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sábado, 26 de maio de 2018

O colapso dos combustíveis

Refém de uma paralisação que afetou a vida de todos o brasileiros, governo se vê obrigado a ceder à pressão de caminhoneiros, reduz impostos e passa a subsidiar o preço do diesel. Relutância da categoria em abandonar o movimento leva a convocação das Forças Armadas para liberar as estradas e garantir o transporte de cargas

Não foi por falta de aviso. Eram claros os sinais de que a escalada de preços dos combustíveis, reajustados nas bombas quase diariamente, acabariam inflamando os ânimos de quem transporta cargas pelo País. Na quarta-feira 16, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que congrega boa parte dos sindicatos de caminhoneiros, havia levado ao governo federal um ofício pedindo o congelamento do preço do diesel e a abertura de negociações sobre a política de reajustes praticada pela Petrobras. Àquela altura, o valor pago pelo combustível acumulava alta de 55% desde julho de 2017, quando a estatal passou a repassar o custo dos derivados de petróleo de acordo com as oscilações do mercado internacional e da variação cambial ­— ambas em ascensão vertiginosa. A estratégia vinha ajudando a empresa a recuperar valor de mercado, com um desempenho financeiro invejável após anos de corrupção, incompetência e manipulação populista. A salvação da Petrobras era aplaudida pelo mercado e por analistas. Até que a conta dos combustíveis se tornou inviável. 

Uma reação orquestrada por transportadoras e protagonizada por caminhoneiros levou o País ao completo colapso em menos de 100 horas. Nem mesmo quem convocou a paralisação, inicialmente programada para durar apenas um dia, poderia imaginar que em tão pouco tempo o Brasil ficaria com um tenebroso aspecto venezuelano: faltam alimentos, remédios, a atividade industrial sucumbe à escassez de insumos — e o perverso efeito da falta de combustíveis e dos mais de 500 bloqueios em estradas produz o caos generalizado.

47,2 bilhões de reais é o quanto a Petrobras perdeu em valor de mercado com a paralisação


Depois do colapso provocado pela paralisação, a Petrobras decidiu suspender a política de reajuste automático. O governo precisou ir além na tentativa de convencer os caminhoneiros a voltar ao trabalho. Além da extinção da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre o diesel, que representa uma redução de apenas R$ 0,05 no litro do combustível, o acordo com as lideranças grevistas firmado na noite da quinta-feira 24 obrigou o Planalto a oferecer um subsídio para o combustível até o final do ano. 

Em vez de reajustar os preços diariamente, a Petrobras fará ajustes mensais e a diferença será coberta pelo governo. As perdas em arrecadação podem atingir R$ 5 bilhões até o final do ano, de acordo com a perspectiva otimista dos integrantes do governo que participaram das negociações. Há quem estime um efeito cascata que poderia elevar a conta a mais de R$ 13 bilhões. Para a Petrobras, que concordou em reduzir o preço do diesel em 10% por 15 dias, em caráter emergencial como forma de convencer os caminhoneiros a liberar as estradas, o prejuízo já está calculado: com as ações da estatal desvalorizadas em 15%, o valor de mercado da petroleira recuou R$ 47,2 bilhões. Como o acordo prevê que o preço do diesel fique congelado por 30 dias nas refinarias (ao valor de R$ 2,10, o mesmo de 5 de maio), as perdas podem ser ainda maiores. E nem mesmo o recuo do governo trouxe o País à normalidade. Como a proposta foi aceita por apenas oito das 11 entidades que representam os caminhoneiros, cerca de 700 mil motoristas pretendiam manter bloqueios nas estradas.

“Enquanto o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), não entregar o projeto votado e assinado pelo presidente (Michel Temer), da minha parte não levanto o movimento”, afirmou José da Fonseca Lopes, líder da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam). Diante da recusa de parte dos caminhoneiros em suspender a paralisação, na tarde da sexta-feira 25 o presidente Michel Temer convocou as Forças Armadas para desbloquear estradas. Em seu pronunciamento, Temer afirmou que os caminhões não poderão ficar nem nos acostamentos. A prioridade será garantir o abastecimento de termelétricas e de aeroportos. “Quem bloqueia estradas e age de maneira radical está prejudicando a população. Vamos garantir a livre circulação e o abastecimento”, afirmou. A falta de combustíveis obrigou pelo menos dez aeroportos a suspender as operações, entre eles o da capital federal. Segundo a Infraero, Recife, Ilhéus, Goiânia, Palmas, Maceió, Carajás (PA), São José dos Campos (SP) e Uberlândia (MG) operavam em situação crítica de abastecimento. O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um dos mais movimentados do País, conseguiu ser reabastecido por caminhões-tanque escoltados pela Polícia Militar. Centenas de voos foram cancelados e as empresas aéreas adotaram planos de contingência, além de oferecer isenção da taxa de remarcação de voos aos passageiros.

Combustão espontânea
A rápida adesão de motoristas de todo o País ao movimento levantou suspeitas de que a paralisação seria encabeçada de fato pelas transportadoras, o que configuraria “locaute” — nome dado a greves em que os empresários é que cruzam os braços para defender seus interesses econômicos. A prática é proibida por lei. “A explicação mais direta, óbvia e incompleta para o que está acontecendo é que o preço do diesel sofreu uma elevação muito acentuada. Quando falamos de transporte, falamos de motoristas autônomos que não têm uma margem de lucro para absorver essa variação, e isso estrangula a operação. Mas existem outros fatores”, diz Paulo Furquim de Azevedo, professor de Regulação do Insper. Segundo ele, depois de passar por uma das maiores recessões de nossa história, da qual estamos saindo, o poder de compra da população ficou reduzido a ponto de pressionar quem vende drasticamente suas margens. “Esse custo está caindo em cima do transporte, que não consegue repassá-lo. Os caminhoneiros viram que têm um poder muito grande de travar a economia rapidamente”, afirma. Foi o que se viu na semana passada. A categoria que fez o Brasil parar é formada por uma massa de trabalhadores autônomos (37% do total) e assalariados que ganham em média quatro salários mínimos. A atividade de transporte de cargas vem se tornando mais estratégica para a economia por vários motivos. Quanto melhor a gestão de empresa, menor seu estoque. É um sinal de eficiência, porque assim são reduzidos custos, mas aumenta-se a dependência de logística. A greve mostrou que dois dias são suficientes para comprometer as operações de quase todo o comércio brasileiro, sobretudo de itens perecíveis, e de boa parte da indústria.


13,5 bilhões de reais é a perda de receita com a retirada do PIS/Cofins do diesel
Acabou
 
O estoque durou até sexta-feira na maior parte dos postos do País. Até as bombas secarem de vez, consumidores enfrentaram horas nas filas para poder encher o tanque. Protesto contra os preços dos combustíveis ganhou adesão de empresas de ônibus, motoristas que usam aplicativos e até motoboys.

MATÉRIA COMPLETA, leia em IstoÉ

 

terça-feira, 22 de maio de 2018

Dilema do combustível

Controlar o preço da gasolina já deu errado muitas vezes no passado


Nos governos do PT, causou prejuízo de US$ 40 bi à Petrobras. No arsenal de medidas contra a alta dos combustíveis não há solução boa. O governo pensa em reduzir impostos, e a reunião do presidente Temer com a Petrobras aumenta o risco de intervenção nas decisões da empresa. No governo Dilma houve as duas coisas: redução de tributos e intervenção na Petrobras. Só à estatal isso custou US$ 40 bilhões. Perdeu-se receita sem que houvesse ganho para o país.

Que o dilema apareceria era previsível. Os preços oscilaram conforme as cotações internacionais enquanto não tinham disparado. Mas agora o barril está acima de US$ 80. Entre o dia primeiro de maio e esta terça-feira, a gasolina foi reajustada pela Petrobras em 15,5% e o diesel subiu 13,6%. Um aumento nessa proporção pesa ainda mais porque a economia está tentando se recuperar de uma longa recessão, e o percentual parece desproporcional para um país que está com inflação abaixo de 3% ao ano. Além disso, a eleição está chegando, e a tentação intervencionista aumenta. Diante disso, fazer o quê? Repetir os erros do passado?

Parece justo evitar a alta dos preços da gasolina, dado que esse não é o custo da Petrobras, e sim o valor da cotação externa. Esse raciocínio sempre aparece nas campanhas eleitorais na boca dos candidatos. O problema é que na economia se trabalha com o conceito de custo de oportunidade. Se a Petrobras exportar terá esse ganho. Se vender aqui mais baixo — por imposição governamental terá prejuízo. A empresa passa, então, a ser usada pelos governantes para fazer política de preços. Esse tipo de intervenção na estatal prejudica principalmente o seu maior acionista, o Tesouro.

Fazer populismo com o preço dos combustíveis é um caminho sem volta. Nos governos do PT isso prejudicou os cofres públicos e a empresa. Primeiro, a Cide passou a ser reduzida até ser zerada, depois outros impostos foram diminuídos, a empresa passou a absorver o custo. Chegou a importar mais caro do que vendia. Criou-se um círculo vicioso. O subsídio aumentava, isso estimulava o consumo, o que elevava o prejuízo da Petrobras e piorava a perda tributária. O subsídio aos combustíveis fósseis durou anos, não evitou a inflação, o preço represado um dia teve que ser corrigido, e o setor de etanol entrou em crise.

O governo Temer discutiu ontem a possibilidade de reduzir tributo para que a alta dos combustíveis não seja tão alta. O problema é de onde tirar. Quase metade do preço da gasolina é imposto, 45%, sendo que desse percentual os estados ficam com 29 pontos através do ICMS, e 16 pontos percentuais são PIS/Cofins e Cide, segundo a Petrobras. O consultor e especialista em energia Adriano Pires acha que o menos prejudicial seria se a base sobre a qual incide o ICMS fosse fixada em um preço como R$ 4,00. Eles teriam a sua arrecadação e não mexeriam na alíquota que é de 25% em São Paulo e de 34% no Rio. Mas acha que os estados não vão aceitar. Ele lembra que se o governo diminuir imposto sobre combustível fóssil terá também que diminuir o tributo sobre o etanol. — Na verdade, a melhor forma de fazer essa mitigação das oscilações cíclicas dos preços de petróleo seria ter uma Cide alta quando a cotação caísse, e baixa quando o preço internacional subisse — disse Pires.

A Cide foi pensada para funcionar dessa forma, com uma alíquota flexível. O que houve é que o governo passado zerou o imposto e quando ele voltou foi com um valor muito baixo. O governo Temer preferiu aumentar o PIS e o Cofins. A Petrobras argumenta que tem controle apenas sobre um pedaço da cadeia de custos, que é o preço da gasolina nas refinarias. Segundo a empresa, isso representa 32% do valor final nos postos de gasolina. Sobre todo o resto, o preço do etanol que é misturado, os impostos, as margens da distribuição e revenda, ela não tem ingerência. Para evitar a confusão, passou a divulgar o preço na refinaria.  — O petróleo é preço cíclico. Agora está subindo por causa da Síria, acordo com Irã, Venezuela. Além disso, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita quer fazer um IPO da Saudi Aramco e está forçando o preço com corte de produção — conta Adriano.

O custo é de fato influenciado por fatores geopolíticos, mas o Brasil já tentou diversas vezes controlar o preço do combustível e só criou distorções na economia. O risco é repetir os erros do passado.

Blog da Miriam Leitão - O Globo

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Alexandre Pato, jogador do Corinthians, estreia como o pato da Dilma: Dilma começa ajuste fiscal aumentando imposto sobre salários dos jogadores



 Como o imposto de Dilma sobre direito de imagem vai afetar o bolso dos jogadores
Pato terá de pagar R$ 1,4 milhão a mais ao governo, por exemplo, por causa de aumento nos tributos adotado pela presidente 

Alexandre Pato vai engrossar a lista de descontentes com o governo de Dilma Rousseff a partir de 2016. A equipe econômica da presidente decidiu aumentar a tributação sobre direitos de imagem. Muito. E o  jogador do Corinthians, emprestado ao São Paulo, exemplo de atleta que ganha a maior parte de sua remuneração mensal como direito de imagem, vai ter de pagar mais imposto. Muito mais.

A economia entrou em recessão, anda para trás, e o governo federal quer fechar a conta com um combo ingrato: cortes orçamentários e aumentos de impostos. No pacotão de tributos que vão ficar mais altos a partir do ano que vem, entraram os direitos de imagem de atletas e artistas. Nos cálculos de Joaquim Levy e Nelson Barbosa, ministros da Fazenda e do Planejamento, vão entrar R$ 615 milhões a mais nos cofres públicos por causa desta medida.

No futebol, funciona assim: da remuneração mensal de um jogador, parte é paga como salário, igual ao teu, registrado em carteira de trabalho, e parte é paga como direito de imagem. Os clubes a desembolsam para poder colocar a cara do atleta na televisão, na internet e no game que você joga no console. O mercado diz que a maioria dos atletas brasileiros recebe apenas salário da carteira de trabalho, e que direito de imagem é coisa para Neymar, Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato. Não dá para ter a dimensão exata porque nem CBF, nem Bom Senso FC têm esses dados organizados.

Voltemos ao Pato. O são-paulino recebe R$ 800 mil por mês, dos quais R$ 300 mil são salário e R$ 500 mil são direitos de imagem – jogador nenhum gosta de revelar quanto recebe, mas neste caso advogados do rapaz tiveram de informar os números na ação que movem contra o Corinthians na Justiça, uma outra história. Os R$ 300 mil de salário não têm nada a ver com o imposto mais alto que Dilma quer cobrar. São os R$ 500 mil  em direitos de imagem que interessam aqui. Se você não tem paciência para cálculo de imposto de renda, pule os próximos dois parágrafos e volte a ler, combinado?

O imposto sobre direito de imagem, até 2015, é calculado da seguinte maneira: do valor recebido, são considerados 32% para fazer a tributação. É a base. Desta parcela, são cobrados 15% de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), mais adicional de 10%, e 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Fora 3,65% de PIS/Cofins. Para resumir, no fim do papel o jogador de futebol deve 14,5% em imposto sobre o valor total que arrecada com imagem. Se Pato ganha R$ 500 mil por mês, são R$ 6 milhões no ano e, vejamos, o imposto chega a R$ 870 mil. Muito dinheiro, mas ficará pior.

A partir do ano que vem, muda que o imposto será aplicado sobre 100% do valor recebido, não mais somente 32%. Some IRPJ, CSLL e PIS/Cofins, e a alíquota vai a 37,6%. A quantia que Pato terá de pagar saltará a cerca de R$ 2,25 milhões. ÉPOCA, claro, teve a ajuda de Ronaldo Apelbaum, especialista em direito tributário, para fazer este cálculo que vale sobre o lucro presumido da empresa que recebe os direitos de imagem do atleta. A conta pode variar caso o jogador receba os direitos de imagem por meio de mais de uma empresa ou também via pessoa física, mas dá boa ideia do impacto.

A diferença entre o que Pato paga até 2015 e o que passará a pagar em 2016 é de quase R$ 1,4 milhão. É tanto dinheiro que não fará diferença receber tudo como salário, em carteira, ou em partes como acontece hoje. O imposto sobre pessoa física fica em 38%, soma de 27,5% da alíquota do IR mais contribuições previdenciárias, os mesmos 38% que serão cobrados sobre direitos de imagem. É assim que a turma de Dilma quer induzir atletas a receber suas remunerações como salários e acabar com a farra dos direitos de imagem. Se atletas e clubes irão mudar o formato de seus contratos, saberemos em 2016.

Fonte: Revista Época

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Governo aceita agenda proposta por Renan para conter avanço da crise - Resta saber o preço cobrado por Renan e a credibilidade da proposta




Em nova tentativa de superar a crise política, a presidente Dilma Rousseff vai encampar o pacote de propostas apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para reerguer a economia. Para o Palácio do Planalto, a pauta é a chance que o Executivo tem para montar uma “agenda positiva” e tentar desviar o foco das ameaças de impeachment.


O pacote foi repassado nesta segunda-feira (10) por Renan e aliados aos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento), Edinho Silva (Comunicação Social) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Ao todo, são 27 propostas legislativas divididas em três grandes eixos: a melhoria da proteção social, do equilíbrio fiscal e do ambiente de negócios.


De acordo com senadores da base, a sinalização de apoio às iniciativas ocorreu por parte de Dilma em reunião com líderes partidários do Senado, antes de receber líderes e parlamentares da base aliada para um jantar no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência.


Gleisi ataca ministros políticos do TCU de oportunismo

“Aproveitamos o encontro e a comunicamos das propostas. Ela disse que já havia recebido o material de Michel Temer (vice-presidente e articulador político do governo) e que gostou. Ela até marcou um encontro na quinta-feira para dar continuidade nas conversas”, afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).


O fato de a agenda ter sido sugerida por Renan dá protagonismo ao presidente do Senado num momento em que o governo precisa dele para rejeitar a chamada pauta-bomba” de projetos com aumento de gastos, isolando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Renan também é hoje considerado no Planalto como “fiel da balança” para segurar eventual processo de impeachment de Dilma no Senado. [o inicio do processo de impeachment ocorre exclusivamente na Câmara dos Deputados; após aceitação pela Câmara dos Deputados é que o processo vai para o Senado com a finalidade de julgamento, sendo que todo o processo de julgamento no Senado Federal ocorrerá sobre a presidência do ministro presidente do Supremo.]


O presidente do Senado estava afastado do Planalto desde março, na esteira do seu envolvimento na Operação Lava Jato. Um ministro disse que a agenda apresentada por Renan ajuda o governo a preparar o pós-ajuste. Em mais de uma ocasião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes do PT pediram a Dilma que virasse a página do ajuste fiscal e começasse a falar do que virá depois.


Agenda

Entre as medidas apresentadas no pacote de Renan está a aprovação de uma proposta que vincula a política de desonerações da folha de pagamento de empresas ao cumprimento de metas ou de preservação de emprego. Essa foi uma das medidas que mais agradaram ao Planalto. Auxiliares da presidente dizem temer que o projeto feito para rever as desonerações da folha das empresas, última etapa do ajuste fiscal, aumente as demissões.


Os projetos sugeridos também preveem um novo modelo de financiamento do Sistema Público de Saúde (SUS), além da realização de duas reformas tributárias: uma envolvendo o ICMS e outra do PIS/Cofins. “Vamos apreciar todos os pontos do ajuste dentro dessa lógica da agenda”, afirmou Renan.

Fonte: Folha de São Paulo

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Governo Dilma aperta o cinto do contribuinte sem apertar o próprio



Economistas defendem redução das despesas públicas para cumprir o ajuste fiscal prometido, que até agora só alcançou a população ao aumentar os tributos
Desde o fim do ano passado, a nova equipe econômica do Governo Dilma vem anunciando uma série de medidas pouco populares para tentar diminuir o rombo nas contas públicas, incluindo a elevação de tributos e o ajuste nas regras para o acesso ao seguro-desemprego, pensões e auxílio doença. As práticas, que destoam das promessas da presidenta durante a campanha eleitoral, pesam no bolso do contribuinte, enquanto o Governo não dá sinais claros de que passará a tesoura nos próprios gastos para alcançar a meta de poupar 66,3 bilhões de reais. Esse valor corresponde a 1,2% do PIB, que é o superávit primário prometido para 2015. "O que eles fizeram foi apertar o cinto da classe média ao invés de apertar o próprio cinto. Chega a ser incoerente o ajuste na receita com aumento de impostos diante da gastança do Governo nos últimos anos", afirma o professor de economia do Ibmec Alexandre Espírito Santo. De acordo com o especialista, na última década, houve um aumento de despesa na ordem de 10% ao ano. Em 2014, as contas do Governo Central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) registraram o primeiro déficit primário em 18 anos, de 17,24 bilhões de reais.

Para ajudar a aumentar a arrecadação do país em cerca de 20,63 bilhões neste ano - valor necessário para fechar as contas projetadas - o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou quatro medidas que envolvem a cobrança de tributos em um momento que o brasileiro já paga impostos elevados. Uma das principais medidas foi a elevação das alíquotas de PIS/Confins e Cide sobre os combustíveis. O aumento conjugado dos dois tributos responde por uma alta de 22 centavos para a gasolina e de 15 centavos para o diesel. O Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), incidente sobre pessoa física, dobrou: passou de 1,5% ao ano para 3%.

As outras medidas foram: ajuste da alíquota do PIS/Cofins sobre a importação, de 9,25% para 11,75%, e a equiparação do atacadista ao industrial no setor de cosméticos para aplicar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Outra decisão que não favoreceu o trabalhador foi o veto ao reajuste de 6,5% na tabela do Imposto de Renda. Se o aumento tivesse sido aprovado, as pessoas que ganham até 1.903,98 reais não precisariam prestar contas à Receita Federal.  Para o economista Paulo Rabello de Castro, as medidas anunciadas só irão trazer mais recessão e não contribuirão para a queda da inflação, que ainda se mantém no teto da meta. "Se o Governo não tem uma política econômica capaz de cortar um pouco das despesas do grande gastador, que é o setor público, e ainda produz recessão justamente no setor produtivo, ele não pode esperar que o Brasil cresça", explica. Uma pesquisa feita entre instituições financeiras pelo Banco Central mostra que a projeção do mercado é de que o país tenha um crescimento nulo em 2015. 

Enquanto a lei orçamentária não é aprovada pelo Congresso (a votação deve acontecer ainda neste mês), os gastos da máquina pública são limitados a 1/12 do valor que está projetado na lei. O Governo também decretou, no último dia 8, um corte provisório de 33% sobre as despesas não obrigatórias, como viagens, diárias e gastos administrativos. De acordo com a assessoria do Ministério do Planejamento, essa limitação provisória significará um bloqueio mensal de 1,9 bilhão de reais e preserva os recursos de investimento e as ações prioritárias nas áreas de Saúde e Educação. Mas, a avaliação geral é que essas medidas são insuficientes.  "Até agora só foram feitos cortes avulsos, de vento. Quando se falará de uma regra para o Governo se ajustar? É necessário uma reforma geral. Nunca houve um plano real de contenção que determine que os gastos públicos precisam crescer como uma fração proporcional ao PIB. Há 20 anos, colocam o cidadão para pagar esse ajuste. É uma surra no contribuinte, nem na Grécia se aplicou algo desta maneira", afirma Castro.

Votação do Orçamento Impositivo
Nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tentará colocar em votação a PEC do Orçamento Impositivo. De acordo com o texto, as emendas parlamentares individuais devem ser executadas até o limite percentual de 1,2% da Receita Corrente Líquida da União do ano anterior. Metade desse valor deve, obrigatoriamente, ser destinada  a programas na área de saúde. Na soma total, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015 prevê 9,6 milhões de reais, cerca de 16 milhões de reais por parlamentar, que não poderão ser atingidos por cortes. 

De acordo com Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, a execução das sugestões de gastos feitos pelos parlamentares pode interferir na lei do Orçamento que ainda será votada. "Como as emendas possuem um teto e metade do valor irá para a saúde, talvez o Governo reduza um pouco das propostas para o Ministério da Saúde. Porém, é importante destacar que o Orçamento da União é autorizativo e não impositivo. Dessa forma, ele pode sofrer alterações", explica Almeida.

Ainda segundo o especialista, mesmo que o Governo tenha evitado o tema, a redução nos investimentos parece inevitável. "É a única despesa que conseguiria cortar de forma rápida os gastos públicos. O próprio Joaquim Levy, como secretário do Tesouro em 2003 no governo Lula, adotou essa medida fiscal e cortou 50% dos investimentos", afirma. 

Enxugamento da máquina pública
A presidente Dilma Rousseff já deixou claro que não pretende fechar ministérios para controlar os gastos, pois em sua opinião o problema das despesas não é a quantidade de pastas do Governo, que hoje já somam 39. "Por mais que fosse o caso de optar por enxugar a máquina administrativa ou cortar secretarias, o Governo atual e seu apoio político não permitem este tipo de reforma", afirma João Sayad, doutor em economia.  O professor Alexandre Espírito Santo calcula que um corte de metade dos ministérios geraria uma economia de 0,6% do PIB e a demissão de 20% dos funcionários ajudaria a poupar 0,4% do PIB. "É claro que não é necessário fazer esse tamanho de corte, mas poderia se pensar em acabar com pelo menos uns cinco ministérios, temos funcionalismo em excesso", explica Santo.

Ainda de acordo com o especialista, no atual momento, Levy está preocupado em entender os "reais esqueletos escondidos no armário" do Governo. "Este será um ano muito difícil, de transição, vão precisar de um tempo considerável para ajeitar as contas. A questão da queda de preço das commodities, sem perspectiva de alta neste ano, torna ainda mais difícil esse panorama", completa.


Fonte: El País