Degrau
a degrau, a Operação Lava Jato chegou ao topo da cadeia alimentar dos
negócios das empreiteiras dentro da Petrobrás ao determinar as prisões
dos presidentes das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, sob a
justificativa de que ambos tinham pleno conhecimento de todo o esquema
de pagamento de propinas na estatal.
Conclusão
semelhante à que chegou por maioria o Supremo Tribunal Federal, durante
o julgamento do mensalão, ao recorrer à teoria do domínio do fato para
estabelecer que o ministro-chefe da Casa Civil do governo Luiz Inácio da
Silva, José Dirceu, tinha pleno conhecimento do sistema montado com
agencias de publicidade, bancos e empresas públicas para comprar apoio
político ao governo.
O
STF sofreu críticas e acusações de arbitrariedade. Agora, como se vê, se
algum pecado houve naquele processo, não foi por excesso de rigor.
Antes, talvez, por omissão de “dominadores” e beneficiários dos fatos. Mas
as investigações prosseguem, avançam e já desmontam ao menos uma tese: a
de que as empreiteiras foram vítimas dos políticos. Por essa teoria, a
exigência do pagamento de propinas seria uma imposição resultante da
“parceria” entre governantes e parlamentares e a única maneira de as
construtoras (não só elas, diga-se) fazerem negócios com o Estado.
Embora
seja verdade, é apenas meia verdade. Não há vítimas nem algozes nessa
história. Apenas cúmplices. Para que as empreiteiras façam os negócios
que estão sendo revelados, é preciso que os detentores do controle da
máquina do Estado abram espaço a elas e permitam que a clientela amiga
sirva-se à vontade. Por
isso mesmo há em Brasília a mais plena certeza de que os políticos não
escapam. A hora deles chegará. No Supremo, para os que têm o chamado
foro privilegiado ou para os que já não podem contar com ele e que
porventura tenham aparecido nas delações premiadas sob a jurisdição do
juiz Sérgio Moro.
Do
mesmo modo que os chefes das grandes empreiteiras obviamente sabiam de
tudo o que se passava, a chefia, ou as chefias, do núcleo político –
vale dizer, o governo e seus aliados no Parlamento – detinham o perfeito
domínio sobre todos os fatos. A
maneira como as investigações vêm sendo conduzidas indicam que o
desmonte é só uma questão de tempo. E as excelências todas já se deram
conta disso. De onde está havendo em Brasília um movimento de retorno ao
interesse pela ação política em detrimento dos negócios. Puro instinto
de sobrevivência.
O
ativismo legislativo é um sinal. Deputados e senadores que sempre deram
mais importância às vontades do Planalto – por décadas – de súbito
tornaram-se adeptos da independência. Ora, ora, uma explicação deve
haver para tal mudança. Certamente não é a de que baixou o santo do
espírito público de uma hora para outra. Baixou,
isto sim, a certeza de que nada será como antes. Políticos têm faro
apurado. Daí tanta valentia, tanto enfrentamento como nunca se viu do
Legislativo em relação ao Executivo. Políticos têm faro apurado, sabem
para onde sopram os ventos.
E
nesse momento procuram se reposicionar diante da opinião pública. Se
formos examinar, o fenômeno atinge todas as instituições que,
finalmente, procuram – umas mais, outras menos – falar à sociedade. Entre
outros, exemplo típico é o TCU no caso das contas do primeiro governo
Dilma Rousseff, que cometeu ilegalidades confiando na leniência com
infrações anteriores sem levar em consideração o velho dito segundo o
qual é impossível enganar a todos o tempo todo.
Fonte: Dora Kramer - O Estado de São Paulo
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