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sábado, 16 de novembro de 2019

Servidores desnecessários - O Globo


Ascânio Seleme

Funcionários públicos que trabalham para governos e não para o Estado fazem parte da história da burocracia nacional 

São sem-número os exemplos de funcionários públicos que trabalham para governos e não para o Estado. Me refiro aos que foram contratados para servir o país e funcionam apenas em favor do governante, de sua causa, em prol de sua reeleição, protegendo os seus aliados, atacando seus adversários, escondendo os seus erros, enaltecendo muito além da verdade as suas virtudes. No Brasil, este tipo de servidor faz parte da história da burocracia nacional desde a proclamação da República. 

Funcionários que desrespeitam a sua condição de servidores da Nação e dos cidadãos são maus funcionários. No governo Bolsonaro eles ocupam todo tipo de função, do escalão mais primário até o núcleo íntimo do presidente, e não estão somente no Executivo. Espalham-se pelos outros poderes e trabalham sempre em favor do resultado político do governo, e não pelo sucesso de políticas governamentais. 

Nos governos de Lula e Dilma eles também estavam muito bem alojados em todos os quatro cantos da administração. Da mesma forma ocupavam cargos em outros poderes e tinham o mesmo objetivo, operar exclusivamente em favor do lulopetismo. Eles não se incomodam em trair as expectativas dos brasileiros, se essa for a orientação do seu superior, e não acrescentam uma vírgula que represente ganho ao contribuinte que paga os seus salários. O Brasil não precisa desse tipo de servidor. 

O aparelhamento petista da máquina administrativa federal, que foi desmontado após o impeachment de Dilma, vai dando agora lugar a outro aparelho, o bolsonarista. Ambos são nocivos aos interesses do Brasil e dos brasileiros. Um exemplo de como este tipo de funcionário se excede aconteceu no mensalão. Ao deixar o partido, por ver o PT se afastar “dos ideais éticos e morais”, o jurista Hélio Bicudo foi brindado com a seguinte postagem de um assessor de Lula: “Bicudo prova que não existe idade para uma pessoa se tornar um bom fdp”. 

Muito parecido com o que faz agora um bando de moleques instalado no Palácio do Planalto operando redes de achincalhamento político. Esses operadores usam robôs para espalhar elogios a Bolsonaro, bater palma para toda barbaridade proferida pelo presidente, seus filhos, seu guru ou seus ministros ideológicos, e atacar com ofensas de baixo nível qualquer um que pense de maneira diferente. 

O mais emblemático servidor que trabalhou para o governante e não para o país foi Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. Nomeado para cuidar da segurança pessoal do chefe do Estado brasileiro, Fortunato virou o seu faz tudo, seu braço direito. Era tão fiel a Getúlio, e não ao Brasil, que resolveu trocar o papel de guarda-costas do presidente para o de agressor dos inimigos do chefe. Deu no que deu.
[pelo inicio da matéria se é levado a pensar que funcionários públicos trabalhando em prol do governante é a regra.
Mas, o exemplo mais irrefutável remonta aos anos 50.
Indiscutível que no petismo o aparelhamento se tornou a regra mas é citado apenas no exemplo do Bicudo e de forma enviesada.]

O Brasil está farto de servidores que atendem ao privado e não ao coletivo. Embora inúteis e desnecessários, estão incrustados no Executivo, no Legislativo, no Judiciário e no Ministério Público. A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que vestiu a camisa de Bolsonaro, posou para foto ao lado do deputado que destruiu uma placa com o nome de Marielle Franco, e depois julgou-se isenta para fazer parte da equipe de investigação do assassinato da vereadora, é funcionária desta categoria

[irônico é que criminosos, bandidos, foram  os que violando as leis,  colocaram a placa de forma arbitrária, ilegal, usurpando competência da prefeitura, causando danos ao patrimônio público -  mas, alguns articulistas insistem em demonizar os cidadãos que decidiram destruir o produto do crime = a placa colocada ilegalmente.

Além do crime de dano ao patrimônio público - destruíram a placa antiga, legalmente colocada - os criminosos incorreram na prática de danos morais aos familiares do homenageado pela placa que destruíram.
Isso ninguém lembra.

Já a ilustre procuradora apenas usou o seu direito legítimo de cidadão: "As pessoas confundem o que é uma atividade político-partidária com a opinião político-partidária" .

Aliás, os pais da vereadora lamentam seu afastamento do caso - afastamento que ocorreu  a pedido da promotora. Confira entrevista.] Carmen Eliza é desnecessária. 

Macarrão para chinês ver
Todo mundo sabe como o presidente adora uma massinha. No Japão, ele comeu miojo ao chegar no hotel depois de um banquete imperial. Na quinta, Bolsonaro mandou servir macarrão ao presidente do país que inventou a massa . No almoço oferecido ao chinês Xi Jinping, o cerimonial serviu macarrão como prato principal. Quem provou disse que ele estava mais que al dente, estava duro, num ponto pouco além do cru. 

Desrespeito
O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, do MDB, avisou que não vai mais receber mulheres sozinho em seu gabinete. Se fará acompanhar em todas as visitas por um assessor. Disse estar atendendo ordem da sua mulher , depois de um vereador amigo ter sido acusado de assédio sexual. O prefeito está, na verdade, desrespeitando as mulheres mato-grossenses, como se todas estivessem prontas para dar um golpe em sua excelência. 

Aula de comunismo
Carlos Bolsonaro foi a uma livraria na Barra e se deparou com um grupo discutindo a Revolução Russa. Ao ver aquela turma falando de Lenin, Trótski e Marx , o vereador procurou um funcionário da livraria e perguntou: “Desde quando vocês dão aula de comunismo aqui?”. O funcionário disse que não era aula de comunismo mas uma etapa de um ciclo de estudos sobre as grandes revoluções da história. Insatisfeito, o Zero Dois circulou, contou o número de presentes, e dirigiu-se ao segurança da livraria. Talvez achando que o uniforme os aproximava, perguntou a ele sobre a aula de comunismo. O segurança, educado, respondeu: “Não se trata de aula de comunismo, senhor, mas de um debate sobre revoluções”. Pois é. 
[a classificação usada por funcionários da livraria fala em debate e ciclo de estudos que não descaracterizam a classificação usado por Carlos Bolsonaro.] 

Um degrau acima
Na foto feita na escadaria interna do Itamaraty com os presidentes dos Brics, o líder russo Vladimir Putin, que deveria posicionar-se entre Xi Jinping e Bolsonaro, subiu sutilmente um degrau. Preferiu ser o último da fila a parecer baixinho ao lado do poderoso chinês e do prosaico brasileiro.

No Blog Ascânio Seleme, em O Globo, leia MATÉRIA COMPLETA



domingo, 2 de junho de 2019

A fábula do investidor estrangeiro



Ciclo virtuoso na economia é promessa do governo para atrair capital de fora

Vladimir Putin já fez na Rússia o serviço que Bolsonaro promete no Brasil 

O governo, o "mercado" e os bumbos da orquestra garantem que, uma vez aprovadas as reformas do "Posto Ipiranga", a economia brasileira entrará num ciclo virtuoso. Tomara. Em tese, há bilhões de dólares esperando o sol nascer para jogar dinheiro no Brasil. Imagine-se um investidor belga que já pôs milhões no Chile, reunido em Bruxelas para decidir um investimento.


Seu consultor informa:
— O novo presidente do Brasil quer abrir a economia, está afrouxando as leis do meio ambiente, fez uma faxina no marxismo cultural e combate os movimentos LGBT.
— E como são suas relações com os políticos?
— Ele diz que não negocia no varejo.
— Ele manda no Congresso?
— Ainda não, mas promete apertar os parafusos.
— Manda no Judiciário?
— Não, tudo depende das turmas do Supremo, mas o presidente do tribunal tem a sua simpatia.
— Manda na imprensa?
— Ele tem apoio nas redes sociais e em algumas redes de televisão.

— Tem apoio popular?
— Ele prometeu acabar com o ativismo, mas há manifestações de rua de estudantes contra o governo.
— Sua política econômica nos favorece?
— Ele tem um passado estatista, mas é um liberal converso. Nos primeiros três meses de governo a economia encolheu 0,2%.

— Como anda a economia do Chile?
— No último trimestre ela cresceu 1,6%. O presidente Sebastián Piñera é um conservador que sabe operar pelas regras do jogo.
— E a da Rússia?
— Cresceu 2,3% no ano passado.
— Então vamos continuar no Chile e botar esse investimento na Rússia. Lá o Vladimir Putin já fez o serviço que esse brasileiro promete.

Paes e o óbvio delirante
O ex-prefeito Eduardo Paes tem uma queda pelo uso da expressão "é óbvio".
Depois do terceiro desabamento da ciclovia Tim Maia ("certamente a mais bonita do mundo", nas suas palavras) ele disse o seguinte: "É óbvio que, se eu pudesse, não faria de novo".

O doutor justificou-se lembrando que "o grande problema ali é o fato de a ciclovia estar em uma área que tem, de um lado, o mar, e do outro, a encosta do morro". Ao que se saiba o mar e o morro estão lá há milhões de anos.

Quando a ciclovia desabou pela primeira vez, em 2016, matando duas pessoas, Paes foi didático: "É óbvio que se essa ciclovia tivesse sido feita de forma perfeita, não teríamos essa tragédia". Paes governou o Rio de 2009 ao final de 2016 e dizia que todos os governantes "têm inveja de mim".
Felizmente o doutor começa a reconhecer o que não "faria de novo". Antes tarde do que nunca. Ficando-se só no caso da ciclovia, talvez ele não entregasse a obra a uma empresa que pertencia à família do seu secretário de Turismo. Mesmo que fizesse isso, não entregaria o gerenciamento da construção à mesma firma. Nem deixaria que a obra tivesse oito aditivos, elevando seu custo de R$ 35 milhões para R$ 45 milhões.

Quando o Rio vivia a síndrome do delírio do governador-gestor Sérgio Cabral e do prefeito olímpico Eduardo Paes, chamar a atenção para o óbvio era falta de educação. A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, andou no teleférico do Alemão e sentiu-se "nos Alpes". O bondinho custou R$ 210 milhões, operou de 2011 a 2016 e desde então está parado.

(...)

Sistema C
O sindicalismo patronal deveria mudar o nome do Sistema S, chamando-o de Sistema C, com a inicial da censura. Os doutores não querem cumprir a determinação do governo que manda colocar as contas das confederações e federações no banco de dados alimentado para atender à Lei de Acesso à Informação.
Querem arrecadar bilhões mordendo as folhas de pagamento, mas não querem mostrar o que fazem com o dinheiro. 
Poderiam expor apenas os custos dos jatinhos usados pelos maganos em suas viagens pelo país.
(...)

Eremildo, o Idiota
Eremildo convida seus admiradores para a posse do ex-deputado André Moura no cargo de secretário extraordinário da representação do Rio de Janeiro em Brasília. O doutor responde a três ações penais no Supremo Tribunal Federal. Na ocasião o idiota compartilhará com seu colega Wilson Witzel o título de doutor pela Universidade Harvard.
Como é hábito nas escolas americanas, os ex-alunos acrescentam aos seus nomes o ano da formatura. Eremildo será o "Idiota, Fake '19". O governador do Rio é "Witzel Fake '15".

Alquimia
O ministro Dias Toffoli começou um pós-doutorado em alquimia. Inventou um evento para firmar um pacto com o Executivo e o Legislativo e conseguiu rachar o Judiciário.

Ganha uma senha para escalar o Everest quem souber qual será o resultado concreto do tal pacto.

(...)

Levy e Salles
Joaquim Levy atravessou incólume as administrações de Sérgio Cabral e de Dilma Rousseff.
Como presidente do BNDES de Bolsonaro engoliu um sapo cururu ao dispensar a chefe do departamento de meio ambiente do banco para atender a um delírio do ministro Ricardo Salles.
Resta saber se achou que sapo tem gosto de mexilhão.




quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Seis minutos

“Bolsonaro procurou desfazer a repercussão internacional negativa gerada por decisões recentes de seu governo sobre o meio ambiente”

O esperado discurso do presidente Jair Bolsonaro em Davos, na Suíça, para um seleto grupo de empresários e políticos, foi uma espécie de copo pela metade, gelado. De um lado, sinalizou o que investidores gostariam de ouvir em termos de direção a ser seguida pelo país; de outro, decepcionou-os por não apresentar propostas concretas de reformas, o que deixou uma impressão de superficialidade. Bolsonaro poderia ter roubado a cena em Davos, diante da ausência de peso-pesados da política mundial, como os presidentes Donald Trump (EUA),(China), Emmanuel Macron (França), Vladimir Putin (Rússia) e os primeiros-ministros Theresa May (Reino Unido) e Ram Nath Kovind (Índia).

A opção pelo feijão com arroz não deixa de ser positiva, se levarmos em conta, por exemplo, a política externa anunciada no discurso de posse do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja presença no Fórum Econômico Mundial foi ofuscada pelos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça). Bolsonaro leu um discurso no qual falou de segurança, preservação ambiental e desenvolvimento, redução de impostos, respeito aos contratos, privatizações, ajuste fiscal, reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC). Para não deixar de lado a retórica da campanha eleitoral, o presidente brasileiro criticou o bolivarianismo e defendeu a propriedade privada, a família e os “verdadeiros direitos humanos”. Anunciou a meta bastante exequível de colocar o Brasil entre os 50 melhores países para se investir e a necessidade de educação voltada aos desafios da “quarta revolução industrial”. Apenas três líderes do chamado G7 participarão da reunião de Davos: o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe; a chanceler alemã, Angela Merkel; e o premiê italiano, Giuseppe Conte.

Bolsonaro procurou desfazer a repercussão internacional negativa gerada por decisões recentes de seu governo sobre o meio ambiente. Durante o discurso, enfatizou que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente e que o governo quer compatibilizar preservação e biodiversidade com avanço econômico. Disse que a agricultura ocupa somente 9% do território brasileiro, e a pecuária, menos de 20%. “Hoje, 30% do Brasil são florestas. Então, nós damos, sim, exemplo para o mundo. O que pudermos aperfeiçoar, o faremos. Nós pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação do meio ambiente”, declarou, após ser questionado pelo fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab. Depois, em reunião com investidores, confirmou que o Brasil permanecerá no Acordo de Paris sobre o clima. Além de destacar a intenção de ampliar a abertura comercial e a integração à economia mundial, Bolsonaro ressaltou a intenção de combater a corrupção, frisando o papel nesse sentido do ex-juiz Sergio Moro, no Ministério da Justiça.

Relações perigosas
No Brasil, porém, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, está na frigideira, por causa do ex-assessor Fabrício Queiroz. Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, aparece em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como uma das pessoas que fizeram depósitos para o ex-motorista do então deputado estadual. Ela depositou R$ 4,6 mil na conta de Fabrício, de um salário líquido de R$ 5.124,62 na Alerj. [explicações a ser dadas pelo Fabricio e pela autora do depósito.]
A mãe de Adriano foi assessora da liderança do Partido Progressista (PP), ao qual Flávio Bolsonaro era filiado. Ela deixou o cargo quando o deputado se filiou ao PSC. Em 29 de junho de 2016, Raimunda voltou à Alerj, desta vez no gabinete de Flávio, sendo exonerada somente em novembro do ano passado. A mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, também trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, com o mesmo salário da sogra.

O problema é o ex-capitão do Bope, que está foragido. Uma força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu ontem cinco suspeitos de integrar uma milícia envolvida em grilagem de terra. Entre eles, estão um major da PM e um tenente reformado, além de Adriano. Mais oito pessoas são procuradas, duas estão entre os suspeitos do caso Marielle Franco, a vereadora do Psol assassinada no Rio de Janeiro no ano passado, e seu assessor Anderson Gomes.

“A gente não descarta a participação no crime de Marielle Franco, mas não podemos afirmar isso neste momento. Essa operação não visou prender pessoas relacionadas ao crime da Marielle e Anderson. Se chegarmos à conclusão de que eles têm participação, aí, vamos trabalhar no inquérito relativo a esse crime”, afirmou Simone.[conforme já se tornou recorrente, tudo que diz respeito ao ex-assessor Fabricio e ao caso da vereadora e seu motorista, se destacam pela 'precisão', 'convicção', 'abundância de provas'.

O Caso Queiroz se arrasta há mais de um mês, todo dia surgem 'provas', mas, até agora nada existe de concreto, que possa fundamentar um decreto de prisão preventiva contra o ex-assessor;

quanto a vereadora o que mais a imprensa menciona é testemunha-chave, depoimento bomba e nada que justifique, até agora, uma única prisão por suspeita de ser suspeito.

IMPRENSA, com  todo o respeito  aos seus integrantes - a Imprensa livre é um dos fundamentos da democracia - por favor, dêem notícias, fatos -  especulações, até eu (analfabeto na língua portuguesa, em jornalismo, em política, em economia, em direito) sou capaz de especular, imaginar, desconfiar, supor.]

domingo, 6 de janeiro de 2019

Fazer o simples. O arroz com feijão do governo Bolsonaro no curto prazo. E o da oposição

Se você fosse chamado a opinar sobre os passos mais óbvios do governo e da oposição no curto prazo diria o quê? 

Eu diria que o governo:

1) Não pode se dar ao luxo de aparecer como derrotado na disputa das presidências da Câmara e do Senado.
O presidente tem potencial maioria em cada uma das casas. Se a coisa desandar, antes de ser trágico será ridículo. O custo político de passar reformas vai subir exponencialmente. E será só o começo.
2) No que estiver ao alcance dele, o presidente precisa cuidar de se recuperar da nova cirurgia. A montagem do governo reuniu gente muito sedenta de protagonismo. Se com o presidente na ativa já se nota propensão centrífuga, sem ele por muito tempo seria forte o estímulo para exacerbar a confusão.

3) O governo precisa apresentar uma reforma da previdência que atenda o mercado e tenha viabilidade política. É possível no começo do governo aprovar alguma reforma da previdência crível ao mercado, mesmo sem distribuir cargos pelos partidos ou liberar verbas orçamentárias para as bases dos parlamentares. Lula fez isso em 2003.

4) Precisa mostrar alguma coordenação na comunicação. A comunicação oficial tem sido boa para manter a base social coesa e mobilizada, mas é também uma usina de pautas negativas. Não chega a ser problema maior no curto prazo, mas sempre cobra uma conta depois de certo tempo. Assim como no boxe, apanhar o tempo todo costuma ter consequências.

5) Precisa minimizar o ruído internacional. O governo brasileiro fala duro e parece subestimar o trabalho de explicar ao mundo por que sua política seria boa para o mundo. Segue a linha Trump. Vladimir Putin adotou a política do “big stick”. Xi Jinping apresenta os interesses da China como se fossem os do universo.

Já a oposição:
1) Não pode se deixar esmagar na composição das mesas da Câmara e do Senado. A repetição de 2015, que deu Eduardo Cunha e a exclusão do PT da mesa da Câmara, será um desastre. Também desastroso será a esquerda dar a impressão de estar associada ao bolsonarismo. O melhor para a oposição seriam composições institucionais nas duas casas.

2) Não pode se dispersar e perder a identidade na disputa das mesas do Congresso. Uma sucessão institucional permitiria à esquerda participar das mesas sem aparentar linha auxiliar do governo. Isso talvez não interesse ao governo. Mas os principais candidatos na Câmara e no Senado podem ter interesse nessa saída. Aliás, se o governo raciocinar talvez conclua que é bom para ele também.

3) Precisa ter proposta ou propostas alternativas para a reforma da previdência, com foco em setores privilegiados do Estado. A esquerda tem governadores desesperados por uma reforma da previdência que ajude a evitar a falência de seus estados. O governo vai explorar isso, então é preciso entrar no debate com alternativas.

4) Precisa elaborar crítica consistente e propor ações que se oponham à política externa e à política educacional do governo. Até agora a crítica a essas duas políticas resume-se ao “nossa, que absurdo”. Na educação, é preciso mostrar os caminhos para o ensino, especialmente o fundamental, melhorar muito e rapidamente. [é difícil para a oposição criticar,  com consistência,  medidas que se revelam certas, adequadas.
Pior é propor ações para corrigir o que está sendo feito de forma correta.]

5) Precisa de ideias sobre como enfrentar a crise da segurança pública. A atual doutrina de enfrentamento do crime desmoralizou-se porque não está funcionando. O governo elegeu-se também por ter ideias para resolver o problema. Quais são as ideias da oposição, além de continuar aplicando o que não está funcionando?
É como no futebol. Na dúvida, uma saída é tentar fazer o simples

E você, acha o quê?
Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Presidente sírio culpa Israel por derrubada de avião russo


O presidente sírio, Bashar al Assad, atribuiu a Israel a responsabilidade pelo incidente no qual a defesa antiaérea da Síria derrubou um avião aliado russo durante um ataque de mísseis do Estado hebreu.  “Este lamentável incidente é resultado da arrogância e da selvageria israelense”, declarou Assad em carta de condolências enviada ao presidente russo, Vladimir Putin, pela morte dos 15 militares que estavam no avião, abatido na noite de segunda-feira sobre a costa síria.
“Estamos convencidos de que trágicos acontecimentos como estes não nos impedirão, e nem a vocês, de prosseguir com a luta contra o terrorismo”, acrescenta a mensagem, publicada pela agência oficial Sana.
Na noite de segunda-feira, o avião russo foi derrubado por erro pela defesa antiaérea síria quando decolava da província costeira de Latakia (noroeste) para interceptar disparos de mísseis israelenses contra uma posição do regime.  Trata-se do incidente mais grave entre os dois aliados desde 2015, quando Moscou começou a intervir militarmente na Síria para apoiar o regime de Damasco contra os rebeldes e grupos jihadistas.

Putin considerou na terça-feira o incidente como “uma série de circunstâncias acidentais trágicas”, mas disse ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que “tais operações da força aérea israelense violam a soberania síria”.  Nos últimos meses, os israelenses multiplicaram seus ataques contra tropas iranianas na Síria, insistindo que não permitirão que a República Islâmica utilize o território sírio como trampolim para ataques a Israel.

AFP 

 

sábado, 18 de agosto de 2018

O enterro secreto de Hitler

Com base nos arquivos secretos da KGB, “A Morte de Hitler” desvenda o mistério sobre o desaparecimento do corpo do ditador alemão

Na conferência de Potsdam em 2 de agosto de 1945, Josef Stálin deu uma notícia aos aliados da Segunda Guerra Mundial: o chanceler alemão Adolf Hitler escapara vivo de Berlim, área conquistada pelos soviéticos quatro meses antes. Stálin foi além: Hitler teria sido levado de submarino à Argentina ou ao Japão. “Tratem de encontrá-lo”, desafiou.

Ninguém capturou nem um fio de cabelo do ditador. Assim começou o mistério que incendiou a imaginação no Pós-Guerra. Inquéritos britânicos e americanos, teorias conspiratórias e romances davam conta de que Hitler viveria incógnito na América do Sul, tramando a nova invasão à Europa.
“Os restos mortais são de Adolf Hitler. E isso acaba com as teorias de que possa ter sobrevivido” Philippe Charlier, legista (Crédito:Divulgação)
Na verdade, Stálin tinha mentido, talvez para despistar os aliados, evitar o culto ao Führer ou por falta de provas científicas. O mistério do paradeiro de Hitler perdurou por mais de 70 anos e começa a ser desvendado agora, com o lançamento mundial do livro “A Morte de Hitler — os Arquivos Secretos da KGB”, do jornalista francês Jean-Christophe Brisard e da intérprete russa Lana Parshina, editado no Brasil pela Companhia das Letras.

Os autores penetraram entre 2016 e 2017 no Arquivo Central do FSB (serviço secreto russo que sucedeu a KGB em 1991) e no RGVA (Arquivo do Estado Militar da Federação Russa), até então vedados a consultas. Depois de negociações tortuosas, obtiveram permissão para ver os dossiês sobre a tomada do bunker onde Hitler e seu círculo íntimo moraram de março a abril de 1945. Lá, encontraram os restos mortais de Hitler e da mulher, Eva Braun: um fragmento do lado esquerdo do crânio com uma perfuração de bala e duas arcadas dentárias.

Ossos e cinzas
A dupla perseguiu outro enigma: o destino do cadáver do Führer. Descobriu que o troféu máximo da Segunda Guerra foi alvo da disputa entre o departamento de contraespionagem e o Ministério da Guerra soviéticos. O primeiro desapareceu com os cadáveres de Hitler, Eva, do general Hans Krebs, do ministro da propaganda Joseph Goebbels, da mulher dele, Magda e dos seis filhos do casal. O segundo resgatou crânios e dentes. Nem uns nem outros queriam admitir que Hitler havia se matado segundo o código militar de bravura, e não como um covarde, por veneno.

Durante anos, a contraespionagem russa promoveu interrogatórios com os homens próximos a Hitler, como o criado Heinz Linge, o ajudante de campo Otto Günsche e o motorista Hans Baur. Eles foram torturados até confessar o que não sabiam. Linge jurou que havia ouvido os tiros no quarto de Hitler. Baur assegurou que o Führer tinha se dado um tiro na boca. Günsche contestava a versão, afirmando que havia sido na têmpora. E mudavam as versões, confundindo os investigadores. Por sua vez, os militares queriam sumir com os cadáveres. Realizaram uma autópsia superficial e enterraram os corpos em Rathenau, perto de Berlim.

Em 1970, o chefe da KGB Iuri Andropov, futuro líder da União Soviética entre 1982 e 1984, ordenou que os ossos fossem exumados e incinerados, reduzidos a cinzas e atirados a um lago. Em meio a despistes e depoimentos duvidosos, os departamentos soviéticos rivais não chegaram nenhuma conclusão — e enterraram o caso literalmente. Mas graças a Brisard e Parishna, a charada foi desvendada. Ao verificar inquéritos confidenciais da KGB e com ajuda do legista francês Philippe Charlier, concluíram que Hitler se suicidou no bunker da Nova Chancelaria de Berlim por volta das 15 horas de 30 de abril de 1945 ao lado de Eva Braun. Tomou um cápsula de cianeto e disparou um tiro na têmpora direita com uma pistola Walther PPK de 7,65 milímetros. A bala saiu do outro lado do crânio.
“A ciência prevaleceu sobre todos os depoimentos, sobre a emoção, sobre as tentativas de manipulação”, afirma Brisard. Mesmo assim, o fantasma de Hitler ainda assombra o mundo, até porque quase ninguém sabia do mistério. Ele foi enfim revelado, com a autorização do presidente russo Vladimir Putin, talvez desejoso de exibir finalmente o troféu que seu antecessor Josef Stálin teve de ocultar.

IstoÉ
 



 

sábado, 21 de julho de 2018

A traição de Trump

Que o presidente americano é movido a imprudências, longe do feitio que marca tradicionalmente os chefes de governo dos EUA, isso todo mundo sabia. Que Trump é a enésima essência do descaso no campo dos direitos humanos, das metas ambientais de sustentação do planeta e da miscigenação de povos, ninguém também dúvida. Que ele é irascível, mente como poucos, tripudia além da conta de acordos multilaterais e faz galhofa da irritação que causa em parceiros mundo afora, já virou marca desprezível em várias de suas aparições. O que desta vez surpreendeu a todos e chocou principalmente seus concidadãos foi algo ainda mais grave – ao menos na régua de princípios da mais rica e poderosa nação do planeta. Trump resolveu sabotar o próprio país. 

Disse não acreditar de forma alguma que a Rússia de Vladimir Putin tenha atuado de maneira fraudulenta e influenciado decisivamente no resultado das eleições que colocou ele mesmo, Trump, no poder. Com um misto de admiração e resignação, alegou confiar na “sinceridade” do colega russo quando o mesmo disse que jamais meteu o bedelho em assuntos de política dos outros; duvidando que ele tenha mesmo ordenado tamanha afronta. Foi o capítulo mais vexatório da já tumultuada administração Trump. Ao dar uma versão, digamos adocicada, para as ações de interferência, de resto evidentes, do interlocutor o presidente americano não apenas enxovalhou a reputação dos compatriotas como também forneceu a senha para que Putin seguisse, sem reprimendas, no intento de invasão a assuntos alheios. Não surpreendente caso se considere que Trump, com tal postura, estava advogando em causa própria. O megabilionário da construção quis afastar as suspeitas que pesavam também contra ele, por que não? Nada há o que se questionar no aspecto da participação russa no episódio.

A interferência com uma avalanche de fake news para influenciar no resultado das urnas em 2016 não se tratou de mera especulação. Está documentada. Fato comprovado, indiscutível. Sete órgãos do Executivo e do Legislativo, todos na órbita dos poderes que circundam Trump, confirmaram. E eis que esse dublê de mandatário, que já vinha investindo contra aliados históricos, preferiu dar mais chancela as palavras do antigo rival americano que às próprias instituições sob seu comando. Mesmo sendo Putin um ex-agente da KGB, acostumado a camuflar intenções e práticas inomináveis, cuja projeção se deu através de arapucas contra quem cruzasse o seu caminho. Não deixa de ser um tanto quanto irônico tamanho enquadramento negativo de Trump. Logo ele, o rei da autopromoção, se apequenou. Virou joguete nas mãos de Putin, mero garoto de recados. Ficou em maus lençóis inclusive em casa. A reação foi a pior possível. 

Opositores e correligionários se revezaram nas críticas. O chefe geral da CIA, a mais conhecida agência de espionagem do mundo, chamou Trump de traidor. Mesmo simpatizantes disseram que ele atuou como reles capacho de Putin. Na coletiva estava subserviente, dominado, extrapolando nos rapapés tal qual um serviçal de plantão. Irreconhecível para quem o assistiu em outras ocasiões. No plano das relações externas, foi como uma carnificina diplomática. Se Putin teve a capacidade de enquadrá-lo publicamente daquela maneira, o que dirá no encontro a portas fechadas? Ninguém ousa imaginar.
 
Transportada para a narrativa futebolística, aproveitando o embalo das disputas na Copa, é possível dizer que a peleja Putin versus Trump terminou com o vergonhoso placar de 7 a 1. Só quem já passou por isso sabe como é. Melhor esquecer. Era para ser um encontro onde mediriam forças, mas até as pedras sabiam quem sairia em vantagem, favorito absoluto, por estar mais bem preparado, ser mais astuto e menos fanfarrão. Putin engoliu Trump nos quesitos óbvios. Deixou ele falar e se perder. Nada de críticas à anexação da Crimeia, ao envenenamento de britânicos no Reino Unido ou aos ataques cibernéticos. Eram só elogios. Putin, curtido na arte de engabelar, adorou o desempenho. 

Trump voltou de rabo entre as pernas e, suprema humilhação, teve no dia seguinte de se retratar para impedir, inclusive, um processo de impeachment. Desdisse o que falou. Mas não adiantava mais. O estrago estava feito.

Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três
 

sábado, 4 de novembro de 2017

A liderança de Bolsonaro e crescimento irreversível de sua candidatura começa a incomodar os especialistas



Bolsonaro é um ‘populista perigoso’, diz professor de Stanford

Cientista político, que criou aula específica em que aborda o populismo no seu curso sobre democracia, é um defensor intransigente da Lava-Jato



Francis Fukuyama está preocupado com o Brasil. [é bom que ele se preocupe; se preocupou com Trump, que  ganhou e agora é presidente dos EUA; 
tudo que o célebre intelectual defende, não vai em frente;
a esquerda  teve sua oportunidade, mas, faltou competência. Agora é a vez da direita que vai mostrar que sabe governar e vai começar sua demonstração recolocando o Brasil nos trilhos da Ordem e Progresso.] O cientista político, professor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e um dos mais célebres intelectuais de sua geração, incluiu o Brasil no rol dos países em que ele vê o risco da ascensão de um representante do que chama de “Internacional Populista”: políticos de extrema-direita com pouco ou nenhum apreço pela democracia e que seduzem o eleitorado com promessas fáceis para problemas complexos.

O impacto das descobertas da Lava-Jato sobre a contaminação do sistema político, diz Fukuyama, pode levar os eleitores brasileiros a optarem por alguém que prometa ter mão de ferro contra a corrupção. Na semana passada, Jair Bolsonaro, o intrépido deputado do PSC do Rio de Janeiro, tornou-se um dos personagens sobre quem Fukuyama discorre na nova aula sobre populismo que, em tempos de Donald Trump, decidiu incluir em seu tradicional curso sobre democracia. Um dos expoentes do pensamento conservador, o professor é enfático sobre Bolsonaro: “Seria um grande desastre se ele fosse eleito. Ele parece ser um populista genuinamente perigoso”.

Em entrevista ao GLOBO, em sua sala no Centro de Democracia, Desenvolvimento e Estado de Direito, que dirige, em Stanford, Fukuyama criticou a proteção do Congresso a Michel Temer, lamentou a falta de protestos contra a corrupção este ano no Brasil, nos mesmos moldes dos que ocorreram em 2015 e em 2016, e, aos descrentes sobre o futuro da democracia, fez um alerta: “As pessoas precisam entender que a democracia depende delas. Precisam sair às ruas, protestar contra a corrupção e se insurgir contra o populismo”.

Perto de se completarem quatro anos de Lava-Jato, qual sua visão sobre a operação?
Eu tenho sido em geral muito mais positivo sobre a operação do que alguns brasileiros e mesmo observadores internacionais porque sei que não há muitos países com Judiciários que consigam fazer a lei valer para todos. Na América Latina, isso tem sido especialmente problemático. No Brasil, agora parece que todo mundo é corrupto. Não acredito que isso seja algo novo. Acho que sempre foi desse jeito. Pelo menos, agora você tem um sistema judiciário que está colocando alguns deles na cadeia. E você tem a imprensa livre, que está fazendo um trabalho muito bom, expondo a corrupção e apoiando o sistema judicial. 

Eu tenho conhecimento das acusações que políticos da direita e da esquerda fazem contra o Judiciário, dizendo que há razões políticas por trás das acusações. E sei que há críticas por influência política no Judiciário e por terem deixado Michel Temer (no cargo). [sendo tão  sábio, esse especialista deve conhecer a Constituição do Brasil e apesar de criticar a permanência de Temer no cargo, não havia forma de retirá-lo, esceto, rasgando a 
Constituição Federal.] Mas tudo é relativo e, em relação ao padrão predominante na América Latina, é bom o Brasil ter feito o que fez. O que eu considero perigoso é que foi revelado um nível tão grande de corrupção que todos vão ficando cínicos e podem pensar que não há como fazer a lei valer para todos e que é necessária uma solução populista para acabar com o sistema e recomeçar tudo. Isso é muito perigoso.

‘(Bolsonaro) parece ser um populista genuinamente perigoso. Seu histórico mostra que ele não defende a democracia’ Mas o mesmo país que produziu a Lava-Jato tem uma corte eleitoral que ignorou provas e absolveu o presidente e sua antecessora da acusação de financiamento ilegal na eleição de 2014 e um Congresso que protegeu durante duas vezes o presidente de acusações de corrupção. Esses recuos significam que políticos estão conseguindo interromper as mudanças?
Esses fatos constroem a narrativa de que o Judiciário tem uma atuação política, e isso é perigoso, porque a Justiça só funciona se as pessoas acreditarem que ela é imparcial. Eu entendo o cálculo de muitas pessoas da direita e de observadores internacionais de que Michel Temer está fazendo reformas importantes e que, se ele for para a cadeia, todo o sistema vai parar, nada mudará e não haverá progresso. Essas pessoas estão dispostas a aceitar, portanto, a falta de prestação de contas de um governante. Eu não acho que esse raciocínio seja bom, porque é preciso que o Judiciário seja visto como imparcial e acredito que absolvê-lo mine essa sensação.

Na introdução do seu último livro (“Political order and political decay”, ainda não lançado no Brasil), o senhor descreve os protestos de junho de 2013 como manifestações anticorrupção e por melhores serviços básicos. De lá para cá, tivemos protestos de massa em 2015 e em 2016, em parte contra a corrupção, em parte contra o PT. Entretanto, não houve grandes protestos em 2017, quando os escândalos atingiram o PSDB e o PMDB. Por quê?
Isso é muito ruim. Quando os protestos começaram, contra corrupção e por melhores serviços públicos, ganharam publicidade e passaram a ser vistos como protestos contra Dilma Rousseff e contra Lula. [não se tornou uma questão ideológica; apenas era público e notório, exceto para alguns especialistas, que os ladrões eram Lula e Dilma e por isso os protestos passaram a ser contra a dupla maldita.] Isso foi muito ruim porque, se o foco tivesse continuado a ser contra a corrupção, brasileiros de diferentes posições no espectro ideológico estariam dispostos a apoiar. Uma vez que se tornou uma questão ideológica de direita e esquerda, você retomou a antiga divisão ideológica brasileira. Por isso também é ruim você não ter mais políticos de direita sendo presos, como o atual presidente, ou pelo menos o processo contra ele prosseguindo, porque teria tornado tudo mais equilibrado e deixado claro que isso não é contra um partido, mas contra toda a classe política envolvida em corrupção. [mais uma vez o especialista tenta enganar os incautos ao manifestar interesse que mais políticos de direita sejam presos e sabemos que a maioria dos acusados e denunciados são da esquerda; o especialista acaba de sugerir a criação da prisão para equilibrar vertentes ideológicas
o que não surpreende já que o Brasil criou a prisão preventiva para substituir a prisão perpétua.]
A última pesquisa presidencial no Brasil (do Ibope, publicada no último domingo) mostrou Lula à frente das pesquisas, com 35%, e Jair Bolsonaro em segundo lugar, com 13%. Como o senhor vê essa previsão?
O mais problemático é o apoio a Bolsonaro. Ele parece ser um populista genuinamente perigoso. Seu histórico mostra que ele não defende a democracia e que está usando esta oportunidade para tomar o poder. Seria um grande desastre se ele fosse eleito. Mas acho que isso reflete um crescente cinismo em todo o espectro eleitoral de que todos os políticos são ruins e de que você precisa de uma figura forte que vai consertar todos esses problemas. Isso nunca funciona. Se você opta por políticas de mão de ferro, você acaba numa ditadura e em violações de direitos humanos. O Brasil não precisa desse recuo. O país já teve uma experiência dessas quando os militares comandavam o país, e não acho que ajude voltar a esse tipo de governo.

‘O Brasil precisa se tornar capaz de processar uma pessoa (Lula) que, embora tenha beneficiado os pobres e criado programas sociais, violou as leis’
- Francis Fukuyama Professor de Stanford

E Lula, mesmo condenado por corrupção, em primeiro lugar?
É muito ruim, porque de novo é a ideologia prevalecendo sobre o combate à corrupção. Seus eleitores querem protegê-lo porque ele é visto como tendo sido bom para os pobres. É compreensível. Mas o Brasil precisa se tornar capaz de processar uma pessoa que, embora tenha beneficiado os pobres e criado programas sociais, violou as leis.

Por que o populismo está florescendo especialmente nesta segunda década do século XXI?
É diferente em diferentes partes do mundo. O populismo na América Latina é diferente do populismo europeu. Na Europa, é baseado naquela classe média que sofre com a globalização e com a perda de empregos. Na América Latina, o populismo é baseado nos pobres, que basicamente querem um governo forte que possa dar serviços sociais e benefícios. Isso explica (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa e Evo Morales. Bolsonaro é um pouco mais complicado, porque ele vem num período em que o populismo de esquerda está em declínio na América Latina. Ele obviamente é um homem da direita. É um novo fenômeno, que remonta aos anos 1960, ao desejo de políticas de um punho de ferro. 

Vamos ver se é uma tendência ou não, porque o fato de ele conseguir 13% nas pesquisas não significa que ele será eleito.
Em que medida existe uma ligação entre populistas pelo mundo?
Há algumas ligações entre o populismo europeu e o entorno de Trump. (Vladimir) Putin deu um empréstimo para Marine Le Pen (da Frente Nacional, da extrema direita francesa). Ela conversa com o holandês Geert Wilders (do Partido para a Liberdade, de extrema direita). Trump gosta de Nigel Farage (ex-líder do Partido da Independência do Reino Unido, de extrema direita). Steve Bannon (ex-estrategista de Trump) gosta de todos eles. Eles se falam, compartilham experiências. Há uma “Populista Internacional” em atuação hoje, o que torna tudo ainda mais ameaçador, porque um apoia o outro.

O que o senhor diria para os que estão pessimistas com o futuro da democracia no mundo?
Já tivemos outros períodos ruins, obviamente os anos 1930 e depois nos anos 1970, quando havia muito descontentamento com a vida nas sociedades democráticas. Mas as democracias ajustaram suas políticas e elas conseguiram superar esses momentos de crise, e eu suspeito que vamos fazer o mesmo agora.

Fonte: O Globo