Depois
de 52 semanas de expectativa sobre a lista de nomes de políticos supostamente
vinculados à corrupção na Petrobras, chegou-se ao momento decisivo: o Supremo promete levantar o
sigilo e divulgar tudo nas próximas horas
O Congresso trabalha sob tensão. Segue aqui um registro do clima
de ansiedade que prevalece entre parlamentares federais, baseado em
transcrições da Câmara dos Deputados. É um retrato de como o governo Dilma Rousseff está
fragilizado, sua base parlamentar dividida, sem rumo, e, também, como um ministro começou a ser demitido no
plenário da Câmara - é possível até que a presidente decida mantê-lo, mas,
nas circunstâncias, o custo político tende a muito alto.
A sessão
da Câmara (4/3) estava morna. A deputada gaúcha Maria
do Rosário (PT) cumpria o ritual de defesa diária do governo, quando Heráclito Fortes (PSB), um
oposicionista do neossocialismo piauiense, pediu-lhe um aparte:
- Deputada Maria do Rosário, eu
estou vivendo dias aqui de reaprendizado. E fico estarrecido, porque ouvi este
pronunciamento de V. Exa., com conteúdo, dentro das suas convicções — não é exatamente por se tratar apenas de uma deputada do
Partido dos Trabalhadores, mas de uma ex-ministra —, e não vi a solidariedade de um só companheiro de V. Exa.... Mas isso, deputada, mostra exatamente
o estado de espírito da base do governo nesta Casa.
Rosário relevou a ironia de
Heráclito, cuja
habilidade retórica foi cultivada em 33 anos de mandatos legislativos. Subiu à
tribuna o paulista Arlindo Chinaglia, ex-líder do PT e
recém-derrotado para a presidência da Câmara, que desfiou o rosário de
críticas recentes feitas pelo economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos
Bresser-Pereira à oposição aos governos petistas.- Dilma, nossa Presidenta, não tem culpa de o Congresso não ter votado o
Orçamento - disse Chinaglia. - A
Presidenta está com dois meses de mandato governando sem o Orçamento. Todas as
prefeituras do Brasil têm convênios com os Ministérios, são creches, são UPAs,
são UBS, são quadras de esporte... E essas obras precisam ser pagas. Precisa-se
de dinheiro.
O
neossocialista Heráclito Fortes contratacou: - Que palavras estudadas e bem elaboradas! Eu compreendo essa paranoia
que se criou de tudo se colocar culpa no Governo Fernando Henrique. Instintivamente V.Exa. citou o ministro Bresser-Pereira como
o ministro da Fazenda do Fernando Henrique. Não foi; ele foi ministro da Fazenda de José Sarney, e criou o Plano
Bresser. Fez uma breve pausa, e retomou: - O nosso Bresser não deixou saudade nenhuma como ministro. Esses
artigos que ele vem permanentemente escrevendo é um pouco da conversão dele ao
PT, agora, na velhice. Agora, a falta de lucidez dele
de lá atrás para a de agora é a mesma. Aquele Bresser que vocês
criticavam, quando ministro do Sarney, é o mesmo...
Chinaglia
contemporizou. E, então, o microfone foi ocupado por Mendonça Filho, estrela
ascendente do DEM pernambucano: - O
governo está em crise política profunda. Perdeu a condição de comandar a
economia brasileira, jogou o País em uma recessão profunda... E aí vem, no meio
dessa crise, o ministro Cid Gomes, da Educação, contribuir para
"atenuar" a crise — entre aspas, naturalmente — e debelar o incêndio
que toma conta da política governamental, jogando gasolina.
Continuarlendo............ O PODER DAS PALAVRAS – O Globo – José Casado
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