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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Favoritos e rejeitados - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Aos amigos evangélicos, tudo; aos adversários indígenas, nada. Ou melhor, as migalhas

Com o presidente Jair Bolsonaro viajando e o Judiciário e o Legislativo em recesso, vão surgindo as bombas a serem lançadas em 2020 sobre a opinião pública, senadores e deputados e ministros do Supremo, a quem cabe a última palavra em questões polêmicas. São bombas em forma de medidas provisórias ou decretos em elaboração nas áreas técnicas do governo. Um projeto prevê subsídios para a conta de luz de templos evangélicos, ops!, religiosos. Outro escancara reservas indígenas às mais diversas formas de exploração, [a exploração de algumas áreas de reservas ocorrerá de forma sustentável e possibilitando o aproveitamento do que  hoje está abandonado, sem nenhuma utilização em prol do Brasil e do seu povo;
que adianta um punhado de índios serem ocupantes de reservas de milhares de hectares, sem nenhuma utilização -quando ocorre alguma é realizada de forma fortuita, por aventureiros estrangeiros, comprando dos índios o que eles tem obrigação de preservar.] Resta saber o que o Ministério da Economia acha de um, e a comunidade internacional, do outro. [O Brasil não pode, nem deve, se vincular ao que a comunidade internacional acha - deve sim, ignorar os latidos que só atrapalham,  e se algum país membro da comunidade internacional desejar, sem forçar a barra, conversar com o Brasil, apresentar ideias sobre um melhor aproveitamento, que sente a mesa com o Governo brasileiro e apresente suas propostas.
esse negócio de pirralha, fedelha, pretender opinar sobre assuntos sérios é parte de um circo que o Brasil deve ignorar.]

Em resumo: aos evangélicos, tudo; aos índios, as migalhas. Estes não terão direito a veto ao que for imposto para suas terras, mas poderão ser recompensados pelas atividades ali instaladas. Assistirão à devastação de camarote, estendendo o pires para colher as moedas. Quando abrirem os olhos, cadê as suas reservas? Puff! Evaporaram. Um dos mantras de Bolsonaro é que ele acabou com o “toma lá, dá cá” com o Congresso, mas a verdade é que, além de as emendas parlamentares terem sido liberadas diligentemente em 2019, a troca de favores corre solta especialmente com os aliados e amigos, inclusive de fora do Congresso.

Funcionou na reforma da Previdência dos militares, que perderem na aposentadoria, mas ganharam no soldo, e tem sido recorrente com as polícias, os evangélicos e as bancadas ligadas a ambos. Bolsonaro não esconde os privilégios para seus preferidos, que estão na sua base de apoio no Congresso, na sua base eleitoral no Rio de Janeiro e nas suas relações de amizades. Segundo levantamento do Estado, 30% da agenda pública de Bolsonaro no seu primeiro ano foi dedicada a militares e evangélicos. Ele pôs o "bispo" Edir Macedo no primeiro plano da foto do Sete de Setembro, vai a toda solenidade militar pelo País afora, anunciou indulto de Natal para policiais condenados por “excessos” em serviço e contrariou o ministro Sérgio Moro com o excludente de ilicitude, apelidado de “licença para matar”. [= licença para se defender e não ser morto, ou defender a terceiros e impedir mortes.
O bandido, que parte da imprensa insiste em pintar como o "escalado" para morrer é quem decide a hora, o local e o que estará fazendo quando for abatido.] 

E não são apenas gestos, gentilezas e fotos. Depois de contrariar o superministro da Justiça, Bolsonaro pinga más notícias nos planos do outro superministro, Paulo Guedes, da Economia. Numa hora, proíbe taxação da produção e consumo de energia solar. [se o presidente Bolsonaro taxar a produção e o consumo de energia solar, logo a quase totalidade da imprensa, milhões de gringos e brasileiros simpatizantes o acusarão ser contra a exploração de fontes renováveis de energia.
O presidente Bolsonaro pode ser açodado, cabeça quente, mas não é estupido e sacou logo a armadilha.
A escarrada Dilma é que chegou a comentar o aumento da arrecadação cobrando impostos sobre o ensacamento de vento.]] Noutra, quer subsídio para a energia dos templos evangélicos, ou, se preferirem – mas não é o que ocorrerá na prática –, dos templos das diferentes igrejas. Ou seja, tira receita com uma das mãos e gera despesa com a outra.

Por trás desse toma lá, dá cá ampliado, está o futuro: o novo partido do presidente e as eleições de 2022. Quem poderia ser melhor do que evangélicos, policiais e militares para estimular assinaturas do Aliança pelo Brasil? Quem mais tem tanta ramificação no País? Quanto aos índios, pobres, distantes, desarticulados, eles estão entregues à própria sorte. Nada contra a discussão sobre a extensão, o grau de preservação e o uso de áreas indígenas para o desenvolvimento – do País e das próprias comunidades indígenas. O problema é que, no atual governo, que rejeita ONGs e conselhos, trata críticos como inimigos, vê esquerdismo em tudo e em todos e só olha para o próprio umbigo (ou a própria ideologia), as discussões são muito restritas.

E lá vem um projeto que não apenas abre a mineração, como já esperado, mas autoriza a construção de hidrelétricas, extração de petróleo e gás e exploração de agropecuária e turismo nas reservas indígenas. Ou seja, tudo. Se o mundo já recebe com espanto as políticas do governo e as manifestações do próprio Bolsonaro para meio ambiente, imaginem o que vai achar da novidade? [o mundo é o mundo e o Brasil é o Brasil, apenas uma parte do mundo.]
 
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo 
 
 

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