A notícia de que a
perplexidade tomou conta do Palácio do Planalto com a derrocada dos índices
de popularidade e confiabilidade da presidente da República é prima-irmã daquela irritabilidade
que recai sobre a pessoa de Dilma Rousseff quando algum fato tem repercussão
negativa na opinião pública.
Ambas
são versões oficiais destinadas a criar um espaço de prudente (embora falsa) distância entre ela e a
má nova. Ou velha, tanto faz. Algum ato de governo pegou mal? "Dilma ficou muito irritada",
avisa a assessoria. O brasileiro não gostou de constatar que Dilma mentiu na
campanha eleitoral a respeito de rigorosamente todos os principais
temas em debate com os oponentes? Mais que depressa o departamento de
propaganda do governo informa que foi um choque para ela saber disso.
Ora por quem sois. A pesquisa do Instituto
Datafolha explicitou em
números uma realidade que os fatos estavam contando por si todos os dias. Ou
alguém no Palácio do Planalto poderia esperar algo de diferente quando uma
presidente da República recentemente reeleita simplesmente some de cena enquanto são anunciadas medidas
que, segundo a candidata a conquistar votos, não seriam tomadas em hipótese alguma?
Ou,
por outra, seriam impostas cruelmente ao País caso o eleitorado optasse por
escolher um de seus adversários. Qualquer um dos dois, Marina
Silva ou Aécio Neves, seriam os culpados por graves agruras. Ela, Dilma Rousseff, seria o caminho das
soluções. Note-se o silêncio pós-posse que contrariou até o discurso da
noite da vitória em que ela conclamava a Nação à união e ao "diálogo".
Daí
em diante não explicou mais nada. Quando falou,
limitou-se a monólogos fantasiosos seguindo a mesma toada da agenda
ilusória montada para a campanha eleitoral. A roubalheira na Petrobrás era culpa de um ou outro funcionário; a
crise econômica, decorrência da situação internacional; a inflação, inexistente
e o que mais não vá bem, produto de pessimismo.
Deixou o ponto crucial que era o ajuste na economia ao encargo do
ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, como quem tenta se preservar e - aqui
de novo, se distanciar - da má notícia. Deu
a seguinte impressão: se sair errado, a culpa é dele. A
se acreditar que a presidente da República e seu grupo fechado de conselheiros
foram realmente pegos de surpresa com o efeito dessa conjunção de desastres - nem todos citados, pois de conhecimento geral
-, é de se concluir pela gravidade da situação de isolamento total do núcleo
governante.
Não
há no tão competente departamento de comunicação governamental um
acompanhamento permanente de pesquisas? E aquela consulta que o PT anunciou que
contrataria para detectar as razões do claudicante desempenho eleitoral? Dela nunca mais se ouviu falar. A
julgar pela reação improvisada e repetitiva do anúncio da montagem de uma "agenda positiva" como se a
agenda negativa não fosse fruto do choque de ações do governo com a agenda
ilusória da campanha, há um apagão de sensatez no Palácio do Planalto. Ou um surto de ingênua credulidade no poder
eterno do ilusionismo.
E ausência de noção de limite. João
Santana, o marqueteiro, extrapolou, exagerou e ganhou a eleição. Entregou
a mercadoria. O dia seguinte é serviço de quem ganhou. Há
um dado terrível para a presidente na pesquisa do Datafolha: 47%, 54% e 50% dos consultados consideram que ela é desonesta, falsa ou indecisa. Produto de quê? Da exacerbada
contradição entre o discurso de campanha e as ações logo depois. Portanto, talvez não seja um exagero concluir
que, se não tivessem sido tantas e tão flagrantes as
mentiras, se a campanha de Dilma não
tivesse procurado colocar na boca dos opositores palavras que nunca
disseram, possivelmente a crise
não atingiria tão gravemente a imagem da presidente.
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