios, prender, perseguir, arrebentar, desmonetizar, extorquir financeiramente, e por aí segue.

O ESTADO É ABSOLUTO!

2- No caso do Brasil atual, a coisa está muito mais sutil e disfarçada. Os crápulas mentes tão completamente que chegam a acreditar nas próprias mentiras. Afirmam sempre estar “protegendo a democracia e o estado”. Isso só enquanto não se assenhoram completamente do aparato estatal. Enquanto ainda resta alguns resquícios esfarrapados de democracia para impedi-los de darem total vazão a seus instintos baixos. 
Não precisamos ir muito longe para ver que, ao tomarem o poder, seja de que maneira for, retirarão as máscaras e declararão que toda a prioridade será a maldita SEGURANÇA DO ESTADO.


KGB – Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti
,
ou Comitê para a Segurança do Estado. Polícia secreta da antiga União Soviética.

STASI – Ministerium für Staatssicherheit ou Ministério para a Segurança do Estado. Principal organização de polícia secreta e inteligência da Alemanha Oriental (RDA).

GESTAPO – Geheim Staatspolizei ou Polícia Secreta do Estado – Nazista

PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado – Polícia política portuguesa.

SECURITATE – Departamentul Securităţii Statului ou Departamento de Segurança do Estado. Foi a agência de Polícia Secreta da República Socialista da Romênia.

3- O povo brasileiro vive com medo do aparato estatal. Vivemos numa tirania absoluta.

Michael Foucault (Comunista de carteirinha), em sua obra VIGIAR E PUNIR, descreveu brilhantemente o estado de selvageria a que a humanidade regrediu nas mãos de ditaduras socialistas:

“De acordo com a ordenação de 1670, …, era impossível ao acusado ter acesso às peças do processo, impossível conhecer a identidade dos denunciadores, impossível saber o sentido dos depoimentos antes de recusar as testemunhas, impossível fazer valer, até os últimos momentos do processo, os fatos justificativos, impossível ter um advogado, seja para verificar a regularidade do processo, seja para participar da defesa. Por seu lado, o magistrado tinha o direito de receber denúncias anônimas, de esconder ao acusado a natureza da causa, de interrogá-lo de maneira capciosa, de usar insinuações. Ele constituía, sozinho e com pleno poder, uma verdade com a qual investia o acusado; e essa verdade, os juízes a recebiam pronta, sob a forma de peças e relatórios escritos; para eles, esses documentos sozinhos comprovavam; só encontravam o acusado uma vez para interrogá-lo antes de dar a sentença. A forma secreta e escrita do processo confere com o princípio de que em matéria criminal o estabelecimento da verdade era, para o soberano e seus juízes, um direito. ”

Tudo isto era coerente para Luiz XIV, quando o princípio básico era: “L’état c’est moi!”

Hoje, no Brasil, em que vivemos uma situação de proto-comunismo instalado, e onde o estado é tudo, temos um STF amaldiçoado e execrado pela maioria acachapante da população, e que se arvorou no papel do rei absolutista. Dizendo ser o “Defensor da Democracia” e do “Estado”, transformou-se numa KGB ou numa GESTAPO. [em situações especiais -  classificação que cabe ao STF -   o STF acumula funções de Vítima (por autodeclaração)  Polícia (investigando) MP (denunciando) Juiz de 1º Grau (julgando). Por óbvio,  se o condenado decidir recorrer,  o STF analisa o recurso como Instância máxima do Poder Judiciário.] As  policias políticas das ditaduras comunistas, ou os tribunais absolutistas de Luiz XIV, não fariam melhor.

Quer entender melhor?

Jornal da Besta Fubana - Adonis Oliveira - Língua Ferina


domingo, 27 de março de 2022

Guerra da Ucrânia: as medidas de segurança extremas para proteger Putin - BBC News Mundo

Fernanda Paúl

 Nada é improvisado na vida de Vladimir Putin.

Todos os passos do presidente russo são observados de perto por centenas de guarda-costas que o acompanham 24 horas por dia. Sua comida é preparada às escondidas e tudo o que ele bebe deve ser previamente checado por seus assessores mais próximos.

Ex-oficial da KGB, o serviço de segurança da União Soviética, Putin conhece muito bem as ameaças que existem ao seu redor, especialmente em tempos de guerra. O mandatário lidera a invasão russa à Ucrânia, e isso representa alguns riscos adicionais para sua segurança.


Vladimir Putin e seguranças pessoais

Crédito, Getty Images - Vladimir Putin vive cercado por seguranças pessoais 

Mas quem está realmente encarregado de protegê-lo? 
E quais são algumas das medidas que são tomadas para mantê-lo seguro? 

Ampla equipe de segurança

Entre os vários serviços de segurança que operam atualmente na Rússia, há um especialmente dedicado a proteger o presidente e sua família: o Serviço de Segurança Presidencial da Rússia. Esse esquadrão se reporta ao Serviço Federal de Proteção da Rússia (FSO), que tem suas origens na antiga KGB, e que também protege outros servidores de alto escalão do governo, incluindo o primeiro-ministro do país, Mikhail Mishustin.

É desse órgão que vêm os homens vestidos de preto com fones de ouvido que protegem o presidente 24 horas por dia. De acordo com o Russia Beyond, uma agência estatal, quando esses agentes acompanham Putin em atividades no exterior, eles se organizam em quatro círculos.

O círculo mais próximo é composto por guarda-costas pessoais do presidente.

O segundo é formado por guardas disfarçados, que passam despercebidos em público. O terceiro circunda o perímetro da multidão, impedindo a entrada de pessoas suspeitas.E o quarto e último círculo é formado por franco-atiradores localizados em telhados de prédios vizinhos. 

 Um franco-atirador russo localizado em uma das paredes do Kremlin, no centro de Moscou

Crédito, Getty Images - Um franco-atirador russo localizado em uma das paredes do Kremlin, no centro de Moscou

Esses agentes também acompanham Putin quando ele se desloca de um lugar a outro."Putin não gosta de helicópteros, ele costuma viajar com uma carreata enorme, com motociclistas, muitos carros pretos grandes, caminhões etc. Qualquer drone que possa estar no espaço aéreo é bloqueado e o tráfego é interrompido", diz Mark Galeotti, especialista em segurança russa e diretor da Mayak Intelligence, consultoria dedicada a analisar questões de segurança no país.

O Serviço de Segurança Presidencial russo é apoiado pela "Guarda Nacional Russa", ou Rosgvardia, que foi formada pelo próprio Putin há seis anos. Alguns descreveram o órgão como uma espécie de "exército pessoal" do presidente.

Esse grupo é independente das Forças Armadas e, embora sua missão oficial seja proteger as fronteiras, combater o terrorismo e proteger a ordem pública, entre outras tarefas, na prática uma de seus principais objetivos é proteger Putin de possíveis ameaças."Todo mundo sabe que eles são em grande parte guarda-costas pessoais de Putin", diz Stephen Hall, especialista em política russa da Universidade de Bath, no Reino Unido.

"E o presidente está muito protegido por eles e pelo resto dos serviços de segurança", acrescenta.

Atualmente, o chefe da Guarda Nacional é Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin. Zolotov é um aliado leal do presidente e nos últimos anos aumentou em cerca de 400 mil o número de militares que integram essa força de segurança. "É um número enorme, as unidades de segurança para presidentes como os Estados Unidos não chegam nem perto desse contingente", diz Hall.

Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin, chefia a Guarda Nacional Crédito, Getty Images - Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin, chefia a Guarda Nacional

Medidas de proteção

Embora seja difícil saber até que ponto vão as medidas que buscam proteger Putin, o próprio Kremlin e especialistas em segurança lançaram alguma luz sobre o assunto.Uma das questões tratadas com mais cautela é a alimentação.

Segundo Mark Galeotti, Putin tem um "provador pessoal" que confere tudo o que o presidente vai comer. O objetivo é impedir um possível envenenamento. "Faz parte de um estilo mais próximo ao de um monarca medieval do que de um presidente moderno", diz Galeotti à BBC News Mundo. Tudo o que Putin consome é provado antes por seus seguranças.

Além disso, quando Putin viaja para fora da Rússia, a equipe do presidente cuida de tudo que ele consome. "Eles pegam toda a comida e bebida que ele vai consumir. Então, por exemplo, se tem um brinde oficial com champanhe, ele pega da garrafa que sua equipe traz, não a que é servida no evento", explica Galeotti.

Stephen Hall, por sua vez, diz que seus guarda-costas observam atentamente como a comida é produzida para evitar qualquer risco.

Telefones inteligentes
Outra medida que busca proteger Putin é o bloqueio de smartphones dentro do Kremlin.

O próprio presidente confirmou que não usa esses dispositivos. Em 2020, em entrevista à agência de notícias estatal TASS, ele admitiu isso, também apontando que, se quisesse conversar com alguém, havia uma linha oficial para fazê-lo. 

Seus conselheiros também admitiram essa estratégia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse repetidamente que Putin não usa telefones celulares porque "não tem muito tempo".

Entre as razões que explicam a relutância é uma profunda desconfiança da internet por parte de Putin.mNo passado, aliás, ele afirmou que a internet é um "projeto da CIA" - a agência de inteligência dos EUA -, e pediu aos russos que não façam buscas no Google porque considera que os americanos estão monitorando todas as informações. "Putin quase não usa a internet, é sabido que ele não gosta de telefones. E bem, sejamos honestos, do ponto de vista da segurança, Putin está absolutamente certo. Smartphones não são muito seguros", diz Galeotti.

Diante disso, o acadêmico afirma que Putin recebe de seus assessores arquivos e relatórios em papel. "Ele começa o dia com três relatórios de segurança. Um é o que está acontecendo no mundo, um é o que está acontecendo na Rússia e o terceiro é o que está acontecendo dentro da elite do país", diz ele. "Para ele, esta é a informação mais importante e que vai definir o seu dia."

"Lembro-me de conversar com diplomatas e funcionários do Ministério das Relações Exteriores que me disseram que estavam frustrados porque, se tiverem informações que entrem em conflito com seus serviços de inteligência, Putin tenderá a supor que seus espiões estão certos e os diplomatas estão errados", acrescenta.

Isolamento e pandemia
Atualmente, o acesso a Vladimir Putin é extremamente limitado. Os poucos líderes que se reúnem com ele, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, em fevereiro, devem permanecer a vários metros de distância. O encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou atenção por uma imagem que mostrava o francês sentado no lado oposto de uma longa mesa.

Parte dessas medidas são uma herança da pandemia de covid-19, que acabou isolando Putin ainda mais.

De acordo com o serviço russo da BBC, entre as medidas que foram implementadas nesse período estão: uma quarentena obrigatória de duas semanas para quem quiser assistir a encontros com o presidente; rigoroso regime de controle médico, que inclui testes periódicos de PCR, para todos que cercam Putin; e a redução quase total da participação em eventos públicos.

Em 15 de março, o secretário de imprensa do governo russo, Dmitry Peskov, confirmou que todas as medidas anti-covid relacionadas à segurança de Putin permanecem intactas até que "especialistas considerem apropriado".

Na Rússia, a saúde pessoal de Putin é vista como uma questão de segurança nacional. Em entrevista ao programa Today, da BBC Rádio 4, o general americano James Clapper - que supervisionou a CIA, FBI, NSA e serviu como um dos principais conselheiros do ex-presidente Barack Obama - confirmou que Putin está isolado fisicamente.

"Putin esteve amplamente isolado, principalmente nos últimos dois anos com a pandemia. Poucas pessoas realmente têm acesso a ele, o que dificulta muito a coleta de informações a seu respeito", diz Clapper.

Galeotti concorda: "Putin vive muito isolado. O círculo de pessoas ao seu redor diminuiu drasticamente", diz.

"Ele não viaja mais pelo país e sua aparição em eventos públicos é algo bastante raro. Os seguranças estão entre as poucas pessoas com quem Putin tem um relacionamento pessoal", diz ele.

Segundo Galeotti, isso explica, em parte, por que muitos desses seguranças pessoais foram posteriormente nomeados para altos cargos no governo, como é o caso de Viktor Zolotov, da Guarda Nacional. Alguns analistas de inteligência dizem que as medidas extremas de segurança em torno de Putin são parcialmente explicadas por uma espécie de "paranóia".

Já outros afirmam que o presidente, com sua experiência na KGB, sabe melhor do que ninguém como sua segurança é importante.Seja como for, tudo indica que a proteção e isolamento de Putin só aumentam. Como diz Galeotti, as coisas são feitas no Kremlin "como Putin quer que sejam feitas".

BBC News - Brasil

domingo, 6 de março de 2022

Putin, a Mãe Rússia e o Ocidente - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Os russos permitiram a concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Rússia um país temido novamente 

Vladimir Putin, presidente da Rússia | Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock
Vladimir Putin, presidente da Rússia -  Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock 
 
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo se voltou para Vladimir Putin, aquele que comanda com mão de ferro o país desde 1999. Todos querem entender a cabeça daquele que ameaça levar o mundo a uma guerra nuclear. 
Será que ele está blefando? 
Seria Putin capaz de apertar o botão vermelho? 
Como as sanções econômicas impostas pelo Ocidente podem frear as pretensões imperialistas da Rússia? 
Putin é comunista ou nacionalista? E por aí vai.

Naturalmente, a psicologia de alguém como Putin é algo complexo. Sabemos de seu passado, do fato de que seu avô foi cozinheiro de Lenin e também de Stalin, que seu pai, um operário, foi ferido na Segunda Guerra Mundial, que ele foi agente secreto na KGB, e que considerou o debacle da União Soviética uma “catástrofe geopolítica”. Ou seja, seus laços com o imperialismo soviético são evidentes. Mas Putin também é um nacionalista, e em muitos aspectos se parece com um novo czar, lutando para resgatar a grandeza da “Mãe Rússia”. É aqui que atrai, além de comunistas, reacionários.

O Ocidente está em crise de identidade, submetido ao globalismo de elites “progressistas”, materialistas e cosmopolitas
Os conservadores estão absolutamente certos quando apontam para a doença. 
Erra na receita, porém, quem acha que alguém como Putin pode ser parte da resposta. 
Basta conhecer um pouco do perfil do autocrata russo para compreender que ele está longe de ser a solução para as mazelas ocidentais. 
Ao contrário: a civilização ocidental precisa ser defendida justamente por representar valores que alguém como Putin, no fundo, repudia com veemência.

Putin nunca demonstrou qualquer apreço pelas instituições democráticas. Se o império das leis é um dos pilares mais importantes no Ocidente, ainda que em crise pelo abuso de poder arbitrário de hoje sob o pretexto da ciência, Putin simboliza seu oposto, a concentração de poder num só indivíduo, que tudo pode. Ele assumiu o poder quando havia um vácuo deixado pela crise de 1998 e a liderança frágil do bêbado Yeltsin. Oligarcas sem escrúpulos que conquistaram muito dinheiro e poder após a queda do regime soviético ajudaram a criar Putin como político, e logo em seguida o ex-espião destruiu um a um de seus “criadores”.

No livro The Oligarchs, de David Hoffman, essa história é contada em detalhes. É preciso entender que Yeltsin colocou alguns liberais no comando da economia, mas faltavam à Rússia instituições básicas para o funcionamento do livre mercado. O que tivemos em seu lugar foi uma “lei da selva”, um “vale-tudo” em que os tais oligarcas exploraram com maestria à custa do povo. Quando veio a crise, ela foi associada de maneira equivocada ao capitalismo. E foi nesse contexto que Putin chegou ao poder. Sim, ele foi pragmático para não matar a galinha dos ovos de ouro. Mas ele jamais depositou esperança no mecanismo de mercado para levar prosperidade aos russos.

Não se tratava, portanto, de um modelo de meritocracia, e sim um de conexões. Após utilizar os oligarcas para sua ascensão, Putin percebeu que era arriscado demais depender deles, e por isso passou a perseguir cada um deles. O dono da Yukos, Khodorkowsky, então o homem mais rico do mundo emergente, foi preso e esmagado como uma barata em poucas semanas. Os dois barões da mídia tiveram de fugir. O recado era claro: ou se submetia ao conceito de tirania de um homem só ou seria destruído. Putin não se importava com a riqueza desses oligarcas, desde que isso não significasse poder político. Esse seria todo dele, apenas dele.

O capitalismo russo floresceu sem qualquer transparência, por meio de propinas, tudo feito às sombras, com conexões e influência, com golpes escancarados, sem qualquer instituição sólida para proteger a propriedade privada. O liberal Yegor Gaidar, reformista convocado por Yeltsin, temia justamente isso: que os russos fossem se sentir traídos pelo capitalismo. Eu estive num jantar com Gaidar, um admirador de Hayek, e ele parecia alguém sem interesses materiais. Era alguém que realmente acreditava num caminho alternativo para a Rússia, similar ao traçado pelo Ocidente. Na era Putin, figuras como Gaidar não tinham qualquer espaço no governo.

Putin claramente desprezava os oligarcas que só pensavam em enriquecer por meio de esquemas fraudulentos e, eventualmente, mandar o dinheiro para fora do país. Os reformistas liberais tentaram oferecer o máximo de liberdade antes de criar regras claras do jogo, e no vácuo dessas regras vieram forças caóticas do mal, como charlatães, brutamontes, gangues criminosas, políticos corruptos, burocratas espertos, mafiosos etc. Foi nesse ambiente que o ex-espião da KGB concentrou boa parte do poder político. A Rússia nunca desenvolveu qualquer respeito pelo império das leis, pelo estado de direito.

Vale notar que Putin foi catapultado ao papel de líder logo no começo de sua gestão como primeiro-ministro, quando uma série de bombas aterrorizaram Moscou. Os supostos terroristas nunca foram encontrados, o que alimentava a suspeita de se tratar de um trabalho interno do serviço secreto russo, ligado a Putin. O prefeito Luzhkov, seu adversário político, teve sua imagem muito desgastada, enquanto Putin culpou os chechenos e lançou uma ofensiva militar em larga escala, fazendo sua taxa de aprovação disparar.

Ninguém conhecia direito o pensamento político de Putin, ou o que ele fizera na KGB. Os próprios oligarcas ainda o encaravam como uma marionete em suas mãos. Mas, após os anos de fraqueza de Yeltsin, os russos pareciam apreciar o estilo firme de Putin, e muitos compartilhavam de seu ódio pelos chechenos. Mesmo os “liberais”, cansados do caos econômico, pediam que Putin fosse o “Pinochet russo”, acreditando que apenas uma ditadura política poderia viabilizar as reformas econômicas de mercado. Putin soube usar isso a seu favor.

Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país

Fechado, discreto, sisudo, Putin nunca participara de competições políticas reais, apenas de jogos de bastidores. Ele era extremamente disciplinado, inclusive a ponto de não demonstrar muita ambição no começo e sinalizar lealdade àqueles que o alçaram ao poder. Ele temia a imprensa, em especial a televisão, e por isso seus primeiros alvos foram os oligarcas da mídia. A censura foi imposta durante a guerra, e nunca mais abandonou a Rússia. Putin não queria destruir o sistema, apenas controlá-lo. Ao destruir Gusinsky e Berezovsky, os dois barões da mídia, o caminho ficou livre para o restante do trabalho.

O caso envolvendo Berezovsky, seu principal “criador”, merece maior atenção. Berezovsky passou a discordar de Putin sobre a guerra na Chechênia, e cometeu o erro de externar sua opinião em público. Putin não tolera isso. Berezovsky chegou a enviar uma carta a Putin alertando para seus erros ao escalar o conflito, impor sua vontade aos governadores e tentar controlar a mídia. Mas o magnata não tinha chance nessa batalha, e acabou vendendo seu canal de TV para Roman Abramovich, aliado de Putin, e fugiu do país.

Como coloca Lilia Shevtsova em Putin’s Russia, o desejo avassalador entre a classe política e os russos em geral era que Putin se mostrasse um líder que poderia trazer ordem ao caos de Yeltsin e acabar com a imprevisibilidade do Kremlin. Ao apostar nisso, porém, os russos permitiram a quase absoluta concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Mãe Rússia um país respeitado e temido novamente.

Enquanto o preço do petróleo continuar alto, Putin tem pouco a temer. Não é possível negar que ele conta com apoio popular. Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país. Muitos são inclusive nostálgicos dos tempos soviéticos, apesar de tudo, apenas por conta do papel geopolítico exercido pela Rússia. Não é uma nova dacha para as férias ou trocar de iPhone todo ano que os move, e sim um sentimento coletivista de pertencer a algo maior.

A economia russa é pequena, quase do tamanho do Estado da Flórida. Mas os russos que apoiam Putin estão preocupados com outras coisas. É um grave equívoco medir Putin pela régua “progressista” ocidental. Trata-se de um autocrata nacionalista obstinado, capaz de tudo para atingir seus fins, e que não vai descansar enquanto a Rússia não for, novamente, um adversário à altura do decadente Ocidente. Aqueles que acreditam que ele pode ser um bom substituto do Ocidente, porém, estão redondamente enganados. Putin é a antítese de tudo que a civilização ocidental representa.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


sábado, 5 de março de 2022

É MEDO OU CONLUIO DA ONU COM A RÚSSIA? - Sérgio Alves de Oliveira

Sobre a invasão do território da Ucrânia pelas forças armadas russas, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e a  omissão prática da ONU, a primeira questão a ser levantada é saber quem nesse episódio foi o mais COVARDE, se a Rússia que atacou a Ucrânia, ou a ONU que não a defendeu como deveria, segundo as suas próprias normas. 
 
Ora, a “punição” decretada tanto pelo Conselho de Segurança, quanto pela Assembleia Geral da ONU, convocada extraordinariamente, em virtude da invasão militar/armada que a Rússia procedeu na Ucrânia, não passou de mera “recomendação” para que os russos  parassem a invasão e se retirassem das terras invadidas ilicitamente.

Mas essa “punição” (recomendação), não passou de uma “punição” tipo “faz-de-conta”, muito mais branda do que seria uma eventual  “punição” de  jogar “pétalas-de-rosa” no caminho das truculentas tropas e blindados russos,por exemplo.

 [faltou incluir o verdadeiro covarde = o ex-animador de auditório, que ainda preside o território da Ucrânia. Referido cidadão se torna por um golpe de sorte, azar dos ucranianos, presidente da Ucrânia e na busca de visibilidade resolve integrar a OTAN - sem nada que justifique a integração pretendida. 
Diante da omissão da Otan - instituição esquecida por muitos anos - e da reação contrária da Rússia, o distinto Zelenski, desprovido de escrúpulos, encontrou os  meios de forçar a Rússia a efetuar uma operação militar especial,  'surgindo'  uma guerra na qual o presidente  ucraniano além das forças do seu país só tem palavrórios, discursos vazios, prometendo ajuda.
Usa covardemente o povo ucraniano, para atender seus anseios imperialistas. Crime dos ucranianos: VOTAR ERRADO. (Quanto a ONU sua existência é tão sem sentido quanto algumas instituições - no Brasil e no mundo.)] 

Por isso fica evidenciado que a “defesa” da Ucrânia pela ONU não passou de uma “defesa” “fake news”,para “inglês ver”,como se diria,e que em última análise se constituiu  numa espécie de “aprovação” disfarçada dessa estúpida invasão,tentando enganar todo o mundo no sentido contrário,ou seja,de que estaria usando de todos os meios possíveis para restabelecer  a paz.

Qualquer estudante de direito aprenderia já  na primeira aula de direito penal que o crime tanto pode ser por “ação”,quanto por “omissão”. O mesmo princípio, evidentemente, se aplica no direito internacional. Por isso a ONU agiu “criminosamente”, por omissão,ao não observar a própria Carta das Nações Unidas,como deveria.

A “punição” da ONU se limitou a consentir nos bloqueios e boicotes  políticos, econômicos e comerciais aos interesses russos. Para tanto recorreu ao disposto no artigo 41 da Carta das Nações Unidas, mas que não “funcionaram” ,como deveriam, no sentido de afastar as tropas russas do território da Ucrânia,mas que,ao contrário,continuaram avançando sem tréguas território adentro. Como “bom” ex-KGB, Putin não deu ouvidos à ONU, embora o seu país seja um dos membros, inclusive integrante do Conselho Permanente  de Segurança da organização.

Por tudo isso a obrigação da ONU deveria ter  sido recorrer imediatamente ao artigo seguinte da “Carta”,o “42”, determinando o imediato emprego de força armada para tal fim: (art.42) “ No caso do Conselho de Segurança concluir que as medidas previstas no artigo 41 seriam, ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito por meio de forças aéreas, navais e terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais”. [a menção pelo ilustre articulista do artigo 42, nos faz lembrar que dispositivos legais terminando pela dezena 42, tipo artigo 142 da CF, são sempre de aplicação complicada, evitada. 
No caso da ONU o risco, o receio é que o uso de forças aéreas, navais e terrestres contra uma potência nuclear pode ter resultados altamente negativos. Para aumentar os riscos do já perigoso, a abundância de usinas nucleares na Ucrânia, torna complicado o emprego até de artilharia pesada ou uso de bombas convencionais.]

Seria a ONU,por conseguinte, mais um organismo internacional “inchado”, ”aparelhado” pela esquerda, marxismo cultural, ou progressismo,tomando partido, dissimuladamente, disfarçadamente, nessa “peleia” entre a Rússia e a Ucrânia,”fingindo”a busca da “paz internacional”,porém sem usar os métodos autorizados na própria “Carta”? [PARABÉNS !!! ao ilustre Sérgio pela forma magistral com que definiu a ONU, deixando claro a inutilidade de tal organização. Aliás, ao nosso entendimento, a ONU no contexto atual e o Biden nos Estados Unidos, praticamente impõe a necessidade de um Vladimir Putin.]

Ou a ONU simplesmente “amarelou”, frente às ameaças de Putin,e suas bombas nucleares?

Medo da Rússia, em resumo?

Sérgio Alves de Oliveira - advogado e sociólogo


domingo, 27 de fevereiro de 2022

Contra as democracias - Carlos Alberto Sardenberg

Nikolai Patrushev é o chefe do Conselho de Segurança Nacional da Rússia e o principal ideólogo da “turma” de Vladimir Putin, um grupo de ex-membros da KGB que comanda o governo. Sua visão básica: o Ocidente pretende esmagar a Rússia, impondo-lhe “agressivamente os valores neoliberais que contradizem nossa visão de mundo – conforme citado em The Economist, edição de 19/25 de fevereiro.

Qual visão de mundo? Não é a volta do comunismo,  inclusive por razões pessoais. E  dinheiro. Esses ex-agentes da KGB, como o próprio Putin, acumularam fortunas quando o caiu o regime soviético e foram introduzidas reformas capitalistas. E acumularam não por sua capacidade como investidores. Foi roubo.

Primeiro, nas privatizações das grandes estatais. Aqueles funcionários tiveram acesso privilegiado a informações e a “moedas de privatização”, como títulos da dívida pública, vendidos a preço de banana e aceitos a preço de ouro na compra das estatais.

Depois, seguiram ganhando concessões “informais” de negócios nas áreas de energia, infraestrutura e bancos, principalmente.

Em resumo, um caso de capitalismo de amigos, levado ao limite.

Ao mesmo tempo, porém, foram de fato introduzidas reformas capitalistas, como o amplo direito à propriedade privada de bens e serviços, a proteção do lucro e abertura de negócios para o exterior. Há uma política econômica baseada em metas de inflação, controle das contas públicas e taxa de câmbio mais ou menos flutuante. Com empresas privadas e seus acionistas, a bolsa de valores de Moscou passou a ser um alvo de investidores ocidentais.

Nesse quadro, surgiram magnatas não oriundos do regime soviético, mas investidores e negociantes que souberam aproveitar oportunidades na Rússia e, depois, em toda a Europa ocidental. A formação de uma classe média cosmopolita foi a consequência direta – classe que se sente europeia.

Por que, então, o ideólogo de Putin tem tamanha bronca dos “valores neoliberais”? Ele está se referindo  aos direitos e liberdades individuais. Na visão de mundo de Putin e sua turma, a democracia à ocidental é ineficiente, incapaz de gerir a economia e a sociedade. Dito de maneira direta: oposição só cria caso e atrapalha o governo; imprensa livre ?[que tal substituir o livre por militante? ] só serve para inventar fake news; as minorias são um estorvo; liberdade partidária divide o povo. [infelizmente, com exceção do último item, o Brasil já é vitima das três primeiras mazelas.]

Essa é também a visão de mundo da China. Quando as democracias ocidentais enfrentavam dificuldades para lidar com crises financeiras e com a pandemia, o presidente Xi Jin Ping decretou o fim desse “modelo” e o sucesso do modo chinês de administrar um capitalismo de Estado.

De certo modo, Putin cometeu um erro ao acreditar demasiado nessa versão.  Para ele, as democracias ocidentais – com suas liberdades dentro e fora dos países – jamais conseguiriam se unir para enfrentar seu expansionismo. E foi o contrário, pelo que se vê até agora. Entre as principais democracias, foi praticamente unânime a  condenação da Rússia e o acordo para a imposição de pesadas sanções econômicas ao governo, às empresas e às pessoas.[o problema é que como bem lembrou o presidente do território da Ucrânia, uma guerra se faz com "munição", armas e soldados = comícios e ofertas de meios para fuga não resolvem guerras.]

Sim, o Ocidente também pagará um preço pelo bloqueio aos negócios russos, que estão mergulhados principalmente na economia europeia. Mas a ideia é provocar uma reação das elites empresariais russas e das classes médias. Até agora, as elites, em privado, manifestavam desagrado com o regime. Mas como estavam ganhando dinheiro e em expansão, bom deixa pra lá. Declaravam-se neutras e não se metiam em política.

Mas se a economia russa for levada a uma forte recessão e perda de riqueza, muita gente por lá vai cogitar: tudo isso para anexar a Ucrânia? Tudo isso para alimentar as ambições sanguinárias de Putin? Não existe a possibilidade de uma invasão na Rússia para derrubar o governo Putin. Seria iniciar uma guerra mundial nuclear. Mas é real a possibilidade de os próprios russos perceberem os danos causados pela turma do Putin.

Também é real a possibilidade de Putin endurecer ainda mais o regime ao se sentir pressionado internamente. Mas esse é um problema que os russos terão de resolver.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista