Corrupção
e má gerência deixaram em agonia o projeto mais ambicioso dos governos Lula e
Dilma. Na Sete
Brasil há algo insólito: conseguiram desmoralizar o ‘conteúdo nacional’
Um legado de corrupção e má gerência
deixou em agonia
o projeto industrial mais ambicioso dos governos Lula e Dilma Rousseff: um empreendimento de US$ 89 bilhões (R$ 240,3 bilhões) para construção e
operação de 23 navios-sonda e seis plataformas vitais à Petrobras na
exploração da camada pré-sal.
Lula mobilizou empresários com o
privilégio da reserva de mercado. Uniu a mão invisível do Estado à
calculadora do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. O presidente recebeu a
confirmação do nascimento da Sete Brasil na quarta-feira 22 de dezembro de
2010, uma semana antes de passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff.
A reunião
inaugural aconteceu no número 228 da Praia de Botafogo, no Rio, sob o comando
de João Carlos de Medeiros Ferraz e Pedro José Barusco Filho, saídos da estatal
de petróleo. Era um conglomerado com mais de três
dezenas de subsidiárias e um só ativo (29 contratos) — tudo com um
único cliente, a Petrobras.
Oficialmente, o grupo é privado, controlado pelo fundo
FIP-Sondas (95%) e Petrobras (5%). Na vida real não é bem assim. O governo determinou a fundos de pensão (Previ, Petros, Funcef e Valia) que
comprassem metade do FIP-Sondas. Junto com a Petrobras têm 59% das cotas.
O BTG de Esteves lidera o bloco
privado (com 20%), seguido pelo Bradesco e
Santander (12%, somados). O restante
(9%) está fracionado entre EIG Global, Lakeshore e Luce Venture Capital. Antes de fechar seu primeiro balanço, em
2011, a Sete Brasil já acumulava US$ 75 bilhões (R$ 202,5 bilhões) em
contratos com a Petrobras. Para cada um criou uma sociedade com grupos nacionais (Camargo Correa, Engevix, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC e OAS) e asiáticos (Keppel Fels, Jurong, Kawasaki e Cosco).
A Petrobras topou pagar US$ 720
milhões (R$ 1,4 bilhão) por cada sonda.
E mais US$ 500 mil (R$ 1,3 milhão) por
diária de operação. Tudo acertado, no final de 2011 os principais
executivos, João Carlos Ferraz (presidente) e Barusco Filho (diretor
financeiro), desembarcaram em Milão para jantar com gerentes do Banco Cramer,
de Lugano (Suíça). Com eles estava Renato Duque, diretor de Serviços da
Petrobras.
Quem os ajudou foi Julio Camargo, que já lhes intermediava propinas da OAS, Setal e Toyo Engeneering (Japão). Depois, uniu-se ao grupo Eduardo Musa, também diretor da
Sete Brasil. No seu último balanço, de 2013, a Sete
Brasil revelou dívidas não pagas de US$ 3,1 bilhões (R$ 8,5 bilhões). Indicou promessas de US$
4,1 bilhões (R$ 11,2 bilhões)
do BNDES, que exigia vários documentos. Auditores anotaram: “A situação indica uma incerteza material que pode suscitar dúvidas
significativas sobre a continuidade operacional da companhia.”
Na semana
passada, 19 meses depois, a empresa
ainda negociava a documentação com o banco estatal, quando se tornou
pública parte da confissão de Barusco sobre US$ 97
milhões (R$ 261,9 milhões) em subornos que ele e outros receberam.
A lenta
agonia da Sete Brasil deixa transparecer algo insólito: conseguiram
desmoralizar até o “conteúdo
nacional". O que era construção
dissipa-se na poeira da ruína. E uma nova conta vai sobrar para os cofres públicos, via
Petrobras e fundos de pensão estatais.
Fonte: José Casado, jornalista
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