A grande surpresa de Milei na Argentina revela outros fenômenos
“As mudanças são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados”
Publicado em VEJA, edição nº 2856 de 25 de agosto de 2023,
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
“As mudanças são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados”
Publicado em VEJA, edição nº 2856 de 25 de agosto de 2023,
Parece diálogo de filme: “General Li, o senhor e eu nos conhecemos há cinco anos. Se nós formos atacar, eu vou te ligar antes. Não será de surpresa”. “General Li, quero garantir que o governo americano é estável e que tudo vai ficar bem. Nós não vamos atacar ou conduzir qualquer operação cinética contra vocês”.
Em linguagem militar, operação cinética equivale a atos de guerra.
O homem que deu garantias ao atual maior inimigo dos Estados Unidos foi o general Mark Milley, chefe do estado-maior conjunto das Forças Armadas americanas – ou seja, o posto mais importante da hierarquia militar. E seu interlocutor foi o general Li Zuocheng, que ocupa o cargo equivalente no Exército Popular de Libertação da China.
As duas conversas estão no novo livro de Bob Woodward e Robert Costa sobre a etapa final do governo de Donald Trump, intitulado Perigo. Woodward, da dupla de Watergate, deu vários sinais de que integrava a turma psicologicamente perturbada pelo ódio acumulado contra Trump, mas os telefonemas reproduzidos não foram desmentidos. Isso significa que foram revelados pelo próprio Milley ou por alguém que falou com autorização dele.
A tese do livro é que os telefonemas do general ao seu colega/adversário chinês, completamente contrários à hierarquia, à cadeia de comando e ao manual de comportamento de um chefe militar, tiveram um objetivo nobre: desarticular alguma manobra de Trump que envolvesse algo grandioso e perigosíssimo, como um ataque contra a China, para impedir ou neutralizar sua derrota na campanha pela reeleição.
É uma tese duvidosa. Ao contrário do que aparece nos filmes sobre presidentes, um subgênero do cinema americano, o ocupante da Casa Branca, embora seja o comandante-chefe das Forças Armadas, não pode desencadear uma guerra de uma hora para outra, sem o conhecimento e o consenso, ainda que não unânime, dos civis e militares que formam o establishment da defesa nacional. Também não pode “apertar um botão” e desfechar um ataque nuclear a seu bel prazer.
É claro que para os antitrumpistas, o general, que já havia esperneado quando Trump levou a cúpula militar para uma caminhada até uma igreja ao lado da Casa Branca que os manifestantes ligados ao Black Lives Matter haviam tentando incendiar, teve um comportamento heróico ao neutralizar preventivamente uma perigosa e alucinada jogada de Trump.
No campo oposto, dos que se chocaram com a forma como um chefe do estado-maior conjunto pode se aliar a um adversário chinês, a melhor reação foi do senador republicano Marco Rubio. Numa carta aberta a Joe Biden, ele também usa termos que parecem de cinema, manifestando “grave preocupação” com a possibilidade de que o general Milley considerasse a hipótese de “fazer um traiçoeiro vazamento de informações sigilosas ao Partido Comunista Chinês em antecipação a conflito armado com a República Popular da China”. “Estes atos do general Milley demonstram uma clara falta de discernimento e eu o exorto a demiti-lo imediatamente”.
Outro senador conhecido, o libertário Rand Paul, disse que o general deveria ser investigado imediatamente e inclusive submetido a um polígrafo, a máquina da verdade. Se confirmado que tramou com os chineses, deveria ser levado a corte marcial por traição. Dá para perceber que é o tipo de assunto capaz de provocar reações extremas. Trump, evidentemente, apoiou as críticas e disse que nunca sequer pensou num ataque contra a China para facilitar sua permanência no poder.
Os chefes do Estado-Maior Conjunto têm um mandato de quatro anos. Milley foi nomeado por Trump em 2019. Na época, o New York Times disse que ele havia conquistado Trump com piadas, conversas amigáveis e disposição a discutir os preços astronômicos dos armamentos americanos. Dizia o Time que o falante general, coroinha na infância, gostava de citar Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Henry David Thoreau – provavelmente não para os ouvidos de Trump, onde as provas de erudição não causariam grande impressão.
A nova polêmica pega Milley num momento em que a questão da retiradado Afeganistão começa lentamente a se dissipar. A responsabilidade final pela retirada – rápida e mal feita, como a piada sobre o lema da Cavalaria – é de Joe Biden, mas mais de cem generais e almirantes da reserva pediram a renúncia de Milley e do secretário da Defesa, Lloyd Austin. Imaginem sua reação agora, com a informação de que o chefe do Estado-Maior Conjunto tramou para desautorizar um presidente pelas costas.
Mesmo numa democracia pioneira e avançada como a americana, nem sempre é tranquila a convivência entre generais e os governantes civis. Em situações de guerra, os ânimos pegam fogo. Franklin Roosevelt demitiu o comandante da Frota do Pacífico, almirante James Richardson, por discordar do acantonamento da frota em Pearl Harbor. Deu no que deu. Roosevelt também demitiu seu substituto, Husband Kimmel, por falta de preparo para o devastador ataque japonês. O mais famoso militar demitido da história moderna dos Estados Unidos foi Douglas MacArthur, general cinco estrelas pelo comando na II Guerra. O ex-contador Harry Truman demitiu o herói de guerra que queria atacar o território chinês e até criar um cinturão de cobalto radiativo para impedir o avanço de tropas chinesas sobre a Coreia.
MacArthur tentou contornar a cautela do presidente criando fatos consumados. O episódio deixou uma frase famosa de Truman: “Eu demiti MacArthur porque não respeitava a autoridade do presidente. Eu não o demiti por ser um imbecil filho da ****, embora ele seja”.
Barack Obama demitiu dois comandantes de operações no Afeganistão, incluindo o brilhante e adorado general Stanley McChrystal, por uma reportagem em que ele e seus próximos deixavam entrever uma atitude nada respeitosa em relação ao presidente e seu vice, Joe Biden. Obama não precisou demitir outro general legendário, David Petraeus, que era diretor da CIA, porque o próprio pediu para sair depois que veio à tona seu caso com uma tenente-coronel bonitona, Paula Broadwell, que escreveu sua biografia e a quem ele deu enorme quantidade de material sigiloso.
É claro que Joe Biden não vai demitir o general Mark Milley. Ao contrário, está numa posição em que precisa elogiar seu desempenho, ao qual se ligou intimamente. A oposição republicana vai espernear, mas não tem poder para atingi-lo. Milley só será julgado no tribunal da sua consciência.
Naquela época, os meios de comunicação tradicionais já caçavam incessantemente informações capazes de desidratar a arrancada eleitoral em curso. Se é fato que revirar o passado de um político prestes a governar uma nação é legítimo e dever da imprensa, também é preciso registrar que começava ali uma artilharia cuja mira só tinha um lado — afinal, em janeiro daquele ano, a Lava Jato ainda levaria gente graúda para a cadeia e Lula nem sequer havia sido preso.
No dia seguinte ao do primeiro turno da eleição, o tom dos editoriais subiu. Para a Folha de S.Paulo, o candidato que recebera mais votos era um político com “pregação tosca, de tons frequentemente autoritários, e um programa ultraliberal encampado na última hora”. Já O Estado de S. Paulo escreveu que “mesmo o mais bem informado eleitor teria dificuldade em saber quais eram suas propostas para tirar o país da rota do iminente desastre fiscal porque, nas poucas vezes em que foi questionado sobre o assunto durante a campanha, em entrevistas ou debates, o ex-capitão gaguejou, apelou para frases feitas, com pouco sentido, e, por fim, acabou admitindo que é absolutamente ignorante em economia”. Na mesma linha seguiu o Grupo Globo.
Tudo isso ganhou escala muito maior depois da posse. Até a “rachadinha” dos filhos de Bolsonaro — que não deve ser minimizada — recebeu uma calibragem diferente quando comparada com a mesma prática feita pelo PT. Jornalistas, artistas e famosos que nunca tiveram coragem de escrever com todas as letras que Lula é um criminoso chamam sem pudor Bolsonaro de “genocida” — um colunista desejou publicamente a sua morte em jornal, outro desconfiou da facada.[e outro sugeriu seu suicídio]
Parte da resistência a Bolsonaro se explica pela militância ideológica de esquerda presente nas redações e que nunca aceitou sua vitória nas urnas — daí a hashtag #EleNão e a chegada da abjeta “cultura do cancelamento” ao meio político. Para saber mais sobre como as universidades doutrinam a juventude, vale a leitura do livro Lavagem Cerebral, de Ben Shapiro, comentarista político conservador nos Estados Unidos. A realidade nas salas de aula lá não é diferente do que acontece aqui.
A outra metade da responsabilidade pelo desgaste com a imprensa se deve ao estilo reativo do presidente. Não foram poucas as vezes em que ele poderia, simplesmente, ter evitado o confronto com um microfone que considera provocador — porque Bolsonaro gosta de uma encrenca.
Leia “Ben Shapiro e a doutrinação nas universidades”
Montado desde o final de abril no Senado, o grupo de detetives da covid, comandado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), também será lembrado por algumas proezas na política brasileira: começou como a CPI da cloroquina, depois da ivermectina, em seguida da Copa América. Concluiu que o governo patrocinou um extermínio em massa pela falta de vacinas, descobriu um gabinete paralelo do Ministério da Saúde e diz ter batido à porta de um inédito escândalo de corrupção no qual não se provou ainda o desembolso de um centavo dos cofres públicos.
A história começa com uma declaração do desconhecido deputado Luis Miranda (DEM-DF). Ele disse que procurou o presidente em março para relatar supostos problemas no contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, uma bolada de R$ 1,6 bilhão. Mas como Miranda soube das supostas irregularidades e quais seriam elas? O parlamentar afirmou em entrevista que seu irmão, Luis Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde, teria sido pressionado a pagar pelo imunizante.
No dia 25 de junho, os irmãos Miranda foram chamados pela CPI. Os depoimentos começaram a ser anunciados como o “Dia D” de Bolsonaro no Palácio do Planalto, porque a dupla faria uma divulgação bombástica e irrefutável. Voz mais estridente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) buscou os repórteres em Brasília para anunciar que o Brasil estava diante do “Covaxgate”, numa alusão ao escândalo Watergate, que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon na década de 1970.
A “bomba” foi uma afirmação de que Bolsonaro teria dito que houve “rolo de um deputado” na negociação para adquirir as vacinas. Segundo Luis Miranda, o parlamentar seria seu colega Ricardo Barros (PP-PR), o líder do governo na Casa — ele nega a acusação e pede para ser ouvido, mas a CPI não quer. Qual seria o rolo? Barros teria apresentado uma emenda no processo de votação da Medida Provisória nº 1.026/2021, destinada a acelerar a liberação de vacinas já autorizadas na Índia. No dia seguinte ao da revelação, contudo, uma informação deixou jornalistas e oposição em parafuso: os também deputados Orlando Silva (PCdoB-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE), irmão de Renan, apresentaram emendas idênticas.
Quando o noticiário político se degenera no policial, uma equação precisa ser inevitavelmente respondida: quem roubou, quanto e onde foi parar o dinheiro? Pelo que se sabe até agora, os recursos nunca chegaram ao bolso de ninguém porque não foram pagos.
Também os imunizantes da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, os mais usados hoje no Brasil, teriam sido alvo de um roubo que por pouco não aconteceu. Aí surgiram os personagens que só aparecem num escândalo à brasileira — um ex-policial que virou atravessador, um reverendo lobista, a ex-cunhada magoada e a figura do deputado de quinta categoria que sonhava virar um Roberto Jefferson. Com um enredo desses, é claro que a semana não poderia terminar bem, e o senador Omar Aziz (PSD), cujo prontuário policial no Amazonas assusta, deu voz de prisão a um funcionário do Ministério da Saúde e resolveu provocar as Forças Armadas.
O fato é que até agora o que se viu na CPI foi um grupo de picaretas perdendo tempo com outros picaretas. No início da década de 1990, quando a revista Veja revelou que o presidente Fernando Collor de Mello participava de um esquema de corrupção com o ex-tesoureiro da campanha PC Farias, uma CPI esbarrou na compra de um Fiat Elba pela primeira-dama, Rosane. O dinheiro teria saído de uma conta fantasma de PC. Foi o estopim para o impeachment de Collor. A Elba de Bolsonaro não apareceu.
A tal ‘corrupção do atual Governo’, como inventa a oposição, não envolve o pagamento de um centavo sequer. Situação bem diferente nos governos Lula e Dilma, quando tivemos bilhões desviados em esquemas de corrupção.#CPIdaCovid pic.twitter.com/BUH6LKLeQw
— MARCOS ROGÉRIO (@MarcosRogerio) July 6, 2021
Silvio Navarro - Revista Oeste
O episódio mostra que os computadores da Viúva continuam sendo administrados de forma leviana. No mundo das altas competências, no século passado o governo brasileiro já pagou o mico de ter um sistema de criptografia das embaixadas protegido por equipamentos de uma fábrica suíça que tinha um sócio oculto, a Central Intelligence Agency americana. No governo Dilma Rousseff, descobriu-se que algumas de suas comunicações também estavam grampeadas.
Não se sabe o propósito dos invasores do STJ, pois achar que o tribunal tem meios ou recursos para pagar um resgate não faz sentido. Sabe-se, contudo, que a rede oficial de informática está contaminada por dois vícios elementares, que nada tem a ver com altas competências. É pura incompetência. Em muitas áreas, quando muda o chefão, ele troca a equipe de tecnologia. Mesmo em áreas onde isso nem sempre acontece, os hierarcas usam seus endereço da rede oficial para tratar de assuntos pessoais. Nos Estados Unidos a secretária de Estado Hillary Clinton pagou caro por isso. Assuntos oficiais e comunicações pessoais são coisas diversas. Se essa banalidade não é respeitada, só se pode esperar que o sistema esteja bichado em outras trilhas.
Essa incompetência não acontece por causa da herança escravocrata. Ela é produto de uma indústria da boquinha em quase tudo que tem a ver com informática. Prova disso é que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação armou uma licitação viciada de R$ 3 bilhões há mais de um ano, foi apanhado, cancelou a maracutaia, mas até hoje não explicou como o edital foi concebido.
Na compra de equipamentos, pode-se pegar o jabuti quando ele quer mandar 117 laptops para cada um dos 255 alunos de uma escola. Quando as contratações vão para escolha de operadores, manutenção e até mesmo programação entra-se num mundo complexo, atacado por amigos que têm conexões, mas não têm competência.
Médici, Geisel e BolsonaroNenhum presidente brasileiro detestava seu colega americano como Ernesto Geisel detestava Jimmy Carter. Enquanto esteve na Presidência, nunca disse uma palavra contra ele. Fora dela, recusou-se a encontrá-lo e não atendeu o telefone quando ele ligou para sua casa.
MATÉRIA COMPLETA em Folha de S.Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista