Novas
perícias criminais e análises de documentos apreendidos pela Polícia Federal
vão ampliar as frentes de investigações, que voltarão a ser conduzidas pela força-tarefa da
Procuradoria, em Curitiba
Luiz Inácio Lula da Silva começa a ser denunciado criminalmente, nas
próximas semanas, ao juiz federal Sérgio Moro por suposto
envolvimento no esquema de cartel e corrupção na Petrobras alvo da Operação
Lava Jato. Novas perícias criminais e análises de documentos apreendidos
pela Polícia Federal, na 24ª fase (Operação Aletheia) deflagrada em 4 de março,
que teve como alvo o ex-presidente, vão ampliar as
frentes de investigações, que voltarão a ser conduzidas pela força-tarefa da
Procuradoria, em Curitiba.
Com o retorno das investigações da Lava Jato contra Lula para Curitiba, o maior risco que o ex-presidente enfrenta não é uma prisão cautelar (temporária ou preventiva), avaliam investigadores e defesas ouvidos em reservado. O problema é jurisprudência criada pelo Supremo, em março, que permitiu a prisão imediata de condenados em segundo grau – sem a necessidade, vigente até março, de se aguardar o transitado em julgado do processo. A avaliação dos envolvidos nos processos é que com a nova regra, se condenado por Moro até o início de 2017, Lula fica passível de ter um pedido de execução de pena de prisão ainda em 2018, numa eventual manutenção de sentença da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Denúncias
A força-tarefa da Lava
Jato, em Curitiba, considera ter as provas para levar o
petista ao banco dos réus por envolvimento no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras, conforme
revelou a reportagem, em 23 de abril. Os casos da compra e reforma do Sítio
Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e do tríplex no Edifício Solaris, no Guarujá, integram o primeiro pacote. Os
procuradores, no entanto, não fecharam questão da forma que as denúncias serão
apresentadas.
No caso do sítio, por exemplo, existem três acusações que podem ser unificadas ou apresentadas
separadamente. Uma principal, sobre a compra e reforma da propriedade,
pelas empreiteiras Odebrecht e OAS e pelo pecuarista e usineiro José Carlos
Bumlai. E outras que tratam da mudança e do
armazenamento de bens e outra sobre a instalação
de uma antena da OI, próxima do imóvel.São esperadas ainda outras acusações, como as decorrentes da delação premiada do ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), que envolveu Lula na trama para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Esse inquérito permanece ainda no Supremo. A denúncia principal, no caso do primeiro pacote, apontará a família do ex-prefeito de Campinas (SP) e amigo de Lula, Jacó Bittar (PT) como “laranja” na ocultação da propriedade, adquirida em 2010 pelo valor declarado de R$ 1,5 milhão. Os registros de escritura em nome dos donos oficiais, um “contrato de gaveta” em nome do ex-presidente e da mulher, Marisa Letícia, encontrado nas buscas e depoimentos dos investigados farão parte da acusação.
Nesse item, a força-tarefa em Curitiba deve acrescentar novos dados que foram descobertos logo após a deflagração da Operação Aletheia e antes da remessa dos autos para o STF. Uma delas é o uso de uma empresa – PDI Processamento Digital de Imagem – que pertence a Kalil Bittar, sócio de Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Ele é irmão de Fernando Bittar, um dos donos, na escritura, do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que segundo os investigadores é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A empresa tem sede na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e não tinha entrado ainda para o radar da Lava Jato, que apura os negócios de familiares e amigos de Lula – por suspeita de ocultação patrimonial e lavagem de dinheiro.
Os procuradores apontarão que “o ex-presidente da República tinha ciência do estratagema criminoso e dele se beneficiou”. Segundo sustentará a denúncia, as etapas de aquisição, reforma e decoração do sítio em Atibaia “revelam operações sucessivas de lavagem de dinheiro no interesse de Luiz Inácio Lula da Silva”. A origem ilícita dos recursos empregados na compra, reforma e decoração do imóvel, advindos de crimes antecedentes praticados pela Odebrecht, OAS e Usina São Fernando (de Bumlai) integram os elementos que apontarão os estratagemas para dissimulação e ocultação do negócio.
Tríplex
A denúncia do tríplex no
Guarujá, que teria
sido reservado e reformado pela construtora OAS para Lula, também pode integrar o primeiro bloco de acusações contra o
ex-presidente. O dono da empreiteira, José Aldemário Pinheiro, o Léo
Pinheiro, negocia delação com a Procuradoria desde o início do ano, sem
sucesso. Ele pode esclarecer o caso. Lula
será denunciado nesse negócio por lavagem de dinheiro, sendo beneficiado
pela OAS, uma das líderes do cartel que atuava Petrobras, com a promessa de
entrega e a decoração do imóvel com dinheiro oriundo de corrupção.
O inquérito considerado o mais incipiente é o que trata das palestras, pós-Presidência, via empresa LILS, Palestras, Eventos e das doações ao Instituto Lula. Nessa frente, um delator que confirme que os repasses e pagamentos por palestras podem ter ocultado propina é essencial para investigadores. Os documentos recolhidos na Operação Aletheia, nesses endereços, e na casa de Lula, dos filhos e do amigo Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, determinarão o ritmo de andamento do inquérito.
Quebra-cabeça
Até
março, procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba consideravam estar
a um delator de completar o quebra cabeça acusatório contra Lula –
como se tivessem o cenário da imagem já definido, restando apenas uma peça para
completar o desenho. As delações do ex-líder do governo no Senado Delcídio
Amaral e do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) ajudaram a definir esse cenário,
em que Lula é pintado pela força-tarefa como alguém com participação ativa no
esquema de sistematização da corrupção no governo. Além
do fatiamento político entre partidos da base – PT, PMDB, PP e PTB -, teriam sido criadas regras para a propina.
Com o esquema teria sido montada a base de sustentação para a governabilidade,
uma versão ampliada do mensalão, e pagos valores também para a oposição.
Defesa
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota, por meio de sua
assessoria de imprensa: “Reafirmamos que
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre agiu dentro da lei. Não é dono
nem do sítio de Atibaia, nem do apartamento do Guarujá, como está registrado em
escrituras. Todos os bens do ex-presidente estão devidamente declarados.
O ex-presidente Lula e seus familiares foram submetidos a uma ilegal devassa por decisões do juiz Sérgio Moro, a pedido do MPF. A despeito disso, não conseguiram localizar qualquer elemento concreto que pudesse embasar uma acusação – seja em relação à propriedade do imóvel, seja em relação às reformas feitas no imóvel.
É muito grave, especialmente diante do histórico acima, a informação de que alguns membros do MPF, teriam antecipado a jornalistas de “O Estado de S. Paulo” e outros meios de imprensa que pretendem apresentar denúncias em série contra o ex-presidente Lula, seus familiares e amigos.
Tal conduta, se confirmada, representará mais um verdadeiro atentado à Constituição Federal, pois alguns membros do MPF estarão utilizando de um amplo poder que lhes foi conferido para ferir a dignidade de pessoas e para tentar subverter o princípio da presunção de inocência, não só mediante a formulação de denúncias contra pessoas que sabem serem inocentes, mas ao darem publicidade antecipada a esse ato.
Configurará, ainda, um atentado a Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário, que asseguram, dentre outras coisas, o direito à integridade pessoal – física, psíquica e moral – e a presunção de inocência, inclusive como regra de tratamento, impedindo que seja feito qualquer juízo moral antecipado, fundado em situações juridicamente ainda não definidas.
Por isso, caso a informação publicada pelos jornalistas de “O Estado de S. Paulo” seja confirmada, serão tomadas todas as providências para restabelecer as garantias constitucionais e aquelas estabelecidas nos Tratados Internacionais e, ainda, para que sejam punidos todos os agentes que, independentemente do cargo de ocupam, insistem em desrespeitar o segredo de justiça e as medidas estabelecidas pela mais Alta Corte do País.”
Fonte: Isto É
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