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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Assassinar a justiça em nome do poder - Ana Paula Henkel

Revista Oeste 
 
Mais de 250 anos depois do Massacre de Boston, o caso Kyle Rittenhouse mostra que a imprensa, muitas vezes propositalmente, vilipendia e agride a verdade 
 

O Massacre de Boston, o conflito histórico na América Colonial, que energizou o sentimento antibritânico e abriu caminho para a Revolução Americana, começou como uma briga de rua entre colonos americanos e um soldado britânico solitário, mas rapidamente se transformou num massacre caótico e sangrento.

Após os acontecimentos do evento que se tornou um dos mais importantes da história norte-americana, a indignação dos colonos obrigou o governo a prender Preston e seus homens sob a acusação de assassinato e de “serem movidos e seduzidos pela instigação do diabo e de seus próprios corações perversos”.

Nos meses que antecederam o julgamento dos soldados da Coroa britânica, uma batalha na mídia foi travada entre legalistas e patriotas sobre quem era o culpado pelo incidente. Um lado, sem se atentar aos importantes detalhes do evento mortal, tentava incansavelmente incendiar a opinião pública e o júri contra os soldados em manchetes sensacionalistas, caracterizando-os como “bárbaros ferozes sorrindo para suas presas”.

Quase um século mais tarde, no fim dos anos 1800 nos Estados Unidos, o chamado “jornalismo amarelo” (Yellow Journalism) se tornou um estilo de reportagem que enfatizava o sensacionalismo sobre os fatos. Durante seu apogeu, no fim do século 19, o estilo foi um dos muitos fatores que ajudaram a empurrar os Estados Unidos e a Espanha para a guerra em Cuba e nas Filipinas (Spanish-American War). William Randolph Hearst, editor do New York Journal, e seu arquirrival Joseph Pulitzer, editor do New York World, são considerados responsáveis pela criação de um jornalismo marcado por histórias sensacionalistas, o uso de títulos e imagens exageradas e a divulgação de casos que mais tarde poderiam requerer retratações e correções. Pouca checagem. Poucos fatos verificados. Sim, parece 2021.

Duzentos e cinquenta anos depois do Massacre de Boston e mais de um século depois do jornalismo amarelo, ainda é possível ver os frutos obscuros dessa imprensa que, sem se aprofundar nas investigações dos fatos, muitas vezes propositalmente, vilipendia e agride não apenas a verdade, mas a inteligência de cada um de nós. Divisões ideológicas fazem parte do mundo há séculos, mas talvez estejamos testemunhando um dos períodos de maior animosidade no campo político e que anda empurrando o antigo jornalismo investigativo e factual para a rasa militância do proselitismo barato.

Depois de testemunharmos a grande imprensa espancar a verdade durante os quatro anos de Donald Trump na Casa Branca, veio a pandemia e assistimos a veículos de comunicação aplaudirem a censura de jornalistas e a derrubada de canais e mídias de médicos, fazendo-nos entender do que são capazes para manter narrativas.

O caso
Nessa semana, o que já foi considerado parte relevante na sociedade desceu mais um degrau na cobertura do já histórico julgamento de Kyle Rittenhouse, um jovem norte-americano que atirou em três pessoas durante as violentas manifestações do Black Lives Matter que aconteceram em agosto do ano passado. Duas morreram. O caso é emblemático porque demonstra o rápido avanço da deterioração da imprensa, promovida pela nefasta agenda da esquerda radical nos Estados Unidos e no mundo. Aqui em Oeste, seguiremos o papel digno do bom jornalismo totalmente descartado pela mídia atual e mostraremos o que de fato aconteceu. Avaliações posteriores ficam a cargo dos leitores.

Na agenda da vil esquerda radical norte-americana, hoje com braços importantes na grande imprensa — ou departamento de marketing do Partido Democrata, como queiram —, havia apenas uma única pauta para 2020: derrubar o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com as eleições presidenciais em novembro do ano passado, nada mais importava, uma vez que falharam todas as tentativas desde a sua posse, em janeiro de 2017. A morte de George Floyd, em junho de 2020, foi o estímulo perfeito para que grupos terroristas como Antifa e Black Lives Matter inflamassem a opinião pública com manifestações violentas.

A cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin, também foi alvo das ações desses grupos depois que Jacob Blake, um procurado pela Justiça americana, entrou em luta corporal com policiais após ser perseguido e ter resistido à prisão. Na perseguição, os policiais usaram tasers (arma de choque) e, sem sucesso, houve confronto com a polícia — e ele foi alvejado com sete tiros, sobrevivendo aos ferimentos. A violenta militância das ruas dos guetos digitais usou o evento para que a narrativa de “racismo estrutural por parte da polícia” fosse empurrada mais uma vez. Kenosha ardeu em chamas. Literalmente. Seguindo o roteiro de outras manifestações violentas, em meio a uma campanha presidencial que tinha um único objetivo, vândalos tomaram as ruas da cidade e tocaram o terror, destruindo propriedades, atacando a polícia e agredindo pessoas. Bairros inteiros foram queimados enquanto a imprensa noticiava que “manifestações pacíficas” pediam justiça contra um “sistema opressor”.

O governador democrata de Wisconsin se negou a enviar maiores reforços policiais à cidade, mesmo após Donald Trump oferecer ajuda federal na tarde que precedeu o confronto entre Kyle Rittenhouse e os manifestantes violentos. A falta de policiamento fez a comunidade buscar a autodefesa. Temendo mais vandalismo depois de quase uma centena de estabelecimentos terem sido destruídos na noite anterior, donos de lojas começaram a chamar amigos e conhecidos para proteger suas propriedades. Kyle Rittenhouse, que trabalhava como salva-vidas numa cidade vizinha, estava entre os que se voluntariaram para ajudar. Poucas horas antes do confronto que colocaria Kyle em um tribunal, o rapaz de 17 anos havia sido fotografado limpando paredes pichadas pelos manifestantes. Ele tinha familiaridade com armas e treinamento de primeiros socorros, levando consigo um kit médico para eventualmente prestar socorro aos feridos.

Enquanto andava pela cidade, Kyle se perdeu de seu grupo e começou a ser ameaçado e perseguido por Joseph Rosenbaum, que, vendo que o garoto queria impedir o vandalismo, gritava aos companheiros: “Batam nele!”. Rosenbaum foi alvejado quando tentava tirar a arma de Kyle e morreu no hospital. Durante o julgamento de Kyle, que durou duas semanas, os americanos souberam que Rosenbaum era condenado por estuprar crianças de 9 a 11 anos, além de estar sendo investigado por agressão doméstica e conduta desordeira. Nada disso foi reportado pela imprensa.

Logo após atirar em Rosenbaum em legítima defesa, Kyle foi perseguido por uma turba de vândalos e foi atacado por um homem que tentou acertar sua cabeça com um skate. Outro manifestante apontou uma pistola Glock para o rosto de Kyle. Depois de ser caçado e ter atirado em três homens para sobreviver, ele correu para o final da rua onde havia vários carros de polícia e relatou o que havia acontecido. O policial disse para o rapaz ir para casa, mas Kyle foi até uma delegacia de polícia e se entregou, reportando em detalhes todo o episódio.

O julgamento
Nenhum dos envolvidos no terrível evento era negro. Mesmo assim, ativistas de esquerda, incluindo os milhares de militantes de redação e redes sociais, passaram a tratar Kyle Rittenhouse como racista, mesmo sem uma única evidência sobre isso. A esquerda americana e seu gabinete midiático agiram com indignação, sugerindo que o resultado do julgamento que inocentou o rapaz apenas prova que o sistema criminal é racista. Mesmo depois do veredicto que o inocentou, a imprensa continuou a apontar Kyle como um “supremacista branco com licença para matar”. Os principais veículos de imprensa no Brasil vergonhosamente seguiram a linha e, em completa desconexão com a realidade, espalharam dezenas de manchetes sensacionalistas e muitas fake news.

Se a reação da esquerda a esse caso não te assusta, receio que você não entenda o que ela prega e representa

Para quem acompanhou o julgamento e assistiu a uma dezena de vídeos daquela trágica noite, a legítima defesa e a inocência de Kyle ficaram evidentes. Já quem acompanhou pela extrema imprensa desenvolveu uma perspectiva oposta. Pelos militantes de redação, Kyle já estava condenado desde o primeiro dia. Mas havia muito mais diante do tribunal em que Kyle estava sendo julgado. 
Com a pressão violenta da extrema esquerda digital, havia o ataque ao devido processo legal, à Segunda Emenda Americana e ao direito de legítima defesa. 
Na mente dos furiosos radicais, esses chamados direitos — presunção de inocência, julgamento por júri, prova de culpa além de qualquer dúvida razoável, etc., — não são as proteções legais fundamentais contra a autoridade arrogante que a jurisprudência anglo-saxônica considerou que fossem. Na mente da esquerda reinante, quando consideram o réu antipático e objeto de suas pautas de poder, subvertem o objetivo maior e mais importante da justiça social.

É assim que se parecem na prática as doutrinas perniciosas da identidade progressista moderna. A “teoria crítica” que subscrevem diz que a verdadeira justiça não pode ser proferida por um tribunal presidido por um juiz cujo resultado é determinado por um júri imparcial. Toda essa estrutura seria um produto próprio do racismo, da opressão e da discriminação. O que eles querem é justiça revolucionária. O veredicto do sistema legal será suplantado pelo “julgamento do povo” para que alguém como Rittenhouse pague pelo crime de defender a si mesmo e a propriedade de outros contra os “terroristas do bem”.

Júris às vezes chegam a veredictos errados. Mas ninguém que assistiu às fases críticas do julgamento de Kenosha pode afirmar que as evidências provaram a culpa do réu além de qualquer dúvida razoável. Longe de representar alguma falha maligna no processo legal, ele mostrou que o sistema americano (ainda) funciona da melhor forma. Se a reação da esquerda a esse caso não te assusta, receio que você não entenda o que ela prega e representa. Nem até que ponto o veneno desse dogma subversivo é nocivo e já se espalhou através de um movimento político-ideológico que vai contra tudo o que ainda protege nossas liberdade e direitos constitucionais.

Leia também “O preço do radicalismo”  e O caso Kyle Rittenhouse e a histeria das elites

 

sábado, 11 de abril de 2020

O Brasil dividido entre o partido antivírus e o pró-vírus - J. R. Guzzo - Gazeta do Povo





A epidemia oferecida ao mundo pelo coronavírus da China conseguiu produzir, no Brasil, um fenômeno talvez sem precedentes: pela primeira vez na história uma substância química passou a servir como linha de divisão entre a direita e a esquerda. É essa hidroxicloroquina, um clássico trava-língua do qual ninguém jamais tinha ouvido falar até hoje fora da comunidade envolvida com o universo da química, mas sobre a qual todo mundo passou a ter, subitamente, opiniões apaixonadas – do presidente da República ao porteiro do seu prédio. A discussão é se essa droga, disponível através da indústria farmacêutica, serve ou não para curar a Covid-19.


Química é química, e política é política, mas no Brasil irracional em que estamos vivendo, as coisas não são assim. Se você é de direita, e a favor do presidente Jair Bolsonaro, você acha que a hidroxicloroquina é um santo remédio para curar a Covid-19. 
Se você é de esquerda, e contra o governo, acha que é um veneno – ou, no mínimo, uma substância suspeita, de efeitos desconhecidos e que não pode, de jeito nenhum, ser receitada para ninguém.

Ouça: 
[No podcast tem:
- detalhes sobre a hidroxicloroquina e mais
- oito tratamentos contra a Covid-19 que estão sendo analisados;
- o 'solta geral' da bandidagem 'recomendado' pelo CNJ.]

Naturalmente, como de costume, quanto menos o sujeito sabe sobre química, farmácia e medicina, mais certeza ele tem de que está com a razão. Não ajuda em nada, para se melhorar os níveis clareza do bate-boca, o fato de que os próprios médicos e pesquisadores estão amargamente divididos sobre os efeitos do medicamento. Não é uma questão difícil de entender quando se leva em conta que, desde a chegada da epidemia, o Brasil se dividiu entre o partido antivírus e o partido pró-vírus. O primeiro quer que a Covid-19 seja eliminado o mais cedo possível, que o confinamento seja encerrado e que o país volte a funcionar rapidamente. O segundo quer que a epidemia apresente estatísticas cada vez piores, que a quarentena seja reforçada e que o país demore o máximo possível para voltar ao normal.

O Brasil antivírus, é claro, é o do governo – quanto mais cedo a praga acabar, melhor para ele. 
O Brasil pró-vírus é o da oposição. Quanto mais o país demorar para recuperar a normalidade, tanto pior para o governo e o seu futuro político.

O resto dessa história toda é bem conhecido. A hidroxicloroquina está disponível e sendo aplicada, é claro, nos hospitais dos ricos e dos planos médicos “top de linha”; é tomada, também, pelos médicos que pegaram o vírus e podem controlar o seu próprio tratamento.
O raciocínio que está valendo, aí, é o seguinte: 
os conhecimentos já obtidos sobre a droga ainda não são completos, mas já são suficientes para aplicá-la, sem riscos, num vasto número de pacientes.
No SUS, e para o povão, o raciocínio é esse mesmo, só que ao contrário: os conhecimentos sobre a substância ainda não são completos e, portanto, ela não deve ser aplicada. O jornalismo investigativo deu a si próprio a missão de investigar, em todos os seus detalhes, as possíveis contraindicações da hidroxicloroquina e, sobretudo, em demonstrar que não há certeza científica sobre os seus benefícios. As “instituições”, como um todo, também se colocam contrasalvo quando seus próprios membros passam a precisar de tratamento. A oposição age da mesma forma.

É muito fácil, obviamente, exigir consenso absoluto sobre a eficácia, o alcance e a conveniência da aplicação da substância quando você próprio não precisa esperar, para tomá-la, pelos próximos vinte ou trinta anos – tempo que a ciência médica, em geral, demanda para ter certeza suficiente sobre medicamentos e terapias. O duro, justamente, é a espera. Mas isso é coisa para pobre e os pobres, como sempre, que se explodam.

J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo



quinta-feira, 26 de março de 2020

Errado está o presidente - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 26 de março de 2020

O pacote norte-americano de apoio à economia chega a cerca de 10% do PIB. 

Se o governo brasileiro aplicasse um programa proporcional, teria de gastar R$ 730 bilhões. Não vai dar. Mas muito pode ser feito.

A crise apanhou o Brasil em pleno processo de recuperação do equilíbrio das contas públicas – o ajuste fiscal. O objetivo, desde a queda de Dilma, tem sido o de reduzir a despesa com a sequência de reformas iniciada com a lei do teto de gastos e depois com a reforma da previdência. Mas ninguém lida com uma calamidade – uma pandemia, uma guerra – fazendo corte de gastos. É justamente o contrário. Trata-se de aumentar a despesa pública duas vezes, uma para cuidar da calamidade, outra para amenizar os efeitos econômicos da crise e das providências para contê-la.

A rigor, nunca houve dúvidas entre economistas e políticos sérios a respeito disso. Os Estados Unidos gastaram uma fortuna para derrotar a Alemanha e o Japão e, depois, outra fortuna para levantar a Europa devastada. [ Plano Marshall, aqui.] Ninguém pensou em poupar dinheiroA pandemia do coronavírus é uma calamidade jamais vista. Logo, todos os governos sérios estão gastando dinheiro com dois objetivos: primeiro, conter a doença, com o isolamento social, e tratar dos doentes e, segundo, apoiar pessoas e empresas afetadas pela parada na economia. A diferença está na rapidez e na eficiência com que os diversos governos estão fazendo isso.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Congresso aprovou o pacote de US$ 2 trilhões quase por unanimidade e com rapidez, apesar dos vacilos de Trump no início da epidemia. No Brasil, o governo federal está atrasado. Governos estaduais estão tomando medidas fortes e positivas, mas enfrentam uma limitação irremovível. Não têm como imprimir dinheiro, nem fazer mais dívida.  Só o governo federal pode fazer isso. Não dá para gastar 10% do PIB. Se o país (governo e sociedade) prezassem a disciplina fiscal, talvez tivéssemos o espaço fiscal para uma tamanha expansão de gastos. Mas cálculos sugerem que se poderia chegar a uma despesa adicional de 3% do PIB, algo como R$ 220 bilhões.

E o ajuste fiscal? Paciência, fica para depois. Aliás, será até mais difícil. O economista Alexandre Schwartsman, por exemplo, calcula que um bom programa de apoio a pessoas e empresas pode elevar a dívida pública de R$ 5,5 trilhões (75,8% do PIB) para R$ 6,3 trilhões (86,7% do PIB). Complica, mas simplesmente não há escolha no momento.
Tudo isso para dizer que o presidente Bolsonaro está completamente equivocado. Para ele, não se trata de uma calamidade, mas de uma gripezinha, perigosa apenas para pequena parte da população. Logo, concluiu, não são necessárias medidas radicais, como o isolamento social e a parada do comércio. Para ele, essas medidas, apresentadas como o remédio, na verdade formam o veneno que vai matar a economia, provocando uma forte recessão. Está errado porque, sem as medidas de contenção (isolamento social e fechamento do comércio e escolas), o vírus vai contaminar muito mais gente; logo, haverá muito mais doentes graves, que necessitarão de mais leitos hospitalares, e mais mortes, muito mais.

No lado econômico, o gasto público vai aumentar e a recessão virá de qualquer modo. Ou seja, relaxar a contenção nem reduz gasto público, nem evita a recessão. E mata mais brasileiros. A outra solução – a da contenção ou das “medidas radicais” – tem esta virtude especial: salva vidas, ao reduzir o número de infectadosTudo considerado, temos um enorme problema no Brasil: o governo federal, que pode arranjar o dinheiro, é comandado por um presidente completamente equivocado. Por isso ainda não saíram as medidas de apoio a pessoas e empresas. Além disso, numa emergência dessas, o setor público tem que agir e gastar de maneira coordenada, para evitar desperdícios. [dificil agir e gastar de maneira coordenada, se o outro lado só aceita a coordenação quando pode ferrar o presidente - grande parte dos governadores, ainda espera um terceiro turno. Quase todos são inimigos do Presidente da República.] Em vez disso, o presidente prefere brigar com governadores. Se ninguém conseguir mudar o curso de ação do presidente, a crise vai aumentar e muito. E o presidente vai tentar colocar a culpa nos outros, qualquer outro, como sempre faz. Um desastre para o Brasil.




quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O rancor petista virou veneno



Fernando Haddad expôs o papel de Lula com racionalidade em São Paulo e soberba em Curitiba 

Para quem joga numa eleição radicalizada, Fernando Haddad foi um colaborador impecável ao deixar a carceragem de Curitiba depois de visitar Lula. Ele definiu o papel do ex-presidente no governo que pretende fazer: “Temos total comunhão de propósitos em relação a ele e o diagnóstico de que o Brasil precisa do nosso governo e precisa do Lula orientando como um grande conselheiro. Ele é um interlocutor permanente de todos os dirigentes do partido e nunca deixará de ser. Não temos nenhum problema com isso. Enquanto os outros partidos escondem os seus dirigentes, nós temos muito orgulho de ter o Lula como dirigente.” [uma declaração de servilismo, de inferioridade, de submissão do laranja do Lula - haddad - no estilo da acima, deixa sérias dúvidas (ou praticamente a certeza) de que fosse o laranja eleito o Brasil seria governado por um desorientado comandado por um criminoso.
Quem quiser um Brasil assim, é só votar no 'haddad' ou 'andrade'. 
E, não adianta ter esperanças em que se eleito o laranja ousará se insurgir. Será mais servil ainda - ao sentimento de inferioridade que demonstra se somará o de gratidão ao 'conselheiro'.]
 
Essa declaração poderia ter sido planejada pelo estado-maior de Jair Bolsonaro ou pelos urubus golpistas que pretendem deslegitimar uma eventual vitória da chapa petista.
Horas antes, em São Paulo, durante a sabatina da Folha/SBT/UOL, Haddad dissera algo racional, sem a soberba do comissariado: “O presidente Lula, sem sombra de dúvida, na opinião da maioria dos brasileiros, foi o maior presidente da história deste país. Ele é um grande conselheiro e terá um papel destacado em aconselhamento, em falar de sua experiência. Jamais dispensaria a experiência do presidente Lula.” 

Uma coisa é elogiar Lula e seus oito anos de governo. Bem outra é dizer que não temos problema com isso”. Deviam ter, pois Lula está na cadeia, condenado por corrupção.
Milhões de eleitores estão dispostos a votar em Haddad porque ele é o candidato de Lula, [as urnas quando abertas certamente premiarão aos brasileiros com a constatação de que os milhões se contam nas duas mãos do Lula - um dedo para cada milhão.] mas quando se dá a um detento a condição de pai da pátria, estimula-se a dúvida em quem espera de uma vitória de Haddad a volta dos “bons tempos”, mas também teme que ela traga de volta o que há de pior no comissariado.

O consulado petista teve duas faces, a do progresso com Lula, e a do regresso com Dilma Rousseff, a da atenção para o andar de baixo e a das roubalheiras com o andar de cima. Oferecer as duas ao eleitorado num combo rancoroso é soberba.  Não se pode saber de onde está saindo o rancor petista. Pode ser que venha da inconformidade de Lula, ou ainda do interesse radical de uma parte do PT. Venha de onde vier, tornou-se um veneno que produz dois efeitos. O primeiro é o estreitamento da base eleitoral de Haddad, mas sempre se poderá dizer que uma eventual vitória transformará esse erro em asterisco. No seu segundo efeito, o modelo do “conselheiro” reforça as ameaças à sobrevivência das instituições democráticas. Não é preciso ser um gênio para se perceber que há um farfalhar golpista no ar. Bolsonaro, como Donald Trump, diz que teme uma fraude nacontagem eletrônica dos votos. (Trump ganhou e não tocou mais no assunto.) O general Hamilton Mourão sonha com uma nova Constituição, redigida por sábios e sagrada num plebiscito. Coisa parecida, recente e próxima, só em 2007, na Venezuela. [general Mourão: alguns ajustes na Carta Magna vigente são necessários, mas, jamais pode se entregar a redação de uma Constituição a um plebiscito ou a um referendo - existe no Brasil um Poder Legislativo a quem cabe redigir as leis, incluindo a Lei Maior.
Lembre-se que o desastre da Venezuela teve origem e fundamentação no abuso das consultas populares.
O POVO brasileiro tem o direito de escolher seus representantes e aos escolhidos cabe a nobre missão de fazer as leis.]

Se houver um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, e o capitão reformado vier a prevalecer, será o jogo jogado. Se Haddad sair vencedor, a tese da vitória sem legitimidade irá para a mesa. A teoria do “conselheiro” serve à sua retórica.  As vivandeiras civis associadas à anarquia militar contestaram a legitimidade eleitoral em 1889 e em 1930 (com sucesso), em 1950 (fracassando até 1954, quando Getúlio Vargas matou-se) e em 1955 (com a teoria da falta de maioria absoluta de Juscelino Kubitschek). Coisa do século passado? Em 2014, Aécio Neves contestou a vitória de Dilma Rousseff. Depois, contou que a iniciativa foi uma “molecagem”, para “encher o saco”. Vá lá.


 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Dirceu, de 'ex-guerrilheiro de festim' a serpente

Em livro inédito, Dirceu destila veneno e diz que chorou ao ser demitido por Lula no mensalão 

O choro e as mágoas de José Dirceu

José Dirceu chorou. O guerrilheiro baixou a guarda no terceiro andar do Planalto, diante do chefe e de velhos companheiros. Era o dia 15 de junho de 2005. Começava ali a derrocada do ministro mais poderoso do governo Lula. Acusado de chefiar o mensalão, Dirceu seria demitido, condenado e preso. Treze anos depois, ele diz ter sido abandonado pelo ex-presidente. A queixa está em “José Dirceu — Memórias(Geração Editorial), que chega às livrarias na semana que vem.

O petista expõe sua mágoa ao descrever o encontro final com Lula. “Não me pediu para ficar, não me propôs nenhuma outra tarefa, simplesmente me demitiu”, conta. “Foi melancólico e simbólico, como se tudo já tivesse decidido, poucas palavras, monossílabas, uma cena um tanto derrotista e pequena”, dramatiza. “Eu me emocionei e chorei”.  Não foi sua única desilusão. Em 27 de outubro de 2002, o presidente eleito escolheu José Genoino, e não Dirceu, para discursar na festa da vitória. “Lula não falou comigo e não me comunicou nada”, reclama o memorialista. “Fui simplesmente excluído e comunicado disso por um mero assessor”. “Meu primeiro impulso foi de me retirar, mas me controlei”, prossegue. Ele diz que a noite marcou sua “primeira grande decepção com Lula”. “Foi duro, mas aceitei”, lamuria-se.

Em outra passagem, Dirceu critica o ex-presidente por ter vetado uma aliança com o PMDB. “Dormi com o acordo fechado e acordei com Lula me desautorizando. (...) Fiquei desapontado e furioso”, desabafa.  O autor distribui estocadas em outros alvos. Diz que Tarso Genro “criou uma pequena crise, exigindo ser ministro”. Acusa Dilma Rousseff de promover uma “caça às bruxas” ao substitui-lo na Casa Civil.

Ele também destila veneno contra ministros do Supremo nomeados pelo PT. Chama Joaquim Barbosa de “autoritário”, Luís Roberto Barroso de “fraude” e Edson Fachin de “engodo”. A maior bronca é com Luiz Fux, que já admitiu ter pedido seu apoio para chegar à Corte. “Erramos e feio nas indicações, ao ponto de sermos enganados por um charlatão togado”, escreve Dirceu.

Bernardo Mello Franco - O Globo