Nada acontece de repente. Tudo é
processo. Por isto recordo um fato mal avaliado por analistas políticos e até
mesmo desprezado e criticado: as manifestações ocorridas em junho de 2013 em
todo Brasil. Foi algo impressionante e o estopim
foi um movimento de poucos jovens inebriados por um esquerdismo mais folclórico
do que fundamentado teoricamente. Eles pediam passe livre apesar de andarem de
carro. O que daí decorreu nada teve a ver com ônibus de graça, não era liderado
por partidos políticos e não possuía característica ideológica. As multidões
foram às ruas para manifestar insatisfação com o governo em múltiplos aspectos.
Em seguida, em meio às manifestações pacíficas
apareceram os Black Block, horda composta por bandidos, arruaceiros e a
garotada que destrói tudo em nome da esquerda, que ataca símbolos do capitalismo
como agências de bancos. Aposto que a moçada, como o ditador da Coreia do
Norte, adoram ir à Disneylândia ou fazer compras e estudar nos Estados Unidos. Em
todo caso, diante da violência plantada estrategicamente as manifestações recuaram.
Seria, porém, ingenuidade supor que a insatisfação popular diminuiu.
Outro fato significativo foi a
estrondosa vaia e o xingamento que a presidente Rousseff recebeu na abertura da
Copa. Um vexame pior do que a vaia sofrida por Lula nos jogos Pan-americanos. Esporadicamente
ela continuou sendo vaiada em lugares aonde ia levar suas “bondades” de campanha. E veio a campanha. A situação econômica
péssima com o Brasil quebrado pela senhora presidente, enquanto eclodia o
escândalo da Petrobras, mãe de todos os escândalos já havidos no Brasil depois
do mensalão. Mesmo assim, João Santana, o Goebells do PT, avisou que Rousseff
ganharia de lavada no primeiro turno, pois os anões tenderiam ao canibalismo.
Tal não aconteceu e veio o segundo
turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, depois da destruição moral da
candidata Marina Silva. Os canhões petistas, então, se voltaram contra Aécio e
foi um festival de acusações, de infâmias, de mentiras. Segundo o PT, Aécio
acabaria com a bolsa esmola, os direitos trabalhistas, poria no ministério da
Fazenda um monstro chamado Armínio Fraga, jogaria o povo na miséria. Nunca
antes nesse país houve uma campanha tão sórdida, tão suja, tão abjeta.
Desesperado o PT fez o diabo para não perder o bonde do poder. Rousseff ganhou por pouco. Por pouco Aécio
perdeu em Minas. Lula perdeu feio em São Paulo, seu berço político, assim com
Rousseff em Porto Alegre e em Brasília. O PT diminui a bancada na Câmara,
perdeu governos em Estados importantes.
Há, porém, um fato importante ainda
não comentado. De modo inédito em campanhas as pessoas tomaram posição de forma
clara e se instalou com firmeza o petismo e o antipetismo. Há uma probabilidade
do sentimento antipetista se acentuar diante da inflação crescente, da queda da
renda, do desemprego que começa a mostrar suas garras, das contradições do
governo Rousseff que já cortou benefícios previdenciários e trabalhistas
fazendo o que acusava levianamente seus adversários de fazer caso ganhassem.
Finalmente, depois de muitos adiamentos
o ministério foi composto. Não passa de um balcão de negociação de votos no
Congresso. Longe do mérito e da competência muitos dos nomeados têm folha
corrida e não curriculum. O grosso dos agraciados ignora o que fazer no cargo e
terá apenas por missão executar o que sua mestra mandar. No meio da chusma
aliada uma exceção com base no mérito: Joaquim Levy, originário do governo
Fernando Henrique Cardoso, que será o Armínio Fraga da Dilma. Levy tentará
tirar a economia do buraco e, assim, preparar a volta de Lula em 2018 numa
situação econômica menos caótica. Este, como sempre empoleirado no palanque já se
compõe com uma “frente de esquerda” que lhe dará total apoio. No seu próximo
governo, provavelmente, o baderneiro Guilherme Boulos, líder do MTST, será um
ministro importante ou comandará os conselhos populares. E veio a posse. Havia militares e
militantes. Estes buscados em vários Estados e trazidos em muitos ônibus. Um
sanduíche, um refrigerante e as bandeiras vermelhas se agitaram à passagem da
reeleita. O povo praticamente esteve ausente da patuscada.
Menção especial deve ser feita ao
discurso de posse que impressionou pelo cinismo e pela empulhação. Uma ficção
de mau gosto sobre o paraíso Brasil, obra do PT onde a pobreza acabou e o pleno
emprego deixa a todos imersos em felicidade. Uma dádiva que devemos agradecer
de joelhos ao criador e a criatura. Falou-se em misteriosos inimigos externos,
em combate à corrupção, etc., até que o delírio oratório culminou no slogan:
“Brasil, pátria educadora”. Educadora com Cid Gomes? Parece piada de salão, como diria o
mensaleiro Delúbio Soares. Infelizmente, nunca fomos tão parecidos a uma republiqueta
das bananas.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa é
socióloga.
www.maluvibar.blogspot.com.br
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