O Foro de São Paulo (FSP) realizou seu XXIII Encontro em Manágua, Nicarágua, entre os dias 15 e 19 de julho de 2017 e, diferente dos outros anos, apenas dois temas dominaram os debates: a defesa intransigente a Lula e o apoio incondicional ao golpe de Estado sob a fachada de uma Assembléia Nacional Constituinte (ANC) na Venezuela de Maduro. Assim diz a resolução relativa à Venezuela:
“Em 30 de junho o povo
venezuelano irá às urnas para eleger a composição da ANC. Nesse
contexto, o FSP aderiu à campanha e chamamos todos a se somar e
participar da campanha “Venezuela Coração da América” para demonstrar
nosso apoio à Venezuela e às decisões soberanas de seu povo, com vistas
ao 30 de julho e depois dessa data. Na próxima semana, o objetivo
pontual será visibilizar a ANC como um processo legítimo e abraçado por
todos os povos que defendem a auto-determinação, a soberania e a paz frente ao ingerencismo”.
O Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) havia cancelado as eleições para governador e vereadores
que deveriam ocorrer em 2016, alegando que não havia tempo nem verba
suficiente para bancar o evento, do mesmo modo que na Consulta Popular
organizada e realizada pela oposição, mas teve mais que o suficiente
para organizar em apenas 2 meses e bancar os custos da ANC porque era
imperativo consolidar uma monstruosa fraude que garantisse o controle
total dos cubanos e da Nomenklatura chavista-madurista no poder.
No último dia de campanha
Maduro fez ameaças públicas aos funcionários públicos caso não votassem
[abaixo], coisas tais como: ser demitido, perder o direito aos programas
sociais e ao cartão que permite comprar mercadorias com preço mais
barato. A procuradora Luisa Ortega Díaz anunciou que o Ministério
Público abriu um expediente para receber as denúncias que são
incontáveis e afirmou: “Por imperativo categórico e mandato das leis, me
pronuncio para desconhecer a origem, processo e suposto resultado da
imoral constituinte presidencial”.
E no dia da votação o que
reinou mesmo foi a violência, a repressão e um saldo de 16 assassinatos,
um dos quais um menino de 13 anos e milhares de feridos. Os jornalistas
não tiveram direito a acesso aos centros de votação, sendo agredidos e
alguns presos pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB). Um prédio
residencial foi incendiado e não permitiram que chamassem os bombeiros a
esposa e filhas do deputado opositor, Simón Calzadillo, foram
seqüestradas e levadas ao SEBIM o filho de outro deputado foi
seqüestrado dentro de casa. Os centros de votação estavam desertos,
havia mais policiais e guardas reprimindo o povo nas ruas e gente nas
filas para conseguir pão do que nos centros de votação, entretanto, a
reitora do CNE fez um anúncio em cadeia de televisão prorrogando a
votação por mais uma hora porque sabia que o mundo inteiro estava vendo o
que ocorria e eles precisavam justificar a fraude mais tarde.
O governo reverberava que a
participação foi “massiva”, mas a MUD calculou que somente 12% dos
eleitores aptos a votar compareceram, perfazendo um total de 2.383.073
votos contabilizados até as 18:00 h. Desses, 25% foram nulos,
provavelmente dos funcionários públicos que foram obrigados a votar, mas
quando o CNE resolveu anunciar os resultados já passando da meia-noite,
ouviu-se o que já era esperado: 41,53% ou seja, 8.089.320 eleitores
votaram nos candidatos a assembleístas. A Venezuela possui 19,5 milhões
de pessoas aptas a votar, então a pergunta que não quer calar é a
seguinte: como num momento 7.505.338 pessoas se manifestam contrárias a
participar de uma farsa ilegal e inconstitucional, e depois o número dos
que apóiam é maior? A explicação para essa rotunda mentira é que,
segundo o Art. 348 do Código eleitoral, para que uma eleição seja
validada é necessário que 15% dos eleitores votem e Maduro sabia que não
havia conseguido!
O resultado desse crime
eleitoral e constitucional foi o rechaço e desconhecimento de vários
países que se manifestaram mesmo antes da divulgação dos resultados. Os
Estados Unidos encabeçaram a lista, ainda na semana passada, sancionando
13 altos funcionários do governo, dentre os quais Tibisay Lucena,
reitora do CNE, Tarek William Saab, Defensor do Povo, Elias Jaua,
ex-vice presidente, e os comandantes da Guarda Nacional, Polícia e
Forças Armadas, bloqueando bens, congelando contas e cartões de crédito,
proibindo qualquer contato pessoal ou comercial com eles, além do
cancelamento do visto e da proibição de entrada no país. Aos USA
somaram-se, adotando as mesmas restrições, Canadá, México, Colômbia,
Peru e Panamá. A União Européia, a ONU e o MERCOSUL também rejeitaram e
desconheceram a ANC assim como Brasil, Argentina, Paraguai e Espanha.
Em fevereiro deste ano o
Escritório de Controle de Bens Estrangeiros do Tesouro dos Estados
Unidos (OFAC na sigla original) já havia sancionado com as mesmas
medidas a Tareck el Aissami, vice-presidente da Venezuela, Freddy
Bernal, Hugo Carvajal, Henry Rangel Silva, Ramón Rodríguez Chacín por
narcotráfico conhecido como o “Cartel dos Sóis” além de 13 magistrados, e
hoje Maduro foi incluído na lista. Em pronunciamento no fim da tarde do
dia 31, o Assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, H. R.
McMaster, disse de Maduro e da votação de ontem: “As eleições ilegítimas
da Venezuela confirmam que Maduro é um ditador que menospreza o desejo
dos venezuelanos”.
Mais sanções contra Maduro e
sua ditadura criminosa virão de todos os cantos do mundo, e na
Venezuela a oposição se fortalece numa luta que entra no quinto mês com
um saldo de 126 mortos, mais de 1.000 presos políticos e centenas de
feridos. Eles prometem não parar. Só quando derrubarem esse regime
assassino e tiverem de volta a liberdade e democracia no país. É um
bravo povo, que resiste e, como Davi, enfrenta um Golias demoníaco.
Maduro e o FSP fracassaram, embora ainda resistam. Mas não será por
muito tempo Que Deus abençoe a Venezuela!
Graça Salgueiro, escritora e jornalista, é autora do livro ‘O Foro de São Paulo – A Mais Perigosa Organização Revolucionária da América Latina‘, e apresenta o programa Observatório Latino, na Rádio Vox.
Nenhum comentário:
Postar um comentário