[assustador: é esta Câmara, com mais de 2/3 dos seus integrantes a favor da corrupção e dos corruptos, que influir na escolha de ministros do Supremo Tribunal Federal.]
Muitos se perguntam qual é o tamanho do compromisso da Câmara dos
Deputados com o combate à corrupção. A dúvida foi sanada numa sessão
extraordinária realizada na noite desta quarta-feira. Nela, o deputado Wilson
Santiago, denunciado por corrupção, recebeu de volta dos colegas um mandato
que, nas palavras do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, foi
posto "a serviço de uma agenda criminosa". A íntegra da lista de
votação, disponível aqui, dissolve o mistério. Sob o argumento de que há o
"concreto receio" de que Wilson Santiago volte a utilizar o cargo
para praticar crimes, Celso de Mello suspendera o mandato do deputado em
dezembro. Para que o gancho fosse mantido seriam necessários 257 votos.
Deu-se,
então, a revelação. Dos 513 deputados, apenas 170 (33,1%) votaram a favor do
expurgo. [em outras palavras: 66,9% = 343 deputados = são a favor da corrupção e dos corruptos.] Num placar em que abstenções e ausências contaram a favor do
denunciado, nada menos que 342 deputados (66,6%) contribuíram para o retorno do
colega tóxico. Desse total, 233 votaram contra a suspensão de Santiago, sete se
abstiveram e 102 fugiram do plenário. Presidente da sessão, Rodrigo Maia não
precisou votar. Repetindo: Escassos 33,1% dos deputados expressaram o
compromisso com a moralidade. O tamanho da desfaçatez na Câmara é de 66,6% de
sua composição.
As provas recolhidas contra Wilson Santiago são fartas e fortes. Há
vídeos e áudios. Ele é acusado de receber propinas provenientes de obras contra
a seca na Paraíba. Num negócio de R$ 24,8 milhões, o capilé foi orçado em R$
1,2 milhão. Nos discursos, nenhum parlamentar ousou defender Wilson Santiago - nem
ele próprio. Embora estivesse suspenso, o denunciado deu as caras na Câmara.
Rodrigo Maia ofereceu-lhe o microfone. Mas ele preferiu se abster. O jogo
estava jogado. Tudo fora combinado em reunião prévia de Maia com os líderes
partidários. No geral, alegou-se que Santiago foi retirado do gancho em
respeito à Constituição e às prerrogativas do Legislativo. Lorota.
Num plenário repleto de investigados, denunciados, réus e cúmplices a
maioria optou por adiar a forca de Santiago para se proteger da corda. Decidiu-se
que a Mesa Diretora da Câmara enviará o caso de Wilson Santiago para o Conselho
de Ética. O colegiado é mais conhecido pelas pizzas que assa do que pelos
mandatos que cassa. Segue a pantomima.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL/Folha de S. Paulo
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