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domingo, 14 de fevereiro de 2021

O erro no relato do general Villas Bôas - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Villas Bôas contou, reviu e errou

O tempo e novas memórias do período lapidarão as lembranças de Villas Bôas. Num caso, porém, sua memória (revista) falhou feio.

Está nas livrarias “General Villas Bôas: Conversa com o comandante”. É o resultado de 13 horas de entrevistas do professor Celso Castro com o general Eduardo Villas Bôas, que comandou o Exército de 2015 a 2019. O texto foi revisto pelo general até maio de 2020 e devolvido com acréscimos que engordaram o livro em 30%.

“VB”, como é chamado pelos colegas, rememora sua vida, da infância de Cruz Alta aos dias tensos do impedimento de Dilma Rousseff e da eleição de Jair Bolsonaro. Ele tratou do seu famoso tuíte de 2018, às vésperas do julgamento do habeas corpus de Lula pelo Supremo Tribunal Federal (“um alerta, muito antes que uma ameaça”) e do agradecimento que Bolsonaro lhe fez pouco depois de ter sido empossado:“Meu muito obrigado, comandante Villas Bôas. O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por estar aqui. Muito obrigado, mais uma vez.”  O general explicou: “Morrerá entre nós! Garanto que não foi um tema de caráter conspiratório.”
 
O tempo e novas memórias do período lapidarão as lembranças de Villas Bôas.
Num caso, porém, sua memória (revista) falhou feio. Ele conta:
“O presidente Sarney relata que, após a morte de Tancredo Neves, houve uma reunião para deliberar como se processaria a nova sucessão. O deputado Ulysses Guimarães tentou impor sua posição que consistia na realização de um novo pleito. O ministro Leônidas (general Leônidas Pires Gonçalves) posicionou-se no sentido de que, conforme a legislação vigente, o cargo de presidente caberia ao senador Sarney (que havia sido eleito para a vice-presidência). Ato contínuo, voltou-se para ele, prestando uma continência disse: ‘Boa noite, presidente.’ Com seu arbítrio, o fato estava consumado, o que assegurou uma transição sem percalços”.
[presidente Bolsonaro, com todo o respeito devido ao Presidente da República, lembramos a Vossa Excelência o quanto é importante o silêncio. O Exército Brasileiro, chamado de "O Grande Mudo",  na ocasião reportada se manifestou pela voz do então ministro do Exército e graças a sua fama merecida de avesso a loquacidade com com uma continência e três palavras resolveu um problema que se fosse deixado com o Ulysses, ou judicializado,  levaria meses para ser  resolvido - com o risco de um pedido de vista.]
Sarney nunca relatou isso.[talvez o nunca abranja apenas ao articulista.  Tancredo ser considerado morto em seis dias antes da morte 'oficial', pode ter sido uma manobra de despiste. Sem contar que, exceto Sarney, todos os citados estão mortos.
Além do mais, a versão reconhecida por Sarney, apenas suprime a continência e acrescenta um 'boa noite, presidente'.
Na atualidade,m temo de pandemia,  proliferam os 'especialistas em nada'. Naqueles tempos,  os palradores eram os professores-doutores'.]   Ele vestiu a faixa na manhã de 15 de março de 1985, e Tancredo só morreu no dia 21 de abril. As incertezas com relação à posse do dia 15 foram desencadeadas na noite da véspera, quando Tancredo foi levado para o Hospital de Base de Brasília, para uma cirurgia de emergência. A posse estava marcada para horas depois.

Sarney chegou ao hospital às 21h30m. Nas suas palavras:“Lá encontro Ulysses. Tenho os olhos marejados. Rasga-me a alma o sofrimento de Tancredo. Ulysses me desperta ríspido: ‘Sarney, não é hora de sentimentalismos. Nossa luta não pode morrer na praia. Temos de tomar decisões. Você assume amanhã, como manda a Constituição, na interinidade do Tancredo.’

‘Não, Ulysses, assume você. Só assumo com Tancredo.’ ‘Você não pode acrescentar problemas aos que estamos vivendo. É a democracia que temos de salvar.’”

O general Leônidas, ministro do Exército escolhido por Tancredo, jantava na Academia de Tênis quando soube que o presidente eleito estava no hospital. Foi para lá defendendo a posse de Sarney. Conseguiu uma gravata emprestada e seguiu com uma pequena comitiva de políticos para um encontro com o chefe da Casa Civil, professor Leitão de Abreu. Sarney ficou no hospital e depois foi para casa.

Leitão estava em dúvida (ou fingia estar em dúvida), se deveria ser empossado o vice ou o presidente da Câmara (Ulysses). Nesse encontro Ulysses e Leônidas queriam a posse do vice-presidente. Fernando Henrique Cardoso testemunhou a cena. Ela aconteceu nas primeiras horas da madrugada do dia 15. Àquela altura, achava-se que em alguns dias Tancredo estaria recuperado.

Às 3h da madrugada tocou o telefone na casa de Sarney. Era o general Leônidas, que começou a conversa com um “boa noite, presidente”. Sarney repetiu que não queria assumir, e Leônidas disse-lhe que “não temos espaço para erros”. Despediu-se com outro “boa noite, presidente.” A cena contada por Villas Bôas nunca aconteceu. Tancredo não estava morto. Ulysses nunca quis uma nova eleição e sempre defendeu a posse de Sarney. O general Leônidas era formal, mas não dava continência falando ao telefone.

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista - MATÉRIA COMPLETA


quarta-feira, 22 de julho de 2020

MILITARES NO PODER - A festa da farda - O Globo

Bernardo Mello Franco

No “Almanaque do Exército”, ele era o coronel Jonas Madureira da Silva Filho. Na intimidade matrimonial, apenas Madu. O personagem do livro de Marques Rebelo passava os dias de pijama, no conforto da reserva remunerada. Depois do golpe, foi convocado para uma tarefa patriótica: assumir um cargo de chefia no Segal, o Serviço Geral de Abastecimento e Lubrificantes.




Jair Bolsonaro e militares em cerimônia do Dia do Soldado


.“O simples coronel Madureira” se passa no início da ditadura de 1964, quando os militares se apinharam na burocracia federal. Junto com os postos, veio uma penca de diárias, gratificações e mordomias. A mulher de Madu ficou eufórica: sobraria dinheiro para comprar o sonhado faqueiro de prata.
A festa da farda se repete no governo de Jair Bolsonaro. Desde a posse do capitão, o número de militares em cargos civis mais que dobrou. Saltou de 2.765 para 6.157, segundo dados do Tribunal de Contas da União.

Além de estender o cabide, o presidente engordou os contracheques. Em dezembro, o oficialato se esbaldou numa reforma da Previdência bem particular. [a reforma da previdência dos militares não poderia ser realizada dentro da Previdência  visto que a sistema de previdência dos militares não está inserido naquela - a Consituição vigente, portanto bem antes do governo do presidente Bolsonaro, já diferenciava os dois sistemas.
O que deve ser considerado, até mesmo para o BEM do Brasil, é a competência dos que estão assumindo cargos - vale sempre lembrar que um dos melhores ministros da Saúde foi o José Serra, que não é médico = economista e político,
Algumas das medidas por ele adotadas foram excelentes, até hoje perduram.]  

A generosidade é tanta que transborda para os herdeiros. A filha do general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, já ganhou dois cargos no ministério da pastora Damares. [A nomeação para o segundo cargo ocorreu em novembro.  Adriana é formada em direito e estuda psicologia
É lotada na Coordenação de Doenças Raras. Há 15 anos, descobriu ter a doença rara espondilite anquilosante. 
Seu pai, o general Villas Bôas, carrega outra patologia rara, a esclerose lateral amiotrófica. 

Agora o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, deve emplacar a filha na Agência Nacional de Saúde. A vaga fica no Rio, não exige concurso e paga salário de R$ 13 mil. 
[IMPORTANTE: 
Todos os cargos são de livre nomeação e exoneração - ad nutum -"remédio" bem mais eficiente para correção de eventual incompetência do que a sabatina no Senado.]

Bernardo M. Franco, colunista - O Globo


quarta-feira, 3 de junho de 2020

O ovo da serpente - O Globo

ALERTA NO SUPREMO

Quando o general Villas Bôas tentou emparedar o Supremo às vésperas da eleição presidencial, Celso de Mello foi o único ministro a protestar. Não é coincidência que ele seja, agora, a principal voz contra o cerco bolsonarista à Corte. [o general Villas Bôas apenas lembrou, via twitter, que o povo brasileiro não mais aceitava impunidade.]
Em abril de 2018, o então comandante do Exército disparou um tuíte em tom de ameaça. [sic] Insinuou uma reação armada caso o tribunal concedesse habeas corpus a um pré-candidato ao Planalto.


Leia também: Celso de Mello e a função do Supremo

O decano se levantou contra a interferência indevida. “Insurgências de de natureza pretoriana, à semelhança da ideia metafórica do ovo da serpente, descaracterizam a legitimidade do poder civil instituído e fragilizam as instituições democráticas”, afirmou. Contra o voto de Celso, o Supremo negou o habeas corpus. A decisão satisfez o general e facilitou a eleição do candidato preferido dos militares.

Dois anos depois, o decano voltou a usar a metáfora sobre a ascensão do nazismo. Em mensagem privada aos colegas, ele advertiu que o ovo da serpente “parece estar prestes a eclodir no Brasil”. “É preciso resistir à destruição da ordem democrática”, escreveu.
O ministro advertiu que “intervenção militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar”.
Celso encerrou o alerta com quatro pontos de exclamação, mas ainda há quem finja que não ouviu.

Em 1999, o então deputado Jair Bolsonaro revelou seu plano para o Brasil: “Só vai mudar, infelizmente, quando partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil (...) Se vai morrer alguns inocentes? Tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”.
Ontem o país ultrapassou as 30 mil mortes pelo coronavírus. Horas antes, o capitão declarou: “Eu lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”. [em que pese o tom duro, direto, bem ao seu estilo, o presidente Bolsonaro enunciou uma grande verdade: todos morrem, mais dia menos dia, é questão apenas de chegar o dia determinado por Deus.]

Bernardo M.  Franco, jornalista - O Globo


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A nova missão do general Villas Bôas: um instituto sobre doenças raras - VEJA - Radar

terça-feira, 25 de junho de 2019

Não está no mundo

Caso Moro beneficia Bolsonaro 

O general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, voltou ao Twitter para fazer defesa enfática de Sergio Moro,  como tinha feito anteriormente, antes do julgamento pelo pleno do STF de um habeas corpus para Lula.

O argumento para o adiamento do julgamento na Segunda Turma do STF do habeas corpus a favor do ex-presidente Lula, baseado na suspeição do então juiz Sergio Moro, não parece plausível. A alegação de que não haveria tempo para o julgamento, pois o processo de Lula estava em último numa fila de mais dez processos, não corresponde ao cotidiano das turmas do Supremo, que analisam às vezes até 30 processos num dia. [muito provavelmente essa celeridade - uma média de 15 minutos para cada processo, isto considerando que os ministros julguem durante 7h30m - é a causa de tantas decisões do Supremo serem reformadas no dia seguinte.]

O fato é que ministros estão incomodados com a ilegalidade das novas provas, diálogos publicados pelo site Intercept Brasil entre Moro e o chefe dos procuradores de Curitiba, Deltan Dallagnol. A questão é tão difícil que nem mesmo a defesa de Lula apensou os diálogos ao pedido anterior, havendo uma interpretação de que provas ilegais podem ser usadas para beneficiar o réu. É possível que, quando retomarem o julgamento, no segundo semestre, algum ministro proponha à Segunda Turma levar o caso para o plenário do STF. O ministro Fachin, como relator, pode decidir monocraticamente, mesmo já tendo votado. [além da incontestável ilegalidade das novas 'provas' - obtidas mediante a prática de crime - há também a questão da autenticidade que não foi comprovada.]

Várias vezes o STF, e também o Superior Tribunal de Justiça (STJ), negaram pedido semelhante, embora por motivos diferentes. Desta vez, a alegação da defesa de Lula é que, ao aceitar ser ministro de Bolsonaro, Moro havia demonstrado sua parcialidade. Os diálogos não estão nos autos. E o que não está nos autos, não está no mundo, como diz um provérbio jurídico com origem no Direito romano.
Antes das revelações do Intercept Brasil, o ministro Edson Fachin considerou que a defesa deveria ter apresentado o pedido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), ressaltando que o Supremo já havia negado o habeas corpus em outras ocasiões.

A ministra Cármen Lúcia, que hoje preside a Segunda Turma, afirmou que o fato de Moro ter aceitado o convite para o novo governo não pode ser considerado, por si só, prova suficiente de sua parcialidade. O julgamento está cercado de fatores políticos, à revelia dos ministros do STF, que o tornam mais delicado do que normalmente já é, por tratar-se de um ex-presidente da República. [antes de tudo um ladrão, mesmo sendo ex-presidente; como bem lembrou o ministro Barroso, o fato é que houve corrupção.] Embora o ministro Sergio Moro tenha sido atingido pelas suspeitas lançadas pelos supostos diálogos, mesmo que não tenham comprovação de veracidade, a Operação Lava-Jato não perdeu o apoio popular, e Moro é o ministro mais popular do governo.

O presidente Bolsonaro desde o início bancou o apoio a seu ministro, visto como um Super-Homem pelas ruas. Esse é um trunfo político que Moro tem, no momento em que a definição do caso parece ser mais política do que jurídica. Bolsonaro, por sua vez, só tem a ganhar com o apoio à Lava-Jato. Montou-se novamente na sociedade o clima de combate à corrupção contra o petismo. Nesse contexto, a libertação do ex-presidente pode ser interpretada pela maioria da população como leniência com a corrupção.

O general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, que indicou dois generais para assessorar o presidente do STF, Dias Toffoli, voltou ao Twitter para fazer defesa enfática de Sergio Moro assim que os primeiros diálogos foram publicados. Como tinha feito anteriormente, antes do julgamento pelo pleno do STF de um habeas corpus para Lula.Momento preocupante o que estamos vivendo, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo tentem esvaziar a Operação Lava-Jato, que é a esperança para que a dinâmica das relações institucionais em nosso país venha a transcorrer no ambiente marcado pela ética e pelo respeito ao interesse público. 
Expresso o respeito e a confiança no ministro Sergio Moro.”

Dias depois, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), deu uma declaração pública contra Lula em um café da manhã que Bolsonaro ofereceu a jornalistas no Palácio do Planalto. Com direito a soco na mesa e à afirmação de que Lula merecia pegar prisão perpétua, pena que não existe no Brasil. [aqui cabe um pequeno comentário: a turma que elaborou a Constituição de 88 - a dos direitos sem a contrapartida dos deveres - foi mais cuidadosa em favorecer a vida dos bandidos, visto que não proíbe prisão perpétua, e sim pena de caráter perpétuo, isto faz com que até uma pena de 30 anos aplicada a um réu que tenha 70 anos, pode ser anulada visto que tem caráter perpétuo, considerando as poucas possibilidade do individuo sair vivo da cadeia.] Toffoli nomeou seu assessor o general Fernando Azevedo e Silva, que depois foi chamado por Bolsonaro para ser ministro da Defesa. Na posse, agradeceu ao presidente do Supremo e à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, “a disposição de atuar como catalisadores da estabilidade institucional de que o país tanto precisa”.

O substituto no STF é o general Ajax Porto Pinheiro, um dos ex-comandantes das tropas da missão de paz da Organização das Nações Unidas no Haiti, como tantos outros militares que atuam no governo Bolsonaro. É essa “estabilidade institucional” que está em jogo no julgamento do Supremo.
 
 

domingo, 12 de maio de 2019

Ataque a militares explica governo

O importante nos episódios recorrentes de ataques do mentor ideológico do presidente e dos seus filhos aos ministros militares é a revelação do estilo deste governo de alimentar polêmicas desgastantes, usar o tom inadequado na comunicação e de queimar os seus próprios quadros. O presidente Jair Bolsonaro emite mensagens duplas. Avisa pelo porta-voz que as discussões devem ser encerradas, e em seguida as realimenta pelas redes sociais ou em falas ambíguas.

O debate estéril que atravessou a semana inteira, e na qual teve que se envolver até o general Villas Bôas, tem que ser entendido porque é revelador. Quando Olavo de Carvalho ataca alguém, ele desqualifica a si mesmo, porque não é um debate de ideias, mas uma coleção de palavras chulas e ofensas grosseiras. Ele não tem relevância alguma, passa a ser assunto porque o presidente o colocou em um panteão particular. Lá, Bolsonaro, seus filhos e seus seguidores mais fanáticos prestam-lhe homenagens tão frequentes quanto imerecidas. Fica pior quando essa adoração envolve símbolos nacionais e recursos públicos.

A grã-cruz da Ordem de Rio Branco não é propriedade do presidente da República
. O mandato acaba um dia, e a insígnia continua para ser dada pelo Ministério do Exterior a pessoas que tenham relevância. Não é definitivamente o caso em algumas das escolhas deste ano. Na Ordem de Rio Branco, o presidente foi ajudado por seu ministro do Exterior, Ernesto Araújo, cujo desequilíbrio se mede pela comparação que fez entre Bolsonaro e Jesus Cristo. Pessoas que deliram a esse grau não podem ser levadas a sério. Carvalho já estava atacando os militares do governo, quando o presidente mandou fazer um jantar em torno dele na embaixada em Washington, que custou, claro, recursos públicos.

O alvo durante vários dias foi o chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz. O ministro tem um currículo militar impressionante, e uma história pessoal de superação. Fez sua carreira com brilho incomum e teve destaque internacional no comando de tropas da ONU, de paz e de guerra. Assumiu com planos de diálogo mesmo com quem tem pensamento oposto ao seu. Nesse papel ele encontra com frequência os limites do próprio governo, que tem um entendimento muito primitivo de como lidar com divergência de pensamento. Os disparos contra Santos Cruz poderiam ser ignorados, mas ganham destaque porque são feitos por aquele que o presidente elegeu como sendo seu mentor ideológico. Se Olavo de Carvalho recebe tantas homenagens do governo e ataca desta forma um dos ministros, a dúvida recai sobre o próprio presidente: o que ele quer com essa automutilação?

A fritura neste governo começa de forma gratuita e é mais violenta. Desta vez foi usada uma frase de entrevista antiga dada pelo ministro. O que transformou esse pequeno truque em onda forte foram os comentários que o presidente e seus filhos fizeram nas
redes sociais. Mesmo quando as postagens não faziam referência direta ao assunto ajudavam a inflamar toda a torcida que se formou. Ela é minoritária, mas a histeria é sempre barulhenta.   A ambiguidade do presidente é que é o problema. E as anomalias que ele estimula. Bolsonaro permite que pessoa em tudo desimportante, alheia ao debate nacional, imersa em ressentimento, imiscua-se em assuntos de um ministério estratégico como o da Educação, indique o chanceler e ofenda os militares que ele nomeou para o governo. É Jair Bolsonaro que está em questão, dado que ele é o presidente eleito para administrar o Brasil por quatro anos. Quatro meses se passaram e com atos e palavras ele atinge o seu próprio governo, como se a ele fizesse oposição. O presidente pode demitir o ministro Santos Cruz da Secretaria de governo, mas é estranho que condecore e renda homenagens a uma pessoa que ataca quem ele mesmo nomeou. E após as agressões continue a cultuá-lo.

Eu já escrevi aqui que o movimento mais arriscado dos militares brasileiros foi a simbiose com o atual governo. A ditadura foi uma exceção, mas as Forças Armadas sempre tiveram por missão unir o país. E este governo investe em conflitos. Nos episódios desta semana, em que generais foram alvo, ficou evidente a confusão mental do presidente da República e seus métodos estranhos de governar.


 Miriam Leitão - O Globo



quarta-feira, 8 de maio de 2019

Notícia de corte de 43% chegou como uma bomba nas Forças Armadas


Militares não sabem como cortar 43% do seu orçamento. Governo está prevendo uma queda de R$ 30 bi nas receitas


Na área econômica, informação é que a queda nas receitas chega a R$ 30 bilhões. A notícia chegou como uma bomba no almoço de ontem do Alto Comando das Forças Armadas. A ordem do Ministério da Economia foi de corte de 43% no orçamento do Ministério da Defesa. Esse foi o assunto, indigesto, do almoço. Na área econômica, a informação é de que está havendo uma queda de nada menos do que R$ 30 bilhões nas receitas esperadas, além dos R$ 12 bilhões que entrariam caso a Eletrobras fosse privatizada.

O presidente Jair Bolsonaro estava lá, junto com o ministro Augusto Heleno, e havia uma especulação de que um dos assuntos seria a crise provocada pelos ataques nas redes sociais de Olavo de Carvalho — incensado pelo próprio presidente e seus filhos aos ministros militares. O assunto foi sepultado pela notícia dos 43%. O comentário de um general presente é que “nem no período do PT houve corte tão grande”. O ministro Fernando Azevedo disse que as Forças Armadas têm que buscar uma saída, mas os comandantes saíram desanimados do almoço, porque uma redução desse tamanho eles nem sabem como administrar.

No Ministério da Economia a explicação para a tesoura voadora é que houve encolhimento da previsão do crescimento do PIB. A retomada que se esperava não ocorreu, e a frustração é cada vez maior com o ritmo de alta do Produto Interno Bruto. Esta semana, a mediana das projeções do mercado chegou a ficar abaixo de 1,5%, mais precisamente, 1,49%.  No Orçamento, a alta prevista do PIB era de 2,5%. 

Já foi revista para 2,2%, mas novo corte é esperado na reunião da Junta Orçamentária no próximo dia 22. Todos os sinais que chegam ao governo são de economia esfriando. Alguns economistas do mercado começam a temer até um outro período recessivo.  O próprio Ministério da Fazenda está olhando quais de seus próprios órgãos podem ser reduzidos. Vários setores da máquina ficarão com o funcionamento integral inviabilizado. Além da queda das receitas pela redução do crescimento do PIB, o governo havia calculado um preço médio de petróleo a US$ 74 no ano, e a média esperada agora caiu para US$ 61. O petróleo mais alto pressiona preços dos combustíveis, mas eleva a arrecadação do governo. A receita caiu também pela diminuição da massa salarial. No Orçamento estava prevista a entrada de R$ 12 bilhões com a venda de ações da Eletrobras, mas o processo atrasou e não tem data certa. Por isso esse valor foi tirado da peça orçamentária, e foi preciso congelar gastos em quantia equivalente.

A situação pode se reverter ao longo do ano, mas o governo começa a contar com o “se”. Se houver alta do petróleo, se melhorar o nível de atividade. Dependendo do ministro Alexandre de Moraes, o dinheiro da Petrobras, que iria para o fundo da Lava-Jato, pode ir para o Tesouro.  Os investimentos foram cortados brutalmente. Para se ter uma ideia, o total de investimento público era de 1,33% do PIB em 2014, caiu para 0,77% em 2018 e este ano, com sorte, fica em 0,5% do PIB, explicam fontes do governo.

No último relatório bimestral das despesas, o Ministério da Economia havia previsto um corte de 22%. O problema é que duas semanas depois alguns gastos extras precisaram ser cobertos. Foram R$ 3 bilhões para os ministérios do Desenvolvimento Regional, da Ciência e Tecnologia, e da Infraestrutura. Juntando os pedidos emergenciais, foram R$ 3 bilhões. Além disso, houve uma liberação de recursos para o Exército em Roraima e pagamento de peritos da Secretaria da Previdência. E isso fez a tesoura ir para outros gastos.

No almoço de ontem a explicação dada para um corte tão draconiano foi que o quadro está bem adverso. Que há necessidade de fazer ajuste fiscal, há falta de recursos, e só a aprovação das reformas pode mudar o clima na economia.  O presidente Bolsonaro, de manhã, voltou a defender Olavo de Carvalho, apesar de todos os absurdos que ele disse nos últimos dias. Por isso, havia a especulação de que esse assunto poderia ser tratado. O general Villas Bôas deixou claro seu desagrado na longa nota da segunda-feira. Mas o tema não chegou a ser falado. Problemas irreais foram deixados de lado, para se tratar do principal: como cortar tanto no orçamento e ainda ser operacional. Uma fonte, ao sair, disse que não tem ideia de como conviver com um corte dessa dimensão.

Miriam Leitão - O Globo

 


terça-feira, 7 de maio de 2019

Crise entre Bolsonaro e militares se aprofundou



A autocrise que Jair Bolsonaro criou com os militares está longe de terminar. Agravou-se na noite passada. Em conversas presenciais e telefônicas —uma delas avançou até o início da madrugada desta terça (7)— integrantes da banda fardada do governo concluíram que o presidente sinaliza à opinião pública um sentimento de "desprezo" em relação às Forças Armadas. Faz isso ao endossar os ataques de seu ideólogo Olavo de Carvalho contra os militares.

A avaliação é de que o endosso de Bolsonaro se manifesta de duas formas: na "ausência de resposta" e na "reprodução das críticas" de Olavo nas suas próprias redes sociais. Estabeleceu-se um consenso entre os militares: o problema se chama Jair Bolsonaro, não Olavo de Carvalho. Essa impressão é compartilhada com oficiais da ativa das três forças armadas. O sentimento dos militares em relação ao presidente oscila entre a "irritação" e a "decepção".

Esperava-se que Bolsonaro modificasse seu comportamento depois que o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, reagiu em termos ácidos contra os ataques que Olavo de Carvalho dirigiu ao seu penúltimo alvo: o também general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo. Entretanto, além de dar de ombros para Villas Bôas, o presidente praticamente culpou Santos Cruz pelo novo capítulo da crise. A encrenca ressurgiu no final de semana. Utilizou-se como matéria prima da discórdia uma entrevista concedida por Santos Cruz há um mês. Indagado sobre o uso das redes sociais pelo governo, o general respondeu que a utilização teria de ser cuidadosa, para evitar distorções de segmentos radicais. Defendeu o diálogo. E manifestou-se a favor do aprimoramento da legislação para coibir abusos. "Controlar a internet, Santos Cruz?", indagou Olavo de Carvalho. "Controlar a sua boca, seu merda"

A repercussão baseada numa fake-interpretação das palavras do general estendeu-se às redes sociais do vereador carioca Carlos Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro. O próprio Jair Bolsonaro anotou na internet que seu governo não patrocinaria o controle das mídias, incluindo as sociais. E insinuou que deveria mudar para Cuba ou para a Coreia do Norte quem pensasse diferente. Nesta segunda-feira, questionado pelos repórteres sobre os ataques a Santos Cruz, Bolsonaro declarou: "De acordo com a origem do problema, a melhor resposta é ficar quieto. É essa orientação que eu tenho falado porque temos coisa muito, mas muito mais para discutir no Brasil. Aqueles que por ventura não tenham tato político estão pagando um preço junto à mídia.".

(...)

Na posse, Bolsonaro prestou continência para o general Villas Bôas, agora convertido em alvo de Olavo de Carvalho... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/?cmpid=copiaecola


Na posse, Bolsonaro prestou continência para o general Villas Bôas, agora convertido em alvo de Olavo de Carvalho


Villas Bôas é um dos oficiais mais respeitados das Forças Armadas. Comandou o Exército sob Michel Temer. Hoje, está lotado na assessoria do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ou seja, dá expediente no quarto andar do Planalto, a um lance de escada do gabinete presidencial. Na resposta que irritou Olavo de Carvalho, Villas Bôas foi duro. Mas não desceu ao nível do autoproclamado filósofo que os Bolsonaro idolatram. 

O general escreveu num trecho do seu texto: "Mais uma vez o senhor Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas, demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia. Verdadeiro Trótski de direita, não compreende que, substituindo uma ideologia pela outra, não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesãoe estruturar um projeto para o país."