Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Watergate. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Watergate. Mostrar todas as postagens

domingo, 27 de agosto de 2023

Descrentes do Estado

A grande surpresa de Milei na Argentina revela outros fenômenos

 Javier Milei

Javier Milei (Tomas Cuesta/Getty Images)
 
Os 7 milhões de votos para o candidato ultra libertário na Argentina continua a desafiar os especialistas em decifrar cabeça de eleitor, um enigma até na nossa era de hiperinflação. 
Vamos ter de esperar até 22 de outubro para saber se o fenômeno Milei se consolida ou se foi apenas um daqueles ataques de birra com que eleitores costumam deixar os institutos de pesquisa com a cara no chão. 
Mais do que analisar o perfil médio do eleitor que votou no excêntrico candidato — homem, jovem, descrente de todas as alternativas tradicionais —, é interessante ver os elementos sociais que podem fazer do caso argentino uma categoria e não uma exceção. 
 
As mudanças no estilo de vida são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados, com relações de trabalho tão fluidas quanto as pessoais, sem necessariamente esperar formar família ou mesmo casais fixos. Na Inglaterra, por exemplo, um dos assuntos do momento é o das mulheres com mais de 30 anos que nunca tiveram um namorado firme. Saem com alguém do aplicativo, rola o algo mais e a coisa não evolui. O jeito é fingir que se sente empoderada, assistir ao filme da Barbie e se afundar no vinho rosé com as amigas. 
 
Entre os homens, os casos mais extremos de isolamento produzem os incels, os celibatários involuntários, expressão sofisticada para o fenômeno muito triste de jovens que simplesmente não têm nenhum relacionamento com o sexo oposto. No limite, incels descontrolados são os jovens que cometem chacinas nas escolas onde se sentem excluídos.

“As mudanças são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados”

Ter uma saudável desconfiança em relação ao Estado não é a mesma coisa que rejeitar categoricamente todas as instituições públicas — abrindo-se, aqui, uma exceção para o caso argentino, diante do histórico de erros tectônicos da direita e da esquerda. 
No livro Bowling Alone, ou Jogando Boliche Sozinho, o cientista político Robert Putnam detectou na virada do século, entre os americanos, a perda do que chama capital social: o enfraquecimento da religião e do senso de pertencimento que ela proporcionava, o esgarçamento do casamento e das relações familiares e um sentimento muito presente entre americanos menos privilegiados, o de que as pessoas comuns têm sido traídas pelas elites. 
Atenção, Putnam não é de direita, bem ao contrário, embora as chagas apontadas possam fazer parte do manual do pensamento conservador. Olhando para os EUA com o foco mais aberto, diz ele: “Quando a economia vai bem, as pessoas confiam mais no governo. Quando a economia vai mal, a confiança afunda. Em três quartos de século, todos os índices máximos e mínimos de confiança no governo podem ser explicados por três fatores: a Guerra do Vietnã, Watergate e o desempenho da economia”.
 
“Tenho vendido minha alma / Fazendo hora extra todo dia por uma droga de salário / Para poder sentar aqui e desperdiçar minha vida / Voltar para casa e afogar as mágoas”, canta Oliver Anthony, numa espécie de hino do redneck que virou fenômeno viral. 
O americano-padrão Anthony não é muito diferente do argentino-padrão Milei. Preservadas, obviamente, as especificidades da Argentina, onde até o pensamento libertário gerou uma corrente populista. 
Seus seguidores , em muitas instâncias, estão sozinhos em casa, como versões adultas do personagem de Esqueceram de Mim. Com o celular na mão e muita bronca na alma.

Publicado em VEJA, edição nº 2856  de 25 de agosto de 2023, 

Vilma Gryzinski, Mundialista, Revista VEJA

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Herói ou traidor? General que conspirou contra Trump está comprometido - Blog Mundialista

Vilma Gryzinski

Coberto de desonra pela vergonhosa retirada do Afeganistão, Mark Milley agora aparece tramando com China pelas costas de um presidente

Parece diálogo de filme: “General Li, o senhor e eu nos conhecemos há cinco anos. Se nós formos atacar, eu vou te ligar antes. Não será de surpresa”. “General Li, quero garantir que o governo americano é estável e que tudo vai ficar bem. Nós não vamos atacar ou conduzir qualquer operação cinética contra vocês”.

Em linguagem militar, operação cinética equivale a atos de guerra.

O homem que deu garantias ao atual maior inimigo dos Estados Unidos foi o general Mark Milley, chefe do estado-maior conjunto das Forças Armadas americanas – ou seja, o posto mais importante da hierarquia militar. E seu interlocutor foi o general Li Zuocheng, que ocupa o cargo equivalente no Exército Popular de Libertação da China.

As duas conversas estão no novo livro de Bob Woodward e Robert Costa sobre a etapa final do governo de Donald Trump, intitulado Perigo. Woodward, da dupla de Watergate, deu vários sinais de que integrava a turma psicologicamente perturbada pelo ódio acumulado contra Trump, mas os telefonemas reproduzidos não foram desmentidos. Isso significa que foram revelados pelo próprio Milley ou por alguém que falou com autorização dele.

A tese do livro é que os telefonemas do general ao seu colega/adversário chinês,  completamente contrários à hierarquia, à cadeia de comando e ao manual de comportamento de um chefe militar, tiveram um objetivo nobre: desarticular alguma manobra de Trump que envolvesse algo grandioso e perigosíssimo, como um ataque contra a China, para impedir ou neutralizar sua derrota na campanha pela reeleição.

É uma tese duvidosa. Ao contrário do que aparece nos filmes sobre presidentes, um subgênero do cinema americano, o ocupante da Casa Branca, embora seja o comandante-chefe das Forças Armadas,  não pode desencadear uma guerra de uma hora para outra, sem o conhecimento e o consenso, ainda que não unânime, dos civis e militares que formam o establishment da defesa nacional. Também não pode “apertar um botão” e desfechar um ataque nuclear a seu bel prazer.

É claro que para os antitrumpistas, o general, que já havia esperneado quando Trump levou a cúpula militar para uma caminhada até uma igreja ao lado da Casa Branca que os manifestantes ligados ao Black Lives Matter haviam tentando incendiar, teve um comportamento heróico ao neutralizar preventivamente uma perigosa e alucinada jogada de Trump.

No campo oposto, dos que se chocaram com a forma como um chefe do estado-maior conjunto pode se aliar a um adversário chinês, a melhor reação foi do senador republicano Marco Rubio. Numa carta aberta a Joe Biden, ele também usa termos que parecem de cinema, manifestando “grave preocupação” com a possibilidade de que o general Milley considerasse a hipótese de “fazer um traiçoeiro vazamento de informações sigilosas ao Partido Comunista Chinês em antecipação a conflito armado com a República Popular da China”. “Estes atos do general Milley demonstram uma clara falta de discernimento e eu o exorto a demiti-lo imediatamente”.

Outro senador conhecido, o libertário Rand Paul, disse que o general deveria ser investigado imediatamente e inclusive submetido a um polígrafo, a máquina da verdade. Se confirmado que tramou com os chineses, deveria ser levado a corte marcial por traição. Dá para perceber que é o tipo de assunto capaz de provocar reações extremas. Trump, evidentemente, apoiou as críticas  e disse que nunca sequer pensou num ataque contra a China para facilitar sua permanência no poder.

Os chefes do Estado-Maior Conjunto têm um mandato de quatro anos. Milley foi nomeado por Trump em 2019. Na época, o New York Times disse que ele havia conquistado Trump com piadas, conversas amigáveis e disposição a discutir os preços astronômicos dos armamentos americanos. Dizia o Time que o falante general, coroinha na infância, gostava de citar Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Henry David Thoreau – provavelmente não para os ouvidos de Trump, onde as provas de erudição não causariam grande impressão.

A nova polêmica pega Milley num momento em que a questão da retiradado Afeganistão começa lentamente a se dissipar. A responsabilidade final pela retirada – rápida e mal feita, como a piada sobre o lema da Cavalaria – é de Joe Biden, mas mais de cem generais e almirantes da reserva pediram a renúncia de Milley e do secretário da Defesa, Lloyd Austin. Imaginem sua reação agora, com a informação de que o chefe do Estado-Maior Conjunto tramou para desautorizar um presidente pelas costas.

Mesmo numa democracia pioneira e avançada como a americana, nem sempre é tranquila a convivência entre generais e os governantes civis. Em situações de guerra, os ânimos pegam fogo. Franklin Roosevelt demitiu o comandante da Frota do Pacífico, almirante James Richardson, por discordar do acantonamento da frota em Pearl Harbor. Deu no que deu. Roosevelt também demitiu seu substituto, Husband Kimmel, por falta de preparo para o devastador ataque japonês.  O mais famoso militar demitido da história moderna dos Estados Unidos foi Douglas MacArthur, general cinco estrelas pelo comando na II Guerra. O ex-contador Harry Truman demitiu o herói de guerra que queria atacar o território chinês e até criar um cinturão de cobalto radiativo para impedir o avanço de tropas chinesas sobre a Coreia.

MacArthur tentou contornar a cautela do presidente criando fatos consumados. O episódio deixou uma frase famosa de Truman: “Eu demiti MacArthur porque não respeitava a autoridade do presidente. Eu não o demiti por ser um imbecil filho da ****, embora ele seja”.

Barack Obama demitiu dois comandantes de operações no Afeganistão, incluindo o brilhante e adorado general Stanley McChrystal, por uma reportagem em que ele e seus próximos deixavam entrever uma atitude nada respeitosa em relação ao presidente e seu vice, Joe Biden. Obama não precisou demitir outro general legendário, David Petraeus, que era diretor da CIA, porque o próprio pediu para sair depois que veio à tona seu caso com uma tenente-coronel bonitona, Paula Broadwell, que escreveu sua biografia e a quem ele deu enorme quantidade de material sigiloso.

É claro que Joe Biden não vai demitir o general Mark Milley. Ao contrário, está numa posição em que precisa elogiar seu desempenho, ao qual se ligou intimamente.  A oposição republicana vai espernear, mas não tem poder para atingi-lo. Milley só será julgado no tribunal da sua consciência.

Vilma Gryzinski, colunista - Blog Mundialista - Revista VEJA


 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Procura-se um Fiat Elba e Picadeiro da CPI - Silvio Navarro

Silvio Navarro

A busca incessante por uma denúncia que derrube o presidente Jair Bolsonaro

Naquela época, os meios de comunicação tradicionais já caçavam incessantemente informações capazes de desidratar a arrancada eleitoral em curso. Se é fato que revirar o passado de um político prestes a governar uma nação é legítimo e dever da imprensa, também é preciso registrar que começava ali uma artilharia cuja mira só tinha um lado — afinal, em janeiro daquele ano, a Lava Jato ainda levaria gente graúda para a cadeia e Lula nem sequer havia sido preso.

No dia seguinte ao do primeiro turno da eleição, o tom dos editoriais subiu. Para a Folha de S.Paulo, o candidato que recebera mais votos era um político com “pregação tosca, de tons frequentemente autoritários, e um programa ultraliberal encampado na última hora”. O Estado de S. Paulo escreveu que “mesmo o mais bem informado eleitor teria dificuldade em saber quais eram suas propostas para tirar o país da rota do iminente desastre fiscal porque, nas poucas vezes em que foi questionado sobre o assunto durante a campanha, em entrevistas ou debates, o ex-capitão gaguejou, apelou para frases feitas, com pouco sentido, e, por fim, acabou admitindo que é absolutamente ignorante em economia”. Na mesma linha seguiu o Grupo Globo.

Tudo isso ganhou escala muito maior depois da posse. Até a “rachadinha” dos filhos de Bolsonaro — que não deve ser minimizada — recebeu uma calibragem diferente quando comparada com a mesma prática feita pelo PT. Jornalistas, artistas e famosos que nunca tiveram coragem de escrever com todas as letras que Lula é um criminoso chamam sem pudor Bolsonaro de “genocida um colunista desejou publicamente a sua morte em jornal, outro desconfiou da facada.[e outro sugeriu seu suicídio]

Parte da resistência a Bolsonaro se explica pela militância ideológica de esquerda presente nas redações e que nunca aceitou sua vitória nas urnas — daí a hashtag #EleNão e a chegada da abjeta “cultura do cancelamento” ao meio político. Para saber mais sobre como as universidades doutrinam a juventude, vale a leitura do livro Lavagem Cerebral, de Ben Shapiro, comentarista político conservador nos Estados Unidos. A realidade nas salas de aula lá não é diferente do que acontece aqui.

A outra metade da responsabilidade pelo desgaste com a imprensa se deve ao estilo reativo do presidente. Não foram poucas as vezes em que ele poderia, simplesmente, ter evitado o confronto com um microfone que considera provocador — porque Bolsonaro gosta de uma encrenca.

Leia “Ben Shapiro e a doutrinação nas universidades”

Picadeiro da CPI

Montado desde o final de abril no Senado, o grupo de detetives da covid, comandado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), também será lembrado por algumas proezas na política brasileira: começou como a CPI da cloroquina, depois da ivermectina, em seguida da Copa América. Concluiu que o governo patrocinou um extermínio em massa pela falta de vacinas, descobriu um gabinete paralelo do Ministério da Saúde e diz ter batido à porta de um inédito escândalo de corrupção no qual não se provou ainda o desembolso de um centavo dos cofres públicos.

A história começa com uma declaração do desconhecido deputado Luis Miranda (DEM-DF). Ele disse que procurou o presidente em março para relatar supostos problemas no contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, uma bolada de R$ 1,6 bilhão. Mas como Miranda soube das supostas irregularidades e quais seriam elas? O parlamentar afirmou em entrevista que seu irmão, Luis Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde, teria sido pressionado a pagar pelo imunizante.

No dia 25 de junho, os irmãos Miranda foram chamados pela CPI. Os depoimentos começaram a ser anunciados como o “Dia D” de Bolsonaro no Palácio do Planalto, porque a dupla faria uma divulgação bombástica e irrefutável. Voz mais estridente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) buscou os repórteres em Brasília para anunciar que o Brasil estava diante do “Covaxgate”, numa alusão ao escândalo Watergate, que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon na década de 1970.

A “bomba” foi uma afirmação de que Bolsonaro teria dito que houve “rolo de um deputado” na negociação para adquirir as vacinas. Segundo Luis Miranda, o parlamentar seria seu colega Ricardo Barros (PP-PR), o líder do governo na Casaele nega a acusação e pede para ser ouvido, mas a CPI não quer. Qual seria o rolo? Barros teria apresentado uma emenda no processo de votação da Medida Provisória nº 1.026/2021, destinada a acelerar a liberação de vacinas já autorizadas na Índia. No dia seguinte ao da revelação, contudo, uma informação deixou jornalistas e oposição em parafuso: os também deputados Orlando Silva (PCdoB-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE), irmão de Renan, apresentaram emendas idênticas.

Quando o noticiário político se degenera no policial, uma equação precisa ser inevitavelmente respondida: quem roubou, quanto e onde foi parar o dinheiro? Pelo que se sabe até agora, os recursos nunca chegaram ao bolso de ninguém porque não foram pagos.

Também os imunizantes da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, os mais usados hoje no Brasil, teriam sido alvo de um roubo que por pouco não aconteceu. Aí surgiram os personagens que só aparecem num escândalo à brasileira — um ex-policial que virou atravessador, um reverendo lobista, a ex-cunhada magoada e a figura do deputado de quinta categoria que sonhava virar um Roberto Jefferson. Com um enredo desses, é claro que a semana não poderia terminar bem, e o senador Omar Aziz (PSD), cujo prontuário policial no Amazonas assusta, deu voz de prisão a um funcionário do Ministério da Saúde e resolveu provocar as Forças Armadas.

O fato é que até agora o que se viu na CPI foi um grupo de picaretas perdendo tempo com outros picaretas. No início da década de 1990, quando a revista Veja revelou que o presidente Fernando Collor de Mello participava de um esquema de corrupção com o ex-tesoureiro da campanha PC Farias, uma CPI esbarrou na compra de um Fiat Elba pela primeira-dama, Rosane. O dinheiro teria saído de uma conta fantasma de PC. Foi o estopim para o impeachment de Collor. A Elba de Bolsonaro não apareceu.

[A narrativa do crime de corrupção -  ao estilo governo Bolsonaro - é de dificil, comprovação = por não  envolver o pagamento de um centavo sequer, não pagamento motivado por cuidar de uma despesa que não ocorreu, de um pedido de compra que não foi emitido, não emissão que resultou na não entrega das vacinas, não compradas, e do pagamento não efetuado.
Alguma atenção deve ser dada ao fato de que em 2020 foi cogitada a prisão de um ministro de Estado por desejar a morte de um ministro do Supremo e a prisão de outros. Desistiram, a legislação penal brasileira não tipifica o ATO DE TER UM DESEJO como crime.
Sepultaram a ideia de prender o ministro, que caiu para baixo = passou a ocupar importante e rentável função no Banco Mundial, fora do Brasil.
Aliás, a única ocorrência penal relevante, envolvendo a CPI Covidão,  foi que a Polícia Federal  indiciou o relator da Covidão,  o senador alagoano Calheiros,  pelo crime de corrupção.] 

Silvio Navarro - Revista Oeste


domingo, 8 de novembro de 2020

O mundo inseguro das boquinhas de TI - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Às 15h de terça-feira, o sistema de computadores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi invadido, e os trabalhos da Corte só voltarão ao normal nesta semana

O episódio mostra que os computadores da Viúva continuam sendo administrados de forma leviana. No mundo das altas competências, no século passado o governo brasileiro já pagou o mico de ter um sistema de criptografia das embaixadas protegido por equipamentos de uma fábrica suíça que tinha um sócio oculto, a Central Intelligence Agency americana. No governo Dilma Rousseff, descobriu-se que algumas de suas comunicações também estavam grampeadas.

Não se sabe o propósito dos invasores do STJ, pois achar que o tribunal tem meios ou recursos para pagar um resgate não faz sentido. Sabe-se, contudo, que a rede oficial de informática está contaminada por dois vícios elementares, que nada tem a ver com altas competências. É pura incompetência. Em muitas áreas, quando muda o chefão, ele troca a equipe de tecnologia. Mesmo em áreas onde isso nem sempre acontece, os hierarcas usam seus endereço da rede oficial para tratar de assuntos pessoais. Nos Estados Unidos a secretária de Estado Hillary Clinton pagou caro por isso. Assuntos oficiais e comunicações pessoais são coisas diversas. Se essa banalidade não é respeitada, só se pode esperar que o sistema esteja bichado em outras trilhas.

Essa incompetência não acontece por causa da herança escravocrata. Ela é produto de uma indústria da boquinha em quase tudo que tem a ver com informática. Prova disso é que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação armou uma licitação viciada de R$ 3 bilhões há mais de um ano, foi apanhado, cancelou a maracutaia, mas até hoje não explicou como o edital foi concebido.

Na compra de equipamentos, pode-se pegar o jabuti quando ele quer mandar 117 laptops para cada um dos 255 alunos de uma escola. Quando as contratações vão para escolha de operadores, manutenção e até mesmo programação entra-se num mundo complexo, atacado por amigos que têm conexões, mas não têm competência.

Médici, Geisel e Bolsonaro
Nenhum presidente brasileiro teve uma relação tão próxima com seu colega americano como o general Emílio Médici com Richard Nixon, a quem visitou em 1971. Quando Nixon se atolou no caso Watergate e acabou perdendo o cargo, Médici, fora do governo, não disse uma só palavra.

Nenhum presidente brasileiro detestava seu colega americano como Ernesto Geisel detestava Jimmy Carter. Enquanto esteve na Presidência, nunca disse uma palavra contra ele. Fora dela, recusou-se a encontrá-lo e não atendeu o telefone quando ele ligou para sua casa.

MATÉRIA COMPLETA em Folha de S.Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista  

 

 

sábado, 30 de maio de 2020

Poderes em guerra - IstoÉ

Conflito entre poderes ganha contornos dramáticos     

O Brasil está na iminência de um cataclismo político. A guerra entre os poderes da República intensificou-se nos últimos dias e ganhou contornos dramáticos. Aumentou o risco de uma ruptura institucional com consequências imprevisíveis. Está em andamento uma disputa sem tréguas entre o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF) para ver quem impõe sua lei e não há o mínimo sinal de conciliação. Diante das vontades ditatoriais do presidente Jair Bolsonaro de controlar a Polícia Federal para proteger os filhos e a si mesmo e de estimular fake news e campanhas difamatórias contra desafetos, há uma reação vigorosa do Judiciário, que tenta conter a ameaça despótica e manter a ordem. Mas o filho 03 do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), já declarou, em tom definitivo, que a ruptura democrática, cedo ou tarde, vai acontecer. “Não é mais uma opinião de se, mas de quando”, anunciou em live no canal Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos.

O que tocou fundo na família presidencial e nas hostes bolsonaristas, que começam a sugerir um autogolpe de Estado, foi a deflagração de uma operação da Polícia Federal, na quarta-feira 27, ordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das fake news, que, desde março de 2019, investiga ataques orquestrados contra membros do tribunal. A iniciativa de Moraes motivou 29 mandados de busca e apreensão em cinco estados e no Distrito Federal e atingiu 18 aliados do presidente, empresários e políticos, entre eles o próprio Allan dos Santos, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, o dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, o deputado Douglas Garcia (PSL) e a ativista de direita Sara Winter, que ameaçou o ministro de agressão. “O senhor me aguarde, Alexandre de Moraes, o senhor nunca mais vai ter paz na vida do senhor. A gente vai infernizar sua vida”, afirmou. Moraes já pediu à Procuradoria Geral da República (PGR) que tome providências sobre as ameaças de Sara.

A reação de Bolsonaro ao saber da deflagração da operação contra seus apoiadores foi descrita como “colérica”. Para o presidente, Moraes agiu com o objetivo de atingir o seu governo e o filho 02, o vereador Carlos (Republicanos-RJ). Tanto Carlos quanto Eduardo têm seus nomes atrelados à investigação das fake news. Bolsonaro também tratou a decisão de Moraes como um ataque à democracia. “Ver cidadãos de bem terem seus lares invadidos, por exercerem seu direito à liberdade de expressão, é um sinal que algo de muito grave está acontecendo com    nossa democracia”, afirmou pelas redes sociais. Embora o presidente reivindique a liberdade de expressão, o inquérito que motivou a operação não tem nada a ver com isso, mas com ameaças pela internet e distribuição de notícias falsas. Além disso, Bolsonaro quer fazer crer que a democracia claudica, para “salvá-la”.   

“As coisas têm limite. Ontem foi o último dia e peço a Deus que ilumine as poucas pessoas que ousam se julgar mais poderosas que outros que se coloquem no seu devido lugar, que respeitamos”, disse Bolsonaro em um pronunciamento em frente ao Palácio do Alvorada, um dia depois da operação da PF. “E dizer mais: não podemos falar em democracia sem judiciário independente, legislativo independente para que possam tomar decisões. Não monocraticamente, mas de modo que seja ouvido o colegiado. Acabou, porra”. O ministro Luiz Fux, que assumiu o comando do STF durante o afastamento de Dias Toffoli, internado com suspeita de Covid-19, disse que a corte continua vigilante contra qualquer forma de agressão. Declarou também que ofender a instituição representa “notório desprezo pela democracia” e saiu em defesa do ministro Celso de Mello, decano do tribunal, a quem chamou de “líder incansável desta Corte na concretização de tantos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros”.

Crise sem precedentes
Os problemas entre o governo e o STF subiram de tom, justamente, na sexta-feira 22, com a liberação integral do vídeo da reunião ministerial que levou à demissão do ex-ministro Sérgio Moro, por Celso de Mello. O conteúdo do vídeo escancarou algumas das piores intenções do governo e abriu uma crise sem precedentes. Confirmou as denúncias de Moro de que Bolsonaro pretende interferir na PF e expôs alguns ministros, como Abraham Weintraub, da Educação. Weintraub chamou os membros do STF de “vagabundos” e disse que deveriam ir para a cadeia. Na sua decisão, Mello comparou o esforço de Bolsonaro para esconder fatos que colocariam sob suspeita sua eleição em 2018, com o do presidente americano Richard Nixon para evitar um escândalo político e a própria renúncia no chamado caso Watergate. O fato que o presidente escondeu foi uma investigação da PF do caso das “rachadinhas”, que atinge seu filho 01, o senador Flávio (Republicanos-RJ) e seu assessor Fabrício Queiroz. Mello se referiu ao Watergate como precedente jurídico para acabar com o sigilo do vídeo da reunião ministerial. “Aquela alta Corte (dos EUA) acentuou que o chefe de Estado não está acima da autoridade das leis da República”, disse Mello. Sua decisão “deixou assentado que o presidente não pode proteger-se contra a produção de processo criminal com fundamento na doutrina do privilégio executivo”.

  Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA
         

sexta-feira, 8 de maio de 2020

A marcha da insensatez - Merval Pereira

O Globo

Nada é normal neste governo 

Bolsonaro não fez visita de cortesia ao Supremo 

[a visita do presidente Bolsonaro foi uma visita de cortesia esclarecedora - os que decidem, ou corroboram decisões certas ou erradas, devem arcar com o ônus ou o bônus decorrentes.]

A marcha do presidente Bolsonaro, seu ministro da Economia Paulo Guedes, deputados e um grupo de industriais sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma típica ação política de pressão, e ao negar esse intuito o chefe do Gabinete Civil General Braga Neto demonstra que não entende nada do assunto, ou, ao contrário, já deixou de ser um técnico apolítico para se transformar em um político seguidor do presidente.

Comparável a isso apenas na forma, não na gravidade institucional, só a marcha que o então governador Antonio Carlos Magalhães fez sobre o Palácio do Planalto, acompanhado de bancada baiana na Câmara e no Senado, para protestar contra a intervenção no Banco Econômico no governo de Fernando Henrique Cardoso.  O presidente Jair Bolsonaro não pode aumentar a pressão para o fim do isolamento justamente no momento em que o país entra na hora mais crítica da epidemia da Covid-19. Uma pressão indevida em cima do presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, que foi constrangido a recebê-lo e sua trupe sem audiência marcada e, inacreditável, transmitindo a reunião ao vivo em suas redes sociais.

Seus companheiros de toga ficaram irritados, evidentemente, com o ultrajante avanço do chefe do Executivo sobre um outro poder, e gostariam que Toffoli tivesse recebido apenas o presidente, deixando a comitiva na sala de estar. Evidentemente, não foi uma visita de cortesia, como disse Paulo Guedes, mas sim uma pressão para impedir que Estados façam lockdown e apertem as barreiras para evitar o aumento do caso de mortes pela Covid-19, que já está chegando a limites dramáticos.

A resposta de Toffoli foi certeira, colocando a coisa em seu devido lugar, ao reafirmar que a Constituição garante a competência de estados e municípios na matéria. O comitê de crise sugerido por ele poderia estar funcionando há muito tempo, se o presidente não fosse tão autoritário.
Colocar na mesma mesa representantes de governadores, prefeitos, industriais, comerciantes, médicos, judiciário, sob a coordenação do ministério da Saúde para planejar o momento certo e como fazer o relaxamento da quarentena seria uma medida correta num governo normal. Mas nada nesse governo é normal.

Agora mesmo estamos às voltas com a disputa pela divulgação do vídeo da reunião ministerial em que o presidente Bolsonaro teria ameaçado o então ministro Moro de demissão se não concordasse com a troca do diretor-geral da Policia Federal.  O governo, através da AGU, primeiro pediu ao ministro Celso de Mello, relator do processo no STF, que revogasse a exigência, e depois que a fita fosse editada. Tudo indica que teremos uma repetição, como farsa, da crise do então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon com a Suprema Corte, na investigação do caso Watergate, em torno da divulgação de áudios das conversas presidenciais em seu gabinete no Salão Oval.

Conforme relato do livro “Os dias finais”, de Bob Woodward e Carl Bernstein, o juiz Thurgood Marshall disse no julgamento da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre o direito de Nixon de escolher quais documentos liberaria para a Comissão Especial que investigava o caso Watergate: “A Nação estará seriamente ameaçada se o Presidente, qualquer Presidente, puder dizer que a Constituição é o que ele acha que é, e que não existe ninguém, nem mesmo a Corte Suprema, capaz de dizer-lhe que as coisas não são assim”. O promotor especial Jaworski alegava que ele tinha direito de levar o Presidente aos tribunais sobre a questão do privilégio executivo. O advogado da presidência, St. Clair, defendia que o promotor especial era um funcionário do Executivo e devia obediência ao Presidente.

Os juizes pareciam espantados com a alegação de que quem definiria quais provas deveriam ser dadas era o presidente Nixon. O advogado insistia em que a privacidade do Presidente deveria ser preservada, e citou o caso de uma fictícia conversa entre o Presidente e um indicado para a Suprema Corte. O juiz Marshal então atacou: “o senhor não acha que seria importante tomar conhecimento de uma conversa em que o presidente estivesse escolhendo um membro da Suprema Corte em troca de dinheiro?” Resta saber o que o presidente Bolsonaro e seus ministros palacianos querem esconder do público. 

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sábado, 7 de março de 2020

ABIN paralela - "Isso aí acabou" - Merval Pereira

O Globo

É preciso investigar o suposto grampo bolsonarista

Foi assim que o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República, tranquilizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em relação ao temor de que alguns deputados estariam sendo monitorados pelo governo.  No início do governo Bolsonaro, quando a relação com o Congresso estava em momento crítico, deputados procuraram o presidente da Câmara com uma apreensão: acreditavam que estavam sendo gravadosOs relatos não foram conjuntos, mas individuais, em diversas circunstâncias, uns consideravam que seus telefonemas estavam sendo grampeados, outros “sentiam” que estavam sendo gravados em suas conversas no Palácio do Planalto.

Eram mais percepções e temores do que fatos concretos que motivassem uma reclamação formal do presidente da Câmara. Até que um deputado com patente militar, ligado à comunidade de tecnologia de segurança de informação, disse a Maia que tinha certeza de que fora grampeado, e deu detalhes técnicos sobre o que poderia ter acontecido ao seu celular Android.

Segundo relatos de deputados, o presidente da Câmara aproveitou uma conversa com o General Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para abordar o tema delicado. Revelou a preocupação de diversos deputados, e recebeu a resposta tranquilizadora, que foi repassada aos deputados queixosos. O assunto morreu. A revelação do ex-ministro Gustavo Bebianno de que o filho 02 Carlos Bolsonaro pensara em montar um esquema não oficial paralelo de monitoramento de políticos e jornalistas trouxe o assunto de volta ao noticiário e gerou desdobramentos. [convenhamos que a declaração de um ex-ministro, o Gustavo Bebbiano,  sobre Bolsonaro e familiares, merece tanta credibilidade quanto fosse Lula o autor.]

Ontem, a revista Crusoé publicou em sua capa um amplo material sobre o tema, detalhando como o esquema teria sido montado. Não há dúvida de que o atual diretor da Agência Brasileira de Informações (ABIN), delegado Alexandre Ramagem foi quem incialmente discutiu com Carlos e mais três agentes da Polícia Federal a estruturação de uma equipe que seria responsável por essa atividade. Mas não é possível afirmar, (apenas intuir), que ele sabia que o trabalho seria clandestino, embora patrocinado pelo novo grupo que ocupava o Palácio do Planalto. Há o antecedente histórico do ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, político paranóico que procurou se proteger gravando clandestinamente as conversas no Salão Oval e grampeando seus “inimigos”.

Também objetivava impedir que vazamentos de documentos oficiais voltassem a acontecer como no caso dos Pentagon Papers, que revelou atuação ilegal do Departamento de Estado na Guerra do Vietnã. Essa equipe clandestina era conhecida comoplumbers” (bombeiros), e foi descoberta a partir da prisão de um grupo que invadiu a sede do Partido Democrata no prédio Watergate em Washington. A descoberta dos esquemas clandestinos levou à renúncia de Nixon ante a possibilidade de sofrer um impeachment.

O que é certo é que o General Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, conversou com o General Heleno sobre o assunto, e também Gustavo Bebianno, o primeiro a revelar formalmente essa tentativa do filho do presidente de montar um serviço de segurança paralelo ao já disponível pela presidência da República. Houve o aconselhamento ao presidente da República, por parte dos dois ex-ministros, de que seria uma temeridade acobertar tal tipo de atividade, que poderia motivar um impeachment.

O ministro Augusto Heleno mais uma vez ontem negou a veracidade da tentativa de criar-se uma “ABIN paralela”. Mas não se referiu em nenhum momento ao filho do presidente, talvez indiretamente citado na definição de “devaneio de amadores”, como classificou a informação. De fato, é tecnicamente equivocado chamar-se de “ABIN paralela” uma equipe clandestina de rastreamento de pessoas em posições “sensíveis”, embora seja jornalisticamente oportuno. Mas as indicações são claras de que esse movimento foi feito. Se o esquema chegou a ser implementado a ponto de os deputados “sentirem” sua presença nas conversas políticas, é um tema para ser investigado mais a fundo.

Pode ser até mesmo que não tenha nem sido instalado, diante das advertências aos “amadores”. Ou, o que seria uma tragédia institucional, pode ser que tal esquema continue em plena vigência. Só uma investigação independente poderá esclarecer a situação.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sábado, 27 de julho de 2019

“Sigam o dinheiro” - Merval Pereira

A investigação sobre os hackeamentos dos celulares de centenas de autoridades brasileiras parece estar chegando a uma solução, embora a Polícia Federal não creia que Walter Delgatti Neto tenha entregue o material resultante da invasão ao site Intercept Brasil apenas por “amor à causa”, pois não tem nenhuma, aparentemente.  Tudo indica que sua linha de defesa é transformar-se da noite para o dia em um whistleblower, um denunciante de irregularidades que alerta a sociedade com a divulgação de documentos sigilosos.

Como Edward Snowden, que revelou documentos sobre o sistema de vigilância global dos Estados Unidos, que incluiu a então presidente Dilma Rousseff. Ou Chelsea Manning, que divulgou, através do Wikileaks, documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. Assim como diversos outros casos.  O caso Watergate é um dos mais famosos. O informante dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, era conhecido como Deep Throat. Uma fonte realmente anônima para o grande público, que orientava as investigações jornalísticas, mas não dava documentos. Só pistas quentes. A revelação da sua identidade só veio quase 30 anos depois dos fatos, que levaram à renúncia de Nixon em 1974. E por decisão do próprio informante, Mark Felt, na época dos acontecimentos vice-diretor da CIA. Só depois que o Deep Throat se revelou é que Woodward e Bernstein revelaram mais detalhes dos acontecimentos.

O chamado Caso Watergate ficou célebre como jornalismo investigativo, e virou livro e filme, dirigido por J Pakula, com Robert Redford e Dustin Hoffman nos papéis dos repórteres. Foi no filme que surgiu a frase que se tornou famosa: “Sigam o dinheiro”, nunca dita por Felt, mas criada pelo diretor. Passou a ser o símbolo das investigações de crimes, especialmente os de corrupção política. Chegamos agora a esse ponto de seguir o dinheiro.  Ao revelar que Manuela Dávila, a ex-candidata a vice do petista Fernando Haddad na eleição de 2018, foi a intermediária entre ele e o editor do The Intercept Brasil Glenn Greenwald, o hacker Walter Delgatti colocou-a na chamada sinuca de bico.

 Ter intermediado a entrega do produto de um crime para um jornalista pode implicar cumplicidade, na visão de alguns. Há, porém, quem considere que a ex-deputada apenas agiu como uma pessoa que informa a um jornalista sobre um fato de que teve conhecimento.  O problema muda de figura no caso de ter havido um pagamento nessa cadeia de informantes. Não parece provável que um estelionatário seja movido apenas por “fazer justiça, trazendo a verdade para o povo”, conforme depoimento de Glenn Greenwald sobre seus contatos com o hacker, que ele continua sem confirmar ser o preso na operação Spoofing.  Se o grupo atuou sob encomenda de alguém, quem contratou é cúmplice, co-autor do crime. Se o Intercept Brasil não participou do pagamento, ou, sabendo dele, mesmo assim publicou o material, também não pode ser considerado cúmplice. Apenas terá a sanção moral pelo ato.

Se Manuela Dávila participou da negociação para a compra do material, poderá ser acusada de cumplicidade. E se um partido político foi o negociador da compra, será  possível enquadra-lo criminalmente, mas duvidoso o resultado. Um caso assim aconteceu durante a campanha presidencial de 2006, quando um grupo de petistas foi flagrado comprando, em dólar, um dossiê que supostamente implicaria o candidato tucano José Serra em falcatruas no ministério da Saúde. Serra acabou vencendo a eleição para governador, derrotando Aluizio Mercadante, e Lula, com o peso do mensalão recentemente descoberto, acabou indo para o segundo turno contra Alckmin, a quem derrotou com facilidade. Nenhum petista graúdo foi punido. No caso presente, se Walter Delgatti insistir nessa versão fantasiosa, a Polícia Federal poderá usar seu Telegram para confronta-lo com as conversas que teve com Manuela Dávila e Glen Greenwald.

Merval Pereira,  jornalista - O Globo

 

sábado, 20 de outubro de 2018

A ascensão dos generais

Quem são e o que pensam os generais de Jair Bolsonaro

Com a esperada vitória de Bolsonaro, pela primeira vez desde a volta da democracia, o grupo mais poderoso de um governo é egresso da caserna


Não acontecia desde o tempo em que o presidente da República usava óculos escuros e se chamava João Baptista Figueiredo (1979-1985). Se o mais provável ocorrer no dia 28 e Jair Bolsonaro vencer as eleições, os militares farão sua reentrada na cena política brasileira em grande estilo. Como está configurada hoje, a equipe encarregada de planejar um eventual governo Bolsonaro é quase toda formada por egressos da caserna. Dos quatro integrantes principais, apenas um o economista Paulo Guedes é civil. Os outros três são generais. Os militares são neste momento o grupo mais poderoso do protogoverno Bolsonaro não apenas porque encabeçam sua formulação e têm a confiança do candidato, mas também porque estão prestes a controlar um orçamento de 245 bilhões de reais. Esse valor — 20% do total aprovado pelo Congresso para 2019 — é a soma do que está destinado às quatro pastas com que Bolsonaro acenou até o momento à categoria: Defesa, Educação, Infraestrutura e Ciência e Tecnologia.

Além do próprio candidato, capitão reformado do Exército, seu núcleo duro de campanha conta com o vice, general Hamilton Mourão, e três auxiliares: Augusto Heleno Ribeiro Pereira e Oswaldo Ferreira, de quatro estrelas, e Aléssio Ribeiro Souto, de três. O primeiro, coordenador do programa de governo e indicado como possível titular da Defesa, é o mais próximo do presidenciável. Aos 70 anos de idade, foi o primeiro comandante da bem-sucedida missão de paz da ONU no Haiti. Tido como conciliador e maleável, é bastante respeitado nas Forças Armadas. Até há pouco tempo, o atual comandante-­geral do Exército, Eduardo Villas Bôas, o tinha como conselheiro. Como comandante militar da Amazônia, contudo, causou confusão e chegou a provocar um mal-estar entre o Exército e o governo Lula ao afirmar que a demarcação de terras indígenas era “lamentável, para não dizer caótica”. Está na reserva desde 2011.

Braço-direito de Heleno, o general Oswaldo Ferreira é o responsável pelos projetos de infraestrutura e possível titular da pasta de mesmo nome. Ele foi convidado por Bolsonaro para integrar sua equipe pouco depois de entrar para a reserva, em abril do ano passado. Engenheiro formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), chefiou o Comando Militar do Norte. Já deu mostras de ter opiniões para lá de contundentes. Recentemente, queixou-se da fiscalização ambiental em obras, comentando que, quando era um jovem tenente, não havia “nem Ibama nem Ministério Público para encher o saco”. Entre as grandes ambições do general está a conclusão das obras da usina Angra 3.  A área de Ferreira é hoje a que oferece maior potencial de colisão entre o grupo dos militares e o economista Paulo Guedes. Cotado para o Ministério da Fazenda, Guedes elabora um plano radical para privatizar 1 trilhão de reais em ativos e passar à iniciativa privada uma miríade de obras de infraestrutura, cujo valor das concessões serviria para abater da dívida pública. Ferreira, devoto da escola desenvolvimentista de Ernesto Geisel e Dilma Rousseff, acredita que cabe ao Estado induzir o crescimento, inclusive por meio da retomada de obras — o que confronta diretamente as ideias privatistas de Guedes.

O terceiro general de Bolsonaro, Aléssio Souto, na reserva desde 2011, é o menos próximo dos generais do Exército ainda na ativa. Responsável pela elaboração dos programas na área de educação e ciência e tecnologia, é do tipo que gosta de externar opiniões inflamadas. Assíduo frequentador da seção de cartas do jornal O Estado de S. Paulo, já defendeu uma “intervenção militar” para colocar “a democracia nos devidos eixos”. Nada muito diferente do que já foi dito pelo general Mourão, que nos últimos tempos tem deixado cada vez mais clara sua indisposição para ser um vice de caráter apenas decorativo.

Com exceção de Mourão, os três generais de Bolsonaro costumam se reunir diariamente no subsolo do hotel Brasília Imperial, no Setor Hoteleiro Sul da capital federal, onde, entre goles de café e pão de queijo, discutem os rumos do país. A esse grupo se somam, com frequência inconstante, pelo menos outros quinze militares, com menor grau de proximidade com Bolsonaro, entre eles o brigadeiro Ricardo Machado e o astronauta e tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB) Marcos Pontes, já convidado por Bolsonaro a assumir o Ministério de Ciência e Tecnologia. Os participantes se dividem entre seis grupos temáticos que incluem segurança, saúde e meio ambiente. O elo entre todos eles é Waldemar Gonçalves Ortunho Junior, coronel reformado do Exército e encarregado de compilar as propostas e enviá-las para Bolsonaro.

Em reunião recente, a discussão girou em torno de uma medida considerada vital para a política educacional de um futuro governo Bolsonaro: cortar o “viés ideológico de esquerda” que o capitão e seus aliados creem que domina o atual currículo escolar. Como remédio, o programa do general Aléssio Souto pretende vetar disciplinas sobre diversidade, discussão de gênero e afins. [a FAMÍLIA BRASILEIRA e os DEFENSORES da Moral, dos Bons Costumes, do respeito as crianças, agradecem e apoiam a revalorização de tais valores.] No meio da conversa, contudo, um professor lembrou que uma mudança radical nesse sentido poderia provocar protestos, principalmente no meio universitário. Os presentes, então, passaram a debater como reagir a uma situação assim. Um dos militares respondeu de pronto: cerca-se o câmpus, controla-se o acesso de forma a identificar quem entra e quem sai. É a visão militar em sua versão mais rudimentar — quando há um problema, basta traçar uma linha reta até a solução.

Os militares perderam espaço na vida política do Brasil na mesma medida em que avançou a redemocratização. [ao tempo que os militares perdiam espaço na vida política do Brasil, nossa Pátria se afundava na lama, no esgoto da corrupção, da desmoralização dos valores tradicionais e outros pontos que devem ser mantidos e respeitados.] Na gestão Sarney (1985-1989), a primeira de um civil depois de 21 anos de ditadura, um capitão comandou a Ciência e Tecnologia e a Previdência Social, e generais chefiaram os ministérios do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Fernando Collor (1990-1992), durante a campanha, incluiu os integrantes da corporação na categoria de “marajás”, mas escalou os coronéis da reserva Jarbas Passarinho e Ozires Silva para chefiar áreas fulcrais, como a Justiça e a Infraestrutura. Dali para a frente, os militares foram perdendo poder e orçamento e ficaram 26 anos longe do comando do Executivo. Tal situação só foi interrompida em fevereiro deste ano, quando o presidente Michel Temer escalou o general Joaquim Silva e Luna para chefiar a Defesa e delegou ao Exército a tarefa de assumir a segurança pública do Rio de Janeiro.

Uma pesquisa feita pelo Datafolha em junho mostrou que 78% dos brasileiros consideram as Forças Armadas a instituição mais confiável do país. É um número assombroso, principalmente quando comparado à popularidade do Congresso, no qual 67% dos brasileiros declaram não confiar. Especialistas concordam que o protagonismo militar num país aumenta à medida que a crise do seu sistema político se aprofunda — é frequente que líderes impopulares se valham do prestígio das Forças Armadas para melhorar a própria imagem.
VIZINHOS FARDADOS - Venezuela (acima) e Cuba, países com forte influência militar: lá, o envolvimento é institucional (Carlos Becerra/Anadolu Agency/AFP)

Os militares podem atuar como forças moderadoras ou gerar instabilidade, dependendo do governo em questão. Nos Estados Unidos, país que nunca teve um regime militar autoritário, é comum a participação de oficiais aposentados na política, seja em cargos eletivos, seja como conselheiros. Em governos como o de Donald Trump, eles têm sido um fator de contenção dos instintos mais primários do presidente. Em seu recém-lançado livro sobre os bastidores da Casa Branca, o jornalista Bob Woodward, célebre pela cobertura do escândalo Watergate, relata uma passagem em que Trump ordena que o secretário de Defesa, Jim Mattis, elabore um plano para assassinar o ditador sírio Bashar Assad. Mattis disse que obedeceria, mas não o fez. “O fato de, em Washington, os generais serem vistos como agentes que estabilizam a política deriva de as instituições nos EUA serem muito fortes”, diz Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas.

É uma realidade muito distinta da de Venezuela e Cuba, dois países em que os militares participam ativamente da política, mas com uma diferença fundamental: lá, o envolvimento das Forças Armadas é institucional, e não individual — como acontece na campanha de Bolsonaro, por exemplo. Tanto na Venezuela como em Cuba, os militares, como administradores, revelaram-se um rematado fracasso, mas, mais do que isso, puseram uma instituição a serviço de um governo, não do Estado.

O grande risco da participação militar em um governo é exatamente a contaminação política das Forças Armadas. No Brasil, pelo menos até aqui, não há sinal dessa deterioração. As Forças Armadas, como instituição, permanecem exemplarmente neutras do ponto de vista político. O Alto-Comando do Exército, inclusive, não enxerga ganhos no que chama de “imersão da força no ambiente político”. Os comandantes temem que um eventual fracasso de Bolsonaro possa respingar na instituição. O sucesso, por outro lado, também poderia trazer complicações ao aprofundar uma simbiose encarada como indesejável. No intento de separar a função da caserna da imagem dos prováveis ministros, o Exército prepara um documento que, a pretexto de tratar da sucessão do general Villas Bôas, reafirmará sua natureza de instituição a serviço do Estado e não de governos. Que assim seja.

De volta aos anos 70

(...) 


OBRA PARADA – Usina Angra 3: ainda faltam 17 bilhões para o término (Marcos Michael/.)


Embora a energia gerada por grandes hidrelétricas na Amazônia seja mais barata, sua construção também tem um desembolso elevado. Belo Monte, o maior projeto da região, ainda não foi terminada e custou mais de 30 bilhões de reais. Seu reservatório é a fio d’água — ou seja, foi desenhado para que a área de floresta alagada fosse a menor possível. Ferreira criticou a escolha, que implica uma produção reduzida de energia no período de estiagem. Para que a geração seja contínua, é preciso construir reservatórios maiores. E é aí que mora o problema. Por ser a Amazônia uma região plana, é necessário alagar áreas muito extensas para que as represas tenham uma queda d’água forte o suficiente para rodar as turbinas geradoras. “É preciso analisar os aspectos do que chamamos de tripé da sustentabilidade: social, ambiental e financeiro”, diz Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil. Antes de partir para novas usinas no Norte do país, talvez fosse mais eficiente resolver a barafunda jurídica que o governo Dilma criou ao baixar os preços da conta de luz na marra, medida contestada na Justiça até hoje — um problema que afugenta novos investidores e congela projetos.
(..)
 
Antigos subversivos
O professor Antônio Flávio Testa, de 67 anos, é cientista político, doutor em sociologia, antropólogo, administrador, mestre em artes marciais e, nos últimos meses, integra a equipe que formata o programa de governo do candidato Jair Bolsonaro. Ele presta consultoria na elaboração de propostas, produz textos e faz contatos com organismos nacionais e internacionais sobre os temas em discussão. O grupo que está finalizando o plano é liderado por três generais e um brigadeiro — especialistas nas áreas de defesa, transportes, educação, ciência e tecnologia. Testa é um dos poucos civis incluídos na lista de pessoas autorizadas a participar de todas as reuniões, inclusive as que envolvem “assuntos estratégicos”. Sua posição converge com a dos militares em muitas questões, mas nem sempre foi assim.


“COMUNISTA” – Documentos mostram que colaboradores de Bolsonaro, como Antônio Testa (à esq.) e Paulo Kramer (acima), foram alvo de vigilância durante o regime militar (Reprodução/Elza Fiúza/Agência Brasil)

“Naquela época, eu apenas compartilhava da utopia de liberdade democrática dos estudantes, mas não tinha nenhuma ligação com partidos políticos”, explica o professor, dizendo-se surpreso em saber que era monitorado pelos serviços de inteligência do regime militar e da existência de um dossiê sobre o episódio. Ele lembra que foi detido e levado a uma repartição federal em Brasília, onde passou a noite. Sem mandado judicial, sem inquérito e sem que Testa soubesse do que era acusado, os agentes lhe fizeram uma única pergunta: “Você é o chefe?”. Por acaso — e talvez para sua sorte —, entre os arapongas que o prenderam havia um ex-aluno dele de caratê, que o reconheceu e decidiu “aliviar”. Testa não vê nenhum problema em trabalhar com os militares agora. “São épocas diferentes. Hoje, eu acredito no projeto do Bolsonaro”, diz.


Hugo Marques

Matéria completa

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2018, edição nº 2605

sábado, 13 de janeiro de 2018

Trump e a guerra dos demagogos contra a imprensa



Como Trump sequestrou os fatos e os travestiu de fake news

Essa é a estratégia do presidente dos Estados Unidos e de demagogos de todo o mundo na guerra contra a imprensa
 


Eram 19h19 daquela terça-feira de agosto de 2017. Donald Trump subira havia pouco ao palco do Centro de Convenções de Phoenix, no Arizona, para mais um inflamado comício, mais como candidato do que como o presidente dos Estados Unidos que é. Naquele instante, ele apontou os indicadores de suas pequenas mãos para os fundos, onde estavam acomodados as câmeras e os repórteres. “A mídia tão desonesta....” foi o que bastou. Por precisos 59 segundos, os 8 mil presentes vaiaram. Eram homens e mulheres, muitos idosos, numa massa branca – um negro foi meticulosamente instalado atrás de Trump na moldura para as TVs, com uma camiseta estampada de “Trump & republicanos não são racistas”. As vaias eram pontuadas com urros de “Chupa CNN” e “F...-se a mídia”. O público fazia gestos obscenos para os jornalistas. Alguns tentaram invadir o “cercadinho” da imprensa – devidamente protegido por agentes do Serviço Secreto, que impediram um avanço maior. “Se o presidente Trump tivesse dado ordem para nos atacar, teríamos sido massacrados”, disse a ÉPOCA um jornalista credenciado na Casa Branca que cobria a viagem. A virulência física era a materialização de um bombardeio virtual diário de Trump e seus tuítes contra a imprensa desde que ele assumiu a Presidência, em janeiro de 2017. O ódio à verdade é, na era Trump, plataforma de governo.

Trump hostilizou e desafiou a imprensa por 25 ininterruptos minutos naquela noite. Dias antes, militantes de ultradireita tomaram as ruas de Charlottesville, na Virgínia, empunhando tochas e gritando contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus, numa manifestação que em muito lembrou os nazistas e a Ku Klux Klan. Do lobby de um de seus hotéis em Nova York, Trump condenou a violência dos ultradireitistas. No dia seguinte, pressionado por seus apoiadores, recuou. Culpou os “vários lados” envolvidos e disse que os manifestantes de ultradireita, boa parte deles seus eleitores, não poderiam ser tachados como “neonazistas” ou “supremacistas brancos”. Responsabilizou a “ultraesquerda”, cuja existência organizada nos EUA é questionável, pelo conflito. 

E a imprensa, pela divisão no país. Em Phoenix, Trump ignorou esse recuo. Colocou-se como vítima incompreendida da mídia. “Uns desonestos desgraçados” distorceram sua mensagem. “Eu acredito, de verdade, que eles [jornalistas] não gostam do nosso país”, escolheu cirurgicamente as palavras. Sempre que pôde, o presidente encaixou a expressão que ele transformou em slogan de sua gestão e jura, falsamente, ser de sua autoria: Fake news.

Antes mesmo de se eleger presidente, Donald Trump elegeu para si e seus seguidores um inimigo. A imprensa e, fatalmente, a verdade. Menos de um mês depois de assumir a Casa Branca, Trump aninhou-se em sua ágora digital para trombetear, em um tuíte: “A mídia FAKE NEWS (os falidos @nytimes, @NBCNews, @ABC, @CBS, @CNN) não é minha inimiga, é inimiga do povo americano!”. Nomear um oponente forte e contra quem as pessoas possam facilmente se voltar é uma tática de exercício de poder tão antiga e universal quanto eficaz. A Revolução Francesa e os comunistas russos designaram “inimigos do povo” para justificar o uso da guilhotina, dos gulag. Destacar o jornalismo profissional como esse inimigo tampouco é um recurso original – e é uma das maneiras mais eficientes de retroalimentar a polarização de uma sociedade. 

Nos Estados Unidos, Richard Nixon, que renunciou em 1974 emparedado pelo escândalo de Watergate, exposto pelo jornal Washington Post, foi feroz contra a mídia já no início dos anos 1960. Em 2006, Evo Morales, presidente da Bolívia, classificou como seus “inimigos número 1” a “maioria da mídia” argumento recorrente de Hugo Chávez, da Venezuela. Daniel Ortega, da Nicarágua, chama repórteres de “filhos de Goebbels”. Trump soa, a essa altura, como uma paródia de populistas latino-americanos.

>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana