O ministro Roberto Barroso, do Supremo,
decidiu governar o Brasil sem ser eleito por ninguém. Chegou ao Supremo
com o apoio dos esquerdistas, em especial do núcleo duro do PT. A sua
atuação em defesa do terrorista Cesare Battisti contou muito nas suas
credenciais de “nosso — DELES!!! — homem”. Mais: ele também abraçava, e
abraça ainda, a chamada “agenda das minorias”, incluindo o feminismo
abortista. Ainda mais: para ele, a Constituição é uma obra aberta. Pouco
importa o que vai escrito lá. As demandas sociais — na verdade, o berro
das milícias militantes organizadas — devem ter prevalência sobre a
vontade do constituinte originário. Basta ler seu livro sobre “O Novo
Direito Constitucional Brasileiro”, como fiz, para chegar a essa
conclusão. Em 2013 — há cinco anos, portanto —, escrevi em meu blog
vários textos contra a sua indicação, especialmente porque havia lido a
estrovenga que escreveu.
Um dos posts tinha o seguinte título:
O futuro ministro do STF e o terrorista: Ele acha imprensa a favor “uma delícia”, mas não gosta da imprensa contra, confessa não saber quase nada de direito penal e diz uma das maiores bobagens jamais pronunciadas sobre a democracia italiana. Olho nele, senadores! Cumpram a sua função, que é sabatinar, não puxar o saco! (aqui)
O futuro ministro do STF e o terrorista: Ele acha imprensa a favor “uma delícia”, mas não gosta da imprensa contra, confessa não saber quase nada de direito penal e diz uma das maiores bobagens jamais pronunciadas sobre a democracia italiana. Olho nele, senadores! Cumpram a sua função, que é sabatinar, não puxar o saco! (aqui)
Outro:
Atenção senadores! Futuro ministro do STF defende que juiz tome o lugar do parlamentar e “certa subversão da independência entre os Poderes”. Também exalta um Judiciário “mais à esquerda”. Vocês vão sabatiná-lo ou só se submeter ao constrangimento da homologação submissa? (aqui)
Atenção senadores! Futuro ministro do STF defende que juiz tome o lugar do parlamentar e “certa subversão da independência entre os Poderes”. Também exalta um Judiciário “mais à esquerda”. Vocês vão sabatiná-lo ou só se submeter ao constrangimento da homologação submissa? (aqui)
Mais um:
“Barroso e o terrorista. E a confissão de ignorância sobre direito penal” (aqui)
“Barroso e o terrorista. E a confissão de ignorância sobre direito penal” (aqui)
Obviamente, não adiantou nada! Foi aprovado no Senado com os rapapés de sempre, inclusive os oriundos da então oposição. Como se vê, tudo o que o PT achava bom
em Barroso, eu achava ruim. E sua estreia foi muito auspiciosa para os
companheiros. Ele já deu largada atacando seus colegas de tribunal. Para
ele, o STF havia pegado pesado demais nas penas dos mensaleiros. Em
companhia de Teori Zavascki, então também novato na corte, liderou a
defesa da tese de que os embargos infringentes — que permitem uma nova
votação em condenação penal desde que divergência na condenação — havia
sobrevivido, matéria de que discordo. Isso permitiu que três
companheiros tivessem as penas reduzidas: José Dirceu, Delúbio Soares e
João Paulo Cunha. A coisa ficou na poeira da história. Pesquisem a
respeito.
Ah, meus caros, em 2013, ninguém
esperava que o PT fosse cair em desgraça. Ao contrário, né? Parecia mais
eterno do que os diamantes. Em março daquele ano, 65% achavam o governo
Dilma ótimo ou bom! E Barroso era, então, a vanguarda do retrocesso
esquerdista no Supremo — em muitos aspectos, é ainda. Ocorre que o PT caiu em desgraça. Os
padrinhos da candidatura de Barroso foram para a lona. Ele precisava
reinventar um lugar para si mesmo. Esperto que é, operou uma mudança
nada sutil ao mesmo tempo em que radicalizou numa área em que já era
especialista: os chamados comportamentos de exceção. Passou a defender,
por exemplo, a descriminação de todas as drogas e resolveu
constitucionalizar, o que é uma piada homicida, o aborto até o terceiro
mês por via cartorial, chamando o crime de “direitos reprodutivos da
mulher”.
A esquerda cultural, digamos assim, gosta da sua agenda. Ocorre que Barroso está longe de ser
burro. No livro que cito, ele confessa, por exemplo, que deu uma
entrevista a uma TV francesa sobre o caso Battisti sem saber falar
francês. Confessa também que, em matéria penal, não sabia nem pra que
servia um alvará de soltura. Alguém com tal esperteza vai longe. Ele sentiu o cheiro de carne queimada do
PT e de Lula. Não podia mais se abraçar aos companheiros que o haviam
indicado. Havia chegado a hora de trair seus aliados sem, no entanto,
parecer ter mudado de lado. Então fez o quê? Resolveu ser, no Supremo,
junto com Edson Fachin e Luiz Fux — este também foi indicado prometendo
matar a bola no peito em favor de petistas — o Trio Ternura da Lava Jato
no tribunal. Afinal, não é isso o que quer a sociedade? Fachin chegou
lá, não custa lembrar, com o apoio de João Pedro Stedile, que hoje
promete revolução de saliva se Lula for preso. E, se depender de Fachin,
será.
O PT que pensa com um pouco mais de
complexidade — não a turma do fumo e do fora-feto — já percebeu que as
heterodoxias legais de Barroso, que antes soavam tão alvissareiras, hoje
se voltaram contra, ora vejam, Lula! Não só contra o petista, é
verdade. Barroso não teve pejo de, numa votação sobre prerrogativas
constitucionais de senadores, antecipar um juízo condenatório contra
Aécio Neves, embora este não seja ainda nem mesmo réu no Supremo.
A decisão do ministro, de quebrar o
sigilo bancário do presidente Michel Temer, contra opinião da própria
Procuradoria Geral da República, atendendo à simples solicitação de um
delegado da Polícia Federal, é mais uma evidência de que o doutor mudou
parte de sua agenda. Agora ele brinca de Torquemada do direito penal,
área em que é confessadamente ignorante, e se tornou, vejam que coisa, um
dos algozes de Lula. Percebeu que esse é um bom caminho para se manter,
vamos dizer assim, na crista da onda.
Eu poderia dizer algo assim: “Bem feito
para os petistas! Tivessem levado a sério o que escrevia este liberal,
este conservador, em 2013, e talvez as coisas fossem diferentes!”. Na
verdade, pouco me importa o que Barroso pense sobre os petistas e sobre
Lula. O que me incomoda é que o doutor atropela, com impressionante
desfaçatez, as regras mais comezinhas do Estado de direito. E o faz,
hoje, alinhado com um setor da imprensa, ao menos, que lhe dá suporte
incondicional. Assim como o PT já deu um dia. Hoje, o PT de Barroso são
os veículos das Organizações Globo: lava-jatismo doidivanas com
esquerdismo politicamente correto. Os petistas hoje se espantam com o
comportamento de alguns de seus ex-homens na Corte, como Luiz Fux,
Edson Fachin e Roberto Barroso. Eu também me espanto. Eles ficam bravos
só quando seus interesses são contrariados. Eu reajo quando o estado de
direito é mandado para o esgoto.
Blog do Reinaldo Azevedo