Equipe do novo governo parece não se entender quanto à urgência de reformar a Previdência
Ideias que levam um candidato a conquistar a Presidência da República
não são necessariamente as que o levam a governar. Conquistar o apoio da
população pressupõe ganhar a opinião pública por meios retóricos, que
não são os que podem ajudar a resolver os problemas mais urgentes do
País. Um candidato deve, muitas vezes, escolher entre dizer a verdade
sobre a situação econômica ou ocultá-la, esperando, entrementes, ganhar
os corações. Acontece que a conquista dos corações pode ou não coincidir com escolhas
racionais, baseadas em argumentos para transformar o País. É muito mais
fácil eleitoralmente prometer empregos, como se fosse possível criá-los
por passe de mágica, do que produzir riquezas, pressupondo contas
públicas saneadas e assumindo a responsabilidade fiscal. Pouco foi dito,
afora generalidades, sobre a necessidade de uma reforma da Previdência
como condição para que o Brasil volte a crescer de forma sustentável.
O discurso do candidato Jair Bolsonaro foi, sobretudo, baseado na luta
contra a corrupção, o resgate de valores conservadores e o combate ao
petismo. Suas tiradas foram muito pertinentes e ele soube fazer
excelente uso das redes sociais. No que toca a esses pontos, pode-se
dizer que a formação de sua equipe é coerente com o que foi proposto
eleitoralmente. Todavia as ideias de combate à corrupção e os valores morais e
religiosos não são de nenhuma valia para a condução da economia de um
país, salvo a honestidade no tratamento dos negócios públicos. Nada nos
dizem sobre a necessidade, inelutável, de uma reforma da Previdência
para o saneamento das contas públicas e a redução da dívida pública. Se
nada for feito rapidamente, é o destino do Brasil e do próprio governo
que estará em jogo. Aqui, a retórica e a demagogia terão alcance muito
limitado. A verdade aparecerá logo ali, dentro de um ano ou, no máximo,
dois.
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O novo governo não está, porém, dando nenhum sinal apaziguador.
Presidente, vice-presidente e ministros dão indicações contraditórias.
Uns, responsavelmente, apregoam uma rápida reforma da Previdência,
aproveitando o projeto, pronto para ser votado, do atual governo. Outros
pretendem um projeto totalmente novo, que seria feito lentamente, ao
longo de todo o mandato. A bateção de cabeças é enorme. E o Brasil não
pode esperar. O projeto do atual governo já passou por todas as comissões. Não é
certamente o ideal, até porque foi desidratado ao longo de todo o seu
percurso legislativo. Não se pense que um novo projeto não sofrerá o
mesmo destino. Deverá ser negociado, como o atual o foi. Mais valeria
votar logo o que está aí no início da nova legislatura, enquanto um mais
completo é elaborado e submetido, a seu tempo, a nova votação. Trata-se
de um imperativo da realidade!
Pense-se no tempo que tomaria recomeçar todo o processo, em longas
negociações e passando por novas comissões, cada uma vivendo a sua
própria agonia. O mês de fevereiro será gasto com a eleição dos novos
presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, assim como de suas
respectivas comissões. As negociações partidárias serão árduas. E em
março teremos o carnaval. Qualquer novo projeto de emenda constitucional
muito provavelmente só começaria a tramitar na segunda quinzena de
março, supondo que o novo governo já tenha até lá um projeto único, e
não vários, como está sendo ainda discutido. Facilmente já estaremos no
segundo semestre do próximo ano. Vale a pena perder tanto tempo?
Além do mais, o novo governo não pode repetir os erros do atual. Deve
ter uma estratégia pronta de comunicação social, visando, precisamente,
ao convencimento da sociedade. Só dessa maneira os parlamentares se
sentirão pressionados. E deverá levar em consideração a atuação
organizada dos privilegiados dos estamentos estatais, que resistem a
qualquer mudança que lhes retire benefícios. Os não privilegiados, por
desinformação e falta de convencimento, terminam por apoiá-los ao se
tornarem reféns da demagogia dos que sabem utilizar elementos adequados
de comunicação.
Ora, o novo governo não conseguiu ainda estabelecer uma estratégia de
comunicação, principalmente para a área digital. A utilização pelo novo
presidente das redes sociais para a sua eleição pode ser um bom
prenúncio, sempre e quando venha acompanhada por uma estratégia de
comunicação digital institucional. A complementaridade das duas pode ser
uma condição do sucesso ou do fracasso do futuro governo. Nada disso,
porém, foi até agora implementado. A aprovação da reforma da Previdência
passa necessariamente por uma eficaz comunicação social, sem a qual os
cidadãos podem cair nas armadilhas dos privilegiados.
Outra condição essencial consiste no convencimento e nas negociações com
os parlamentares e os partidos políticos. Os sinais do atual governo,
nesse sentido, não são alvissareiros. Ministros batem cabeça entre si.
Ora um ministro é encarregado dessa função, ora outro, ora ambos, e
assim por diante. Nem a interlocução está decidida. Com quem os
parlamentares e os partidos deverão negociar? O que um diz será
referendado pelo outro? [a grande falha do Governo em formação é o excesso de transparência na formação do ministério Bolsonaro, todos falam e, obviamente, as contradições surgem e são exploradas por parte da Imprensa para criticar - sempre críticas negativas.
Apesar de cercado por generais o presidente Bolsonaro - hoje diplomado - esquece o exemplo indispensável de um outro general - ERNESTO GEISEL - que formou seu ministério sem dar explicações e/ou ouvir palpites.
Bolsonaro teve os quase 60.000.000 de votos que lhe deram a vitória, justo que tenha o direito inelutável de formar seu Ministério (para o BEM ou para o MAL, Bolsonaro será o único responsável, a ser malhado ou elogiado, pelo êxito ou fracasso de suas escolhas.]
Como se não bastasse, o novo governo está fazendo uma aposta arriscada.
Preteriu os partidos em benefício das frentes parlamentares. O problema é
que estas se unem em temas específicos, como os da agricultura e
pecuária, e se dispersam em relação a outros temas. O mesmo vale para as
outras frentes, como as de saúde, segurança, construção civil,
materiais de construção e evangélicos. É totalmente aleatório que se
unam em questões que fujam de suas respectivas áreas de atuação. Por último, convém não esquecer que tanto a Câmara quanto o Senado
funcionam com Mesas Diretoras, lideranças partidárias e consultas a
presidentes de partidos. O espaço político das frentes parlamentares é,
assim, reduzido.
O quebra-cabeça não se pode tornar uma bateção de cabeças.
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