Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
sábado, 15 de outubro de 2022
Cheque em Branco? - Carlos Alberto Sardenberg
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
NY Times: 'O STF brasileiro está indo longe demais?'
Reportagem descreve exageros em ação contra empresários e destaca poder desmedido do ministro Alexandre de Moraes
Um artigo do New York Times desta segunda-feira, 26, fez um retrato do desequilíbrio atual de Poderes no Brasil, apontando para a recente expansão de força do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma potencial ameaça à democracia brasileira.
O jornal norte-americano apresenta o tema ao seu leitor com o título “Para defender a democracia, a Suprema Corte do Brasil está indo longe demais?”.
A reportagem usa a recente operação contra oito empresários apoiadores do governo para ilustrar a atuação da Suprema Corte brasileira acima de teóricos princípios democráticos. No caso em questão, a Polícia Federal agiu por determinação do ministro Alexandre de Moraes, com base em conteúdo de um grupo privado de mensagens.
“Foi uma demonstração crua de força judicial que coroou uma tendência em formação: a Suprema Corte do Brasil expandiu drasticamente seu poder para combater as posições antidemocráticas de Bolsonaro e seus apoiadores”, descreve a reportagem. “No processo, de acordo com especialistas em Direito e governo, o tribunal tomou seu próprio rumo repressivo”, acrescentou o jornal.
A reportagem cita a preocupação de juristas a respeito de ilegalidades na atuação do STF, mas diz que o ativismo judicial de Moraes e seus colegas de Corte conta com apoio de “líderes políticos de esquerda e grande parte da imprensa”, contra “a ameaça singular representada por Bolsonaro”.
“Muitos juristas dizem que as demonstrações de força de Moraes, sob a bandeira de salvar a democracia, está ameaçando empurrar o país para uma queda antidemocrática”, argumenta o jornal.
Judge Alexandre de Moraes, a member of Brazil’s Supreme Court, has used the court’s power to counter the antidemocratic stances of President Jair Bolsonaro and his supporters. https://t.co/SWMlUvkFPt
— New York Times World (@nytimesworld) September 26, 2022
O artigo do New York Times se concentra no poder desmedido exercido por Alexandre de Moraes nos últimos anos, resumindo ao leitor do jornal casos como o da prisão do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).“Em muitos casos, Moraes agiu unilateralmente, encorajado por novos poderes que o tribunal concedeu a si mesmo em 2019 que lhe permitem, de fato, atuar como investigador, promotor e juiz ao mesmo tempo em alguns casos”, descreve o jornal.
Para ilustrar o poder atual do STF ao leitor norte-americano, o jornal argumenta que a Suprema Corte dos EUA avalia “de 100 a 150 casos anualmente”, enquanto a Corte brasileira emitiu mais de 505 mil decisões nos últimos cinco anos.
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
Que susto, hein? - Carlos Alberto Sardenberg
Coluna publicada em O Globo - Economia 5 de novembro de 2020
Que susto, hein? Quando Donald Trump derrotou Hillary Clinton em 2016, fazendo jogo sujo, fazia sentido supor que isso tivesse acontecido por falta de conhecimento. Os americanos conheciam Trump como apresentador de tevê e, digamos, um milionário metido a besta. Era razoável supor também que boa parte dos eleitores estivesse farta da velha política, ali representada pela figura de um clã. Ok, Bill Clinton havia sido um bom presidente, Hillary tinha uma carreira pessoal de muito sucesso, mas de novo?
Também dava para imaginar que depois de Obama, os americanos estariam decididos a experimentar uma virada à direita, como acontecia em outras partes do mundo. Mas tudo isso se pensou depois da eleição. Porque antes era difícil imaginar que depois de eleger o primeiro presidente negro, com o nome Barack Hussein, os americanos passassem para Trump. Passaram, ganharam o benefício da dúvida.
Mas passados quatro anos e Trump confirmando todo o jogo sujo que se esperava dele, e sendo agora amplamente conhecido como político – admito que me surpreendi com a competitividade dele. E mais ainda com alguns números apanhados nestes primeiros momentos, com dados do NY Times. Por exemplo: em comparação com 2016, Trump perdeu votos entre homens brancos com e sem diploma universitário. Em compensação, ganhou votos entre latinos de Miami (ok, são cubanos, em geral), mas também entre os mexicanos do Arizona. Os mexicanos, aqueles foram simplesmente xingados por Trump.
De outro lado, Biden foi pior que Hilary entre negros (homens e mulheres) e latinos (também homens e mulheres). Era de se imaginar o contrário depois de tudo que Trump e seu pessoal haviam feito. As primárias mostraram um Partido Democrata bastante dividido num amplo espectro político. Sim, há socialistas na esquerda democrata, embora não haja um programa propriamente claro. Não há ninguém propondo a expropriação dos meios de produção, mas há muita gente contra o “grande capital”. Isso até vem de longe: Al Gore, por exemplo, fez campanha contra o “big pharma” e o “big oil”.
Binden, talvez para atender essa esquerda, criticou o “big oil” e propôs algum tipo de controle de preços ou distribuição social de remédios. Tudo na direção de evoluir o Obamacare, que não pode ser chamado de socialista, talvez nem de social-democrata. Mas isso, em parte do eleitorado americano, deu alguma credibilidade às acusações de Trump de que há uma conspiração socialista e anti-cristã que precisa ser varrida dos EUA e do mundo.
Aliás, Trump voltou à ideia ontem quando se declarou vencedor e que estava sendo roubado – não se importando nem um pouco em criar uma crise institucional de proporções inimagináveis. Por outro lado, há republicanos do bem, gente que quer reorganizar o país. Aliás, Binden foi senador por muitos anos, presidiu o Senado quando foi o vice de Obama, conhece republicanos. Pode, portanto, ser uma fonte de entendimento na direção do centro. Mas tanto os republicanos quanto os democratas também elegeram os seus radicais. Permanecerão nos seus partidos ou haverá divisões?
De todo modo, para o mundo, a quarta-feira terminou melhor do que começou. Binden agora é o favorito e isso muda para melhor o panorama global. Com Binden, os EUA voltam ao Acordo de Paris, à OMS, à aliança atlântica. Claro que continua a disputa com a China pela hegemonia econômica, militar e tecnológica, mas será uma disputa, digamos, mais inteligente e com muito menos chance de descambar para algum conflito.
Mas que há muita confusão política/ideológica nos EUA e no mundo, disso não há dúvida. E para terminar, uma vitória de Binden deixa Bolsonaro inteiramente isolado nas Américas. E será bem feito. A tal amizade com Trump não trouxe nada de significativamente lucrativo para o Brasil. Mas os bolsonaristas continuam por aí. Vão dizer que Trump foi roubado, assim como Bolsonaro acha que foi roubado numa eleição que ganhou. Aliás, tem uma ironia aí. As nossas urnas eletrônicas saíram-se muito bem, obrigado. [Quanto às urnas eletrônicas o que melhorou o seu conceito foi que o presidente Bolsonaro foi eleito em eleição na qual foram utilizadas - e sabemos que a eleição do capitão não foi aceita pelos inimigos do Brasil = adeptos do 'quanto pior, melhor' + mais 'turma do mecanismo' + inimigos da democracia + corja esquerdista - assim, se ele foi eleito não foi por falta de vontade daqueles inimigos de fraudar as eleições, e sim por impossibilidade.]
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Falhas de governo - Carlos Alberto Sardenberg
Claro que há diferenças entre governos progressistas e conservadores,
mas diante da crise do coronavírus, que não é de direita nem de
esquerda, talvez seja melhor separar entre governos bons e ruins.Consideremos dois exemplos: Trump e o socialista Pedro Sanchez, da Espanha.
Há dois dias, o NY Times informou que o conselheiro da Casa Branca
para questões de comércio, Peter Navarro, distribuiu um memorando
alertando para o risco de uma pandemia. Isso em 29 de janeiro, quando
Trump ainda menosprezava os efeitos do “vírus chinês” e considerava os
alertas como propaganda do Partido Democrata. Trump garantiu que não leu, nem tomou conhecimento do memorando. Mas
disse que não fez diferença porque ele, presidente, agiu por sua própria
cabeça. E agiu tarde, como os números americanos provam.
Na Espanha, o primeiro caso de coronavírus apareceu no final de
janeiro. Um turista alemão ficou doente e foi tratado na pequena ilha de
La Gomera. Curou-se em duas semanas, voltou para casa. E o governo
espanhol declarava que o país era território livre do vírus. Logo em seguida, apareceram outros casos. Como eram de turistas
italianos, o governo espanhol continuou na mesma tese: a coisa é
estrangeira. Em 26 de fevereiro apareceu o primeiro caso local: um homem em
Sevilha que não viajara para lugar nenhum. Depois, alguns casos em
Valencia, também locais.
Ou seja, o vírus estava circulando pelo país. A situação ainda não
era tão grave quanto na Itália, mas qualquer epidemiologista saberia: o
contágio se manifestava, exigia resposta rápida. Em 8 de março, o norte da Itália, tomado pela epidemia, foi fechado.
Milão, considerado um dos lugares de excelência nos serviços de saúde,
entrou em confinamento.
Pois no mesmo dia 8, uma multidão de 120 mil pessoas fazia
manifestação em Madrid, pelo Dia Internacional da Mulher, liderada por
partidos do governo. Pouco depois estavam doentes três ministros, a mãe e
a mulher de Sanchez. Em 14 de março, o isolamento.
Tarde, muito tarde, como indicam os números.
Já na Coreia do Sul, o governo do presidente Moon Jae-In, de
centro-esquerda, começou a tomar providências em fevereiro, fechando
escolas, por exemplo. Nesse mês, a Coreia tinha mais casos que a Itália. Ontem à tarde, pelos dados da Universidade John Hopkins, a Itália
somava 139.422 casos, com 17.669 mortes, letalidade de 12,6%. Na Coreia,
10.384 casos, com 200 vítimas fatais, letalidade inferior a 2%. Nos
EUA, a letalidade é de 4%. O governo coreano adotou rapidamente a regra da Organização Mundial
de Saúde: testar, testar, testar. E não apenas os doentes ou
sintomáticos, como se faz em quase todo o mundo. Por amostras
randômicas, foi como se tivessem testado toda a população (como nas
pesquisas eleitorais, por exemplo).
Com isso, conseguiam identificar rapidamente onde estavam os focos,
logo isolados. A regra é testar e rastrear. Encontrado um infectado,
trata-se de seguir as pessoas que estiveram em contato com o doente –
pela localização geográfica de celulares, por exemplo, com aplicativos
do governo. E colocar todos em quarentena. Para isso, claro, foi preciso dotar o sistema de saúde de testes
suficientes, assim como reembolsar as instituições privadas pelos testes
feitos.Com isso, verificou-se que, dos infectados, 30% estavam na faixa de
20 a 30 anos. Com praticamente nenhuma morte. Ou seja, nos países que só
testam os que têm sintomas, tem muito mais pessoas espalhando o vírus.
Daí a necessidade de isolamento para os países que não têm os testes e
os equipamentos em número suficiente. Mas é preciso aproveitar o tempo
de isolamento, que atrasa a circulação de vírus, para investir
pesadamente naqueles instrumentos de prevenção e tratamento. Finalmente, uma palavra sobre a cloroquina. Mesmo que se venha a
provar sua eficiência, isso não elimina a necessidade de isolamento
neste momento. Porque se todo mundo sair por aí, numa boa, confiando no
remédio, vão faltar leitos e …cloroquina.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 9 de abril de 2020
Há dois dias, o NY Times informou que o conselheiro da Casa Branca para questões de comércio, Peter Navarro, distribuiu um memorando alertando para o risco de uma pandemia. Isso em 29 de janeiro, quando Trump ainda menosprezava os efeitos do “vírus chinês” e considerava os alertas como propaganda do Partido Democrata. Trump garantiu que não leu, nem tomou conhecimento do memorando. Mas disse que não fez diferença porque ele, presidente, agiu por sua própria cabeça. E agiu tarde, como os números americanos provam.
Na Espanha, o primeiro caso de coronavírus apareceu no final de janeiro. Um turista alemão ficou doente e foi tratado na pequena ilha de La Gomera. Curou-se em duas semanas, voltou para casa. E o governo espanhol declarava que o país era território livre do vírus. Logo em seguida, apareceram outros casos. Como eram de turistas italianos, o governo espanhol continuou na mesma tese: a coisa é estrangeira. Em 26 de fevereiro apareceu o primeiro caso local: um homem em Sevilha que não viajara para lugar nenhum. Depois, alguns casos em Valencia, também locais.
Ou seja, o vírus estava circulando pelo país. A situação ainda não era tão grave quanto na Itália, mas qualquer epidemiologista saberia: o contágio se manifestava, exigia resposta rápida. Em 8 de março, o norte da Itália, tomado pela epidemia, foi fechado. Milão, considerado um dos lugares de excelência nos serviços de saúde, entrou em confinamento.
Pois no mesmo dia 8, uma multidão de 120 mil pessoas fazia manifestação em Madrid, pelo Dia Internacional da Mulher, liderada por partidos do governo. Pouco depois estavam doentes três ministros, a mãe e a mulher de Sanchez. Em 14 de março, o isolamento.
Tarde, muito tarde, como indicam os números.
Já na Coreia do Sul, o governo do presidente Moon Jae-In, de centro-esquerda, começou a tomar providências em fevereiro, fechando escolas, por exemplo. Nesse mês, a Coreia tinha mais casos que a Itália. Ontem à tarde, pelos dados da Universidade John Hopkins, a Itália somava 139.422 casos, com 17.669 mortes, letalidade de 12,6%. Na Coreia, 10.384 casos, com 200 vítimas fatais, letalidade inferior a 2%. Nos EUA, a letalidade é de 4%. O governo coreano adotou rapidamente a regra da Organização Mundial de Saúde: testar, testar, testar. E não apenas os doentes ou sintomáticos, como se faz em quase todo o mundo. Por amostras randômicas, foi como se tivessem testado toda a população (como nas pesquisas eleitorais, por exemplo).
Com isso, conseguiam identificar rapidamente onde estavam os focos, logo isolados. A regra é testar e rastrear. Encontrado um infectado, trata-se de seguir as pessoas que estiveram em contato com o doente – pela localização geográfica de celulares, por exemplo, com aplicativos do governo. E colocar todos em quarentena. Para isso, claro, foi preciso dotar o sistema de saúde de testes suficientes, assim como reembolsar as instituições privadas pelos testes feitos.Com isso, verificou-se que, dos infectados, 30% estavam na faixa de 20 a 30 anos. Com praticamente nenhuma morte. Ou seja, nos países que só testam os que têm sintomas, tem muito mais pessoas espalhando o vírus.
Daí a necessidade de isolamento para os países que não têm os testes e os equipamentos em número suficiente. Mas é preciso aproveitar o tempo de isolamento, que atrasa a circulação de vírus, para investir pesadamente naqueles instrumentos de prevenção e tratamento. Finalmente, uma palavra sobre a cloroquina. Mesmo que se venha a provar sua eficiência, isso não elimina a necessidade de isolamento neste momento. Porque se todo mundo sair por aí, numa boa, confiando no remédio, vão faltar leitos e …cloroquina.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 9 de abril de 2020
quinta-feira, 2 de maio de 2019
O povo não é bobo
O povo não é bobo
Ainda assim, parece pretensioso. Seria o caso de perguntar aos jornalistas do Times: vocês têm certeza de que a notícia está pronta? Que fizeram toda investigação e checagem necessárias? Lembremos que se tratava de um veículo de enorme prestígio. Até pouco tempo, antes dessa explosão da mídia eletrônica, dizia-se que uma notícia só era verdadeira depois que saísse no velho e bom Times. O jornal, diga-se, saiu-se muito bem na era eletrônica. No final do ano passado, chegou a 3,3 milhões de assinantes digitais, contra apenas 1 milhão no papel. O jornal on line há muito tempo não é apenas a versão digital do impresso. É mais amplo, traz mais informação diversificada, mais ilustrações e atualizações.
O slogan centenário não aparece com tanta frequência, mas outro dia topei com um que dobra a aposta: “NY Times, a verdade tem uma voz”. E por que estamos falando disso? Porque aqui no Brasil e em toda parte, muita gente sustenta que a liberdade de imprensa deve ter uma espécie de contrapartida dos veículos: que publiquem apenas a verdade e que sejam de boa qualidade. É o que garante o Times, a seu respeito, mas, no geral, há um baita problema aí. Quem vai definir onde está a verdade? E quem vai avaliar a qualidade? Pode existir aqui uma ameaça: governos vão querer controlar a imprensa sob o argumento de garantir que seja verdadeira e boa.
Outro dia, o presidente Bolsonaro falou disso: “precisamos de vocês (jornalistas)… que estejam perfeitamente irmanados com a verdade”.
Perfeitamente – não pede pouco.
Não faz muito, os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes justificaram a censura à revista Crusoé dizendo que a publicação veiculava inverdades. Ora, inverdades na opinião deles que, aliás, depois se demonstrou inteiramente equivocada. Em setembro de 2011, um congresso do PT recomendou o controle social da mídia, assim justificado: “Não se trata de censura à imprensa, mas de garantir uma imprensa de boa qualidade e empresas de comunicação sólidas e eficientes”. Ou seja, haveria um comitê responsável pela verdade e pela qualidade.
Ou seja, censura, sim.
E então, como ficamos?
Nos Princípios Editoriais do Grupo Globo, encontra-se uma boa saída. Em vez de uma infindável discussão sobre, no fundo, quem seria o dono da verdade ou o juiz da qualidade, o texto propõe: “Jornalismo é o conjunto de atividades que, seguindo certas regras e princípios, produz um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas… é aquela atividade que permite um primeiro conhecimento de todos esses fenômenos, os complexos e os simples, com um grau aceitável de fidedignidade e correção, levando-se em conta o momento e as circunstâncias em que ocorrem. É, portanto, uma forma de apreensão da realidade… é o mesmo que dizer que busca a verdade dos fatos, mas traduz com mais humildade o caráter da atividade. E evita confusões”.
Então, ficamos assim: a liberdade de imprensa é absoluta. Não pode, pois, haver qualquer tipo de censura. A imprensa tem que ser de boa qualidade, profissional, mas essa não pode ser controlada por governos.
Resumindo, a lei deve garantir que a imprensa seja livre. A qualidade depende da sociedade, do público. Ofendidos podem recorrer aos tribunais, na forma da lei.
Jornalismo independente deve ter autonomia financeira, viver de assinaturas e venda de publicidade, não de verbas públicas, nem de igrejas ou partidos. Jornalismo independente não tem programa, tem princípios, pelas liberdades individuais, pela democracia.
O povo não é bobo, sabe onde está a notícia – não inteiramente pronta, mas quase pronta, todos os dias, em cima dos fatos.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
China e Brasil contra o marxismo
Há minorias por aqui, à direita e à esquerda, que gostariam de uma ditadura
[chamar de ditadura uma opção - quase que obrigatória, por ser a única capaz de funcionar - é um acerto exagero.
Vamos chamar de Governo forte. É amplo e notório que o atual 'estado de coisas' no Brasil exige a adoção de medidas enérgicas e todas de caráter urgente.
Inegável que adotar tais medidas com um Congresso que perde tempo com picuinhas - que, se não for coibido, pretende entregar o controle da pauta de votações a um Renan Calheiros (aliado do PT, portanto, adepto da teoria do partido perda total = quanto pior, melhor) e com um Poder Judiciário que além de intervir demais na competência dos outros, por várias vezes não tem certeza do que está determinando = INSEGURANÇA JURÍDICA. - é algo impossível.
Só um GOVERNO FORTE poderá implementar medidas que levarão ao Brasil a posição privilegiada entre as nações.]
Não é brincadeira. Ou melhor, é, mas tem conteúdo.
Comecemos pela China. No ano passado, o Partido Comunista comemorou com grande cerimônia os 200 anos de nascimento de Marx. O ensino do marxismo foi exaltado e reforçado nas escolas.
Também foi exaltado o fantástico crescimento econômico da China, isso vinculado à prática do que chamam por lá de socialismo com características chinesas. O crescimento é incontestável. Alguns números: em 1978, o PIB chinês era de US$ 150 bilhões; hoje, US$ 12,3 trilhões!
Nesse período, nada menos que 740 milhões de chineses ultrapassaram a linha da pobreza.
E não há nada acontecendo por lá que lembre os sinais da derrocada da União Soviética e dos satélites na Europa. Mas há protestos de sociedades estudantis, grupos que se formam nas universidades. No ano passado, eram mais de 50 grupos, um deles com mais de 5 mil membros, conforme reportagem do NY Times. São esses jovens que se consideram “marxistas radicais”. Eles acham que o atual regime chinês é coisa de “reformistas radicais”. Tudo verdade.
A maior parte da China funciona como economia de mercado, com propriedade privada e tal, mas forte controle do Estado e ditadura do PC. Não é bem oficial, mas muitos ideólogos locais chamam isso de “socialismo de mercado”. Mercado, pode ser, socialismo, jamais – é o que proclamam as sociedades estudantis. Protestam e agem. No ano passado, no melhor estilo leninista, um grupo tentou organizar sindicatos de trabalhadores em fábricas de Huizhou. Os operários não toparam e, mesmo assim, o governo local prendeu os subversivos e suspendeu suas contas de Internet.
A crítica que fazem ao regime é a mesma que se ouve aqui no Ocidente. Ou seja, o capitalismo produz riqueza e desenvolvimento, mas também desigualdade e concentração de renda. Eis os dados da World Wealth and Income Database, citados pelo NYT: em 1995, o 1% mais rico detinha 15% da renda nacional chinesa. Vinte anos depois, esses mais ricos levavam 30% da renda.
O que fazer?
Uma revolução marxista, respondem os estudantes.
Isso surpreendeu o governo que, até aqui, havia lidado com protestos bem diferentes.
Há 20 anos, tropas do presidente Hu Jintao literalmente massacraram os manifestantes que pediam democracia e liberdade na praça chamada de Paz Celestial. Pediam uma espécie de complemento político da economia de mercado, que seria a democracia à ocidental.
Mais recentemente, o governo se acostumou a lidar com outros tipos de manifestações, não políticas, mas ligadas ao dia-a-dia. São protestos, por exemplo, contra a poluição, problemas no transporte urbano, falta de casas etc. – até tolerados.
Agora, comunistas subversivos no país dominado pelo Partido Comunista e que tem o marxismo inscrito na Constituição? [aqui está um fato incontestável: comunismo não presta mesmo - a única coisa aproveitável nele e se souber aproveitar, e a China sabe, é a a característica dura de controle e comando e que permitem a adoção de medidas duras, muitas delas contra o próprio comunismo.]
Pensando bem, entretanto, está tudo nos conformes. Se tem um capitalismo avançado no país, é normal que surjam protestos contra a distribuição de renda, contra o aparecimento de cada vez mais milionários e bilionários. Por outro lado, sendo uma ditadura, também é de se esperar que de algum modo surjam movimentos por mais liberdade e cidadania.
Já no Brasil, não tem ditadura. Temos uma democracia, com um regime político cheio de vícios, é verdade, mas com eleições regulares e legítimas. Por outro lado, há minorias por aqui, à direita e à esquerda, que gostariam de uma ditadura, a sua ditadura. No governo Bolsonaro e no seu entorno, tem pessoas achando que está em curso uma tentativa de subversão comunista. [em curso? está tudo preparado um vacilo e os comunistas bagunçarão o Brasil, acabando de vez com o pouco que o PT não conseguiu roubar;
Gleisi Hoffmann e a cúpula do perda total mais o lulopetismo aguardam só um descuido para implantar a política do quando pior, melhor;
felizmente, serão coibidos a tempo e vão ter o mesmo resultado que esperavam com a prisão de Lula - ruas cheias de militontos protestando. FRACASSARAM.]
Na oposição, tem gente achando que o grupo Bolsonaro trama para trazer de volta o regime militar. Não vai acontecer nem uma coisa, nem outra, assim como é nula a chance de os jovens chineses conseguirem uma revolução marxista. Mas o bate-boca no Brasil – que se manifesta em diversos assuntos – acaba deixando de lado nossa questão principal: como recuperar a capacidade de crescimento, no capitalismo e com democracia mais eficaz.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista