Léo Pinheiro diz que intermediários da agora líder da Rede pediram
doação por fora em 2010 porque candidata não queria aparecer ligada a uma empreiteira
Está dando o que
falar a informação que vazou das negociações que Léo Pinheiro faz com vistas a
uma delação premiada, segundo as quais intermediários de Marina Silva lhe pediram, em
2010, doação pelo caixa dois porque ela não queria seu nome associado a
empreiteiras. Marina disputou a Presidência, então, pelo PV. O pedido teria
sido feito pelo empresário Guilherme Leal e por Alfredo Sirkis, então
coordenador nacional da campanha. O trio nega. Vamos lá.
O Globo já deu a informação com o devido destaque. Nesta terça, é manchete
da Folha. Merece toda essa
visibilidade? Bem, acho que sim, não é? Marina
não tem a obrigação moral de ser mais honesta do que ninguém — o que se quer é todos sejam honestos.
Mas é claro que eventuais
denúncias que a envolvam ganham um especial acento. E por quê?
Porque há muito tempo Marina é uma espécie de Catão moralizador do
jogo do poder. De tal sorte ela se quer diferenciada dos demais políticos que
se esmera até em jogos de palavras para buscar categorias que estariam acima
das miudezas — e safadezas — a que
outros se entregariam. Ainda que, a exemplo de todo mundo, também ela nada mais
faça do que… política! Peguem o caso da
luta pelo impeachment. Marina não se envolveu. Na verdade, passou boa parte do tempo
bombardeando a tese. Na reta final, sem discurso, acabou dando seu endosso
pessoal ao impedimento, mas o representante da Rede na Comissão Especial da Câmara votou
contra. Em plenário, seus quatro deputados se dividiram: dois pra lá, dois pra cá. Convenham: isso é a cara de Marina.
Mais do que isso: tão logo a petista foi afastada, Marina aderiu àquela história de “Nem Dilma nem Temer, mas novas eleições”, apelando ao TSE. Com a
devida vênia, é uma vigarice intelectual. Por quê? Marina sabe muito bem que a questão não
será julgada pelo tribunal antes de 2017. Assim, caso a chapa que elegeu
Dilma-Temer seja cassada nos dois anos finais de mandato, a Constituição prevê
a realização de eleições indiretas.
Outra coisa: antecipar a data de eleição ou retardá-la é simplesmente
inconstitucional. Fere cláusula pétrea da
Constituição, e isso, portanto, não pode ser feito nem por emenda. Logo, o que quer, de
fato, Marina Silva? Escolher o impossível para jogar os outros na fogueira, em
benefício dos próprios interesses eleitorais. Porque, afinal, ela, a exemplo do
que se queria o PT lá d’antanho, se considera “diferente disso tudo o que está por aí”.
Notem: Marina apostou na permanência de Dilma, mesmo com o país indo para
o buraco, e agora faz a defesa de uma
espécie de vazio institucional. Das duas uma: ou ela acredita mesmo
nessa possibilidade e é uma doida — e não
me parece que seja — ou reveste seu oportunismo de superioridade moral.
A ser verdade o que informam as reportagens e a ser Léo Pinheiro
fiel aos fatos, essa diferença, também nesse particular, se revela apenas no
discurso. Notem: eu estou apontando
a fala hipócrita de Marina no que concerne à questão propriamente política,
ainda que destituída de qualquer safadeza mais mundana. Sirkis afirma que, em
2010, a OAS doou R$ 400 mil, devidamente
registrados, ao PV do Rio e que esse dinheiro foi empregado na campanha do
Estado e de deputados federais. Nada teria ido para a disputa nacional.
Marina afirma que, se
pediram dinheiro em seu nome, ela não sabia de nada. E diz que apoia as
investigações. Que bom que apoie!
Continuariam mesmo que não apoiasse. Vamos ver o que vem na delação de fato, quando ela existir.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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