Correio Braziliense
''Pode-se xingar o presidente todos os dias, inclusive ameaçá-lo, e fazer o mesmo com os presidentes da Câmara e do Senado, mas não se permite fazer isso com juízes do Supremo''
Domingo, em São Paulo, quando um grupo de mais de 500 pessoas no
Largo do Batata se dispersou, alguns foram pacificamente para casa,
outros foram quebrar vidros do Bradesco e do Itaú. Na Avenida Paulista,
um grupo diferente se manifestava, uns com bandeiras nacionais, outros
com cartazes pedindo fechamento do Supremo e do Congresso. Em
Copacabana, umas 200 pessoas de um lado e de outro, se manifestavam,
falando em democracia e antifascismo. No Centro do Rio, outro grupo
levava barras de ferro, coquetéis molotov e facas. [os quebradores de vidros e portadores de barras de ferro, molotov e facas são das quadrilhas da esquerda, incluindo membros de gangues também conhecidas como 'torcidas organizadas'.]
“Esquecemo-nos,
muito frequentemente, não só de que ‘há sempre um fundo de bondade nas
coisas más’, mas muito geralmente também, de que há um fundo de verdade
nas coisas falsas” –– palavras do filósofo Herbert Spencer (in Primeiros
Princípios), em brilhante tradução de Irapuan Costa Junior,
ex-governador de Goiás. Parecia assim em manifestações ocorridas em
cidades brasileiras, no domingo –– não se poderia dividir manifestantes
em democratas e fascistas. Aliás, democracia e fascismo provavelmente
não encontrariam padrões por estas bandas.
Havia pessoas defendendo a democracia com a maior boa fé, sem se
dar conta de que já estamos numa democracia, à nossa moda. Pode-se
xingar o presidente todos os dias, inclusive ameaçá-lo, e fazer o mesmo
com os presidentes da Câmara e do Senado, mas não se permite fazer isso
com juízes do Supremo. [qual o fundamento de ministros do Supremo - pessoas e não a instituição - receberem tratamento diferenciado? afinal, integram o órgão máximo de um dos Poderes, enquanto os outros presidem a Câmara e o Senado, órgãos máximos do Poder Legislativo, e o presidente preside, na condição de Presidente da República, à Nação = atribuição do Poder Executivo e lá está por ter recebido nas eleições 2018, quase 60.000.000 de votos.] Também havia pessoas, com a maior boa-fé, pedindo
intervenção militar. Havia pessoas autointituladas antifascistas e
havia pessoas se expressando como anticomunistas. Todos exercendo o
direito democrático e constitucional de liberdade de opinião, de
expressão e de manifestação.
O que está fora da
lei é armar-se para agredir quem pensa diferente, ou se preparar para
incendiar ou sair quebrando. A linguagem da violência é falada por quem
carece dos argumentos da razão. E a Constituição só garante direito de
reunião sem armas. Num lado e no outro das manifestações há um fundo de
verdade e coisas falsas, num lado e noutro há supostas boas intenções a
justificar coisas más e ilegais. Em Curitiba, rasgaram a Bandeira,
talvez sonhando com o Navio Negreiro, de Castro Alves (mas que bandeira é
essa? […] antes te houvessem roto na batalha, que servires a um povo de
mortalha!). Mentes que bailam em ideais revolucionários, embriagadas em
rótulos que, repetidos, se tornam verdade, mesmo sem ter fatos que
justifiquem o carimbo. E mentes que sonham com as armas para calar e
impor. Repetem processos de Lênin e Goebbels. Nada de novo. Será que
pensar dói?
Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense
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