Políticos fazem mesmo pacto contra o combate à corrupção, pois põe em risco liberdade deles
Apesar de ter apoio maciço da sociedade
brasileira, que tem plena consciência de sua indiscutível importância no
combate à impunidade generalizada e na recuperação da decência num
ambiente em que a imoralidade é exceção, mas se impõe como regra, a
Operação Lava Jato de fato corre o risco de vir a ser extinta. Ou, na
melhor das hipóteses, paralisada pelo efeito “pistom de gafieira”, no
qual “quem está fora não entra e quem está dentro não sai”.
O aviso, feito pelo coordenador do
Ministério Público Federal (MPF) na força-tarefa que assombra 12 entre
10 chefões partidários no País, Deltan Dallagnol, em entrevista a
Ricardo Brandt e Fausto Macedo, do Estadão, faz todo o
sentido. E não deve ser interpretado como uma mera tentativa de vender o
próprio peixe ou de garantir a continuidade de um trabalho do qual, com
toda justiça do mundo, ele e a equipe têm todos os motivos para sentir
grande orgulho. Ou de ganhar mais tempo para investigar. É, sim, a
constatação de um risco que realmente existe, e sua preocupação deve ser
a de todos nós que respeitamos a honra da Nação e não temos bandidos de
estimação. Convém ficarmos atentos para não vermos cair no vazio a
tentativa de extirpar o tumor maligno da corrupção que leva os órgãos de
nosso Estado Democrático de Direito a uma eventual falência terminal.
Segundo ele, “é possível e até provável”
um governo ou o Congresso pôr fim à Lava Jato. “pois quem conspira
contra ela são pessoas que estão dentre as mais poderosas e influentes
da República”. As gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado com Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e Eduardo
Cunha, figurões influentes do PMDB – sigla do vice-presidente no
exercício da Presidência, Michel Temer -, não podem mesmo ser
confundidas com meros palpites em bate-papos de café. Pois Renan preside
o Senado, Jucá foi ministro do Planejamento, Cunha é presidente
afastado da Câmara e Sarney presidiu a República e o Senado.
Se as gravações justificam, ou não, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendar ao Supremo
Tribunal Federal (STF) prender Renan, Jucá e Cunha e pôr tornozeleiras
em Sarney é discutível. Mas seu teor explicita tentativa de obstruir o
trabalho da polícia e da Justiça para livrar o alto comando político
nacional do pavor da perda da liberdade.
Mais grave é que o PT e aliados tomam
providências práticas para, se não paralisarem, ao menos prejudicarem a
devassa policial e judicial, reduzindo-lhe a independência ou alterando
as leis que tornam possível seu êxito. Na Câmara projeto do deputado w.d. (PT-RJ) tenta reduzir o alcance da colaboração com a
Justiça, a “delação premiada”.
Não deve ser esquecida também a
conspiração revelada nas gravações que, mui oportunamente, o juiz Sérgio
Moro tornou públicas expondo armações do PT, do ex-presidente Lula e da
presidente afastada para anular efeitos nocivos da investigação em suas
vidas. A decisão do relator da operação no STF anulando seus efeitos
jurídicos não lhe altera teor. Antes de sua divulgação, o ex-presidente
tinha instruído sindicalistas a assediarem o juiz, responsabilizando-o
pela tragédia de uma crise econômica que destrói negócios e desemprega
milhões de trabalhadores. A chefona afastada do comando do desgoverno,
Dilma Rousseff, execrou publicamente, e sem razão, informações colhidas
em confissões de “desprezíveis” delatores.
O terrorismo corporativista contra a
devassa do maior escândalo de corrupção de todos os tempos no planeta
inteiro também está anunciado. Caso Renan seja afastado da presidência
do Senado, assumirá o posto o petista acriano Jorge Viana. Nos
telefonemas ouvidos País afora, Sua Excelência instruiu o advogado de
Lula, Roberto Teixeira, a convencer o cliente a desacatar Moro para,
como “preso político”, “virar o País de cabeça pra baixo”.
O delirium tremens da bravata
colide com a vida real. A convocação de greve geral pelo presidente do
PT, Rui Falcão, para sexta-feira passada, reduzida a pífias
manifestações (a da Paulista foi anabolizada para fictícios 100 mil
militantes) mostra isso. Mesmo irrealista, contudo, a bazófia do
vice-presidente do Senado dá uma ideia de como seria sua atuação no
julgamento definitivo da “presidenta” dele e na liderança do sujo pacto
contra a Lava Jato.
Aliás, essa sabotagem subversiva ao
combate à corrupção é traduzida ainda em ação administrativa efetiva da
afastada. Neste espaço o advogado Modesto Carvalhosa denunciou várias
vezes a edição de medidas provisórias pela sra. Rousseff para atenuar e
até anular a Lei Anticorrupção que ela própria assinara. Resulta de uma
desfaçatez nefanda, a leniência de empresas flagradas em corrupção
explícita, adotada a pretexto do emprego do trabalhador que a corrupção
está desempregando (extrema canalhice!), sem obedecer ao princípio
básico de que só uma tem direito a gozá-la, mas estendendo-a a todas. E
perpetua-se na posição análoga do ministro da Transparência e Controle
(denominação marqueteira imprópria para a Controladoria-Geral da União –
CGU), Torquato Jardim, que a defende sem corar.
Essa tentativa de trocar pena por dó e
justificar delinquência explícita por compaixão atinge os píncaros do
paroxismo com a proposta de estender o pacto cínico a partidos
políticos, feita, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, pelos campeões
de condenações da Lava Jato Dirceu e Vaccari. A notícia dá mais razão a
Dallagnol. E também ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Gilmar Mendes, que tem motivos para acreditar que o PT terá bilhões
para gastar até a campanha de 2038, ainda que a polícia e a Justiça
interrompam o saque feito pela organização criminosa que depauperou o
País nos últimos 13 anos, 4 meses e 12 dias. E, além disso, explica a
defesa do fim do financiamento privado… para os outros partidos, é
claro.
Fonte: Blog do José Nêumanne Pinto
Jornalista, poeta e escritor
http://neumanne.com/novosite/categoria/blog/Ler outra opinião sobre a entrevista de Deltan Dallagnol
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