Moro e Guedes: dois superministros, dois alvos de dúvidas e interrogações
O efeito da divulgação da troca de mensagens do então juiz Sérgio Moro
com procuradores é menos jurídico e mais político. É improvável que isso
mude alguma coisa, por exemplo, nas condenações do ex-presidente Lula.
Mas é provável que deixem Moro debaixo de chuvas e trovoadas,
principalmente se os hackers tiverem bem mais do que já foi publicado. [destacando sempre que os hackers cometeram crimes e tudo que fornecerem não tem valor como prova, visto que provas ilegais não são válidas para nenhum fim, inclusive quem as usa não pode alegar a proteção do sigilo da fonte.
Até mesmo a credibilidade das mesmas pode ser posta em dúvida.
Finalizando com o destaque que as mensagens roubadas de Moro e dos procuradores não apontam nenhuma fraude no processo que encarcerou o ladrão petista.]
Moro entra na mira justamente quando o outro superministro, Paulo
Guedes, da Economia, começa a fraquejar. A reforma da Previdência virou
um samba de uma nota só, enquanto a economia patina e o desemprego não
dá refresco. Dois superministros, dois alvos de interrogações. Bom para Moro isso tudo não é. As mensagens confirmam sua forte ligação
com procuradores, principalmente com Deltan Dallagnol, coordenador da
Lava Jato. E a independência da Justiça? Juízes não devem e não podem
manter relações promíscuas nem com a defesa nem com a acusação.
Isso, porém, é uma questão formal. Na prática, no dia a dia, que juiz
não troca informações, mensagens e dúvidas com um lado, o outro ou
ambos? E, cá para nós, nem chega a ser surpresa o trabalho e o esforço
conjunto de Moro, procuradores, delegados e agentes da Receita Federal
para chegar a um resultado espetacular: a maior e mais bem-sucedida
operação de combate à corrupção de que se tem notícia.
No próprio documentário O mecanismo, dirigido por José Padilha e baseado
no livro Lava Jato, do jornalista Vladimir Neto, essa relação já é
retratada. Todo mundo sabia. Agora todo mundo finge que não e está
chocado? E as idas de ministros do Supremo a palácios presidenciais,
cervejadas de advogados com procurador-geral da República, visitas “de
improviso” de advogados de Lula ao ministro da Justiça? Sem falar na
intensa troca de mensagens de todos com todos.
Para conferir ainda mais complexidade à história, há o ataque de
hackers. É óbvio que a ação não foi isolada e aleatória. Foi, sim, uma
ação orquestrada, concentrada nos principais atores da Lava Jato. Além
de Moro, os procuradores de Curitiba, o desembargador Abel Gomes, do
Rio, e outros personagens-chave em Brasília. Os celulares invadidos não
eram de quaisquer procuradores e juízes, mas de procuradores e juízes da
Lava Jato.
Impossível a Polícia Federal chegar aos autores? Impossível não é, até
pela máxima de que “não há crime perfeito”. Basta um vacilo, um
descuido, um rastro e a investigação pode evoluir como um rastilho de
pólvora. E Moro não é só o chefe da PF, mas é um sólido aliado da
instituição na Lava Jato, tanto quanto dos procuradores. Agora, há duas questões pairando no ar e impedindo qualquer conclusão
precipitada: se há outros trechos e se essas novas revelações podem ser
mais diretas e mais devastadoras do que as que já vazaram até aqui pelo
site The Intercept Brasil. Até lá, lembre-se que Sérgio Moro tem o lombo
curtido e está bastante acostumado a “apanhar” desde os cinco anos de
Lava Jato, testando forças com poderosos do Executivo, do Legislativo,
do Judiciário e com as maiores fortunas do País.
Uma coisa é certa: a ida de Moro para a Justiça foi muito melhor para
Bolsonaro do que para o próprio Moro e pode até ser que ele vá dormir
toda noite pensando se fez bem ou não, à sua biografia, à sua vida
privada e até à Lava Jato, ao virar ministro de um governo tão estranho,
adepto de armas, empenhado em beneficiar maus motoristas etc. Mas não
são esses hackers e as mensagens que saíram até agora que irão
derrubá-lo. Muito menos do pedestal na opinião pública. [opinião sensata e de quem sabe o que está dizendo.]
Como bem disse Fernando Henrique Cardoso ontem, houve “comentários impróprios”, mas o resto é “tempestade em copo d’água”.
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