Especialistas:
denúncia de Cunha pode servir de combustível para ofensiva direta contra o
governo
Apesar do
tom belicoso, estratégia de encurralamento do Executivo pode perder força
Belicoso
e enfrentador, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
foi denunciado nesta quinta-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, que enviou a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). Janot
afirmou, por escrito, que o peemedebista terá que devolver US$ 80
milhões aos cofres públicos. A pedido do GLOBO,
cientistas políticos fizeram uma análise sobre o impacto da denúncia no
comportamento de Cunha como presidente da Câmara.
Emil
Sobottka, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC-RS):
— Seria
esperado de uma figura pública ao sofrer uma denúncia com tão graves acusações,
que se recolhesse, como ocorre em democracias maduras. Mas não acredito que isso
se aplique ao atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB.
Não é do seu perfil assumir um tom moderado e conciliador, como adotou o
presidente do Senado, Renan Calheiros, também do PMDB. Repetidamente, Cunha vem
dando demonstrações de que não vai fazer isso. Apesar de esperada por todos,
inclusive pelo próprio presidente da Câmara, acredito que a denúncia
apresentada pela Procuradoria-Geral da República pode ter sido o combustível
que faltava ao deputado para que deflagre uma ofensiva direta e decisiva contra
a presidente Dilma.
Desde os
primeiros vazamentos, Cunha aumentou a carga contra o governo dando sinais do
que estava disposto a fazer. Neste momento, Cunha deve estar fazendo os
cálculos políticos das consequências de um ataque final contra o Planalto. Ele
sabe que ainda tem nas mãos uma base fiel de parlamentares que o apoia contra o
governo e o seguem numa possível ofensiva, seja na votação de pautas que
desagradem ao governo, seja até num pedido de impeachment. Ele sabe que para o
impeachment ele precisa mais do que somente seus aliados. Acredito que Cunha
pode tentar se aproximar de setores do PSDB favoráveis a destituição da
presidente pela Câmara para construir uma base mais sólida contra o Planalto.
Ainda é cedo para avaliar o tamanho da bomba que Cunha prepara, mas o que não
se duvida é que ele vai reagir a esta denúncia agressivamente. Resta saber
quando o ataque final virá.
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