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domingo, 4 de dezembro de 2022

Golpe de Estado - Revista Oeste

Flávio Gordon

Para o PT, a democracia jamais foi um valor em si mesmo, mas uma “questão estratégica”

 
Quando, em setembro de 2018, em entrevista ao El País, José Dirceu declarou que era questão de tempo para o PT tomar o poder, e que essa tomada nada tinha a ver com ganhar uma eleição, poucos no Brasil pareceram se importar. E, todavia, o que Dirceu fazia ali era anunciar o golpe de Estado que, um ciclo eleitoral depois, ele e seus companheiros dariam no país. Com efeito, o golpe nada teve a ver com sucesso na eleição. Ao contrário, o próprio pleito recém-vencido — de maneira ilegítima, frise-se sempre é que foi a consagração formal do golpe, erigido, entre outras coisas, sobre o aparelhamento das instituições da sociedade civil (notadamente da imprensa) e do Estado (notadamente o Poder Judiciário). O golpe teve a ver, sobretudo, com aquilo que, em obra clássica, Curzio Malaparte definiu como o manejo de uma técnica.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

“O problema da conquista e da defesa do Estado não é uma questão política, e sim técnica” — diz Malaparte, referindo-se especificamente por técnica ao controle dos centros de poder tecnológico e aos meios de coleta de informações. É sintomático nesse sentido que o anunciante do golpe tenha sido um ex-agente do serviço secreto cubano (se é que existe essa coisa de “ex”-agente de um serviço secreto), por longos anos dedicado ao aprimoramento da “técnica” malapartiana, e que, em tempos longínquos, chegou a se gabar da informação acumulada acerca de campanhas adversárias. Como bem mostrou a jornalista Paula Schmitt em artigo recente, a razão da recente subversão do Estado de Direito no Brasil pode muito bem residir no velho instituto soviético do kompromat, informações comprometedoras que podem ser usadas para chantagear pessoas poderosas.

Mas, seja como for, o fato do golpe de Estado parece-me incontestável. É claro que dificulta a sua visualização o estereótipo tradicional associado ao conceito, que costuma subentender o emprego de força militar. Na imaginação coletiva brasileira, em especial, a noção de golpe de Estado remete ao 31 de março de 1964 e às cenas de tanques nas ruas e soldados marchando. Mas há vários estilos de golpe de Estado, e o estilo adotado pelo lulopetismo — corrente política originalmente moldada pelo pensamento de Antonio Gramsci, o teórico do aparelhamento — foi o da captura e do parasitismo das instituições democráticas. Para o PT, com efeito, a democracia jamais foi um valor em si mesmo, mas uma “questão estratégica”. Daí que, em 2 de outubro de 2002, antes de sua primeira vitória eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva tenha confessado ao jornal francês Le Monde: “A eleição é uma farsa pela qual é preciso passar para se chegar ao poder”.

O golpe de Estado jurídico procede via exercício de um poder originalmente adjudicado aos magistrados pela norma fundamental, mas em seguida usurpado por eles e utilizado para a imposição de vontades políticas

Uma vertente da técnica lulopetista de golpe de Estado é aquela que alguns teóricos do Direito chamam especificamente de “golpe de Estado jurídico”. Como explica Alec Stone Sweet, professor de Direito da Universidade de Yale, o conceito de golpe de Estado jurídico implica uma transformação radical nas fundações normativas de um sistema legal, operada mediante ativismo judicial por parte dos membros de uma Corte constitucional, que passam a agir como legisladores. 
 Essa “transformação radical” ocorre, em primeiro lugar, sempre que a lei constitucional derivada do ativismo não corresponde ao espírito e aos propósitos do poder constituinte originário
Em segundo lugar, sempre que altere fundamentalmente e, de novo, de maneira não prevista ou pretendida pelos constituintes — a maneira habitual de funcionamento do sistema legal. 
Essa transformação fará com que seja impossível a um observador deduzir o novo sistema legal (ou para-legal) a partir do arcabouço institucional prévio. E, obviamente, acarretará uma quebra na ortodoxia montesquiana da separação de Poderes vigente no contexto pré-golpe. No novo contexto, o instituto habitual de freios e contrapesos não será capaz de disciplinar os papeis e as limitações constitucionais dos órgãos do Estado.
 
A pulsão legisferante de magistrados politicamente comprometidos produz na Carta Magna mudanças não delimitadas pelo texto constitucional, conquanto operadas em seu nome. 
Ao contrário do golpe de Estado estereotípico (revolucionário) cujos atos são explicitamente não autorizados pelo que Kelsen chamou celebremente de “norma fundamental” preexistente (uma Constituição, por exemplo) —, o golpe de Estado jurídico procede via exercício de um poder originalmente adjudicado aos magistrados pela norma fundamental, mas em seguida usurpado por eles e utilizado para a imposição de vontades políticas.
 
Eis porque o golpe de Estado jurídico seja muito mais insidioso e difícil de conter, uma vez que, menos espalhafatosos que golpistas revolucionários ortodoxos, seus agentes impõem uma nova ordem recorrendo aos topoi e ao prestígio da velha ordem. Daí que possam, por exemplo, julgar em favor da censura no ato mesmo de condená-la verbalmente por inconstitucional. 
Ou palestrar em evento intitulado “Brasil e o Respeito à Liberdade e à Democracia” no instante em que perseguem cidadãos politicamente não alinhados. Ou ainda posar de bastiões da Constituição no instante em que violam a separação de Poderes e, conduzindo inquéritos semiclandestinos alheios ao sistema acusatório, mandam às favas o devido processo legal. Como bem disse o saudoso Olavo de Carvalho em postagem que voltou a circular nas redes sociais ao longo dos últimos dias:Uma democracia não pode ser instaurada por meios democráticos: para isso ela teria de existir antes de existir. Nem pode, quando moribunda, ser salva por meios democráticos: para isso teria de continuar saudável enquanto vai morrendo. O assassino da democracia leva sempre vantagem sobre os defensores dela. Ele vai suprimindo os meios de ação democráticos e, quando alguém tenta salvar a democracia por outros meios — os únicos possíveis —, ele o acusa de antidemocrático. É assim que os mais pérfidos inimigos da democracia posam de supremos heróis da vida democrática”.

Leia também “O processo eleitoral brasileiro e a soberba dos malandros”

Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A coisa ficou russa para o Crime Institucionalizado

Mamãe era comunista... Só que tinha uma bronca terrível da falecida União Soviética... A Maria da Conceição chamava o regime russo de “Ditadura Assassina que cuidava de um Monstro Estatal”... Ela me ensinou isto quando tinha 13 anos de idade... Perdi minha mãe aos 14, e não tive outro jeito na vida a não ser estudar muito – principalmente História... Dediquei muita leitura ao Nazifascismo, ao Comunismo e ao nosso Estado Novo. Em resumo, tomei aversão de autoritarismo e totalitarismo, sob controle estatal centralizadíssimo, quase imperial.

Bruzundanga parece a réplica mais que imperfeita e tropical da extinta (?) União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Vivemos em um País Capimunista. Somos hoje a resultante de uma mistura doida do modelo gerado a partir do Estado Novo da Era Vargas – que tentou organizar, pela via autoritária, uma República que não conseguiu ser implantada, de verdade, pelo golpe militar que derrubou o Império em 15 de novembro de 1889 – com a influência de idéias e práticas socializantes da mais estúpida “estadodependência”. Toda esta mistura sob a polarização extremista mais idiota do universo...

Além dessa radicalização, a novidade trágica do momento presente é o emprego cínico da ideologia para “justificar” privilégios estatais e a roubalheira institucionalizada. Outra boa nova é que os segmentos esclarecidos da sociedade já percebem como funciona tal mecanismo. Os prejudicados demandam um ataque direto a quem usa a política como meio criminoso. Melhor que tudo isso são as novas ideias e práticas que vão surgir a partir dos embates radicalóides. Extremos jurássicos fazem o papel de Imbecis da História, com tendência de autodestruição até a extinção.

Por isso, a gente só pode rir até renascer com a notícia de que a ex-Presidenta Dilma Rousseff, e a Presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, fizeram uma visita “secreta” à Rússia, entre os dias 4 e 5 de junho. As kamaradas tupiniquins se reuniram com dirigentes do velho Partido Comunista Russo. O curioso é que o fato aconteceu cinco dias antes do IntercePT Glenn Greenwald veicular seus ataques criminosos, vazando conversas espionadas sobre o Telegram de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e demais integrantes da Força Tarefa da Lava Jato. A aventura russa é noticiada em http://duma.gov.ru/en/news/45218/         

Ainda bem que o #PavãoMisterioso revelou que tudo foi captado pelo hacker russo Evgeniy Mikhailovich Bogachev, também conhecido como Slavic. O cara, um dos mais procurados do mundo, agiria, movido a muita grana em criptomoedas, em favor do serviço secreto russo. Slavic teria recebido 84 BTC (Bitcoins) que foram convertidos para US$ 308 mil e enviados para um banco no Panamá, convertido para Ethereum e de lá para contas na Rússia e China. Os russos devem ser muito otários em acreditar que Dilma e Gleisi tenham competência e condições de retomar o projeto de implantação do socialismo/comunista no Brasil. Será que as bruxas da petelândia conseguiram enganar os comunas velhacos da extinta União Soviética? É ruim... Ainda mais que o comunismo criminoso nunca esteve tão em baixa e tão bem combatido pela Lava Jato e afins.

A Polícia Federal do Brasil vai pegar pesado contra o esquema IntercePT e facção criminosa esquerdista vai se desmoralizar ainda mais... O que se espera é que os segmentos conservadores não insistam na tática errática de combater os idiotas com as próprias armas deles, apenas ampliando o clima de radicalização no Brasil, sem apontar e colocar em prática soluções alternativas ao Capimunismo Rentista, Criminoso e “Estadodependente”.

Felizmente, a coisa está russa para o Crime Institucionalizado no Brasil. A Política precisa ser saneada, pois não pode ficar, por muito mais tempo, como uma “questão de polícia”. O que vem por aí, na guerra de todos contra todos, será maravilhoso para o presente-do-futuro no Brasil. Militantes meliantes, vocês vão se ferrar...

Resumindo: Quem tentou sabotar a Lava Jato parece que conseguiu fortalecer o combate ao Crime Institucionalizado. Parabéns, Kamaradas!!!  Aliás, o comunismo internacional vai mesmo à falência completa... Imagina  depender da competência da Dilma e da Gleisi para avançar... Lênin já rolou 13 vezes no túmulo, de tanta vergonha... 
 
 

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

 

 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

“Tá todo mundo louco, oba!” e outras notas de Carlos Brickmann

O objetivo dos lulistas não é figurar na galeria ao lado de Obama, que afinal de contas era presidente “duzianqui”, é criar um paralelo com Nelson Mandela

“Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. O autor da frase, Octavio Mangabeira, foi modesto: no Brasil todo há precedentes de tudo.  Grupos do PT articulam a indicação de Lula ao Prêmio Nobel da Paz. Bom, se for contemplado, ficará ao lado de Obama, que ganhou o prêmio ao chegar à Casa Branca e foi o primeiro presidente americano a passar em guerra todos os dias de seus dois mandatos. Mas o objetivo dos lulistas não é figurar na galeria ao lado de Obama, que afinal de contas era presidente “duzianqui” e o surpreendente líder “dos galeguinho di zóio azul”: é criar um paralelo com Nelson Mandela, que saiu da prisão para dirigir a África do Sul, e deixar mal o Governo, que teria de soltar Lula para receber o prêmio ou mantê-lo preso enquanto o Comitê Nobel tentaria homenageá-lo. [Lula 'Prêmio Nobel de Paz' seria ridicularizar algo que ainda tem valor]

Em Sinop, no Mato Grosso, a mãe foi a um bar com amigos e deixou os quatro filhos pequenos sozinhos. Ao voltar, viu um homem de 36 anos nu na cama com sua menina de cinco anos. Espancou-o com cabo de vassoura e cano de PVC. O cavalheiro foi para o hospital. Ela foi presa por agressão. Lembra um caso recente, em que os mesmos bandidos invadiram a mesma casa três vezes, roubando tudo e espancando os moradores. Na terceira, o dono da casa tomou o revólver de um bandido e matou-os. Foi preso na hora, pela mesma polícia que, enquanto ele era assaltado repetidas vezes, não tinha sequer sido vista nas proximidades do local dos crimes.

Bobeou, dançou
O ator José de Abreu pisou em falso: em seu twitter, acusou o Mossad, serviço secreto israelense, de ter tramado e executado um atentado falso a Bolsonaro, com a cumplicidade do Hospital Israelita Albert Einstein, onde o então candidato, segundo ele, se fingiu em risco. A prova disso, disse Abreu, é que o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu veio ao Brasil para a posse de Bolsonaro. Vieram também dezenas de chefes de Estado e de Governo, mas não eram judeus, e Abreu não quis culpá-los.

(...)

Igualdade seletiva
Hélio Negão, o negro mais bem votado nessas eleições, com pouco mais de 345 mil votos, tomou posse como deputado federal do Rio sem notícias especiais, sem manifestações do movimento negro, sem ONGs a apoiá-lo. Há motivo para essa indiferença: Hélio Negão é negro, luta contra o racismo, mas é do PSL, partido de Bolsonaro. E sofre agressões por isso, de cunho discriminatório: um músico ligado a partido adversário o chamou de “Negão do Bolsonaro”. Pelo jeito, um cidadão negro tem o direito de votar em quem quiser, desde que seja no partido dos bem-pensantes,

Faz-se a luz
Palocci está depondo sobre fundos de pensão. Ele conhece.






 


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O que aconteceu com culpados depois de grandes atentados?




Todo atentado contra figuras políticas é uma falha de segurança e os serviços de proteção tiram lições importantes; culpar a vítima não é uma delas


O homem que não matou Ronald Reagan por uma distância de apenas dois centímetros entre a bala alojada no pulmão e o coração -, está livre e solto, morando no casarão da mãe.

O que explodiu uma bomba no quarto de hotel um andar acima de onde estava Margaret Thatcher, em 12 de outubro de 1984, matando cinco pessoas, saiu da cadeia com o acordo de pacificação da Irlanda do Norte e vive sem grandes preocupações.
(A primeira-ministra, claro, escapou, mandou todos os que podiam andar comprar ternos novos para prosseguir com a convenção do Partido Conservador e escreveu um bilhete pessoalmente para cancelar o cabeleireiro naquele dia, mas agradecendo pelo penteado que aguentou tão bem os infaustos acontecimentos. Não é qualquer uma que pode ser chamada de Dama de Ferro).

Yigal Amir, o assassino de Yitzhak Rabin, continua preso, mas conseguiu romper o isolamento total em que passou quinze anos. Casou-se na prisão com uma escritora russa emigrada para Israel, seguidora da corrente ortodoxa do judaísmo.
Ela largou o marido, com quem tinha quatro filhos, para ficar com o assassino que continua a ser idolatrado por uma minoria de religiosos ultrarradicais para quem Rabin estava traindo Israel. Conseguiu direito a visitas conjugais e, em 2007, teve um filho com Amir.
Todos estes atentados foram produto de “falhas colossais” de segurança, como foi determinado no caso de Reagan.

Aconteceram nos países com os melhores serviços de proteção do planeta, cada qual no seu estilo. Inevitavelmente, provocaram inquéritos rigorosos e mudanças nos métodos usados.  Sem contar a enorme frustração entre os responsáveis pelos esquemas furados – além de choro, sentimentos de culpa e pedidos de demissão.

No caso do diretor do Shin Bet, o serviço de inteligência interna que faz a segurança dos líderes israleneses, o pedido foi aceito um ano depois, para não passar recibo.  Em nenhum desses casos as vítimas foram responsabilizadas. Os diferentes destinos dos criminosos que os praticaram mostram o funcionamento do estado de direito de acordo com a tradição de cada país e as condições específicas de cada caso.

MALUCO RACIONAL
O de John Hinckley, por exemplo, continua a provocar uma discussão eterna: por que a justiça aceita a alegação de insanidade em relação a criminosos que “não rasgam dinheiro”. Ou seja, operam com racionalidade na execução de suas tramas perversas, sem sinais do comportamento claramente desequilibrado dos doentes mentais.

De boné, agasalho esportivo e um sorriso difícil de esconder, John Hinckley já superou esta fase do debate. Anda tranquilo pelas ruas arborizadas de Williamsburg, na Virginia, pertinho de Washington.
O presidente Ronald Reagan, que ele mirou com um quase ridículo revólver calibre .22 , uma arma tosca do tipo “saturday night special”, deixou o mundo depois de um longo inverno de senilidade, em 2004, e de uma presidência bem sucedida e popular.
James Brady, o secretário de Imprensa que foi o mais gravemente ferido das quatro vítimas atingidas pelas seis balas disparadas por Hinckley no dia 30 de março de 1981, morreu depois de 30 anos em cadeira de rodas, com grave comprometimento das funções cerebrais.
Sua morte foi considerada um homicídio, devido às sequelas do tiro na cabeça.
A decisão teve efeito zero sobre Hinckley, considerado inimputável por transtorno de personalidade esquizóide e depressão. Internado em hospital psiquiátrico, em 2016 finalmente conseguiu que um juiz endossasse uma avaliação psiquiátrica favorável.
Como a maioria dos americanos na sua faixa etária – 63 anos -, está acima do peso. Trabalha com venda de livros pela Amazon.

Não tem problema de dinheiro. Os pais eram ricos e se mudaram para ficar perto dele durante a internação. A mãe ainda está viva e cuida da casa grande, ao estilo americano.
Em várias tentativas anteriores de conseguir a liberação, Hinckley se deu mal. Em seu quarto sempre eram encontrados materiais referentes a Jodie Foster. A obsessão doentia pela atriz, que era uma adolescente na época, foi a causa que moveu a mão do assassino.
A tara nasceu com o filme Taxi Driver, em que Jodie é uma prostituta infantil protegida pelo motorista de táxi antologicamente interpretado por Robert De Niro, que tenta matar um senador que se candidata a presidente.
“Existe a possibilidade de que seu seja morto na minha tentativa de pegar Reagan”, escreveu ele à atriz pouco antes de sair para ficar à espreita na calçada do Hilton de Washington. “Jodie, eu abandonaria essa ideia de pegar Reagan num segundo se pudesse conquistar seu coração e viver o resto da vida com você”.
As tentativas anteriores de entrar em contato com Jodie tinham sido repassadas à direção de Yale, onde ela cursava literatura. Hinckley, obviamente, ignorava que Jodie nem gostava de homem, muito menos de um maníaco desconhecido. Enviadas às autoridades devidas, as cartas chegaram ao Serviço Secreto, que falhou miseravelmente em investigar melhor. O legendário serviço de proteção aos presidentes americanos também deixou buracos absurdos no dia do atentado.

CÍRCULOS FURADOS
O trajeto de apenas nove metros entre a limusine presidencial, afetuosamente conhecida como A Fera, e a entrada lateral do Hilton, um corredor feito para proteger presidentes, foi liberado para pessoas do público que não passaram pela checagem de segurança.
Hinckley furou dois dos três círculos concêntricos que formam o esquema clássico de proteção e praticamente atirou a queima-roupa.

Nem Reagan nem os guarda-costas usavam coletes a prova de balas, um equipamento pesado e inevitavelmente desconfortável. O dos guarda-costas nem sequer segura uma bala: é feito apenas para que não sejam traspassados por tiros que atinjam o presidente.
O corpo usado como armadura, estendido com os braços abertos para aumentar a cobertura, foi exatamente o que fez o agente Tim McCarthy, que levou um tiro no abdômen ao se colocar na frente de Reagan quando Hinckley começou a atirar – ao todo, ao longo da história, só quatro membros do Serviço Secreto americano fizeram isso.

Jerry Parr já havia empurrado Reagan para a limusine com blindagem de quase dois palmos. Calmamente, os agentes discutiram o percurso a ser seguido. Jogado sobre o presidente, Parr começou a checar seu corpo com as mãos.
Não encontrava nenhum sinal de ferimento. Quando Reagan começou a jorrar sangue pela boca, mandou o motorista mudar o trajeto e seguir para o hospital mais próximo da Casa Branca. Ainda não sabia que uma bala ricocheteada na blindagem da limusine havia entrado pela axila do presidente, chegando ao pulmão. “Espero que sejam todos republicanos aqui”, brincou Reagan com a equipe de traumatologia do hospital da Universidade George Washington. “Hoje somos todos republicanos, presidente”, respondeu o chefe da equipe, Joseph Giordano, filiado ao Partido Democrata.

Reagan estava em choque, com pressão a 60 e sofreu perda de quase 50% do volume total de sangue. A bala no pulmão, com a consequente inundação do tórax pela hemorragia, só foi localizada depois de uma extensa incisão no peito. A operação durou 105 minutos.  Outra semelhança com o caso de Jair Bolsonaro: Reagan foi salvo pela proximidade do hospital e a destreza dos médicos – e claro, os tais dois centímetros que faltaram para a bala atingir o coração.

Em 1881, quando o presidente James Garfield levou dois tiros, um no braço e outro nas costas, disparados por um advogado inconformado por não conseguir um emprego no governo, o tratamento médico que recebeu foi simplesmente pavoroso.  Indiferente ao que a medicina já sabia sobre assepsia, o médico Willard Bliss passou a escavar regularmente o buraco nas costas, com as mãos nuas, tentando localizar a bala alojada no abdômen.
Antes de morrer por infecção generalizada, Garfield ficou com o corpo inchado por pus, com o abscesso cada vez pior e a escavação cada vez mais profunda. Apodrecia, literalmente. Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, tentou localizar a bala com uma espécie de detector. A tortura durou dois meses. Quando morreu, o presidente pesava 59 quilos.
A defesa do assassino tentou, alegar insanidade pela primeira vez num caso de enorme repercussão. Charles Guiteau, o assassino, colaborou com um comportamento bizarro e declarações do tipo “os médicos mataram Garfiled, eu só dei o tiro”. Não colou. Foi enforcado em 1882, um ano depois do atentado.

‘CRIME É CRIME”
Patrick Magee, o militante do Exército Republicano Irlandês que instalou uma bomba no banheiro do quarto de hotel um andar acima de onde Margaret Thatcher estava hospedada para a convenção conservadora, cumpriu 15 anos de cadeia.
Foi beneficiado pelo acordo que encerrou o longo conflito entre a minoria católica da província da Irlanda do Norte e a maioria protestante, com intervenção do exército britânico, repressão violenta, atentados terroristas, execuções, prisões em massa e outras barbaridades cometidas pelos dois lados que ficaram conhecidas, eufemisticamente, como Trouxestes, os “problemas”.

Com o nome falso de Roy Walsh, ele se hospedou um mês antes no hotel de Brighton onde haveria a convenção. No banheiro do quarto 629, escondeu a bomba que seria detonada à distância, na madrugada de 12 de outubro de 1984, para matar o maior número possível de pessoas. Era uma vingança pela morte em greve de fome de dez presos do IRA que exigiam ser reconhecidos como presos políticos, mas foram recebidos com a resposta inflexível dela: “Crime é crime, não é política.”

E, principalmente, Margaret Thatcher. Três andares do hotel desabaram, mas ela escapou por segundos: tinha acabado de sair do banheiro que virou uma panqueca com a explosão exatamente acima dele. Fez um discurso histórico no mesmo dia.  O IRA lamentou não ter acertado a primeiro-ministra e prometeu fazer melhor da próxima vez.  O “Acordo da Sexta-Feira Santa”, em 1990, tirou Magee da cadeia, onde cumpria oito penas sucessivas de prisão perpétua.

Apesar do acordo, atualmente, ainda estão sendo investigados oficiais britânicos que participaram de atos de repressão com mortes durante a década de setenta. Todos têm idade avançada. A ideia, evidentemente abominada pelos militares, é esclarecer casos históricos.  Quando Reuven Rivlin, o presidente de Israel, foi inquirido sobre a possibilidade de indultar Yiigal Amir, o homem que acertou dois tiros em Yitzhak Rabin na saída para um estacionamento da prefeitura de Telavive, deu uma resposta contundente.
“Enquanto eu for o presidente do estado de Israel, o assassino do primeiro-ministro não será libertado.”
Hagai Amir, irmão e, segundo muitos acreditam, cúmplice, respondeu pelo Face: “Somente Deus pode decidir sobre isso. Assim como Deus decidiu pela morte de Rabin.”
Os lugares mudam, as pessoas – e as desculpas – são as mesmas.