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terça-feira, 16 de maio de 2017

Atos falhos

Lula se enrolou nos depoimentos e abriu espaço para novos processos

Muito interessante notar que o ex-presidente Lula, por mais treinado que seja, não conseguiu, ou não pode escapar de alguns atos falhos durante seu depoimento ao Juiz Sérgio Moro, o que lhe valerá novos processos. O mais espontâneo deles foi quando admitiu que discutiu com Leo Pinheiro e o engenheiro Paulo Gordilho, em seu apartamento em São Bernardo do Campo, a cozinha do sitio de Atibaia.

Lula disse que nem se lembrava da visita do empreiteiro a seu apartamento, “mas se os dois disseram que foram, devem ter ido”. Para escapar do triplex do Guarujá, Lula enrolou-se com a cozinha: "Eu acho que eles tinham ido discutir a cozinha, que também não é assunto para discutir agora, lá de Atibaia. Eu acho", disse Lula. Como o procurador insistisse em saber o tema do encontro, o ex-presidente foi enfático: "Apenas a questão da cozinha".

O problema de Lula é que a cozinha do sítio é da mesma marca da do triplex, e as duas foram compradas pela OAS, o que indica que as reformas dos dois foram mesmo feitas pela empreiteira, o que por si só já representaria aceitar favores indevidos de uma fornecedora do Estado. Existem provas testemunhais aos montes demonstrando que o triplex estava reservado para o ex-presidente e família, inclusive e principalmente o depoimento do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro que afirmou que o triplex foi descontado de uma espécie de conta corrente que a empreiteira mantinha em nome de Lula.

Os diversos emails entregues aos procuradores da Lava-Jato indicam que as reformas foram feitas a pedido de dona Marisa, tanto no sitio de Atibaia quanto no triplex. São funcionários que trabalhavam no assunto e recebiam orientação para acertar com “a madame” as reformas.   O ex-presidente Lula teve que admitir dois encontros com seus delatores, apenas adocicou as versões. Renato Duque, ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT, dissera em seu depoimento que foi convocado para um encontro com o ex-presidente em um hangar no aeroporto de Congonhas, ocasião em que Lula o interpelou sobre se teria uma conta na Suíça com o dinheiro desviado das obras da Petrobras.

A então presidente Dilma havia sido informada disso e estaria preocupada. Duque tinha, mas garantiu ao ex-presidente que não, e Lula, a Moro, disse que se satisfez com a negativa. Por essa versão ingênua, Dilma estava preocupada com a corrupção na Petrobras, e Lula convenceu-se de que não havia corrupção, já que Duque não tinha conta na Suíça.  Em outro depoimento, a mulher de João Santana disse que a presidente a alertou que as contas na Suíça eram facilmente rastreáveis, e sugeriu que mudassem o dinheiro para Cingapura. O empreiteiro Marcelo Odebrecht já a havia avisado que o governo brasileiro deveria impedir que a Operação Lava-Jato firmasse acordo com o governo da Suíça para rastrear suas contas, e advertiu que sua campanha seria contaminada. No celular, anotou: “Se eu caio, ela cai”.

Na versão de Renato Duque, Lula no encontro no hangar de Congonhas ainda o advertiu: “Presta atenção no que eu vou te dizer: Se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”. Outros dois encontros no mesmo dia em horários diferentes, com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e Leo Pinheiro, da OAS, estavam na agenda oficial de Lula e ele teve que confirmá-los.  No relato de Pinheiro, nesse encontro em junho, o presidente textualmente fez a seguinte pergunta: 'Léo, o senhor fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?' Eu (Léo) disse: ‘Não, presidente, nunca fiz pagamento a essas contas que nós temos com Vaccari no exterior’. (Lula): ‘Como você está procedendo os pagamentos para o PT?’. (Léo) Estou fazendo os pagamentos através de orientações do Vaccari de caixa 2, de doações diversas que nós fizemos a diretórios e tal'. (Lula): 'Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”.

Lula mais uma vez negou que tivesse instruído Leo Pinheiro a destruir provas, mas confirmou o encontro. Por essas contradições e indícios, consideradas “provas indiciárias”, os procuradores querem abrir um novo processo sobre obstrução da Justiça contra Lula. Já existe um com o mesmo objetivo em Brasília, mas em outro caso, o de Nestor Cerveró.  O ex-senador Delcídio do Amaral revelou em delação premiada que foi Lula quem organizou a tentativa de evitar que o ex-diretor da Petrobras fizesse uma delação premiada. As histórias todas se encaixam e formam um quadro fechado sobre a atuação do ex-presidente contra as investigações da Lava-Jato.


Fonte: Blog do Merval Pereira - O Globo

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Os primeiros sinais

Os primeiros sinais

A forte alta do IBC-Br, registrado pelo Banco Central, em fevereiro, de 1,3%, não é ainda a retomada do crescimento. O país está tentando neste começo de ano sair da recessão e está conseguindo, mas a recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta. O que começa agora a aparecer são os primeiros sinais de que o pior está passando. O IBC-Br foi o dado mais eloquente.

O Banco Central não apenas registrou essa alta de fevereiro, em relação a janeiro, como revisou janeiro, de negativo em 0,26% para positivo em 0,62%. Uma mudança e tanto. Mais forte ainda foi a revisão que o IBGE fez com as vendas de varejo de janeiro, que saíram de 0,7% de retração para um crescimento de 5,5% em comparação com dezembro. A  diferença tão grande é explicada pelo IBGE como sendo resultado de mudança metodológica. O setor de serviços também teve o índice revisto de queda de 2,2% para alta de 0,2%.

A conversa com executivos e empresários mostra sinais mistos de recuperação. O presidente da General Eletric (GE) no Brasil, Gilberto Peralta, ainda enxerga um cenário de fraqueza na economia, mas diz que o grupo cresceu 3,8% no ano passado e pode chegar a 5% este ano. O grande problema, segundo ele, é que além da crise fiscal o país enfrenta uma forte incerteza política, que afeta os investimentos.  — Estamos vendo o país andando de lado, mas a tendência mesmo é de estabilizar. A retomada está demorando porque nós temos uma crise fiscal e uma política. Isso está dificultando. Se não houver surpresas no lado político, começa a recuperar este ano — afirmou.

Peralta explica que a GE produz bens de capital e as empresas do país já seguraram demais os investimentos. Agora, as encomendas estão voltando, lentamente, até em grandes empresas, como a Petrobras. O que precisa acontecer para que a recuperação seja mais rápida é o governo conseguir destravar as grandes obras de infraestrutura. — As concessões dos aeroportos foram boas, mas ainda é muito pouco. As possibilidades de investimento são enormes, na ordem de US$ 200 bilhões, em ferrovias, hidrovias, saneamento. A questão é que, hoje, se o grande investidor internacional tiver um projeto com 3% de retorno em Cingapura, e com 10% no Brasil, ele vai para Cingapura. Isso, por causa da insegurança política — afirmou.

Os números do Banco Central reforçaram as projeções de um primeiro trimestre positivo, e isso terá efeito sobre a confiança dos empresários e dos consumidores. Depois de oito trimestres consecutivos de queda, será um alívio ter novamente números do PIB no azul. Ontem, a bolsa teve a maior alta diária desde janeiro e o dólar fechou abaixo de R$ 3,10.

Por outro lado, o quadro político piorou sensivelmente. Uma coisa é viver a expectativa de revelações a serem feitas pela maior empreiteira do país, outra diferente é ter a informação concreta de que oito ministros do governo, inclusive o chefe da Casa Civil, serão investigados por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). E que uma centena de políticos serão também investigados.

O governo fez reunião até durante o feriado de Páscoa para estabelecer uma estratégia que evite que a tramitação das reformas seja afetada. Como as expectativas na economia dependem do andamento das reformas, é fundamental que o governo faça esse esforço. 

Mas, na verdade, a reforma da Previdência já foi afetada pelo novo clima em Brasília. As concessões que estão sendo feitas vão reduzir a força das mudanças e elas são o resultado do enfraquecimento político do governo e de sua base. Quanto mais fraco estiver, mais suscetível à pressão por concessões, quanto mais vulneráveis estiverem os políticos, menos interessados estarão de votar pela aprovação de uma reforma impopular, ainda que necessária.


Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo


quarta-feira, 22 de março de 2017

As 10 cidades mais seguras do mundo segundo a Economist

Conheça as 10 cidades mais seguras do mundo segundo a Economist

Estudo da Unidade de Inteligência analisou 40 indicadores, entre segurança pessoal, cibernética, de infraestrutura e de saúde

Um estudo da Unidade de Inteligência da Economist, tradicional revista britânica de informação, listou quais as 10 cidades mais seguras do mundo para se viver. Foram analisados 40 indicadores, entre segurança digital, segurança da saúde, segurança da infraestrutura e segurança pessoal. Dessa análise, foi criada uma pontuação máxima de 100. Nenhuma das cidades conseguiu marcar o total.

As três mais bem colocadas são asiáticas, com a capital japonesa Tóquio no topo do pódio. Em seguida, aparecem cidades europeias e australianas, com uma única americana na lista das dez mais: Nova York. Confira abaixo:
  1. Tóquio
    Pontuação: 85,63
    A cidade mais populosa do mundo é também a mais segura no índice. Com uma população de 38 milhões, Tóquio conseguiu se sair bem em todos os indicadores.
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  2. Cingapura Pontuação: 84,61
    A cidade lidera nos quesitos segurança pessoal e ambiente de negócios.
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  3. Osaka Pontuação: 82,36
    Outra japonesa que se saiu bem na avaliação global, especialmente na segurança pessoal, a cidade perdeu posições no ranking por falhar em segurança cibernética.
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  4. Estocolmo Pontuação: 80,02
    A capital sueca é a mais bem colocada europeia e destaque em segurança cibernética.
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  5. Amsterdã Pontuação: 79,19
    Com apenas 800.000 moradores, a capital da Holanda também se destaca entre as europeias.
  1. Sidney Pontuação: 78,91
    Segurança em infraestrutura é o ponto alto da cidade australiana, que conquistou ainda o terceiro lugar em transporte seguro
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  2. Zurique Pontuação: 78,84
    A cidade suíça, outra pequenina, de 380.000 habitantes, conquistou o primeiro lugar em infraestrutura e segurança sanitária
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  3. Toronto Pontuação: 78,81
    A mais posicionada entre as canadenses, oferece segurança e também bons parâmetros de custo de vida e ambiente de negócios
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  4. Melbourne Pontuação: 78,67
    Outra australiana a figurar entre as dez melhores, registra pouquíssimos acidentes rodoviários e ferroviários
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  5. Nova York
    Pontuação: 78,06
    Americana mais bem posicionada, ela vai bem especialmente em  segurança da saúde, o que significa que estar bem preparado para qualquer surto de doenças

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Fonte: Cidade Sem Fronteiras - VEJA - Acompanhe o blog no Facebook (fb.com/cidadessemfronteiras),

 

 


domingo, 18 de dezembro de 2016

O quadro trágico da educação

Brasil não consegue formar capital humano para passar a níveis mais sofisticados de produção


A educação brasileira voltou a sair-se mal no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, em inglês), um levantamento que vem sendo promovido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde 2000, com o objetivo de medir e comparar o quanto e como os países participantes prepararam seus jovens para ingressar no mercado do trabalho e ter uma vida adulta produtiva. Na prova que foi aplicada em 70 países, no ano passado, o País ficou na 63.ª posição em ciências, na 59.ª colocação em leitura e no 66.º lugar em matemática. Na prova de 2012, havia ficado na 55.ª posição em ciências, em 55.ª em leitura e em 58.ª em matemática.

Realizada a cada três anos, a prova apresenta um perfil básico de conhecimentos e habilidades e oferece indicadores de monitoramento dos sistemas de ensino ao longo dos anos. Em cada edição, o Pisa enfatiza uma das três disciplinas. Em 2015, o foco foi em ciências. No Brasil, a prova é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais e foi aplicada a 33 mil alunos, na faixa etária de 15 anos, matriculados no final do ensino fundamental e início do ensino médio.

Nas três disciplinas avaliadas, o país cujos estudantes tiveram o melhor desempenho foi Cingapura. Nas colocações seguintes, destacaram-se os estudantes do Japão, Hong Kong, Taipé chinesa, Finlândia, Canadá e Estônia. Esses estudantes conseguiram ir além das informações apreendidas em sala de aula, usando o conhecimento com criatividade para lidar com problemas cotidianos. O nível considerado básico pela OCDE é o relativo à “aprendizagem e participação na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas num mundo globalizado”.

A maioria dos estudantes brasileiros ficou abaixo desse nível nas três disciplinas. Os resultados da prova mostraram que eles têm dificuldades de interpretar, compreender e analisar o que leem. Em matemática, disciplina em que o Brasil teve a pontuação mais baixa nas últimas cinco edições do Pisa, eles não sabem solucionar problemas com um mínimo de complexidade. E, em ciências, carecem de informações mínimas que lhes permitam resolver as questões mais simples do dia a dia. Ou seja, não sabem explicar fenômenos cientificamente nem planejar e avaliar experiências científicas. Na prática isso revela que, por causa da má qualidade do ensino fundamental e médio brasileiro, as novas gerações não estão aprendendo conhecimentos fundamentais para que possam exercer sua cidadania e realizar seus projetos de vida e o Brasil não está conseguindo formar o capital humano de que precisa para passar a níveis mais sofisticados de produção.

O que vem levando os países asiáticos a liderar o ranking das últimas edições do Pisa é a consistência de suas políticas educacionais. As prioridades são definidas sem enviesamentos ideológicos, as metas são definidas com base em critérios técnicos e não políticos, o desempenho docente e discente é cobrado, os melhores professores são indicados para as salas de aula mais desafiadoras e os diretores mais competentes são enviados para as escolas mais problemáticas. É o oposto do que tem acontecido no Brasil, onde a política educacional dos 13 anos e meio de lulopetismo adotou prioridades equivocadas conjugadas com modismos pedagógicos, interesses eleiçoeiros e concessões corporativas a sindicatos de professores e entidades estudantis, o que travou a modernização do nosso sistema de ensino.

O resultado inexorável é que, enquanto os estudantes asiáticos se destacam nos rankings comparativos e as economias da região aumentam sua capacidade de inovação tecnológica, disputando com os Estados Unidos e a Alemanha a liderança mundial no campo científico, os estudantes brasileiros são estimulados a ocupar escolas e a brincar de democracia direta, agitando bandeiras tão vistosas quanto inconsequentes. Os números da edição de 2015 do Pisa mostram o preço dessa irresponsabilidade.


Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 19 de julho de 2016

Fraudador de Cingapura: ' 7 a 1, Brasil x Alemanha, custaria cerca de US$ 15 milhões para acontecer'



Wilson Raj Perumal acaba de lançar, no Brasil, o livro ‘O submundo do futebol’
Hipoteticamente, custaria cerca de US$ 15 milhões para se armar o resultado de uma semifinal de Copa do Mundo em que o país anfitrião — não um país qualquer, mas uma potência no futebol perderia o jogo de 7 a 1. O dinheiro seria usado para pagar jogadores, talvez o árbitro, certamente a comissão técnica. O lucro, contudo, compensaria o investimento e a trabalheira de convencer toda essa gente a participar do esquema.  — Numa situação como a daquele jogo entre Brasil e Alemanha, se alguém tivesse armado o resultado e pudesse colocar US$ 50 milhões para fazer apostas, ganharia facilmente US$ 200 milhões. São pouquíssimas pessoas no mundo que fariam uma aposta desse tamanho, mas elas existem — afirma Wilson Raj Perumal, um cingapuriano que se tornou notável mundo afora por sua habilidade de manipular resultados de jogos de futebol, em entrevista ao GLOBO. — Pode ser feito, sempre há uma possibilidade.

Para Perumal, as possibilidades foram de amistosos desimportantes em Cingapura a jogos nas Olimpíadas de Atlanta (1996) e Pequim (2008). Por seu relato no livro “O submundo do futebol” (lançado agora no Brasil pela editora Astral Cultural), Perumal foi responsável pela classificação de Nigéria e Honduras para a Copa do Mundo da África do Sul (2010), comprando times adversários ou juízes. Ele teria feito, ainda, a Tanzânia perder por cinco gols para o Brasil num amistoso em 2010. E teria participado da armação de um jogo entre Argentina e Bolívia num campeonato sub-20, decidido apenas aos 56 minutos do segundo tempo com um pênalti duvidoso a favor dos argentinos.

Tudo isso, explica Perumal, pelo desejo de lucrar o máximo possível com apostas em partidas de futebol. Sua carreira manipulando jogos começou nos anos 1990 na Ásia, passou por África e Américas e seguiu até 2011, quando foi preso na Finlândia tentando expandir o business até a Europa. O livro, escrito em parceria com os jornalistas italianos Emanuele Piano e Alessandro Righi, existe porque ele aceitou colaborar com as autoridades para identificar outros fraudadores. —Enquanto houver sites de aposta, haverá gente tentando manipular os resultados. Não apenas no futebol, mas em qualquer esporte. Acontece no tênis, no vôlei, no vôlei de quadra. Acontece nas Olimpíadas, pode acontecer no Rio de Janeiro. Não é fácil, porque as pessoas têm medo de se envolver nisso num evento tão grande, mas acontece -- diz.

O esquema de Perumal consistia em oferecer dinheiro para jogadores, técnicos, juízes ou dirigentes para garantir o resultado de uma partida, mas com um detalhamento extremamente profissional. Não bastava dizer quem venceria e quem perderia um jogo. As apostas passavam pelo número de gols feitos, pelo tempo de jogo em que o gol seria feito e até por quem daria o pontapé inicial da partida. Se houvesse alguém disposto a apostar, haveria outro tentando manipular.

Trata-se de um negócio ilegal de cifras altíssimas. Perumal conta que só o grupo criminoso para o qual trabalhava levou US$ 1 milhão aos EUA em 1996, para comprar resultados de times africanos na Olimpíada de Atlanta. Na ocasião, eles teriam pago US$ 100 mil a funcionários da delegação da Nigéria, por exemplo, a fim de que o país perdesse por dois gols de diferença para o Brasil na primeira fase -- o jogo, porém, acabou 1 a 0, com gol de Ronaldo, e, mais à frente, os nigerianos eliminaram o Brasil nas semifinais e acabaram campeões diante da Argentina. -- O futebol é muito vulnerável, é fácil você abordar clubes que não têm muito dinheiro. Se você olhar nos sites de apostas, há ofertas de jogos até para a quinta divisão do futebol brasileiro. Um jogador de um time desses fica cinco meses sem receber salário. Aí é só chegar perto e oferecer um dinheiro -- explica o fraudador.

A sofisticação dos negócios de manipulação era tão grande, que Perumal já subornou o responsável pela iluminação do campo: se o resultado desejado não acontecesse, ele mandaria apagar as luzes do estádio para interromper o jogo. Ainda na Olimpíada de 1996, ele lembra ter abordado Jorge Campos, famoso goleiro do México, oferecendo uma quantia em dinheiro para entregar uma partida. Mas foi rechaçado. Já nos Jogos de Pequim, os times femininos foram seus principais alvos. -- Eu sempre gostei de apostar, faço até hoje. Não tenho uma renda fixa mais, mas trabalho dando sugestões para apostadores. Uso minha experiência para analisar os jogos e sugiro resultados. Se eles ganharem, recebo 20% de comissão -- afirma Perumal, que, depois de passar quatro períodos preso, mora hoje na Hungria e garante agir completamente dentro da legalidade. -- Ainda é legal ajudar os outros a apostar, talvez deixe de ser algum dia. Mas a vida seria muito chata se eu não pudesse colocar algum dinheiro pelo resultado de algum esporte.

Perumal diz não ter conhecimento de como os esquemas de manipulação de jogos de futebol funcionam no Brasil hoje, mas não se surpreende com a notícia de que suspeitos por fraudar jogos tenham sido presos em São Paulo, na semana passada. Segundo informações da polícia, a ação criminosa envolveria apostadores de países como Malásia, China e Indonésia.  -- Se você quer fazer muito dinheiro com apostas, então é preciso um contato na Ásia, porque lá não há regulação. Você aposta o quanto quiser, quantas vezes quiser por jogo. Na Europa há limitações e você precisa fornecer muitos detalhes. Na Ásia, não. É assim que se consegue maximizar o lucro -- diz.

Para identificar se um jogo foi ou não manipulado, Perumal explica que se deve observar com a atenção a movimentação nas casas de apostas online. Um volume de apostas muito grande feitas no meio de uma partida pode significar alguma manipulação. Outro fator de suspeita são os comportamentos incomuns de jogadores e juízes. Ele cita como exemplo a final da Copa da França, em 1998, em que o Brasil saiu derrotado pelos franceses por 3 a 0.  

Foi o tão falado jogo em que Ronaldo teve uma convulsão na véspera e quase ficou de fora. -- Olha, eu não tenho evidências, então vou dar minha opinião baseada na minha experiência profissional: o que aconteceu naquela ocasião foi muitíssimo estranho. Acho que havia dirigentes da CBF que poderiam influenciar o resultado daquele jogo junto aos jogadores. Para mim não faz sentido a história do ataque do Ronaldo. Alguma coisa aconteceu ali -- afirma Perumal.

Como são feitas (e manipuladas) as apostas no futebol? GE Explica
Saiba como os fraudadores conseguem movimentar uma cifra trilionária ao redor do mundo, obrigando os dirigentes e as autoridades a tomarem uma série de medidas
Diante de mais um escândalo de manipulação de resultados no futebol, o torcedor brasileiro se vê diante de um assunto complexo e muitas vezes confuso. Como as apostas são muito mais comuns no exterior, não é fácil entender os processos e os termos usados pelos apostadores. Para jogar luz nesse cenário, o GloboEsporte.com preparou um guia com explicações didáticas que ajudam a entender como os fraudadores conseguem alterar placares de partidas nos quatro cantos do mundo, movimentando cifras trilionárias e obrigando os dirigentes e as autoridades a tomarem uma série de medidas preventivas

APOSTAS NO EXTERIOR
Com a atividade do jogo proibida no Brasil, os sites de apostas são implementados em locais nos quais a legislação admite esse serviço, como Londres (Inglaterra), Malta, Gibraltar e Ilhas Virgens. A maioria dos países não possui regulamentação em relação ao acesso aos sites. Portanto, apostadores asiáticos, por exemplo, podem utilizar esses sites para realizar apostas em jogos de várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

A MANIPULAÇÃO
A manipulação ocorre de várias maneiras. Na mais comum, existe um intermediário (ou aliciador), que é a pessoa que age a mando dos grandes manipuladores e se encarrega de cooptar e aliciar atletas, árbitros e treinadores para que colaborem nas fraudes. Esses intermediários costumam ser os responsáveis pelos pagamentos.

PRINCIPAIS CENTROS 
A Ásia concentra a maior parte dos grupos mafiosos que manipulam resultados. Há grupos relevantes, porém, na Rússia e em outras partes do Leste Europeu.

O QUE CONTRIBUI E COMO REPRIMIR?
A combinação ideal para a fraude é: pouca visibilidade das competições, baixos salários, falta de fiscalização preventiva e possibilidade de corrupção de autoridades. Para impedir que o brasileiro invista seu dinheiro nestes sites de apostas que podem manipular resultados basta que o funcionamento destes sites seja proibido no Brasil. É assim que funciona nos Estados Unidos. Lá, os sites não podem ser acessados. O mais importante é que o Brasil regulamente a situação e aperfeiçoe a legislação que criminaliza estas condutas indevidas de apostas.

SIGILO
Não há como garantir que o sistema não será ventilado. No entanto, os manipuladores agem por meio de coação e ameaças. O atleta aliciado é muitas vezes objeto de chantagem, pois sabe que, se o esquema vier à tona, colocará sua carreira em risco. Os aliciadores jogam com essa insegurança.

APOSTAS EM CAMPEONATOS OBSCUROS
As casas de apostas decidem, mas há um volume muito grande de jogos para todos os gostos, porque não há limite de campeonatos. Basta o torneio estar em calendários oficiais para entrar em um site de apostas.

Colaborou: Paulo Schmitt, procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Ler matéria na íntegra: http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2016/07/como-sao-feitas-e-manipuladas-apostas-no-futebol-ge-explica.html

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

‘Deputado não pode negar evidências’, diz sociólogo suíço



Jean Ziegler diz que se Cunha não provar origem do dinheiro, é fruto de corrupção
Autor de “A Suíça lava mais branco”, o sociólogo suíço Jean Ziegler, perito no sistema bancário daquele país, diz que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não tem como negar que as contas eram suas. E que, se ele não provar a origem do recurso, “é oriundo de corrupção”.

Qual sua avaliação sobre o escândalo envolvendo a Petrobras e as contas de brasileiros encontradas na Suíça, com dinheiro supostamente oriundo de corrupção?
Como ex-deputado na Suíça e autor de livros sobre o sistema bancário do país, minha primeira reação é de revolta. E não por causa do Eduardo Cunha ou dos outros envolvidos. Amo o Brasil, e é nojento imaginar que políticos eleitos podem ter roubado um país tão incrível como o seu. Mas minha maior revolta é saber que esse dinheiro veio para os bancos suíços. Em todos os escândalos mundiais, os bancos suíços aparecem como instrumento de lavagem de dinheiro. Há uma lei específica contra lavagem de dinheiro na Suíça, mas, em todos os escândalos, os bancos saem impunes. Os promotores suíços podem agir sem que seja necessário outro país entrar com uma ação, mas eles não o fazem.

Mas as autoridades suíças foram essenciais para identificar as contas que seriam de Cunha.
Não foi assim. Eles não abriram um inquérito. Só deram continuidade ao trabalho daquele juiz do Paraná, o Sérgio Moro, que transmitiu informações para a Suíça sobre número de uma conta, um nome e uma localidade. Os bancos suíços não puderam negar a informação. Ainda pode haver milhões escondidos em alguma offshore, sob um nome falso. Quem foi eficiente nesse caso foram os promotores brasileiros, não os suíços, que só agiram quando apareceram evidências que não poderiam ser negadas. Por eles, as próprias leis do país não seriam aplicadas.

O que permite que os bancos suíços desrespeitem a lei?
Os bancos são muito poderosos na Suíça, formam uma oligarquia. São mais poderosos do que qualquer departamento de Justiça, qualquer Parlamento, promotor. E são muito bem-sucedidos: a Suíça tem 8 milhões de habitantes, 42 mil quilômetros quadrados, sem matéria-prima, sem petróleo e, ainda assim, é um dos países com maior renda per capita do mundo. Isso só acontece porque a matéria-prima da Suíça é o dinheiro de nações estrangeiras. Os bancos suíços são muito competentes em transportar o dinheiro de estrangeiros. Cunha ou qualquer outro que queira trazer o dinheiro para a Suíça não costuma ter uma expertise financeira para tal. Mas os bancos suíços sabem como fazer. Têm um mecanismo para trazer o dinheiro roubado da Petrobras secretamente para a Suíça.

Da forma como fala, os bancos suíços parecem um tipo de máfia.
Não chegam a ser uma máfia. Sei que é difícil entender a diferença, mas, por um lado, os banqueiros suíços têm uma moral muito forte. O problema é que eles são totalmente cínicos. São criminosos, porque ajudaram a criar instrumentos que permitem roubar dinheiro de outros países. Mas, ao mesmo tempo, são bastante honestos em tomar conta daquele dinheiro. O que querem é ter o máximo de lucro, por isso aceitam que se traga dinheiro para a Suíça. Acontece que um depósito corrupto fica completamente na mão do banco. É o que os americanos chamam de cliente aprisionado. É o sonho para qualquer banco suíço: o dinheiro é sujo, e o cliente não pode reclamar de muita coisa. Então, o banco cobra uma comissão de 30% a 50%; a comissão normal é de 1% ou 2%.

Os bancos suíços sempre sabem de onde vem o dinheiro?
Fui deputado no Parlamento Federal. A lavagem de dinheiro não era crime aqui. Há oito anos, mudamos a lei e criamos uma regra que obriga os bancos a pedirem informações a seus clientes sobre a origem do dinheiro. Depois, criamos outra lei que obriga o banco a rejeitar depósitos de certos valores feitos por pessoas politicamente expostas (termo para designar agentes públicos, seus parentes e colaboradores próximos), já que um político que vive de salário público não costuma ter US$ 10 milhões. Essas leis foram completamente violadas no escândalo da Petrobras. Se um político for milionário por herança de família, precisa provar, para deixar seu dinheiro num banco suíço. Se não provar a origem legal, os bancos precisam recusar o depósito.

Após tantos escândalos e o caso SwissLeaks, não houve mudanças no sistema bancário suíço?
Por que haveria? A quem interessaria haver mudanças? Houve alguma pressão agora da União Europeia e dos EUA, por causa do SwissLeaks. Os bancos suíços organizaram evasão fiscal para americanos ricos durante 50 anos, até que o governo americano descobriu e abriu um inquérito internacional contra os bancos suíços, que tiveram que colaborar e pagar multas. Os EUA pressionaram muito e disseram que os bancos perderiam sua licença para operar na América; então eles tiveram que parar de permitir a evasão fiscal de cidadãos americanos. Também houve pressão da União Europeia, e foi criado um mecanismo de troca automática de informações. Mas a relação com Brasil, Japão, Cingapura e outros países segue a mesma. 

Não poderia haver uma pressão desse tipo do Brasil ou de um bloco da América Latina?
Acho impossível. Primeiro, porque duvido que as classes dominantes na Colômbia, por exemplo, iriam se juntar a esse tipo de movimento. Ou as classes dominantes brasileiras. Além disso, os únicos que têm os meios de pressionar são EUA e União Europeia. 

Desde que seu nome começou a aparecer no escândalo da Petrobras, Cunha se diz inocente. É possível que não tenha cometido crime? 
Pergunto como é possível alegar inocência. Há US$ 2,4 milhões no nome dele e de sua mulher. Cunha poderia até dizer e provar que foi só evasão fiscal e que o dinheiro não é sujo. Poderia alegar que ganhou na loteria, não quis pagar os impostos no Brasil e mandou o dinheiro para o exterior. Mas é tolice dizer que não é verdade que o dinheiro existe. As evidências são totalmente claras. Não entendo como um homem que preside a Câmara de um dos maiores países do mundo pode tentar negar evidências como essas. É impressionante. E, se não puder provar a origem do dinheiro, então é oriundo de corrupção.

Fonte: O Globo