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sexta-feira, 6 de março de 2015

O poder das palavras



Depois de 52 semanas de expectativa sobre a lista de nomes de políticos supostamente vinculados à corrupção na Petrobras, chegou-se ao momento decisivo: o Supremo promete levantar o sigilo e divulgar tudo nas próximas horas
O Congresso trabalha sob tensão. Segue aqui um registro do clima de ansiedade que prevalece entre parlamentares federais, baseado em transcrições da Câmara dos Deputados. É um retrato de como o governo Dilma Rousseff está fragilizado, sua base parlamentar dividida, sem rumo, e, também, como um ministro começou a ser demitido no plenário da Câmara - é possível até que a presidente decida mantê-lo, mas, nas circunstâncias, o custo político tende a muito alto.

A sessão da Câmara (4/3) estava morna. A deputada gaúcha Maria do Rosário (PT) cumpria o ritual de defesa diária do governo, quando Heráclito Fortes (PSB), um oposicionista do neossocialismo piauiense, pediu-lhe um aparte:
- Deputada Maria do Rosário, eu estou vivendo dias aqui de reaprendizado. E fico estarrecido, porque ouvi este pronunciamento de V. Exa., com conteúdo, dentro das suas convicções — não é exatamente por se tratar apenas de uma deputada do Partido dos Trabalhadores, mas de uma ex-ministra —, e não vi a solidariedade de um só companheiro de V. Exa.... Mas isso, deputada, mostra exatamente o estado de espírito da base do governo nesta Casa.

Rosário relevou a ironia de Heráclito, cuja habilidade retórica foi cultivada em 33 anos de mandatos legislativos. Subiu à tribuna o paulista Arlindo Chinaglia, ex-líder do PT e recém-derrotado para a presidência da Câmara, que desfiou o rosário de críticas recentes feitas pelo economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira à oposição aos governos petistas.- Dilma, nossa Presidenta, não tem culpa de o Congresso não ter votado o Orçamento - disse Chinaglia. - A Presidenta está com dois meses de mandato governando sem o Orçamento. Todas as prefeituras do Brasil têm convênios com os Ministérios, são creches, são UPAs, são UBS, são quadras de esporte... E essas obras precisam ser pagas. Precisa-se de dinheiro.

O neossocialista Heráclito Fortes contratacou: - Que palavras estudadas e bem elaboradas! Eu compreendo essa paranoia que se criou de tudo se colocar culpa no Governo Fernando Henrique. Instintivamente V.Exa. citou o ministro Bresser-Pereira como o ministro da Fazenda do Fernando Henrique. Não foi; ele foi ministro da Fazenda de José Sarney, e criou o Plano Bresser. Fez uma breve pausa, e retomou: - O nosso Bresser não deixou saudade nenhuma como ministro. Esses artigos que ele vem permanentemente escrevendo é um pouco da conversão dele ao PT, agora, na velhice. Agora, a falta de lucidez dele de lá atrás para a de agora é a mesma. Aquele Bresser que vocês criticavam, quando ministro do Sarney, é o mesmo...

Chinaglia contemporizou. E, então, o microfone foi ocupado por Mendonça Filho, estrela ascendente do DEM pernambucano: - O governo está em crise política profunda. Perdeu a condição de comandar a economia brasileira, jogou o País em uma recessão profunda... E aí vem, no meio dessa crise, o ministro Cid Gomes, da Educação, contribuir para "atenuar" a crise — entre aspas, naturalmente — e debelar o incêndio que toma conta da política governamental, jogando gasolina.
Ele apresentou um requerimento para convocar - forma parlamentar de intimar - o ministro a se explicar no plenário. À medida em que falava, concentrava a atenção do plenário, em geral disperso: - Eu quero ler para o plenário, o que disse o ministro Cid Gomes: "Tem lá" — ou seja, aqui — "uns 400 Deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil, porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais (...)". Esta é a frase do Ministro da Educação. Eu pergunto: o plenário da Câmara, cada parlamentar que compõe esta Casa, independentemente de partido, entende que a frase dita pelo ministro Cid Gomes tem que ser aceita assim pacificamente?

Continuarlendo............ O PODER DAS PALAVRAS – O Globo – José Casado

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