Digamos que existam outras mulheres em situação
similar e que, por qualquer razão, não gozem do benefício da prisão
domiciliar: isso é culpa de Adriana? Já não bastam as que ela tem
Quem
gostava de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, até outro dia eram
setores da imprensa que agora o tratam como o cocô do cavalo do bandido.
Eu nunca gostei. Coloquem no Google, sem aspas, as palavras “Blog
Reinaldo Azevedo Sérgio Cabral” e vejam o que vem. Aliás, um exercício
interessante seria procurar o que eu escrevi sobre o dito-cujo a partir
de 2007 e o que deixaram para a história, por exemplo, os veículos do
grupo Globo, muito especialmente no período que antecedeu a Copa do
Mundo. Vale dizer: eu não preciso massacrá-lo, agora que é cachorro
morto, porque nunca o idolatrei quando cachorro vivo e útil — muito vivo
e muito útil!
Adriana Ancelmo no momento que deixava sua casa; prisão domiciliar suspensa. (Foto: Marco Antônio Martins/G1)
É
asquerosa, para ser suave, a cobertura que fez a média da imprensa, não
só os veículos do grupo Globo, da decisão tomada pelo TRF2, que
suspendeu a prisão domiciliar de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral,
devolvendo-a para o regime fechado na cadeia pública José Frederico
Marques, em Benfica, onde está o marido, mas em ala distinta. Antes que
continue, uma observação: o casal está em prisão preventiva. Afirmar, a
esta altura, que os dois representam risco à instrução criminal chega a
ser ridículo. Então PF e MPF assinam atestado de incompetência. E quais
são os crimes novos, além daqueles pelos quais são alvos de processo?
Mas essa é outra conversa. A justificativa para devolver Adriana Ancelmo
ao regime fechado é evidência de falência moral do sistema.
Ela tem
direito à prisão domiciliar porque tem filho menor de 12 anos, e estão
presos tanto ela como o marido. Observem que essa garantia, que está na
lei, não busca proteger o preso, mas a criança. Por mais que parentes
possam se encarregar de dar o devido amparo, é evidente que a situação
é, por si, traumática. E o que
alegaram os desembargadores? Que seria uma discriminação odiosa garantir
a Adriana o que se reconhece ser um direito, uma vez que presas pobres,
que se encontrariam em situação idêntica, não gozam do mesmo benefício.
Não estamos mais no terreno da justiça, mas no da demagogia barata e da
vingança mesquinha. Digamos que existam outras mulheres em situação
similar e que, por qualquer razão, não gozem do tal beneficio. Pergunto:
a: isso é culpa de Adriana? Já não bastam as que ela tem?;
b: se o direito de determinadas presas
não está sendo respeitado, deve-se punir Adriana — cassando também o seu
— ou a incúria do Estado?;
c: quantas são as presas com filhos
menores de 12 anos cujos maridos ou parceiros também estão presos?
Haverá mesmo tantas mulheres em situação idêntica?;
d: ainda que essas presas não tenham um
bom advogado, o Estado brasileiro não gosta uma verba multibilionária
com defensores públicos?;
e: é razoável que se casse um direito de
alguém, ainda que o de uma ré, porque, afinal, o Estado não consegue
cumprir a sua função?
Ah, não!
Não me peçam para condescender com isso. O argumento para devolvê-la à
prisão — apresentado, diga-se, pelo Ministério Público Federal — é uma
joia da estupidez destes tempos, em que se busca menos a Justiça do que a
vingança. “Ah, Reinaldo, por que gastar vela com gente como Adriana Ancelmo?”
Não é por
ela. Quem já beijou seus pés quando indicado ao Supremo foi o agora
Torquemada Luiz Fux, não eu. Não a conheço. Nunca nem falei com Sérgio
Cabral. Nunca foi nem minha fonte. Seu estilo, então elevado aos
píncaros da glória pela imprensa carioca — grupo Globo em particular —,
sempre me provocou engulhos. Aquele seu estilo entre o superlativo e o
garotão folgazão causava em mim urticária moral. O sistema de segurança
inventado no Rio, com amplo apoio do esquema midiático que o amparava,
era uma das mais vistosas fraudes do país.
E Cabral sempre foi duramente criticado neste blog. Mas o que vejo aí, da forma como segue, não me interessa. Porque não serve para construir uma democracia. Se Adriana
Ancelmo tem direito à domiciliar; se o poder público sabe disso; se sua
defesa cumpriu os devidos; se estamos diante de uma cassação imotivada
de uma licença, que se busque assegurar às mulheres pobres a mesma
prerrogativa. [desde que não sejam viciadas, traficantes, assaltantes, mulheres que farão mais mal aos filhos com sua presença do que com a ausência.]
Mas não! No direito
à moda brasileira, que hoje conta com o entusiasmo rancoroso de muita
gente, o que se quer não é dar aos pobres as garantias que lhes cabem,
mas tirá-las dos ricos. A
decadência de setores da imprensa não é menor do que a decadência dos
homens públicos. Eu diria até que, em muitos aspectos, é ainda pior.
Blog do Reinaldo Azevedo
[De uns tempos para cá, se tornou rotina no Brasil a meta de NIVELAR POR BAIXO, DISTRIBUIR A MISÉRIA - até o Banco Mundial vem dar pitaco nos assuntos internos do Brasil, esquecendo que o único Plano Econômico que deu certo, o PLANO REAL, não teve interferência de nenhum desses organismos internacionais.
Tornou-se recorrente no Brasil estimular os que não tem bons salários - infelizmente, a maioria dos brasileiros - a odiar os que tem bom padrão de vida, ainda que estes tenham conseguido melhoras devido seus próprios esforços.
Apenas para meditação transcrevemos de Abraham Lincoln:
Não Criarás a Prosperidade se desestimulares a poupança.
Não fortaleceras os fracos por enfraqueceres os fortes.
Não ajudaras o assalariado se arruinares aquele que o paga.
Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de classes.
Não ajudarás os pobres se eliminares os ricos.
Não poderás criar estabilidade permanente baseada em dinheiro emprestado.
Não evitarás as dificuldades se gastares mais do que ganhas.
Não Fortalecerás a dignidade e o anônimo se Subtraíres ao homem a iniciativa da liberdade.
Não poderás ajudar os homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios.]